sexta-feira, 15 de outubro de 2010


Michael Douglas, entre o amor e a dor

Por Tadeu Nascimento



Eis, duas palavras tão antônimas quanto próximas: nunca e sempre! Nunca esperamos e sempre acontece. Nunca nos atentamos para os detalhes e sempre, somos surpreendidos. Se hoje estou forte e irradiando felicidade, amanhã poderei estar debilitado e deprimido. É o caso do ator Michael Douglas, que sabidamente passa por garanhão das telas de cinema -e também na vida real- padece de um mal de câncer implacável. O estereótipo do homem viril, bonito- que não incomum, freqüenta o imaginário feminino-, que fez grande sucesso em "Atração fatal", "Assédio sexual", "Instinto selvagem", entre outros, e que também fora internado algumas vezes em uma clínica por compulsão sexual, surgiu surpreendentemente, há 2 semanas, nos jornais e na tv, totalmente debilitado. Sua mulher, a belíssima atriz Catherine Zeta-Jones, está vivendo o seu calvário com a doença do seu amado, e com isso, perdeu muito peso ao ponto de ficar irreconhecível posto que um dia foi uma das mulheres mais belas do cinema. No contrato de casamento do casal, consta uma cláusula (exigência dela) que penalizaria com U$ 4,5 milhões, o cônjuge que traísse o outro. Até então, não se sabe se algum deles pulou a cerca. Na verdade, trata-se de um seguro contra as estripulias de Michael que- antes do matrimônio- estava acostumado a aprontar. E com padecimento de Michael, Catherine, a personagem namorada do Zorro (interpretado por Antônio Bandeiras), demonstra um amor incondicional ao marido. No entanto, essas fatalidades "sempre" aconteceram: Rodolfo Valentim, James Dean, Marelin Monroe, Elvis Presley, e mais algumas centenas de estrelas, só que "nunca" aceitamos os reveses com naturalidade. Trata-se de algo indefectível e inexorável: a morte.
O pai, o ator Kirk Douglas, filho de imigrantes russos, cujo nome de batismo é Issur Danielovitch (cuja tradução, é Issur, filho de Daniel) deixou de herança ao filho, o talento de representar. Hoje o valente "Spartacus" (o também intrépido bêbado Doc Holliday no excelente "Sem lei, sem alma"- título do original de "Gunfight at the Ok Curral"- com Burt Lancaster no papel de delegado federal Wyatt Earp; e ainda, em outra película- também ótima- no papel do delegado Morgan em de Duelo de Titãs, contracenando com Antony Quinn (o rancheiro poderoso Craig Belden), além de dezenas de outros filmes, nos quais vende valentia, atualmente com 94 anos - sem poder fazer nada- vê, desolado, seu filho despedir-se da vida de forma, se não trágica, mas surpreendente. Triste, muito triste.
Ao ser entrevistado, esta semana, bem mais magro e quase tão velho quanto ao pai, Michael com dignidade, declarou: "O câncer não poderia ter escolhido hora melhor!" E ainda, seguro de si, pediu aos fãs que não tivessem pena dele! Todavia, o que me chamou mais atenção foi Catherine por sua dedicação e amor a Michael. Está tão voltada para saúde do marido que deixou de lado a própria saúde. É a leitura que se faz de sua aparência- pelas fotos dos jornais: macérrima e circunspecta. Mais, está desesperada. Logo que soube da doença de Michael, abdicou-se de três milionários contratos de filmagem para dedicar-se exclusivamente ao companheiro.
Razão desta crônica: a ironia do destino. O garanhão todo poderoso, filho da ficção hollywoodiana, onde ser macho, destemido e que “sempre” se dá bem, -próprio do mundo masculino- é o máximo. O invejável predador de fêmeas, motivador da cláusula contratual que se relaciona com sexo e traição, está agora, a mercê, no apagar das luzes, próximo do The End, não mais do sexo, mas de um amor verdadeiro. Não existem códigos, leis, cláusulas que assegurem a vida de alguém. Nem a do mais poderoso, a do mais viril ou a do mais bonito. Por outro lado, Catherine, nesse momento, tem a perfeita compreensão que tal cláusula nupcial não passou de uma grande bobagem, que é o amor sobrepõe o sexo, pois debilitado como está Michael, não se cogita em conjunção carnal, mas sim, no amor que os une. Embora o homem que ela ama, daqui a alguns dias, não mais fará parte deste mundo.