segunda-feira, 23 de junho de 2014

Marcelo

E se o Brasil for campeão mundial com o gol de Marcelo?


Por Tadeu Nascimento
                                    Prometi, a mim mesmo, não escrever sobre política, mas o momento do mundial de futebol me obriga a não me silenciar.  Primeiro, pelo o gol contra do lateral Marcelo. Gol de azar. Não tinha como evitar, em face da rapidez da jogada. Ato involuntário. E não por inabilidade! Mas as aves de mau agouro, os urubus da copa, chegaram a postar nas redes sociais fotomontagens com o excelente lateral Marcelo com a camisa da Seleção da Croácia! Pura Maldade!
                                      Segundo, pelo xingamento a presidente! Absurdo! A mesma elite que xingou a primeira mandatária do país ofendeu não a pessoa da presidente, mas toda a nação brasileira! Antes de mais nada-, e é bom que se diga- o povão não tem dinheiro pra pagar  os ingressos caríssimos da FIFA! Apesar do que disse Nelson Rodrigues: "O brasileiro vaia até o "um minuto de silêncio!", não foi o povão brasileiro que foi grosseiro ofendendo a presidente, mas sim a elite, gente branca de cabelos lisos, que tem grana pra ver "ao vivo" os jogos!" Voltando a grosseria dos mal-educados: até o "arqui-inimigo", o ex-jogador argentino Maradona, se indignou: "Um absurdo!" E o candidato da oposição  a presidência da República, bancando o "bonzinho", também disse: " É um absurdo!"-, imaginando que, se um dia fosse ele presidente, poderia ouvir tal frase estarrecedora!
                                     Como expuseram mal o Brasil diante do mundo!  Entretanto, são ofensas das mesmas aves de rapinas que são contra a Copa do Mundo no Brasil! Além do mais, a Arena Corinthians (Itaquerão) é uma obra privada, pertence ao Corinthians! São os descendentes- aos menos ideologicamente- daqueles que se insurgiram contra Getúlio Vargas e que o levou a desferir um tiro no próprio peito! São os herdeiros dos que se manifestaram contra a previsível vitória de Juscelino Kubstheck . "Juscelino não pode ser candidato. Se for, não pode ganhar. Se ganhar, não pode tomar posse. E se tomar posse, tem que ser destituído!"  Palavras de Carlos Lacerda, líder da ultradireita, que não respeitava as regras democráticas! E sabe o leitor, qual era o apelido de Lacerda? O "Corvo!"- alcunha criada pelo o jornalista e compositor Antônio Maria e pelo cartunista Lan,- apelido justo ao político-de-rapina mais aguçado das elites brasileiras. Logo ele que fora membro da Juventude Comunista! Pra quem não sabe, ele foi veemente contra a construção do Maracanã! Entretanto, depois de muitas manifestações da população carioca a favor da construção daquele que seria o maior do mundo, o Corvo, com a maior desfaçatez , disse que seria a favor, desde que o estádio se fosse construído na Barra da Tijuca, bairro das elites, onde ficaria distante da classe operária do Rio de Janeiro! E ainda pior, Lacerda foi o maior inimigo da construção de Brasília para ser a nova capital do país! Imagine, o leitor, o Centro Oeste, mesmo o Brasil, sem Brasília! Mas o que importa é o poder! Tudo pelo poder! Mas não me espanto, a direita sempre foi assim! Fizeram tanto, que acabaram (com Lacerda à frente) por instituírem, através dos militares, a  noite mais longa da história do Brasil: a Ditadura Militar, que durou 29 anos! Mas, como quem dorme com cobras, termina picado por elas, Lacerda teve seus direitos políticos cassados  pela a Ditadura! São os da mesma laia - ou ainda os mesmos loucos pelo poder- que se coloriram para eleger Fernando Collor pra presidente,  redundando no maior desastre da história da República!
                                     Atualmente, a Globo é a ponta de lança dessa campanha sórdida! Ela questiona o dinheiro gasto com as construções dos estádios em detrimento aos investimentos na saúde e na educação, mas a própria Organização dos Marinhos- a família mais rica do Brasil!-  não paga os R$ 900.000.000,00 que deve a receita federal! E, saiba, caro leitor, a Rede Globo, nunca faturou tanto quanto nesta Copa do Mundo! Além do mais, onde foi parar a montanha de dinheiro das privatizações do governo FHC? Na saúde? Na educação? Ganha uma viagem para o reservatório da Serra da Cantareira (pra beber as últimas gotas da reserva morta das águas que abastecem a cidade de São Paulo) quem viu a Rede Globo questionar a respeito do destino da grana das famigeradas privatizações!
                                    A emissora dos Marinho e associados, juntamente com  a revista Veja, Folha de São Paulo e o Estadão, incentivaram e avalizaram todas as manifestações contra a Copa no Brasil; que não haveria Copa e que os estádios não ficariam prontos a tempo! Agora estão enxergando o tiro nos próprios pés! As obras estão prontas e belas! Vide a beleza do Maracanã, a Arena das Dunas em Natal, a Arena Beira Rio em Porto Alegre e mais bela de todas- ao meu ver- a Arena Amazônia em Manaus! Num total de 12 estádios! Repito: são 12 estádios! Coisa de não só para inglês ver, mas para toda humanidade invejar!
                                     A Copa do Mundo dividirá a história do país em o "Brasil antes da Copa e o Brasil depois da Copa"!
                                    Os tempos são outros. Depois da internet, agora ao alcance dos mais pobres, a população conhece quem é quem na política brasileira! A Copa no Brasil já é um sucesso! Entraram no país mais de 3 bilhões de dólares dos 600 mil turistas de 186 países que vieram para o maior evento mundial, até então! Será a Copa das Copas! E a presidente pode tornar-se a grande injustiçada aos olhos do povão e que ela que estava certa e não seus adversários!                                      Agora, imagine se o Brasil ganhar a Copa! E ainda,com um gol de Marcelo!

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Os pais da alegria

Complexo de vira-latas

Por Tadeu Nascimento

                                Nelson Rodrigues nunca esteve tão em voga. Dizia ele  que o brasileiro tem complexo de  vira-latas. Afirmava o teatrólogo que a grama do vizinho sempre está mais verde que a do  seu jardim. A questão a discutir é a Copa do Mundo. É quase certo que tão cedo não teremos outra copa no Brasil- ao menos para esta geração! Pois, a última ocorrida no  Brasil faz 64 anos. Esta geração não testemunhará outra copa .  Portanto, não é hora de manifestações despropositadas nas ruas. De quebra-quebras. O momento é para curtir a maior festa deste século no nosso país. De mostrarmos ao mundo, que de fato, somos um povo feliz e educado. E não se deixar  levar pelos politiqueiros mesquinhos, interessados no quanto pior melhor, com claro objetivo de desestabilizar o governo e ganhar a eleição deste ano. E, claro, o patriotismo que se lasque! Esquecem que o nosso país é lindo; que o nosso clima, nossas praias, nossas florestas nossa gente, o nosso futebol, o nosso espírito alegre são motivo de inveja em todo mundo!
                                Recordo-me da copa da Espanha em 1982. Construíram estádios e  hotéis de luxo. Barcelona se transformou numa das mais belas cidades do mundo. E o país estava quebrado em face da ditadura imposta pelo governo do generalíssimo Franco tornou-se um belo país e o povo espanhol viveu momentos de grande euforia na preparação da copa de 1982. Foi aquela copa que a seleção brasileira foi muito bem com Zico, Sócrates, Falcão, Eder & cia! Foi realmente uma grande copa!
                                Essa história de que o dinheiro gasto com estádios deveria ser gasto na saúde e educação é conversa pra boi dormir. Essa mesma gente,  aves mau agouro, não fez agitações quando construíram  autódromos que por sua vez não passam de brinquedinhos de luxo para uma elite perversa que só olha para o próprio umbigo! A mesma elite que apoiou a ditadura militar que torturou, matou e forçou exílio de muitos brasileiros! Por que esses mesmos manifestantes não foram às ruas contra as privatizações, cujo dinheiro arrecadado  nunca fora gasto em hospitais e escolas? Ora futebol é ainda a maior alegria do povo brasileiro! E além do mais,  precisamos elevar a nossa autoestima.
                                 Causa-me repúdio o pedido de um certo candidato à presidência da República, ao ministro do STF Gilmar Mendes, para que derrubasse o artigo da Lei Geral da Copa que proíbe a entrada com faixas e cartazes "para outros fins que não a da manifestação festiva e amigável", ou seja, o presidenciável deseja que sejam expostas as nossas mazelas ao mundo inteiro, o que é um absurdo! Fica claro sua ignóbil e abjeta intenção eleitoreira!
                                Que a nação brasileira seja muito feliz nesses meses de junho e julho!
                                 Vou pintar meu coração de verde e amarelo e sair cantando: "A taça do mundo é nossa,/Sou brasileiro,/Não há quem possa..."

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Cacique Seatlle


O QUE VEJO NÃO É COISA BOA  

 Por Tadeu Nascimento

                  Sou otimista por natureza, mas o que vejo não é coisa boa. O planeta sendo devastado pelos homens, a loucura desses mesmos homens por dinheiro. Irmãos atacando irmãos, como é o caso da Coreia do Norte contra a Coreia do Sul. A Rússia sufocando a Ucrânia. Os Estados Unidos- é mais que sabido- usando e abusando  do seu poder belicoso contra os países pobres! Só não encaram a China e a Rússia porque não sobraria pedra sobre pedra em grande parte do planeta! E também não peitam o Iram, porque Israel sumiria do mapa! Entretanto, mais do que ver, pressinto que alguma coisa de grande proporção está prestes a acontecer. Se acontecesse o apocalipse não me estranharia nenhum pouco, pois todos ingredientes para por fim a raça humana estão na panela a ferver- e  há muito tempo! E o caldo já está grosso e borbulhando!
                                 Nada fica instável por muito tempo. Nenhuma coisa fica se equilibrando muito tempo; não demora, essa coisa volta para o plano. Nenhuma nuvem fica cinzenta por muitas horas, logo desagua sobre a terra! Quem viu o excelente documentário "O mundo sem ninguém", sabe que tudo volta  ao estado pre-histórico. Ou seja, tudo que o homem construiu vai se acabar um dia. Fica evidente o desrespeito a vida.
                                 Um alerta bem claro deixou o cacique Seatlle da tribo Suquamish, perto de Washington, USA. É histórico que o índio sempre foi qualificado como subdesenvolvido, atrasado e infantil. Isto na visão dos capitalistas. Mas aos olhos da ciência, dos humanistas, não é bem assim. Em 1855, o cacique Seatlle, diante do fato de quererem os brancos comprar as terras dos índios, escreveu ao presidente dos Estados Unidos Francis Pierce: "as fragrantes flores são nossas irmãs: o veado, o cavalo e a águia majestosa, são nossos irmãos; as cristas rochosas, as seivas da pradaria, o calor corporal do potrilho e do homem, tudo pertence a mesma família. Sabemos que o homem branco não compreende nossa maneira de ser. Para ele cada pedaço de terra é igual ao outro porque ele é um estranho que chega à noite pra tirar da terra o que necessita. A terra não é sua irmã, porém sua inimiga. Tendo-a conquistado abandona-a e segue seu caminho. Trata sua  mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisa  que se pode comprar, saquear e vender. Seu insaciável apetite devora a terra e deixará atrás de si apenas um deserto. A terra não pertence ao homem, o homem que pertence a terra".  Diz ainda o cacique Seatlle: "Tenho visto milhares de búfalos apodrecendo nas pradarias, abandonados ali pelo homem branco que atirou neles de um trem-de-ferro em  marcha. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo a vapor pode ser mais importante que um búfalo, que somente matamos para poder sobreviver. Se todos os animais desaparecerem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Tudo que afeta a terra afeta os filhos da terra. E a terra pertence ao Deus da Humanidade e a sua compaixão é igual para o homem de pele vermelha  e para o homem de pele branca". Tal carta de qualidade tão elevada, parece ter sido escrita por São Francisco de Assis, ou por Zaratustra, ou ainda pelo Dalai Lama, o líder budista. Pois, o selvagem cacique Seatlle deu um banho de humanismo e civilidade no poderoso presidente dos Estados Unidos e por decorrência ao povo americano. 
                                 Mudando apenas de tempo e de país, agora  no Brasil na época da escravidão, "mutatis mutantes", garante Darcy Ribeiro na sua obra  "O povo brasileiro" que os escravistas do Brasil no século XVIII, tentaram criar negros como se fossem gado. Assim como os fazendeiros escolhiam o seu melhor touro para cruzar com suas vacas, escolhiam negros e negras de melhor saúde para se cruzarem, para depois  venderem as sua crias, além de fazer das negras o alívio para suas taras sexuais. Só não conseguiram fazê-los  porque o negro conseguia quase sempre fugir. Todavia, em pleno terceiro milênio, ainda existem muitos escravistas no Brasil. São os mesmos latifundiários que desmatam as florestas, os donos de garimpos que contaminam os rios, os mesmos donos de bancos que financiam essa gente. Não se expõem como escravista porque a questão moral da humanidade não mais permite.  Mas, nunca vivemos tanto a apologia do ter e não do ser!
                                  Assim é o ser humano. Quanto mais dinheiro, mais poder, mais persistem em vagar nas trevas.  Quem é o mais perverso, o branco ou negro? Quem é mais evoluído o branco ou o índio?

quarta-feira, 30 de abril de 2014


É preciso prestar atenção na vida

Por Tadeu Nascimento            
            
                   Se eu pudesse, mudaria algumas coisas do passado da minha vida. Teria aprendido línguas. O françês, por exemplo. Por que não o chinês e o japonês? Gostaria de ter aprendido música. Ser pianista. Violonista também. Tocar 10 % do que tocava Pablo de Lucia. Ser escritor e não um simples escriba. Escrever como Gabriel Garcia Marques, ou Mário Vargas Llosa ou ainda Gore Vidal. Sei que é muito difícil conhecer o mundo inteiro, mas gostaria de conhecer alguns países, principalmente os exóticos: Índia, Nepal, Tibet e a Tailândia. Conhecer o Himalaia seria fantástico. Não me seduzem os Estados Unidos da América, a Inglaterra, a Alemanha e o Canadá. A França, sim. A Itália e a Grécia também. A República Theca e a Hungria, idem. O Egito e suas pirâmides. Marrocos e seus mercados de rua. Conhecer a mãe da humanidade, a gigante África. A savana do Signete e a sua maravilhosa fauna correndo em disparada, na Tanzânia, divisa com o Quênia. Na divisa desses últimos países, o Kilimanjaro, o grande vulcão adormecido que empareda a grande savana. O México também me atrai muito. A sua música, o sol intenso, as culturas Asteca e Maia. Tudo isso tenho ainda algumas chances em conhecer. Todavia, algumas coisas, agora, seriam impossíveis de se realizar. Coisas que já estiveram  bem próximas de serem concretizadas.
.                                      Em 1974 conheci o poeta Vinícius de Moraes após a apresentação de seu show em Uberaba. O poetinha foi convidado e ele foi juntamente com  Toquinho e o Quarteto em CY a casa de uma amiga minha. Cheguei bem perto dele por algumas horas e troquei algumas palavras monossílabas com ele. Estava mais interessado na beleza de uma moças do quarteto. Poderia ter explorado a verve do poeta, o seu talento extraordinário. Deveria ter tirado, ao menos uma foto com ele, ou ter levado meu violão para ele autografar. Um grande amigo, goiano também, roubou um caderno de receitas da dona da casa e pediu uma dedicatória ao poeta da paixão. E este o fez com extrema elegância. E esse amigo, até hoje, se orgulha desse feito.
                                    Residi por 10 anos em Uberaba. Era estudante. E numa das noites de boêmia eu conheci, nada menos que o famoso espírita Chico Xavier. Quantas madrugadas, à 5 da manhã eu o via chegando no Bar 1001, na praça Rui Barbosa, para tomar o seu café com pão de queijo. Várias vezes fui até lá e eu o via rasgando o seu pão de queijo e levando à boca.  O máximo que eu fazia era cumprimentá-lo pegando na sua mão. Hoje, passados quase quatro décadas, arrependo-me de não tê-lo seguido nos seus trabalhos mediúnicos, de caridade e de ensinamento! De não ter frequentado a sua casa de oração! Quando ele desencarnou, eu senti muito a sua partida. E comecei a ler a obra psicografada por Chico.  Acabo de ler a biografia "As vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior. Belíssimo livro. Belíssimo biografado. Eu trabalhava numa loja de decoração ao lado do Banco do Brasil, na av. Leopoldino de Oliveira. Todo dia 30 de cada mês, um velho Passat verde-claro estacionava perto de onde eu trabalhava e dele descia o velho e bom Chico, vestido em um terno escuro para receber sua aposentadoria no Banco do Brasil. Já esperavam por ele dezenas de pessoas pobres que esperava o último dia do mês para pedir esmola ao Chico. E ele, sempre humilde, cumprimentava a todos. Aos pedintes, ele estendia o braço e com a mão direita fechada e juntava com mão  do pobre e entregava uma nota embolada - não me lembro o valor do dinheiro-  sem que ninguém visse  como intuito de não humilhar o pedinte. Ou seja, "O que mão direita dá, a mão esquerda não pode saber!" E ele assim fazia, com dezenas de pessoas!
                                   Poderia ter aproveitado mais da sabedoria de meu pai, ter-me embevecido, ainda mais, do amor de minha mãe. Tê-los amado ainda mais. Ter aprendido mais da vida com meu falecido primo Rafton Nascimento Leão, um homem fora de série.
                                    Fica a lição que se deve prestar atenção na  vida e aproveitar as pessoas  que gostamos, principalmente quando  estiverem pertinho da gente!

terça-feira, 29 de abril de 2014


Mathieu Ricard, o homem mais feliz do mundo 

 O Homem mais feliz do mundo

 Por Tadeu Nascimento

                     A felicidade é como o sol, também é para todos. Mas como alcançá-la? Existem pessoas- raras, é verdade- que alcançam níveis altíssimos  de felicidade. Mas como se pode medir a felicidade? Os cientistas da Universidade de Wisconsin- Madison, EUA, estudam,  há anos, o grau de satisfação do ser humano, que é nada mais que a felicidade de cada um. Trata-se de um estudo neuronal. Através de ressonâncias magnéticas nucleares, o cérebro fica conectado com 250 sensores que detectam os níveis de estresse, irritabilidade, prazer, satisfação e outras sensações diferentes. Mathieu Ricard, 61, anos, monge tibetano, francês de nascimento, detentor de doutorado em biologia, abandonou o microscópio  e se mandou para o Tibet. Hoje, é assessor do Dalai Lama. Mathieu, em 2012, se ofereceu como cobaia, juntamente com centenas de voluntários para o estudo da felicidade, dirigido pelos neurocientistas da Universidade de Wisconsin. Para o espanto dos cientistas,  descobriu-se  que o cérebro de Mathieu produz um nível de ondas gama nunca antes relatado pela neurociência. O estudo revelou que graças a meditação (e também a alimentação vegetariana), ele tem uma capacidade incrivelmente anormal de sentir felicidade e uma propensão reduzida para a negatividade. Os índices máximos  atingiam, até então, o grau 0,3 ( muito feliz) enquanto Matheiu alcança o grau 0,5 (felicíssimo)!  Qual a razão desse extraordinário índice de felicidade?
                                    Matieu Ricard dá a sua receita, que nada mais é o entendimento de algumas coisas da vida:
"Velhice: quando a agudeza mental e a ação diminuem, é tempo de experimentar e manifestar carinho, afeto, amor e compreensão.
Morte : faz parte da vida, rebelar-se  é ir contra a própria natureza da existência. Só há um caminho: aceita-la.
Solidão: existe uma maneira de não se sentir abandonado: perceber a todas pessoas como parte de nossa família.
Alegria: está dentro de cada um de nós; só há que olhar em nosso interior, encontrá-la e transmiti-la.
Identidade: não é a imagem que temos de nós mesmo, nem a que projetamos; é a nossa natureza mais profunda, essa que nos faz ser bons e carinhosos com quem nos rodeia.
Conflitos: é mais difícil lutar com alguém que não busca a confrontação.
Família: requer o esforço constante de cada um de seus membros: sermos generosos e reduzir nosso nível de exigência.
Deterioração física: tem que aprender a valorizá-la positivamente; vê-la como o princípio de uma nova vida e não como o princípio do fim.
Relações sociais: é mais fácil estar de bom humor que discutir e entediar-se. O ideal é seguir sendo como somos e utilizar (sempre que pudermos) a franqueza e a amabilidade.
Busca da felicidade: se a buscarmos no lugar equivocado, estaremos convencidos que ela não existe, quando não a encontramos ali."
                                   Na verdade, temos mudar os nossos costumes. Negar toda essa vida insana de correr atrás da felicidade, se ela está aqui e agora. Desde criança ouvimos que temos que estudar para conseguir emprego, dinheiro, sucesso. Não se ensina viver sem dinheiro. Não se ensina ter paz de espírito. Então vivemos como robôs ou como gado a caminho do matadouro. Por isso existe a infelicidade. O próprio Dalai Lama dizia: "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. e por pensarem, ansiosamente no futuro  esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se  nunca tivessem vividos ". Outro ensinamento do grande budista "Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama  ontem e o outro amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver."                                    Temos que entender que felicidade não é dinheiro e muito menos o poder!  E ninguém leva nada dessa vida.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Gabriel Garcia Marques 

Adeus, Mágico Gabo

 Por Tadeu Nascimento

                     Adeus, pai de José Acárdio Buendia.  Adeus, pai do cigano Melquíades que apresentou ao  menino José Arcádio  o então desconhecido e extraordinário  gelo. Adeus, pai de Aureliano Buendia que participou de cem guerras e perdeu todas. Adeus, pai da valente Dona Úrsula Buendia. Adeus, pai de Macondo, cidade fictícia, onde rola a historia dos Buendia.  Adeus, você pai de tantas histórias. Adeus, pai do realismo fantástico (também conhecido como realismo mágico). Adeus, pai de Florentino Ariza.  Adeus, pai de Fermina Daza. Só você para parir um "Amor nos tempos do cólera". Adeus, pai da história genial e comovente de um velho de 90 anos, em busca de um amor sem sexo no seu lindo "Memórias de minhas putas tristes". Um parêntese para esta última obra: as "Memórias" começam pelo inusitado: "No ano que completei noventa anos quis presentear-me  com uma noite de amor louco com uma adolescente virgem". O narrador é um jornalista que gastara toda sua vida nos puteiros de Cartagena e nunca havia amado alguém. Então encomendou o dito presente a uma cafetina conhecida de muitos anos.   E quando vê a  ninfeta nua e virgem, de nome Delgadina, apaixona-se por ela. Mas o que fazer aos noventa anos? Não tinha mais físico para o sexo e então passou a ama-la platonicamente.  Assim Gabriel Garcia Marques exalta o amor. Em qualquer idade!
                       Sei que você, meu herói, nem imagina quem sou, pois saiba,  que sou um daqueles meninos , que aos 15 anos  inaugurou suas leituras lendo  o realismo fantástico de um desconhecido Gabriel Garcia Marques que logo depois ficou conhecidíssimo como "o mágico". Você influenciou- e muito- uma geração!  Sua obra prima "Cem anos de solidão", reli cinco vezes, assim como reli pela quarta vez  o "Amor nos tempos do cólera". O "O outono do patriarca", retrato dos ditadores da América Latina é de um sul realismo comovente.  "Cândida Erêndida e sua vó desalmada" virou filme  com a brasileira Cláudia Ohana, no papel de Cândida. A heroína da estória teve, ainda menina, o azar de provocar um incêndio na casa da avó com quem morava. E por conta disso, sua avó a obrigou pagar o prejuízo fazendo sexo com todos que ali passavam. Acontece que a casa onde moravam era em frente a um quartel do exército! 
                        Aliás, meu herói, li toda sua obra, inclusive "Textos do Caribe". Não é a toa que você ganhou o prêmio Nobel de Literatura de 1982. Sem dúvida, você foi um dos maiores escritores do século XX. Vi a poucos meses o DVD  "O amor nos tempos do cólera"  e achei belíssimo. Pra quem não sabe, nesse filme, a também brasileira Fernanda Montenegro faz o papel de Trânsito Ariza, mãe de Florindo. Outra coisa importante é a trilha sonora que foi composta e interpretada pela  cantora colombiana Shakira, o que encaixou perfeitamente no  drama. Casamento perfeito. Lindo! Pra quem não viu, Gabo, está perdendo, assim como está perdendo se também não viu "Memórias de minhas putas tristes". Melhor lê-los, mas também é ótimo vê-los em filmes. Tudo seu vale a pena.
                      Desculpe o pleonasmo, mas agora que você partiu, ficamos,  sozinhos nessa Macondo da vida com saudade  do pai dos  "Cem anos de solidão".
                      Caro Gabo, o mundo perdeu um artista, mas literatura agradece a genialidade desse mesmo artista. Adeus, meu herói. Todavia, continuarei reler e reler a sua obra.

domingo, 20 de abril de 2014



O louco sou eu

 Por Tadeu Nascimento

                            Estive em São Paulo, capital, nesse fim de semana. Se New York é mais louca, não sei. Mas São Paulo, onde já fui centenas de vezes, me choca cada vez mais. Sem contar o óbvio, que é um mundaréu de gente; um trânsito de veículos que é uma fábrica de loucos. No entanto, o que mais me deixou chocado na maior cidade brasileira, foi a  desigualdade. Das as outras vezes que lá estive, não vi tanta miséria. Mas agravou-se muito. O contraste econômico agora é gritante. Logo na cidade mais rica do país. E isto ocorre  por quase toda  cidade. Nunca vi tanta gente dormindo ao relento. Tantos sem teto. Tantos sem nada. Tantos esmolando.
                         Em rua perpendicular a Avenida Consolação, no coração  da cidade, perto do meio financeiro mais importante do Brasil que é a Av. Paulista, um dos  metros quadrados mais caros do planeta, existe um mundo paralelo, tal qual a periferia  de Nova Deli, capital da Índia. Eu vi, meninos, eu vi, várias pessoas- a maioria pessoas idosas- dormindo sob marquises, enrolados em plásticos ou em cobertores imundos, enquanto várias Mercedes, BMW, Land Rover e outros caríssimos automóveis cujos motoristas,  indiferentes, importunavam o sono dos "homeless". Conclui que tal disparate é uma vergonha para raça humana  e uma afronta a Deus! Lembrei-me de Renato Russo: " A humanidade é desumana". Então fiquei a perguntar: Deus existe? Se existe- eu nunca deixei de acreditar que Ele existe- muita gente tem que pagar!
                        Apesar de tudo, domingo, resolvi matar a saudade homenageando-me com o antológico chope do quase centenário Bar Brahma, na Av. São João. O chope continua tão bom quanto antes, mas a visão do passeio público é de se estarrecer. Tantos seres humildes como os que acabei de relatar a passar rente ao  famoso  bar. Tantos doidos, tantos falando sozinho. Gente arrastando cobertores imundos e com cabelos e barbas imensas. Claro que passavam gente aparentemente "normais", mas evidentemente  não chocavam  quem os via. Entretanto, muitas pessoas exóticas, tipo casais de cabeludo "rastafari" de mão entrelaçada  com uma de cabelos raspados apenas de um lado da cabeça, sugerindo "o que falta em você, sobra em mim!": ou seja, um antagonismo chocante;  não sei quantos com o corpo quase todo tatuado, outros com dezenas de piercings encravados no rosto, nas orelhas, como  se desafiassem a lógica  dos normais. Em suma: um universo de gente estranha com gente esquisita! Um mundo de malucos!
                          Mas será que eles são os verdadeiros malucos?  Por acaso, não seriam  mais insanos os que trafegam com ternos  George Armani ou Ermenegildo Zenga e que se matam nos  escritórios, na bolsa de valores, nos caixas dos bancos, tais como robôs a serviço do sistema capitalista  desumano e cruel que expulsa os mais desvalidos para a mais absoluta miséria? Fica claro que, para aqueles que servem o sistema capitalista o que importa é a grana! E os pobres? Ora, que se lasquem os pobres!
                           Estes esqueceram que um ser iluminado morreu na cruz,  deixando a máxima que devemos amar o próximo. A verdade é que, o que eles amam mesmo, são os  bens materiais e acreditam que vão levar esses bens acumulados para outro mundo! E assim é quase toda humanidade! Depois o louco sou eu!

sexta-feira, 28 de março de 2014

                  

O colecionador de versos (2ª parte)

 Por Tadeu Nascimento

              Há cinco anos  publiquei trechos dos mais belos versos da Música Popular Brasileira  que havia colecionado até então. Passado esse tempo continuo juntando, só que pouco consegui acrescentar. Algo novo e belo é raro, posto que a beleza está ligada a emoção. E o verso não foge a regra. A bem da verdade, criar é muito difícil, imagine algo inusitado! É mais fácil colecionar versos de músicas mais antigas que ainda não haviam sido por mim catalogados. Ex: " Há seis mil anos o homem vive feliz/ Fazendo guerras e asneiras/ Há seis mil anos Deus perde tempo/ Fazendo flores e estrelas" da canção "Olha o menino" de Jorge Bem Jor interpretada por Caetano Veloso. A belíssima "Se eu quiser falar com Deus" de Gilberto Gil:"Se eu quiser falar com Deus/  Tenho que aceitar a dor/ Tenho que comer o pão/ Que o diabo amassou/ Tenho que virar um cão/ Tenho que lamber o chão/ Dos palácios, dos castelos/ Suntuosos do meu sonho/ Tenho que me ver tristonho/ Tenho que me achar medonho/ E apesar de mal tamanho/ Alegrar meu coração". Se você, leitor, não conhece essa obra prima, ouça, pois mais do que arte é uma oração. Pulando do chão comportado para o chão agitado do Sambódromo: "É hoje", o samba-enredo da União da Ilha do Rio de Janeiro de 1982- que depois se eternizou na voz de Caetano Veloso- um dos melhores sambas da história: "Minha alegria atravessou o mar/ E ancorou na passarela/ Fez um desembarque fascinante/ No maior show da terra..." 
             À época da ditadura o grupo MPB 4 gravou de Paulo César Pinheiro e Eduardo Gudim "Pesadelo" que era uma respostas aos militares: "Você corta um verso/ Eu escrevo outro/ Você me prende vivo/ Eu escapo morto/ De repente olha eu de novo".
             Outra vez Caetano- aliás, sempre Caetano: "Eu queria quere-te amar o amor/ Construir dulcíssima prisão/ Encontrar a mais justa adequação/ Tudo métrica e rima/ Nunca dor". A canção leva o nome de "O quereres". Zé Ramalho também lavrou um tento  quando compôs e gravou  "Entre a serpente e a estrela'': "Há um brilho de faca/ onde o amor vier/ E nem sabe o mapa/ Da alma da mulher". E logo adiante: "Um grade amor do passado/ Se transforma em aversão/ E os dois lado a lado/ Corroem o coração/ Não existe saudade/ Mais cortante/ Que a de um grande amor ausente/ Duro feito diamante corta a ilusão da gente." Belíssimo, não é?
             De lá para cá poucas coisas boas surgiram. Marisa Monte no seu último álbum gravou de sua autoria- para mim, mais bela canção de 2013- "Depois", que diz: "Depois de sonhar tantos anos/ De fazer tantos planos/ De um futuro pra nós/ Depois de tantos desenganos/ Nós nos abandonamos como tantos casais/ Quero que você seja feliz/ Hei de ser feliz também/  "Depois de varar madrugada/ Esperando por nada/ De arrastarmos no chão/ Em vão/ Tu viraste-me as costas/ Não me deu as respostas/ Que eu preciso escutar/ Quero que você seja feliz/ Que eu seja melhor/ Hei de ser melhor também". O excelente e polêmico compositor Caetano Veloso gravou recentemente "O Império da lei" que diz "O império da lei  há de chagar/ no coração do Pará/ Quem matou meu amor há de pagar/ O império da lei há de chegar lá/ Quem matou meu amor há de pagar/ E ainda mais quem mandou matar"- Trata-se de uma alusão a tantas  mulheres que tiveram seus amores/maridos assassinados a mando de fazendeiros  no Pará". 
            Mas Raimundo Fagner gravou na década de 90, um dos mais belos versos que conheço compostos pela poetiza portuguesa Florbela Espanca (lindo cognome!): "Minh'alma de sonhar-te anda perdida/ Meus olhos andam cegos de te ver/ Não és sequer razão de meu viver/ Pois que tu és já toda minha vida". O nome dessa obra prima é "Fanatismo".
            Enquanto muitos se vangloriam por colecionar armas de fogo, eu me orgulho em colecionar versos!

sexta-feira, 21 de março de 2014

 Vinicius, um grande boémio

Acho que em outra encarnação nasci na Boêmia 

Por Tadeu Nascimento

                                 O estudo da origem das palavras é  fascinante. Por isso a etimologia é uma das minhas paixões. Quase sempre anoto em um caderno quando descubro algo cuja origem (ou razão do nome),  é pitoresca. Aliás, a palavra "algo", por exemplo, originou o antigo vocábulo usado em Portugal no tempo dos descobrimentos"fidalgo", que significava filho de algo, de alguém importante. Uma das mais interessantes origens é a do verbo "assassinar", que, para meu espanto, tem origem na palavra haxixe, droga oriental. Mas o que tem haver? Acontece que a época da Guerra Santa os mulçumanos ingeriam haxixe para criar coragem para matar os cristãos. O ato de ingerir haxixe passou a se chamar "axaxinar", que  logo se tornou assassinar. Surpreendente, não? Outros exemplos: a fruta manga, que acreditamos ser nativa do Brasil,  é originária da Índia, e o nome vem do latim manjare, que significa comer aos pedaços, daí seu  nome científico "manjífera índica". A "morfina", anestésico para intensas dores, vem da palavra Morfeu, o deus do sono. A palavra pêsames, claro, vem de pesar, mas o sentido passa-se despercebido: "Pesa-me o seu sofrimento!", o que significa "Causa-me tristeza o seu sofrimento!".
                              Mas existem palavras, cujas origens, são ainda mais interessantes. "Histeria" também surpreende: para medicina antiga era psiconeurose específica das mulheres. Caracterizada pelo descontrole das emoções, nasceria no útero, e por isso o nome "histeria", uma vez que "útero", em grego, é hystéra. Hysterikós, por extensão, é aquele- inclusive do sexo masculino-- que se mostra nervoso, ansioso, irritado. Outro: "pássaro" é sinônimo de ave. Este nome vem do Latim passer, "pardal", o qual abundava em Roma e vizinhanças. Tanto o usaram que acabou pegando para designar aves em geral", embora a rigor, se refira a uma das ordens das aves. "Horizonte": o termo deriva do substantivo horos (limite, em grego) e do verbo horizein (separar, limitar).  Até hoje, para o homem comum, horizonte é a linha que separa o céu da água ou da terra. A palavra "problema": etimologicamente, significa lançar-se à frente, pois surgiu do prefixo grego pró, diante, à frente, mais bállein, pôr, colocar, lançar. Daí o sentido de algo que precisa ser transposto. No latim, gerou propositum (pro, com o mesmo significado do grego, e positum, posto, colocado).
                            "Libertino":    a princípio, era o filho de escravo liberto, depois, tomou o sentido de libertados dos preceitos da moral e da religião, e daí devasso, imoral, despudorado, dissoluto. Negócio, vem latim: a negação do ócio. Guru, vem do sânscrito: "gu" significa trevas (conhecimento) e "ru" aquele que tira. Em suma: guru é aquele que dissipa as trevas. Testículo: diminutivo do latim "testis", que  significa "Pote de pequeno tamanho" Imagine, o leitor, se testis já pequeno, imagine o seu diminutivo.
                            "Boêmio". Essa palavra nos veio do francês bohémien. Supunha-se, claro, que  viria de uma região chamada Boêmia. Mas onde fica a Boêmia? A verdade é que os franceses usavam essa palavra para designar os ciganos oriundos da Boêmia, região da antiga Tchecoslováquia, que gostavam de festas noturnas, de cantar, dançar, sem preocupação com o dia seguinte. O sentido dessa palavra depois generalizou-se e passou a indicar qualquer pessoa que tivesse esses hábitos. E foi com esse sentido geral que ela entrou na língua portuguesa.
                              Vivendo e aprendendo.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

  


A mulher do vestido azul
 
Por Tadeu Nascimento

                    Incomoda-me muito ver alguém chorando. Ontem, em plena praça Tamandaré, nesse calor canicular de fevereiro, uma mulher de 30 e alguns anos chorava à sombra da  de uma sibipiruna na calçada da praça. Passaria despercebida, se não fosse pela sua beleza. Gastei alguns minutos- talvez uns dois ou três- olhando para aquela mulher que parecia ser personagem de um sonho.  Trajava-se com a classe de uma lady. Uma Princesa Diana na capital do cerrado. Embora com cabelos negros. Todavia trazia consigo a classe de uma alteza.  O lenço branco  enxugava as lágrimas. Lembrei uma frase de uma sábio que dizia: "Suas lágrimas secam as minhas".  O azul-anil do vestido contrastava com o cinto  e os sapatos brancos. Parecia ter saído de um quadro de Renoir. E eu atônito- a alguns metros daquela figura meio-anjo meio demônio- fiquei a imaginar a razão daquelas lágrimas. Morte na família? Fim de uma relação amorosa? Dor física? Dor de alma? Difícil adivinhar. Uma vez, em outro lugar da cidade, deparei-me com uma moça chorando a cântaros e de pronto me preocupei com ela e mais do que depressa, ousei perguntar-lhe:  "Moça, o que aconteceu ? Eu posso ajuda-la em alguma coisa?" E ela  respondeu: "Não... Eu estou... chorando...mas... é... de... felicidade!"
                       Voltando a mulher de azul. Queria me ausentar dali. Não é da minha conta, ponderei. Mas os meus pés não se moviam, meus olhos não descolavam daquela belíssima mulher. Os dois ou três minutos pareciam congelados. E no entanto, estava ciente que jamais saberei as causas de suas lágrimas. Queria ousar outra vez, agora com a mulher de azul: perguntar-lhe a razão, oferecer-lhe meu ombro.  Mas afinal, o que eu tenho com isso? Cada um que carregue sua cruz! E se ela também estivesse chorando de felicidade?- pensei tentando me libertar do seu fascínio. Será se ela fosse uma mulher qualquer, desprovida de qualquer beleza, de  glamour incomum eu ficaria tão encabulado como na tarde de ontem?  Será que eu só me preocupo com a estética dos outros? No caso, das outras. E o meu princípio humanista? Onde está minha caridade? Por onde anda meu espírito altruísta?
                       Por outro lado, se sou eu a chorar em via pública, alguma bela mulher viria ao meu socorro?
                       O som agudo de uma buzina me devolve à realidade.
                       E a vida continua... 


O vendedor de jornais

Lalau, um filho de Rio Verde


 Por Tadeu Nascimento

                                Lalau era um menino pobre e  trabalhador. Seu nome de batismo era Lauro Paulo Rocha e morava na rua Almiro de Moraes, próximo ao Hospital Evangélico. Lauro era filho do casal Eliezer José Rocha e Anézia Paula Rocha. Pois bem, esse rapaz sofria de um mal que o afetou mentalmente pois sua fala era embolada tal qual a de uma criança de 3 ou 4 anos, que o qualificava, segundo a psiquiatria, como especial. Mas tinha uma vontade férrea para o trabalho. De domingo a domingo. Vendia jornais na parte da manhã; maçãs e pirulito de tabuleiro no vespertino; à noite, chocolates e outras guloseimas. Também vendia picolés da Kibon numa caixa de isopor (para o prof. Sherlock Holmes da Silva à época, represente da Kibon em Rio Verde, situado à  Rua Henrique Itiberê). Em todos os eventos lá estava o humilde Lalau defendendo o seu ganha-pão! Lalau era um menino alegre e dócil. Era um dos exemplos raros de almas inocentes e puras. Talvez seja a razão de sua breve passagem por essa vida. Seu carma, acredito, não foi pesado, apesar de trágico desfecho. Hoje estaria à beira dos 60 anos. Meu pai, o velho e bom prof. Clóvis, dizia que todos aqueles que tinham curtas vidas terrestres  eram almas boas e  que tinham poucas coisas a pagar nesta encarnação.
                                Naquela época o Clube Rioverdense passava por uma reforma quase que total. O seu presidente era o saudoso Dr. Ricardo Campos Sobrinho, mais conhecido como Tim Campos, o histórico Rei Momo de Rio Verde. Por conta disso, os bailes se realizavam nas instalações do Bar do Presídio (Presídio era o nome do proprietário) também na Rafael Nascimento. O carnaval de 1969 fora ali.  Foi na segunda  noite de momo, mais precisamente no dia 16 de fevereiro que ocorreu a tragédia. Uma contenda entre dois cidadãos- um deles de origem nordestina- terminou em tiroteio. Uma bala "perdida"- não existe bala perdida, pois toda bala foi feita com o propósito de tirar a vida!- atingiu o coração de um inocente menino que apenas observava os foliões no salão.  Lalau quedou-se pra nunca mais. E Rio Verde perdeu um jovem trabalhador. E o carnaval que seria  de 4  noites terminou naquele momento. Quanto a responsabilidade criminal pouco se sabe.
                               Lalau desencarnou-se no desabrochar de seus 15 anos. Seu carma foi leve e curto, talvez por ter sido uma alma nobre, posto que era desprendida de qualquer maldade.
                               A  vida não é só alegria de carnaval; na verdade é mais tristeza de quarta-feira de cinzas.




      


Juju Pé-de-cana e a secura da lei Seca                     
           
Por Tadeu Nascimento
 
                                   Juvenal Cipriano, mais conhecido como Juju  Pé-de-cana, foi barrado numa Blitz da Lei Seca. Vinha ele da região mais etílica do Setor Marista, lá pra duas da madruga, a procura de um outro boteco, agora  no último reduto de cachaceiros, no  Jardim América, afim de dar acabamento na sua tontura. O policial, depois de ordenar o nobre embriagado a parar o veículo, o cumprimentou com um impessoal "boa noite" e lhe  perguntou se ele havia ingerido bebida alcoólica e Juju tentando passar por sóbrio, saiu com essa:
                                      - Quem, eu? Eu não, seu guarda, eu não bebo, a minha religião não permite!- no entanto, seu bafo exalava aroma de destilaria.
                                      O policial quase nauseado com o vapor quente vindo da goela de Juju, lhe disse:
                                      - O senhor concorda  soprar o bafômetro?
                                      - Como?
                                      - O senhor aceita soprar o bafômetro?
                                      - Muito obrigado seu guarda! Eu não bebo, não fumo, não cheiro e nem sopro esse troço que o senhor acabou de falar!
                                      O soldado, que também era simplório, entendeu que  o condutor estava zombando com  a sua cara, determinou:
                                      - Se o senhor não soprar, "o senhor vai preso" por que o senhor está dirigindo embriagado e vai ter que resolver o problema  na delegacia!
                                     - Que isso, seu guarda, não faça isso comigo! Eu tenho família!...
                                     - Eu também! E só estou cumprindo a lei!
                                     - Graças a Deus, né, seu guarda!
                                     - O senhor não sabia que é proibido dirigir depois de ingerir álcool?
                                     - Seu guarda, eu não ingeri, não engoli  e nem bebi álcool algum! Eu já disse para o senhor: eu não bebo! Eu juro!
                                     - Por favor, o senhor saia do veículo!
                                     Depois de olhar para o documento do veículo, o guarda continuou:
                                     - Mas o senhor está bêbado, quase caindo-  senhor Juvenal!
                                     - Quem, eu?
                                     - O senhor mesmo! E o senhor terá seu carro apreendido e terá que ir na nossa viatura para delegacia!
                                     - Mas seu guarda, não faça isso comigo, eu tenho família!...
                                     - Ordem é ordem, e eu não posso fazer nada! O senhor resolve com o delegado, lá na delegacia!
                                     Entendendo que a vaca foi para o brejo, Juju Pé-de-cana só enxergou uma saída: a do  caminho da propina:
                                     - Seu guarda, quebra essa pra mim, pelo amor de Deus! O que o senhor precisar nessa vida eu ajudo o senhor!
                                     O guarda com a sua merreca de salário, o Natal na semana seguinte e ele sem dinheiro para presentear a mulher e os filhos, pensou em aproveitar a oportunidade e fazer a feira! Mas se fez de difícil: "A multa é alta, então deve render uma boa grana, mas não posso dar uma de facinho! Ele vai ter que se espernear mais um pouco!" E o Juju  Pé-de-cana, à beira do desespero, apelou:
                                     Não vai me dizer que o senhor nunca dirigiu com uma cachacinha na cabeça?
                                     E a conversa estava caminhando para a desmoralização quando o "seu guarda" quis resolver as questões de ambos. A do infrator etílico e a dele, o desprovido de grana para o Natal:
                                    - Tudo bem, seu Juvenal...
                                    - O senhor pode me chamar de Juju  Pé-de-cana!
                                    - Juju Pé-de-cana? Com esse nome,  quer ainda  que eu quebre essa para o senhor? Quando o delegado souber do seu apelido, ai sim, o senhor, além de ter o carro apreendido, ser multado em R$1.915, 00, ainda vai pegar uma cana arretada e só vai sair de lá depois de pagar uma fiança de lascar o cano! !
                                   - Mas seu guarda, o senhor e eu estávamos indo tão bem!..
                                   - Vamos deixar de conversa! Vamos ao que interessa: quanto o senhor pode me dar de presente?
                                   - Presente?
                                   - Presente, grana, dinheiro!
                                   - Ah... dinheiro!.. agora o senhor falou a minha língua!
                                   - Quanto? - sussurrou impaciente o guarda- para que ninguém percebesse a propina.
                                   - Toma aqui, seu guarda..
                                   E o guarda, falando quase inaudível, continuou:
                                   - Devagar, devagar.... primeiro eu vou lhe passar o documento e o senhor me devolve o mesmo documento com o dinheiro por baixo!
                                   E Juju devolveu-lhe o documento junto com a propina sem que ninguém percebesse.
                                   E o guarda quando viu a quantia, esbravejou com os dentes travados:
                                   - Que isso? Só cinquentinha, seu cara de pau?- devolvendo novamente o documento-  Isso não dá nem para uma garrafa de vinho!
                                   - Mas dá pra uma garrafa de pinga, seu guarda! Ah... ia me esquecendo, seu guarda: se beber não dirija! E cuidado com as blitz! Feliz natal, seu guarda! Feliz natal!