domingo, 31 de julho de 2011


Saudosista? Quem? Eu?

Por Tadeu Nascimento





Estamos invertendo os valores. Elevamos o fútil, o decartável e desprezamos as pessoas autruístas. Nada mais ímbecil e descartável que o Big Brother que já vai para 12º ano. Mais interessante era- embora com alguns erros- o Show do milhão do Sílvio Santos. Por que não reeditá-lo? Voltando mais no tempo, havia um programa na TV Record, "Essa noite se improvisa" no qual se disputava quem sabia mais de música. O apresentador Blota Jr. sugeria uma palavra e o participante cantaria uma canção que tivesse tal palavra. Chico Buarque foi o melhor até ser desbancado por Caetano Veloso. Longe do banal "Qual é a música" do Sílvio Santos. Mesmo sendo um chato, Flávio Cavalcante apresentava "Um Instante Maestro" na extinta TV Tupy que tinha um corpo de jurados formado por Sérgio Bittencourt, Fernando Lobo, entre outros compositores.
Não tenho nada com a vida alheia, mas o comportamento humano sempre me intriga. O que leva, por exemplo, centenas de cidadãos participarem de encontros de motociclistas, uma vez que não podem, enquanto ali estiverem, beber sequer uma cerveja? Para se exibirem com suas máquinas potentes sobre duas rodas? Viagem do Brasil ao Chile: "Pronto, chegamos! E agora? Voltemos!" E é só! Nos Estados Unidos e na Europa, muitas dessas máquimas que saem em comboio são emolduradas com mulheres peladas na garupa, pilotadas (as máquinas) por barbudos, barrigudos, carregados de tatuagens? Pra quê? Não seria melhor estarem nus em lugares mais apropriados. Como disse, são coisas que apenas me levam a pensar, mas são problemas de cada um. Se assim, se sentem felizes...
O que levam as montadoras de carros colocarem no mercado automóveis que podem alcançar 260 Km/h se é proibido nas estradas e nas ruas do mundo inteiro imprimirem velocidades acima de 120 Km/h? Aliás, as provas automobilísticas de velocidade são coisas que não me convencem. Não se trata de competições entre atletas, mas sim, entre máquinas. Melhor, são competições que buscam a mais rica escuderia da temporada e claro, faturar milhões de dólares com as transmissões televisivas, como acontece no circo da Fórmula Um. O piloto pouco interfere no resultado. Se assim não fosse, Ayrton Senna, no começo de carreira não teria saído da Tollerman para competir com a McLaren. Na Tollerman nunca seria campeão do mundo. E o telepectador, ali de bobo, assistindo os carros completarem o mesmo trajeto mais de 50 vezes! Quando Senna morreu, vítima deste esporte que nunca foi esporte, mas uma sandice, o governador Paulo Maluf tripudiando em cima do falecido Senna, em busca de votos, armou um outro circo que levou centenas de milhares de pessoas a acompanhar o carro de bombeiro que levava o corpo de Senna. Morre Tom Jobim e a mídia nem tium. Morre Darcy Ribeiro e se repete o mesmo desprezo. Morre Jorge Amado, idem.
Há de se perguntar, então, o que seria bom, o que eu gostaria que estivese sempre em voga, sempre na moda. Fácil: gostaria, sim, da volta- e que durassem- dos tempos dos festivais da canção como os da Record nos 60, 70. Que revelassem outros Chicos, Caetanos, Gilbertos Gil, Vandrés, Edus Lobo que emocionavam o Brasil inteiro. Época de ouro que se espalhou como febre por todo o país. Os festivais universtários de música popular eram eventos corriqueiros. A bela canção Vila Operária, regravada décadas depois pelo goiano Marcelo Barra, foi ganhadora do Festival Universitário de Goiânia- se não me engano- em 1967.
Saudosista, quem? Eu? De fato, sou sim! E daí? Quem não o é? Quem não gostaria de volta o futebol arte de 30 anos atrás? Pois, gostaria sim, da volta dos ponteiros no futebol. Dos dribles. De novos pelés, de novos garrinchas, de novos joãozinhos do Cruzeiro. Aliás, fiquei imensamente feliz com o primeiro gol de Neymar contra o Flamengo. Gol de Pelé em dia muito abençoado. Gol de placa: driblou 6 marcadores e estufou a rede. Coisa raríssima hoje em dia. Quem não gostaria de ver novos centravantes habilidosos que jogavam de costa para o gol, como Reinaldo do Atlético Mineiro? De um outro Romário? De grandes cobradores de falta como Nelinho do Cruzeiro e Éder do Atlético de Minas. Do futebol arte do técnico Telê Santana? De novos Joãos Saldanhas como comentaristas. De Nelsons Rodrigues e Armandos Nogueiras com suas crônicas geniais.
Gostaria sim, de grandes programas de humor na TV como a Família Trapo. De ver novos Ronalds Golias, novos Viva o Gordo. De gargalhar com novos Azambujas, novos Albertos Robertos, novos Justos Veríssimos.
Gostaria sim, de novos Beatles, de novos Jonhs Lennon, de novos George Harrison, de novos de novos Cazuzas, de novos Renatos Russos.de novos Rauls Seixas. De novos Gonzaguinhas, de novos Vinicius de Moraes.