domingo, 27 de fevereiro de 2011

Roberta e Protógenes

A princesa e o sapo que virou príncipe


Por Tadeu Nascimento


A vida é mesmo surpreendente. Um dia você está por cima e no outro, vai ao chão. Mais surpreendente ainda, quando você estando por baixo, consegue magistralmente- mesmo contando com a sorte- dar volta por cima. Há 2 anos, o delegado federal Protógenes Queiroz por determinação de Juiz federal Fausto de Sanctis, prendeu na Operação Satiagraha o banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity, juntamente com ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o investidor Nagi Nahas, por crimes contra o sistema financeiro e outras ilicitudes. A força econômica de Dantas fez com o STF, através de seu presidente à época, Gilmar Mendes, determinasse a sua soltura. Em pouco mais de 24 horas, o mesmo Juiz De Sanctis determina o mesmo delegado Protógenes a nova prisão de Dantas. O presidente do STF, num fato inédito, manda soltar o banqueiro novamente e arma uma guerra surda contra De Sanctis e Protógenes. Afastaram o delegado do caso e depois das atividades normais da PF. Outro juiz federal, Ali Masloum, começa a perseguir Protógenes e o acusa de quebra de sigilo e outras irregularidades fabricadas. O ínclito delegado passou a viver um inferno zoodiacal. Parecia acabado profissionalmente e ainda correndo perigo de morte. Sua residência foi vasculhada pela polícia federal. Seus filhos e esposa passaram dias difíceis. Mas, o honrado Protógenes, sabendo da repercussão positiva de seu trabalho, vê uma saída diante do imenso problema a enfrentar. Decidiu-se então, candidatar-se a deputado federal. Conseguiu se eleger.
Abre-se parênteses para uma observação. Conheci Protógenes Queiroz em Campos do Jordão em de agosto de 2009. Estava acompanhado de sua esposa de então- uma bela mulher, diga-se. Cidadão simples, solícito, gentil e elegante. Interpelei-o para cumprimentá-lo pela sua coragem e determinação em enfrentar o todo poderoso Daniel Dantas. Conversamos uns 30 minutos. Disse-me que concorreria a uma cadeira de deputado federal pelo PDT ou pelo PCB. Fecha-se parênteses.
Despedi-me acreditando que o delegado seria perseguido até o fim da vida, ou até sofreria um atentado contra sua vida. Acabou se candidatando pelo PCdoB, por São Paulo. Daniel Dantas nutre pelo delegado um sentimento negativo que não sossegaria enquanto não acabasse com ele. Mas aí vem o imponderável destino e impõe o seu jogo. Em meio a campanha eleitoral conhece Roberta Luchsinger e com ela começa um relacionamento amoroso. E com isso, separa-se da primeira esposa. Não seria nada extraordinário o fato de recomeçar uma vida a dois. Acontece que Roberta Luchsinger é a principal herdeira do grupo Credit Suisse, segundo maior banco da Suíça, país que se evidencia não só pelos melhores relógios do mundo, os melhores chocolates, mas também pelos bancos mais ricos do mundo. O parlamentar desconversa o fado de estar envolvido com uma mulher, além de belíssima, ser herdeira de uma fortuna. O relacionamento não é do tipo passageiro, superficial, diz uma amiga de Roberta: o delegado deputado e a futura banqueira estão apaixonadíssimos. E o mais promissor: Roberta espera filhos gêmeos de Protógenes. Segundo a mesma fonte estão se preparando para se casar.
Desejo felicidades aos nubentes, mas gostaria mesmo era de ter visto a cara do todo poderoso Daniel Dantas e a do nada simpático ministro do STF Gilmar Mendes quando souberam que Protógenes se casará com a principal herdeira do segundo maior banco suíço- muito mais rica que Dantas- o que o tornará muito, muito poderoso e que não será nada fácil persegui-lo e que ele realmente é um homem de sorte. E saberão que eles são os causadores da felicidade de Protógenes, pois se não fosse suas perseguições, o sapo que virou príncipe, não seria deputado e provavelmente não conheceria a banqueira. Devem estar mordendo o canto da boca. E o melhor, passarão a acreditar em contos de fadas. Pelo menos na versão masculina.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Praça 5 de Agosto (Rio verde - GO)


Pedro Biriba, Bem-Bem & Cia.

Por Tadeu Nascimento


Toda cidade do Brasil tem seus tipos populares que são aqueles que entendemos por doidos, engraçados ou irreverentes. Na década de 70, em Rio Verde, havia muitos. E o mais popular deles era o Pedro Biriba. Um pedinte que andava pela cidade com um saco às costas e amedrontava a criançada. Feio que nem ele só, de fala enrolada, com seu aspecto mongol, baixinho, andado cambaleante, de barbicha, dentro de um terno tamanho 2 números acima do seu e de chapéu. Além de um pau de vassoura, que muitas vezes lhe servia de porrete, quando alguém lhe fazia alguma zombaria. Seu itinerário era os quarteirões que se estendem da Praça 5 de Agosto até a Praça Major Frederico Jayme (Praça das Palmeiras). Perambulava pelas calçadas da antiga prefeitura, Bar do Milton Jayme, Posto do Darlô (Rui Barbosa), Bar do Hotel Minas Goiás, Bar do Ney (Rua Rafael Nascimento). Pedro Biriba lembrava o personagem Carlitos de Charles Chaplin, só que ao estilo terceiro mundo: brejeiro, tupininquim. Um Carlitos dos pobres. Morreu de velho.
Mané Côco. Este era hilário. Se gabava major do Exército. Moreno escuro, alto e de andado imponente- como sua patente exigia. Trajava um paletó escuro, tipo farda de gala, com muitas medalhas, galões nos ombros, botões dourados, botas, capacete e binóculo pendurado no pescoço. Andava com altivez e elegância com sua inseparável espada... de plástico! Ficava nos cruzamentos com apito na boca e com os braços em movimento controlando o trânsito. Fazia ponto no Bar do Milton Jayme. Ai de quem desobedecesse a sua norma particular de trânsito. Lavrava multa ao infrator na palma da própria mão.
Bem-Bem. Mulato, cabeça raspada, mudo, de beiços grossos e caídos. Andava puxando uma perna. Ficava meses sóbrio. Nesse estado era calmo e humilde. Mas quando se embebedava tornava-se insuportável. Assim era Bem-Bem. Dizia o folclore de Rio Verde que o nome Bem-Bem se devia ao fato de ele ser bem dotado sexualmente. "Ele tem um bem...bem grande!" Acabou virando Bem-Bem. Existia uma história que uma dona de uma casa de prostituição gostava de ter relação íntima com o dito cujo. Mandava seus subalternos buscá-lo, dar-lhe banho e perfumá-lo para passar uma noite com o seu Bem-Bem dotado.
Maria Florista. Parecia uma personagem do filme Hair. À época, não era feia e tinha uns 30 anos de idade. Andava com flores no cabelo, nas mãos e nas estampas da roupa de chita. Não raramente levantava a saia para quem quisesse ver seus pormenores e seus etcéteras. Morava no porão do coreto, na praça da igreja São Sebastião. Num aniversário da cidade, 5 de agosto, época de ditadura, desfilava os alunos das escolas da cidade. No palanque armado na praça 5 de Agosto, às autoridades civis, militares e eclesiásticas (todos os discursos da época eram mencionados tais autoridades), estavam governador/interventor, não sei se era Gal. Ribas Júnior ou Gal. Meira Mattos, o também folclórico prefeito Eurico (Nenzinho ) Veloso, vereadores, o vigário da paróquia, as senhoras impolutas da sociedade. Lá vem subindo a rampa da praça os alunos do Colégio Martins Borges com sua fanfarra eletrizante, sob o comando do prof. Ottoniel Almeida Leão, o encrencado e temperamental prof. Otto (tio paterno deste cronista). Prof. Otto era outro ser folclórico da urbe. Quando lhe chamavam pelo apelido Cocó, ele respondia em alto e em bom som- não importava o lugar- pra quem quer que fosse: "Cocó é ... da sua vó!" As reticências são aquilo mesmo que o leitor está imaginando. Voltando a Maria Florista: No ponto auge do desfile, em frente ao palanque, à frente da fanfarra, os atletas malabaristas, vestidos de branco, entre eles Joãozinho do João Surdo, Waldir e Onildo Proto faziam a pirâmide humana. E na ponta da pirâmide Joãozinho erguia a bandeira do Brasil. Logo atrás, as meninas balizas "plantavam bananeiras" e se exibiam com outras estripulias. A fanfarra repicava seus taróis. Palmas e mais palmas para os atletas e fanfarristas. Eis que Maria Florista, no alto de sua habilidade artística-esportiva, resolve participar do desfile: misturou-se com as moças-balizas e começou a plantar bananeira justamente em frente ao palanque, sob os olhares austeros das autoridades. Só que a nossa heroína não usava calcinha. E nunca se depilava. E tome visão panorâmica e tome risadas cinemascôpicas. A banda marcial desafinou-se; Miranda, o tocador de pratos esquentou as orelhas do tocador de surdo que estava à sua frente; o Cocó ficou irado, o prefeito enrubesceu-se, o vigário fez o sinal da cruz e essa história ficou para sempre. Pelo menos na minha memória.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A imagem diz tudo


Amores encharcados
Por Tadeu Nascimento

São 23 horas desta quinta-feira, a primeira de fevereiro de 2011. Uma tempestade caiu em Goiânia. Foi uma tarde que ninguém deveria ter saído de casa. Nem os guardas de trânsito. A chuva caiu sem avisar. Não deu tempo nem para as cigarras anunciarem o toró que estava por vir. João-de-barro não pôs o bico fora de casa. Sapos, só não se afogaram aqueles que fugiram para Guapó. Se fosse ontem, diria que foi Iemanjá- que é do dia 02 de fevereiro- quem fez tanta água despencar do céu. Nunca vi Goiânia com tamanha chuva. Vale lembrar que a enchente de São José está distante 44 dias. Tal qual um rio, a água que veio do céu, desceu caudalosa pela avenida Goiás (e em outras vias paralelas) procurando o mar. Antes porém, de chegar ao mar, foi se misturar com as águas do córrego Capim Puba que logo se une ao Rio Meia Ponte que por sua vez, desaguará no Rio Paranaíba que cairá no Rio Grande que se misturará com Rio Paraguai que se unirá com o Rio Uruguai e que, por fim, encontrará seu destino na liberdade salgada do Atlântico, lá na divisa do Uruguai com Argentina.
Mulheres levantando vestidos para não encharcá-los ainda mais; sapatos nas mãos. Homens empurrando automóveis e motocicletas. Semáforos endoidecidos. Velocidade de tartaruga nas longas serpentinas de carros. Pisca-piscas ligados. O trânsito em pleno caos. Guardas de trânsito? Nenhum. Não estamos acostumados com caos. Goiânia é uma cidade abençoada por Deus. O criador inventou o planalto central a quem pudesse fazer o melhor uso dele. No meio ao caos, sob uma marquise, um casal de namorados encharcados pela chuva, fazia o melhor uso deste planalto central, se abraçando, fazendo carícias, desafiando a moral e os bons costumes dos conservadores que ali passavam, expondo-se um despudor como o de Romeu e de Julieta em Verona. O amor é belo. O mundo se derretendo e o casal se contorcendo de tesão. Se Noé, ali passasse com sua arca, na certa, levaria o casal filhos de Eros para a preservação da espécie. Acelerei meu neurônios: Imagine os dois enxutos e "secos" um pelo outro!
Se o Rio de Janeiro que é a cidade maravilhosa, tempestades e deslizamentos de morros são uma constância; se a mais rica do país, São Paulo, além da poluição, o trânsito desafia a paciência de jó dos paulistanos, aqui é diferente. Goiânia, se não é um paraíso, é uma cidade ainda prazerosa. Só falta um mar para ser perfeita. Mas, se aqui tivesse mar, nunca seria perfeita, porque teria também deslizamentos de morros, tufões como em Santa Catarina e o custo de vida fatalmente seria muito caro, e o trânsito seria uma doidura. Por fim, se em Goiânia houvesse mar, como disse uma amiga: "Seria tão bom que não ia prestar!" Melhor ser quase-perfeita. Lembrei-me de São João Bosco que em 1883, num sonho, (premonição) viu que o Brasil central seria um dia a salvação do planeta. Mais propriamente onde se situa Goiás.
Voltemos à chuva. Como é bela a juventude! A tempestade é um bom motivo para os jovens extravasarem seus hormônios. Tal qual Jorge então Ben e não Ben Jor na antológica "Que maravilha". Lembra-se? "Ela vem toda de branca/Toda molhada e despenteada/... Com a chuva molhando seu corpo lindo que eu vou abraçar/...A gente no meio da rua do mundo, no meio da chuva/ A girar,que maravilha ". Os corpos molhados de romeu e de julieta do cerrado definiam bem as suas siluetas e intenções no momento apoteótico do "boca com boca" que acabaram por compor um quadro cinematográfico. Talvez de Franco Zeffirelli ou de Federico Fellini com trilha sonora de Jorge Ben Jor. As pessoas que ali passavam – não davam importância à torrencial a chuva que caia- contorciam os pescoços, admirando (talvez invejando) a audácia dos amantes. Chuva? Que chuva?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011


Martinho da Vila
"Já tive mulheres de todas as cores... "


Cria da minha costela


Por Tadeu Nascimento


Antes era o nada. Aí, Deus criou o mundo. No sétimo dia, o criador, achando o mundo sem sentido, criou o homem. Mas para Ele o planeta ainda continuava sem graça. Então o Altíssimo entendeu que faltava pimenta. Nesse instante, Deus antecipou Machiavel: tirou do homem uma costela e fez a mulher. E deu a obra por encerrada. Pronto: estava criada a maior encrenca de todo sempre! Desde então, o macho, o homo- mais erectus do que sapiens-, não sabe viver sem a cria de sua costela, como canta Chico Buarque. Vive a cobrar eternamente o que lhe foi tirado no princípio do princípio. Dependência química de costela. É uma cobrança inconsciente, pois, depois de Adão, todo ser humano é gerado na barriga da mulher. E ainda, sob suas costelas. Entretanto, os cromossomos xx não entendem os xy e vice versa. E quase sempre vão às turras. Mas, assim como os homens, as mulheres são tanto quanto culpadas, pois cultivam a cultura machista: filho homem pode bolinar- e outras coisinhas mais- a filha do vizinho. Mas a filha há de se comportar como uma santa! Esse é o entendimento da mãe que age, conscientemente, de acordo com o pai, seu parceiro, que não é nada mais do que um filho da mãe. Conclusão: a mulher é tão machista quanto ao homem. Eis, a raiz dos conflitos! João Batista teve a sua cabeça exposta numa bandeja a pedido de Salomé. Sansão perdeu o cabelo e o tesão por Dalila. Nicéia Pitta pisou na goela de Celso Pitta.
Contudo, nunca entendi, ao certo, os símbolos dos dois sexos. O masculino representado por um círculo com uma seta para cima, tal qual um pênis pronto pra batalha e o feminino, por um outro círculo com uma cruz para baixo. Aí que não entendi. Por que uma cruz e ainda para baixo? Matutei todas as possibilidades. Seria, talvez, para lembrar que Jesus morreu na cruz, e como Ele, os homens seriam por elas crucificados de cabeça para baixo? Ou tal símbolo, representaria que as vidas delas são uma cruz? Nem tanto. Desde o tempo das cavernas as mulheres são mais longevas, posto que os homens sempre se expõem mais aos perigos da guerra e da caça, além de não se extravasarem (e nem desestressarem) como as mulheres com suas menstruações mensais. Todavia, garante a ciência que se trata da instintiva preservação da espécie, tanto que em quaisquer estatísticas de longevidade, de qualquer tempo, o homem vive menos do que a mulher. Insisti na pesquisa e encontrei uma justificatica que ainda não me conveceu: o círculo com a seta pra cima tem relação com Marte, deus da guerra, por isso, a seta (lança). Já o círculo com a cruz para baixo (Vênus), é uma alusão ao espelho de mão que se usava antigamente (com uma cruz abaixo do espelho redondo). Continuo desententido.
A vida é breve. Morre-se de susto, de bala ou vício. Morre-se de quaisquer moléstias. E ainda em pleno século 21, adentrando a Era de Aquário, a era do progresso humano, ainda morre-se e se mata por amor. "A vida é arte do encontro/ Embora haja tanto desencontro pela vida", declarou, viniciusmoraesmente, o poeta da paixão. E não adianta contestar, pois a vida é feita de momentos. É tudo que nos resta. A vida é muito breve para cometermos tolices. Tolices que podem estragar a relação e mais do que isso, quebrar o encanto. Como disse Marcel Proust: "O amor é uma maldição (ou loucura) que só se acaba quando se perde o encanto."
E assim, encanto vai, encanto vem. Martinho da Vila é perfeito quando canta "Mulheres". Então passam por nossas vidas mulheres de todas as cores, de várias idades, de muitos amores. Umas malucas, desequilibradas; outras confusas, de amor e de paz. Outras, arrogantes como águias na montanha; outras más como serpentes.

Desde os tempos imemoriais os relacionamentos têm sido assim. Quando se imagina que tudo vai bem como um lago manso, eis que se surge uma turbulência e carrega a paz para as profundezas. Até quando há de se insistir nesse desencontro? Até quando as deusas com TPM governarão essa eterna guerra dos sexos? Por fim, querida, cria da minha costela, tanto eu como você, somos todos filhos da mãe!