sexta-feira, 14 de dezembro de 2012



Oscar Niemeyer

Carta aberta a Oscar Niemeyer


Por Tadeu Nascimento



                         Caro Niemeyer,



               Quero me expressar que a sua genialidade como artista me impressiona, mas o seu o lado humanista, toca-me muito mais! Porém, algumas coisas me deixam inquieto. Principalmente agora que chegou sua hora. Bem, você sempre se definiu como ateu. Então, suponhamos que Deus exista! O que você diria ao Criador diante de sua magnitude? Imagino que questionaria, principalmente, o porquê de tantas injustiças no mundo! Claro, qualquer um questionaria! Pois é, a vida é um mistério! "Vida, a que será que se destina?", disse o Caetano Veloso. Entretanto, sabemos que os não ateus devem amar a Deus e ao próximo. E a maneira mais perfeita de amá-los é servir a ambos, através da solidariedade.
               Justamente aí, na palavra solidariedade, que está a pedra angular (ou curva , se preferir) da minha inquietude. Você nos ensinou que vida só tem o seu porquê na solidariedade! Aliás, você nos ensinou muitas coisas. Que é possível viver 105 anos sem deixar de acreditar na vida. Que é possível ser ateu praticando a solidariedade do mais nobre cristão. Que a vida é um sopro, passageira e contraditória. Que "A gente tem que sonhar senão as coisas não acontecem!"

               Ensinou-nos que a arquitetura não é importante, mas a vida, sim! Ensinou-nos também que a sua arte é curva como o próprio universo é curvo. E que a beleza de suas obras foram inspiradas nas curvas das mulheres que você amou. Nada mais humano! Faz-me lembrar uma frase genial que vi num para choque de caminhão: "Nas curvas de uma mulher capotei o meu coração!" Entretanto, repito, a sua hora chegou. Você capotou. Você partiu. Você ficou...para sempre. Aliás, você ficará quase onipresente: na Pampulha de Belo Horizonte; no sambódromo do Rio de Janeiro; no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no prédio, também curvo, da Copam; no Memorial da América Latina, ambos em São Paulo. Na Espanha, França, Itália. Nos longínquos Israel e Argélia. Ainda- que poucos sabem- você estará presente, para todo o sempre, no prédio das Nações Unidas em Nova Iorque como um de seus projetistas. E notoriamente em Brasília, a sua filha mais exuberante! Não haverá um só dia nesse país que não se verá os frutos da interferência de sua mão habilidosa na paisagem brasileira. Mesmo nos lugares mais recônditos do Brasil, onde não há uma única de obra de sua arquitetura, todos os dias mostrarão Brasília nos telejornais. Enquanto existir os carnavais, o Sambódromo haverá de reverenciar o seu nome. Isso sem contar, a partir de agora, as inúmeras ruas e avenidas que levarão o seu nome! Não há como escapar de você! Você estará sempre presente!

              Pois é, caro Oscar, você foi um poeta do concreto e um comunista convicto. Aliás, é conflitante falar de você no tempo passado. Você não foi, você é! Você acabou por desmoralizar o tempo! Tornou-se imortal! Na verdade, você tornou-se atemporal!
Lembro-me de algumas de suas frases geniais: "Amo a vida e a vida me ama. Somos um casalzinho insuportável!". "A vida nos leva onde ela quer. Cada um vem e escreve sua histórinha e vai embora. Não vejo segredo em levar a vida!" Outra, totalmente poética: "Quando se vê um arvoredo, o mais importante não são as árvores , mas o espaço entre elas!".

              Fico a imaginar quem é você. Um ser errante que anda na contramão da humanidade? Um comunista cristão sem assumir-se como tal? Uma reencarnação de Pitágoras? De Sócrates? De Aristóteles? De Micheangelo, De Da Vinci? Você tem muito desses homens iluminados, pois você foi e é uma usina de luz! Daqui a milhares de anos você estará, juntamente com os grandes pensadores da Grécia antiga e dos gênios da Renascença, no panteão dos grandes homens da humanidade! Enquanto milhares de poderosos serão esquecidos no caldo da História! Já o nome do criador genial de Brasília, do Sambódromo, dos CIEPS será sempre lembrado. Você realizou o que o semi deus Aquiles não conseguiu realizar: ser sempre lembrado. Aquiles só é lembrado por sua obsessão em ser nunca esquecido! Homero, deve estar surpreso e com inveja de você!

            Que sorte a minha, ser contemporâneo de Vinicius de Moraes, Darcy Ribeiro, Chico Xavier e Oscar Niemeyer!