sexta-feira, 21 de março de 2014

 Vinicius, um grande boémio

Acho que em outra encarnação nasci na Boêmia 

Por Tadeu Nascimento

                                 O estudo da origem das palavras é  fascinante. Por isso a etimologia é uma das minhas paixões. Quase sempre anoto em um caderno quando descubro algo cuja origem (ou razão do nome),  é pitoresca. Aliás, a palavra "algo", por exemplo, originou o antigo vocábulo usado em Portugal no tempo dos descobrimentos"fidalgo", que significava filho de algo, de alguém importante. Uma das mais interessantes origens é a do verbo "assassinar", que, para meu espanto, tem origem na palavra haxixe, droga oriental. Mas o que tem haver? Acontece que a época da Guerra Santa os mulçumanos ingeriam haxixe para criar coragem para matar os cristãos. O ato de ingerir haxixe passou a se chamar "axaxinar", que  logo se tornou assassinar. Surpreendente, não? Outros exemplos: a fruta manga, que acreditamos ser nativa do Brasil,  é originária da Índia, e o nome vem do latim manjare, que significa comer aos pedaços, daí seu  nome científico "manjífera índica". A "morfina", anestésico para intensas dores, vem da palavra Morfeu, o deus do sono. A palavra pêsames, claro, vem de pesar, mas o sentido passa-se despercebido: "Pesa-me o seu sofrimento!", o que significa "Causa-me tristeza o seu sofrimento!".
                              Mas existem palavras, cujas origens, são ainda mais interessantes. "Histeria" também surpreende: para medicina antiga era psiconeurose específica das mulheres. Caracterizada pelo descontrole das emoções, nasceria no útero, e por isso o nome "histeria", uma vez que "útero", em grego, é hystéra. Hysterikós, por extensão, é aquele- inclusive do sexo masculino-- que se mostra nervoso, ansioso, irritado. Outro: "pássaro" é sinônimo de ave. Este nome vem do Latim passer, "pardal", o qual abundava em Roma e vizinhanças. Tanto o usaram que acabou pegando para designar aves em geral", embora a rigor, se refira a uma das ordens das aves. "Horizonte": o termo deriva do substantivo horos (limite, em grego) e do verbo horizein (separar, limitar).  Até hoje, para o homem comum, horizonte é a linha que separa o céu da água ou da terra. A palavra "problema": etimologicamente, significa lançar-se à frente, pois surgiu do prefixo grego pró, diante, à frente, mais bállein, pôr, colocar, lançar. Daí o sentido de algo que precisa ser transposto. No latim, gerou propositum (pro, com o mesmo significado do grego, e positum, posto, colocado).
                            "Libertino":    a princípio, era o filho de escravo liberto, depois, tomou o sentido de libertados dos preceitos da moral e da religião, e daí devasso, imoral, despudorado, dissoluto. Negócio, vem latim: a negação do ócio. Guru, vem do sânscrito: "gu" significa trevas (conhecimento) e "ru" aquele que tira. Em suma: guru é aquele que dissipa as trevas. Testículo: diminutivo do latim "testis", que  significa "Pote de pequeno tamanho" Imagine, o leitor, se testis já pequeno, imagine o seu diminutivo.
                            "Boêmio". Essa palavra nos veio do francês bohémien. Supunha-se, claro, que  viria de uma região chamada Boêmia. Mas onde fica a Boêmia? A verdade é que os franceses usavam essa palavra para designar os ciganos oriundos da Boêmia, região da antiga Tchecoslováquia, que gostavam de festas noturnas, de cantar, dançar, sem preocupação com o dia seguinte. O sentido dessa palavra depois generalizou-se e passou a indicar qualquer pessoa que tivesse esses hábitos. E foi com esse sentido geral que ela entrou na língua portuguesa.
                              Vivendo e aprendendo.

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