sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Como eu era feliz!


A Insustentável leveza da vida


Por Tadeu Nascimento


Chega o dia em que você para tudo e faz um balanço do tempo vivido. Pesar o que restou do que ficou. Talvez um patrimônio invejável. Um histórico de conquistas materiais etc. A imensidão de personalidades que passaram por sua vida. Mil mulheres fascinantes. Mas, diante do espelho, você se vê e pesa- outra realidade: os vincos da própria face, os cabelos ralos e dispersos como um cotonete desfiado de um homem que vai deixar a vida à qualquer hora e que não há dinheiro no mundo que evite isso. Deixará o seu patrimônio para seus filhos, talvez para os genros ou até para o Ricardão. Belo retrospecto! Nessa hora a gente se lembra que viemos nus e que ninguém levará um centavo sequer, quando partir. Há poucos dias, ouvi de um amigo médico que nas UTIs, não raramente, pacientes terminais dizem que dariam todo o seu patrimônio para ter mais um ano, 6 meses de vida para fazer coisas que não fizeram na vida." Devia ter amado mais, ter visto o sol nascer!- como cantam os Titãs. Devia ter conhecido Paris, talvez o Tibet, ter curtido a vida! Nesta vida, só trabalhei, doutor!" I'm so sorry, my friend. Is too late! it's over, meu caro!- pensa o médico. Antes que esse dia chegue, é bom que façamos uma autocrítica daquilo que fizemos e/ou que ainda continuamos a fazer. Se realmente gastamos parte de nossa preciosa vida lembrando dos nossos semelhantes, se cuidamos do meio ambiente não só para nossos filhos e netos, mas para humanidade. Se fizemos para nossos pais o que fazemos para nossos filhos. Se as pessoas com quem nos relacionamos só estão conosco pela beleza dela ou pelo nosso dinheiro para nos vangloriarmos para os amigos. Se reservamos um dia por mês para sentarmos numa grama de uma praça para lambermos felizes um chicabom. Se um dia na vida nos preocupamos com os doentes da Colônia Santa Marta ou de São Cotolengo e se fizemos alguma coisa amenizar as dores dos que ali sofrem. Se tivemos um amor daqueles de arrastar a bunda por alguém e de termos chorado a cântaros, num lugar público, por essa pessoa. Se plantamos uma árvore no chão da vida, ou ainda, uma rosa no coração de alguém. Se perdoamos realmente a quem nos tem ofendido. Se só pensamos na barriguinha de tanquinho e esquecemos dos nossos intelectos que estão saturados de gorduras também saturadas de ignorância que saem pelos poros e que apesar disso, continuamos a nos esticar nas academias de ginásticas, sugando- com magrelos canudinhos- o insosso Herbalife, nos iludindo que não nos envelheceremos jamais, e o pior, desprezando o conteúdo das bibliotecas e a sabedoria dos mais humildes. Se nos prometemos, a cada ano novo, ler a Montanha Mágica de Thomas Mann, se nunca lemos nem o Grande Sertão: Veredas, do nacional João Guimarães Rosa. Se a promessa de evoluirmos, adotando uma criança pobre e negra que ficou para o ano-que-vem-que-nunca-chega que- na verdade- perde para a nosso apoio à pena de morte- dispondo assim, da vida como se fôssemos Deus! Se ensinamos aos nossos filhos que não se deve bater nos filhos como fizemos com os nossos. Que Deus é luz e a razão de todos os seres. Que o amor se confunde com Deus. E que o amor é o único caminho. Que o dinheiro é a provação pela qual passamos. É a maior ilusão que se opõe à felicidade. É a confusão que nos apresenta e nos desafia todos os dias. O dinheiro tem um aliado forte e covarde: o medo. Aliam-se para nos governar, pois morremos de medo de ficarmos mais pobres.
Mas, prestando atenção, tudo que há na vida não nos pertence. A natureza que chamamos Deus nos dá tudo como usufruto o que ela tem. O grande lance é saber usar. Quanto tempo que você não presta atenção no céu em busca de uma estrela cadente das madrugadas de cada dia? Quanto tempo você não mergulha num córrego perto e sua cidade, onde você pescava lambaris e bagres e voltava sorrindo pra casa?
Quantos anos fazem que você não busca uma goiaba ou uma manga nas gripas das alturas; que não joga peão na terra vermelha de um chão batido? Que não solta uma pipa ou que não joga uma partida com bolinhas de gude? Ah, você não é mais criança? Mas também não é mais tão feliz! Por onde anda aquele menino que morava tão feliz dentro de você? Onde está aquele menino que sonhava um futuro de paz, tal qual quando você cantava e dançava a ciranda cirandinha sem a ansiedade que hoje carrega no peito? Cadê aquele menino que tomou conta do seu coração quando você deu o primeiro beijo na primeira namorada? Na porta do tempo, amigo, mais um ano novo está batendo. Ainda é tempo de se encontrar. Feliz Ano Novo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010


Palácio Taj Mahal, construido pelo príncipe Shah Jahan para sua amada, a princesa Muntas Manhal

Quanto custa uma paixão


Por Tadeu Nascimento

Você pode usufruir de uma vida calma, sem atribulações, sem grandes problemas, quase sem graça; ou optar por viver uma existência, às vezes conturbada, porém, rica em emoções. A vida é feita de escolhas. Faça a sua. Sendo eu cronista, e lembrando que os cronistas são os retratistas da vida, com as minhas lentes multi-almas-focais, registro pessoas de todos os tipos. Entretanto, as que me chamam, à atenção, são as que morrem de medo se arriscar; de se envolver com outras, de se apaixonar. Outras, as que me parecem assexuadas. Mesmo nesse mundo moderno de hoje, com a liberdade sexual a todo vapor, ainda existem insistentes virgens com mais de 20 anos de idade. Parece mentira, mas não é. Basta se atentar para as evangélicas ferrenhas e constatará que muitas estão ainda invictas -e convictas- pois se dizem felizes, o que não acredito! Outras- não necessariamente luteranas ou calvinistas- com histórias de relacionamento mal resolvidas ou fracassadas, se fecham como um caracol para um novo afair. Trata-se do risco de quebrar a cara mais uma vez. Mariana, nome fictício de uma linda mulher de 35 anos, mais se parece uma moça de 20, ainda virgem, segundo personagens reais- línguas do ofidiário que a circunda-, com poucos namorados no currículo com quem mal teve beijos relâmpagos, sem reticências ou etcétaras, parece não saber que o tempo é implacável. Tenho pena dessa delicada flor que há de murchar-se se não abrir suas pétalas. Sob a desculpa de uma falsa moralidade, está ela perdendo o melhor da vida!
Transitam desapercebidas pelas calçadas da vida pessoas que passam dois, três, cinco anos sem um relacionamento, embora estivessem no auge de suas sexualidades. Não é pelo fato de não serem desejadas, mas sim, por seus conceitos morais arraigados e por isso preferem a solidão a se exporem como "pecadoras" ou imorais. Enquanto, na verdade, o grande pecado é não ser feliz! Assim como vulgar é ser infeliz! Todos infelizes são chatos e todos chatos são infelizes! E com isso se martirizam, se tornam amargas e até insuportáveis. Não estou fazendo apologia ao sexo pelo sexo, mas combatendo a hipocrisia. Uma mulher desimpedida, solitária, sabe muito bem do cotidiano e do caráter do seu interessante vizinho que- por acaso- está nas mesmas condições que as dela e, no entanto, ela se mantém austera como aço, mais dura que uma bactéria resistente. Vai morrer enferrujada (e, possivelmente, ele também)! É do tempo da pedra lascada a máxima segundo a qual "Leva-se dessa vida, somente a vida que se leva e não o que se leva dessa vida!" A vida tem que ser compreendida como uma grande aventura. Assim como muitas das telas do cinema. Aventura é a materialização do sonho. E como disse o poeta Carlos Nejar, imortal da ABL, "Os sonhos são mais definitivos do que a gente".
Uma paixão pode custar decepção, angústias, amarguras, cabelos gris, rugas e até tragédias. Vide Shakespeare que melhor explorou esse assunto. Mas a paixão pode também custar pouco: basta somente soltar os freios da moral e dar uma chance a si mesmo. Isto posto, a paixão faz remoçar, tornam o amantes mais alegres, mais dispostos para vida e principalmente os fazem sonhar sonhos inebriantes. Tenho no meu rol de amigos, um senhor, que embora rico e que poderia se esbaldar pelo mundo afora, andava com os olhos pregados nos mocassins (de tristeza) esperando pela libertadora morte. De repente arranjou um novo amor e como numa reação em cadeia, perdeu peso, tonificou a pele, trocou os inseparáveis mocassins por um par de tênis; mandou a morte baixar noutra freguesia e agora anda de mãos de dadas com a sua distinta, serelepe da vida! Pelo jeito, vai viver mais uma década, fácil, fácil. Nunca é tarde para viver uma aventura de um Montechio por uma Capuletto.
Enquanto a chama arder, conjuga-se, numa miscelânea ilógica, o futuro do verbo viver no mais que perfeito, o infinitivo do mesmo verbo no presente e o presente pra lá do infinito. Paixão é auge dos romances famosos; razão da existência dos poetas e romancistas. Soneto de Vinicius enquanto dure. Romeu Shakespeare Julieta. Anna de Assis Os sertões Dilermando. Elizabeth Taylor Cleopatra Marco Antonio Burton. John Lennon Imagine Yoko. Peter Abelard Castrado Heloise. Príncipe Shah Jahan Taj Mahal Muntaz Mahal.
Como disse na introdução, a escolha é sua.