quarta-feira, 30 de abril de 2014


É preciso prestar atenção na vida

Por Tadeu Nascimento            
            
                   Se eu pudesse, mudaria algumas coisas do passado da minha vida. Teria aprendido línguas. O françês, por exemplo. Por que não o chinês e o japonês? Gostaria de ter aprendido música. Ser pianista. Violonista também. Tocar 10 % do que tocava Pablo de Lucia. Ser escritor e não um simples escriba. Escrever como Gabriel Garcia Marques, ou Mário Vargas Llosa ou ainda Gore Vidal. Sei que é muito difícil conhecer o mundo inteiro, mas gostaria de conhecer alguns países, principalmente os exóticos: Índia, Nepal, Tibet e a Tailândia. Conhecer o Himalaia seria fantástico. Não me seduzem os Estados Unidos da América, a Inglaterra, a Alemanha e o Canadá. A França, sim. A Itália e a Grécia também. A República Theca e a Hungria, idem. O Egito e suas pirâmides. Marrocos e seus mercados de rua. Conhecer a mãe da humanidade, a gigante África. A savana do Signete e a sua maravilhosa fauna correndo em disparada, na Tanzânia, divisa com o Quênia. Na divisa desses últimos países, o Kilimanjaro, o grande vulcão adormecido que empareda a grande savana. O México também me atrai muito. A sua música, o sol intenso, as culturas Asteca e Maia. Tudo isso tenho ainda algumas chances em conhecer. Todavia, algumas coisas, agora, seriam impossíveis de se realizar. Coisas que já estiveram  bem próximas de serem concretizadas.
.                                      Em 1974 conheci o poeta Vinícius de Moraes após a apresentação de seu show em Uberaba. O poetinha foi convidado e ele foi juntamente com  Toquinho e o Quarteto em CY a casa de uma amiga minha. Cheguei bem perto dele por algumas horas e troquei algumas palavras monossílabas com ele. Estava mais interessado na beleza de uma moças do quarteto. Poderia ter explorado a verve do poeta, o seu talento extraordinário. Deveria ter tirado, ao menos uma foto com ele, ou ter levado meu violão para ele autografar. Um grande amigo, goiano também, roubou um caderno de receitas da dona da casa e pediu uma dedicatória ao poeta da paixão. E este o fez com extrema elegância. E esse amigo, até hoje, se orgulha desse feito.
                                    Residi por 10 anos em Uberaba. Era estudante. E numa das noites de boêmia eu conheci, nada menos que o famoso espírita Chico Xavier. Quantas madrugadas, à 5 da manhã eu o via chegando no Bar 1001, na praça Rui Barbosa, para tomar o seu café com pão de queijo. Várias vezes fui até lá e eu o via rasgando o seu pão de queijo e levando à boca.  O máximo que eu fazia era cumprimentá-lo pegando na sua mão. Hoje, passados quase quatro décadas, arrependo-me de não tê-lo seguido nos seus trabalhos mediúnicos, de caridade e de ensinamento! De não ter frequentado a sua casa de oração! Quando ele desencarnou, eu senti muito a sua partida. E comecei a ler a obra psicografada por Chico.  Acabo de ler a biografia "As vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior. Belíssimo livro. Belíssimo biografado. Eu trabalhava numa loja de decoração ao lado do Banco do Brasil, na av. Leopoldino de Oliveira. Todo dia 30 de cada mês, um velho Passat verde-claro estacionava perto de onde eu trabalhava e dele descia o velho e bom Chico, vestido em um terno escuro para receber sua aposentadoria no Banco do Brasil. Já esperavam por ele dezenas de pessoas pobres que esperava o último dia do mês para pedir esmola ao Chico. E ele, sempre humilde, cumprimentava a todos. Aos pedintes, ele estendia o braço e com a mão direita fechada e juntava com mão  do pobre e entregava uma nota embolada - não me lembro o valor do dinheiro-  sem que ninguém visse  como intuito de não humilhar o pedinte. Ou seja, "O que mão direita dá, a mão esquerda não pode saber!" E ele assim fazia, com dezenas de pessoas!
                                   Poderia ter aproveitado mais da sabedoria de meu pai, ter-me embevecido, ainda mais, do amor de minha mãe. Tê-los amado ainda mais. Ter aprendido mais da vida com meu falecido primo Rafton Nascimento Leão, um homem fora de série.
                                    Fica a lição que se deve prestar atenção na  vida e aproveitar as pessoas  que gostamos, principalmente quando  estiverem pertinho da gente!

terça-feira, 29 de abril de 2014


Mathieu Ricard, o homem mais feliz do mundo 

 O Homem mais feliz do mundo

 Por Tadeu Nascimento

                     A felicidade é como o sol, também é para todos. Mas como alcançá-la? Existem pessoas- raras, é verdade- que alcançam níveis altíssimos  de felicidade. Mas como se pode medir a felicidade? Os cientistas da Universidade de Wisconsin- Madison, EUA, estudam,  há anos, o grau de satisfação do ser humano, que é nada mais que a felicidade de cada um. Trata-se de um estudo neuronal. Através de ressonâncias magnéticas nucleares, o cérebro fica conectado com 250 sensores que detectam os níveis de estresse, irritabilidade, prazer, satisfação e outras sensações diferentes. Mathieu Ricard, 61, anos, monge tibetano, francês de nascimento, detentor de doutorado em biologia, abandonou o microscópio  e se mandou para o Tibet. Hoje, é assessor do Dalai Lama. Mathieu, em 2012, se ofereceu como cobaia, juntamente com centenas de voluntários para o estudo da felicidade, dirigido pelos neurocientistas da Universidade de Wisconsin. Para o espanto dos cientistas,  descobriu-se  que o cérebro de Mathieu produz um nível de ondas gama nunca antes relatado pela neurociência. O estudo revelou que graças a meditação (e também a alimentação vegetariana), ele tem uma capacidade incrivelmente anormal de sentir felicidade e uma propensão reduzida para a negatividade. Os índices máximos  atingiam, até então, o grau 0,3 ( muito feliz) enquanto Matheiu alcança o grau 0,5 (felicíssimo)!  Qual a razão desse extraordinário índice de felicidade?
                                    Matieu Ricard dá a sua receita, que nada mais é o entendimento de algumas coisas da vida:
"Velhice: quando a agudeza mental e a ação diminuem, é tempo de experimentar e manifestar carinho, afeto, amor e compreensão.
Morte : faz parte da vida, rebelar-se  é ir contra a própria natureza da existência. Só há um caminho: aceita-la.
Solidão: existe uma maneira de não se sentir abandonado: perceber a todas pessoas como parte de nossa família.
Alegria: está dentro de cada um de nós; só há que olhar em nosso interior, encontrá-la e transmiti-la.
Identidade: não é a imagem que temos de nós mesmo, nem a que projetamos; é a nossa natureza mais profunda, essa que nos faz ser bons e carinhosos com quem nos rodeia.
Conflitos: é mais difícil lutar com alguém que não busca a confrontação.
Família: requer o esforço constante de cada um de seus membros: sermos generosos e reduzir nosso nível de exigência.
Deterioração física: tem que aprender a valorizá-la positivamente; vê-la como o princípio de uma nova vida e não como o princípio do fim.
Relações sociais: é mais fácil estar de bom humor que discutir e entediar-se. O ideal é seguir sendo como somos e utilizar (sempre que pudermos) a franqueza e a amabilidade.
Busca da felicidade: se a buscarmos no lugar equivocado, estaremos convencidos que ela não existe, quando não a encontramos ali."
                                   Na verdade, temos mudar os nossos costumes. Negar toda essa vida insana de correr atrás da felicidade, se ela está aqui e agora. Desde criança ouvimos que temos que estudar para conseguir emprego, dinheiro, sucesso. Não se ensina viver sem dinheiro. Não se ensina ter paz de espírito. Então vivemos como robôs ou como gado a caminho do matadouro. Por isso existe a infelicidade. O próprio Dalai Lama dizia: "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. e por pensarem, ansiosamente no futuro  esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se  nunca tivessem vividos ". Outro ensinamento do grande budista "Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama  ontem e o outro amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver."                                    Temos que entender que felicidade não é dinheiro e muito menos o poder!  E ninguém leva nada dessa vida.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Gabriel Garcia Marques 

Adeus, Mágico Gabo

 Por Tadeu Nascimento

                     Adeus, pai de José Acárdio Buendia.  Adeus, pai do cigano Melquíades que apresentou ao  menino José Arcádio  o então desconhecido e extraordinário  gelo. Adeus, pai de Aureliano Buendia que participou de cem guerras e perdeu todas. Adeus, pai da valente Dona Úrsula Buendia. Adeus, pai de Macondo, cidade fictícia, onde rola a historia dos Buendia.  Adeus, você pai de tantas histórias. Adeus, pai do realismo fantástico (também conhecido como realismo mágico). Adeus, pai de Florentino Ariza.  Adeus, pai de Fermina Daza. Só você para parir um "Amor nos tempos do cólera". Adeus, pai da história genial e comovente de um velho de 90 anos, em busca de um amor sem sexo no seu lindo "Memórias de minhas putas tristes". Um parêntese para esta última obra: as "Memórias" começam pelo inusitado: "No ano que completei noventa anos quis presentear-me  com uma noite de amor louco com uma adolescente virgem". O narrador é um jornalista que gastara toda sua vida nos puteiros de Cartagena e nunca havia amado alguém. Então encomendou o dito presente a uma cafetina conhecida de muitos anos.   E quando vê a  ninfeta nua e virgem, de nome Delgadina, apaixona-se por ela. Mas o que fazer aos noventa anos? Não tinha mais físico para o sexo e então passou a ama-la platonicamente.  Assim Gabriel Garcia Marques exalta o amor. Em qualquer idade!
                       Sei que você, meu herói, nem imagina quem sou, pois saiba,  que sou um daqueles meninos , que aos 15 anos  inaugurou suas leituras lendo  o realismo fantástico de um desconhecido Gabriel Garcia Marques que logo depois ficou conhecidíssimo como "o mágico". Você influenciou- e muito- uma geração!  Sua obra prima "Cem anos de solidão", reli cinco vezes, assim como reli pela quarta vez  o "Amor nos tempos do cólera". O "O outono do patriarca", retrato dos ditadores da América Latina é de um sul realismo comovente.  "Cândida Erêndida e sua vó desalmada" virou filme  com a brasileira Cláudia Ohana, no papel de Cândida. A heroína da estória teve, ainda menina, o azar de provocar um incêndio na casa da avó com quem morava. E por conta disso, sua avó a obrigou pagar o prejuízo fazendo sexo com todos que ali passavam. Acontece que a casa onde moravam era em frente a um quartel do exército! 
                        Aliás, meu herói, li toda sua obra, inclusive "Textos do Caribe". Não é a toa que você ganhou o prêmio Nobel de Literatura de 1982. Sem dúvida, você foi um dos maiores escritores do século XX. Vi a poucos meses o DVD  "O amor nos tempos do cólera"  e achei belíssimo. Pra quem não sabe, nesse filme, a também brasileira Fernanda Montenegro faz o papel de Trânsito Ariza, mãe de Florindo. Outra coisa importante é a trilha sonora que foi composta e interpretada pela  cantora colombiana Shakira, o que encaixou perfeitamente no  drama. Casamento perfeito. Lindo! Pra quem não viu, Gabo, está perdendo, assim como está perdendo se também não viu "Memórias de minhas putas tristes". Melhor lê-los, mas também é ótimo vê-los em filmes. Tudo seu vale a pena.
                      Desculpe o pleonasmo, mas agora que você partiu, ficamos,  sozinhos nessa Macondo da vida com saudade  do pai dos  "Cem anos de solidão".
                      Caro Gabo, o mundo perdeu um artista, mas literatura agradece a genialidade desse mesmo artista. Adeus, meu herói. Todavia, continuarei reler e reler a sua obra.

domingo, 20 de abril de 2014



O louco sou eu

 Por Tadeu Nascimento

                            Estive em São Paulo, capital, nesse fim de semana. Se New York é mais louca, não sei. Mas São Paulo, onde já fui centenas de vezes, me choca cada vez mais. Sem contar o óbvio, que é um mundaréu de gente; um trânsito de veículos que é uma fábrica de loucos. No entanto, o que mais me deixou chocado na maior cidade brasileira, foi a  desigualdade. Das as outras vezes que lá estive, não vi tanta miséria. Mas agravou-se muito. O contraste econômico agora é gritante. Logo na cidade mais rica do país. E isto ocorre  por quase toda  cidade. Nunca vi tanta gente dormindo ao relento. Tantos sem teto. Tantos sem nada. Tantos esmolando.
                         Em rua perpendicular a Avenida Consolação, no coração  da cidade, perto do meio financeiro mais importante do Brasil que é a Av. Paulista, um dos  metros quadrados mais caros do planeta, existe um mundo paralelo, tal qual a periferia  de Nova Deli, capital da Índia. Eu vi, meninos, eu vi, várias pessoas- a maioria pessoas idosas- dormindo sob marquises, enrolados em plásticos ou em cobertores imundos, enquanto várias Mercedes, BMW, Land Rover e outros caríssimos automóveis cujos motoristas,  indiferentes, importunavam o sono dos "homeless". Conclui que tal disparate é uma vergonha para raça humana  e uma afronta a Deus! Lembrei-me de Renato Russo: " A humanidade é desumana". Então fiquei a perguntar: Deus existe? Se existe- eu nunca deixei de acreditar que Ele existe- muita gente tem que pagar!
                        Apesar de tudo, domingo, resolvi matar a saudade homenageando-me com o antológico chope do quase centenário Bar Brahma, na Av. São João. O chope continua tão bom quanto antes, mas a visão do passeio público é de se estarrecer. Tantos seres humildes como os que acabei de relatar a passar rente ao  famoso  bar. Tantos doidos, tantos falando sozinho. Gente arrastando cobertores imundos e com cabelos e barbas imensas. Claro que passavam gente aparentemente "normais", mas evidentemente  não chocavam  quem os via. Entretanto, muitas pessoas exóticas, tipo casais de cabeludo "rastafari" de mão entrelaçada  com uma de cabelos raspados apenas de um lado da cabeça, sugerindo "o que falta em você, sobra em mim!": ou seja, um antagonismo chocante;  não sei quantos com o corpo quase todo tatuado, outros com dezenas de piercings encravados no rosto, nas orelhas, como  se desafiassem a lógica  dos normais. Em suma: um universo de gente estranha com gente esquisita! Um mundo de malucos!
                          Mas será que eles são os verdadeiros malucos?  Por acaso, não seriam  mais insanos os que trafegam com ternos  George Armani ou Ermenegildo Zenga e que se matam nos  escritórios, na bolsa de valores, nos caixas dos bancos, tais como robôs a serviço do sistema capitalista  desumano e cruel que expulsa os mais desvalidos para a mais absoluta miséria? Fica claro que, para aqueles que servem o sistema capitalista o que importa é a grana! E os pobres? Ora, que se lasquem os pobres!
                           Estes esqueceram que um ser iluminado morreu na cruz,  deixando a máxima que devemos amar o próximo. A verdade é que, o que eles amam mesmo, são os  bens materiais e acreditam que vão levar esses bens acumulados para outro mundo! E assim é quase toda humanidade! Depois o louco sou eu!