segunda-feira, 30 de janeiro de 2012



Mim Tarzan, Tu Chita



Por Tadeu Nascimento


Em pleno século 21, ainda tem gente que insiste em não cair na real. Um cidadão britânico resolveu virar Tarzan. É sério. O então segurança de shopping, DeWet Du Toit, 24 anos, abandonou o emprego nesse começo de 2012 e se mudou para as selvas africanas. Decididamente não pretende mais pagar gasolina e tampouco pedágios, carma dos londrinos. A viação cipó, agora é o seu único meio de transporte e ainda, de quebra, se livrou do IPTU, de taxas de energia elétrica e água, morando nas gripas das árvores. O dito cujo, poderia se mirar no Rei Arthur ou em Robin Hood, ambos da mitologia inglesa , ou ainda nos personagens do cinema tipo James Bond (Sean Cornery) ou mesmo o hilário Mr. Bean (Rowan Atkinson), personagens (e atores) ingleses. No entanto, os achou demasiados bonzinhos e muito chegados ao estilo fru-fru! Acabou por encontrar o seu herói na literatura gibilesca: "Tarzan, o rei da selva", do americano Edgar Rice Borroughs. Tarzan briga é com leão, leopardo, crocodilo de igual pra igual, apenas com uma faca, ao contrário do 007, que sem o menor esforço, usa pistola automática pra matar os inimigos! Tarzan não toma uísque, come pencas de bananas! Tarzan não põe fogo nas florestas, defende a selva! É naturalista e corretamente ecológico!- analisou Mr. Du Toit. Aliás, segundo o livro e os gibis, Tarzan é oriundo da mais fina flor da sociedade inglesa. A estória (com a letra "e") começa com um desastre de avião, na África onde morrem todos passageiros, exceto um bebê que foi resgatado por uma macaca que o criou como filho. Krig-Ha, Bandolo! Se não fosse o acidente, Tarzan teria sido um lorde, um Sir, ou um representante na Câmara dos Comuns, o parlamento inglês.

Mas qual o garoto, antes da era dos computadores, que não era fã de Tarzan, do Zorro, do Super-Homem, do Batman, do Fantasma? Quando eu era menino pequeno lá em Rio Verde das Abóboras, tinha eu um vizinho de muro, de nome Alberto Arantes, filho do relojoeiro João Ataídes, que subia quase todas as tardes nas gripas da Mangueira do quintal de sua casa, juntamente com o seu irmão caçula Nenê (Humberto). Ele naturalmente era o Tarzan (e por tais peripécias ganhou o apelido -para sempre- de Tarzan); Nenê, o Boy e pra fechar a aventura, escalava sua vó de mais de 70 anos, Dona Antônia para ser a Chita! Amarrava uma corda num galho da mangueira e tome grito de Tarzan! Com uma faca de mesa sem ponta, enfiada no calção, ele pulava, se segurando no cipó, pra salvar o Boy e a Chita que estavam sendo persiguidos por uma onça faminta que já vinha saltando de galho em galho. E lá vem a onça! Então, Tarzan se atracava com a felina invisível, desde os galhos do pé de manga até ao chão de terra batida. E tome golpes de judô, box, capoeira, etc. Tudo no invisivel! Coitada da onça, apanhava mais que pandeiro de escola de samba! Dona Chita, quer dizer, Dona Antônia, solidária à aventura, tinha que bater palmas, gritar vivas ao Tarzan, fazer micagens tal qual a chipanzé do cinema! E Tarzan, vencedor da peleja com a onça, batia com os punhos fechados no peito e gritava: "Krig-Ha, Bandolo!" "Mim Tarzan, o rei da selva!" E os vizinhos, cansados das repetidas bagunças cinematográficas, protestavam, em vão, aos gritos: "Eu já vi esse filme!"; "Muda o filme!"; "A onça trabalha melhor que esse Tarzan depois da gripe!" "Cadê o Zorro?" "Prefiro o Mazzaropi!" Mas artista é artista: todo dia tinha reprise! Ás vezes em outros dias, mudava o enredo: Tarzan, amarrava o boy e a Chita com a mesma corda no tronco da árvore e tome “tchan!”, “ai!”, “ui!”, “morra pele vermelha!” Eram os índios imaginários sendo derrotados pelo Tarzan, o rei da selva! Na África não tem índios americanos mas na selva do nosso Tarzan das abóboras tinha! E muitos. A avó e o irmão, às vezes ficavam horas amarrados no pé de manga. O Nenê começava chorar e a simplória Dona Antônia perdia paciência e prometia dar uma surra de cinto no Tarzan, se ele não os libertassem de imediato. De nada adiantava. Também a surra nunca acontecia. E o medo de perder o papel de Chita no dia seguinte?!

Já o moderno Tarzan inglês espera que logo algum Steven Spielberg o tire da realidade e o leve para a ficção, antes que algum gorila se apaixone por ele.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012


Os Paradoxos da Vida

Por Tadeu Nascimento


Tem coisas que nunca entenderei. Entre elas, o porque das mulheres se encantarem por gatos. Achar que um homem bonito é um gato. "Ah, ele é um gato!" Que contra-senso! Não sei onde existe relação entre o bicho homem e o bicho gato. Na hora de levar o animal para "passear", aliviar o bicho que mia de suas necessidades fisiológicas, não se vê alguém levar um gato, mas sim, o seu querido cachorrinho (ou cachorrão). Aliás, os cachorros estão sempre acompanhados pelas madames e mocinhas (e vice versa) em todas as ruas, sob coleira ou não! O gato, por sua vez, é um dos animais mais traiçoeiros, preguiçosos, se alimenta de ratos e vagabundeiam pelas madrugadas virando latas de lixo! Depois o cachorro que é vira-lata! A dona gata faz ninhada no estuque da sua casa e não o deixa dormir. E não adianta colocar a felina em um saco e levá-la para bem longe, 40 0u 50 kms de distância. Dois dias depois, eis a gata magra, esquálida, de volta para o estuque de sua casa! O cachorro sim, é o melhor amigo do homem e mais, das mulheres. Protege a casa de assaltos, brinca com os seus filhos, serve de guia para cegos e até morre por seu dono! Daí, o termo "fidelidade canina". E, se não bastasse, ainda temos que ouvir as mulheres zombando dos homens: "O que adianta sermos gatas, se eles são cachorros e preferem as galinhas!
Mas também, não entendo quando os homens chamam as mulheres- digamos-, com traseiros avantajados, de cachorras. Lembra-se da música funk "...E as cachorras/ E as preparadas..."? Assim também não entendo quando se diz vestir as calças e calçar as meias. Não seria mais lógico calçar as calças e vestir as meias? Também me intriga, por que as moças usam as calças com cós tão baixo deixando transparecer as penugens do baixo ventre e ficam o tempo todo puxando a mini blusa para baixo tentando tampar os mistérios do triângulo das bermudas! Ora, é pra exibir ou pra esconder? Decidam! Muitas desfilam com calças tão baixas- que acabam expondo os segredos dos seus cofrinhos. Outras, de tão distraídas, escancaram não os seus cofrinhos, mas os labirintos do Banco Central. É pra poupar ou para gastar?
Nunca entendi o ditado "caiu como uma luva". Ora se a luva cai é porque estava sobrando na mão, portanto, não é a perfeição que o ditado insinua! A língua portuguesa, a última flor do Lácio, é uma confusão só! O termo "pois não" é sim e "pois sim" é sim também!- Vai entender!
Outra contradição: se é proibido, no mundo inteiro, dirigir um automóvel com velocidade superior a 100 km/h (e em algumas rodovias brasileiras, até 120 km/h) por que permitem fabricar tais veículos com motores capazes de alcançar 240, 280, 300km/h. Ainda sobre automóveis: o bafômetro é para coibir o uso de bebidas alcoólicas ao volante. Para os homens da lei, tanto faz consumir um litro de uísque, 10 garrafas de cerveja ou mesmo apenas um chope , um copo de vinho ou um bombom de licor. Um bêbado é igualado a um cidadão sóbrio. E tome multa pesada! E tome um ano carteira de habilitação suspensa! E tome injustiça! Os senhores deputados e senadores com seus folgados salários têm motoristas (pagos pelos contribuintes), são os inventores dessa lei mal feita. Os ricos não reclamam, justamente, pelas mesmas razões! Qual o inocente que acredita que tomam a carteira de motorista de um deputado federal (ou de senador) e que o obrigue a responder processo administrativo, por conta de dirigir depois de ingerir bebida alcoólica? E para os drogados, cadê cocainômetro, o maconhômetro e outros aferidores de viajantes alucinados? Estes podem dirigir livremente? Quantos, então, trocarão a bebida pela droga? Quanta incoerência! Sem contar que notáveis como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende a descriminação da maconha! Se uma hora dessas liberarem a maconha, neguinho vai dirigir “numa boa” enquanto o outro não poderá ingerir uma taça de chope. Para o STF, qualquer quantidade ingerida de álcool e dirigir é crime! Absurdo!
Também não entendo as regras gramaticais. Se o plural da palavra "todo" com as duas vogais "o" pronunciadas sonoramente fechadas e a palavra "corno" no seu plural pronuncia-se "cornos" com as duas vogais "o" abertas! E ao se tratar de pessoas traídas voltam a se fechar: "Cambada de cornos!" Com os "os" fechados. Só porque se trata de insulto? Também me é contraditório o termo "prova inválida" que rola nos meios jurídicos. Prova é prova e ponto. Outra aberração aceita na literatura jurídica é o termo "... alterações posteriores" mas os doutos juízes, desembargadores e jurisconsultos, muitos deles professores com títulos de doutorado, PHD etc, aceitam e ainda confirmam tal redundância nas suas decisões judiciais! Ora, todas alterações são sempre posteriores!... Prefeitura municipal: por acaso existe prefeitura estadual ou federal? Nos telejornais os apresentadores noticiam "a criação de novos empregos". Alguém consegue criar algo velho? Assim, as redundâncias, para eles tão naturais, que se referem aos generais de exército (só existem generais de exército!); despesas com gastos (despesas e gastos são as mesma coisa!); "O escritor Fulano de Tal em sua autobiografia..."(se é autobiografia, já é sua...) "Só que existe um pequeno detalhe" (alguém já viu um grande detalhe?) Sem contar "Erário público", "Planos para o futuro" "Encarar de frente" etc. Pois bem, caro leitor, queria apenas entender porque ninguém se toca, nem os revisores pagos para evitar esses terríveis pleonasmos. Realmente não dá para encarar! Nem de frente... Nem de lado... Nem de costa!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


A química que atrai nossos corpos

Por Tadeu Nascimento


Você é a grande causa. Quando alguém surge na sua vida não é só por força do destino. Como disse o filósofo espanhol Ortega y Gasset, "Eu sou eu + minhas circunstâncias". As circunstâncias entram com uma pequena cota-parte. Então, quando alguém entra na sua vida, é por que você está receptivo(a). Na verdade, a sua vulnerabilidade abriu uma porta para que esse alguém entrasse. Se ficou, ou ainda permanece, é porque você precisava ou ainda, precisa dessa pessoa. Por mais que se desentendam. A comunhão termina quando não mais se necessitam, não mais se completam, eis a verdade. De repente a pessoa virou uma porta, ou um jarro, uma estante, ou um toco, como gosta de me dizer um grande amigo. Você passa por ela (ou ele) e nem percebe! Acontece, porém, quando acaba uma relação, sempre alguém sai perdendo. Paciência: o mundo gira, a fila anda, e me dá licença que eu preciso respirar!
Voltando a vulnerabilidade. A natureza nos dotou de uma substância chamada feromônio que- como jocosamente sugere o nome- é um hormônio "fera". Brincadeira à parte, a palavra deriva do grego e significa "que transmite excitação". Feromônios são substâncias que funcionam como mensageiros entre seres da mesma espécie, desencadeando respostas fisiológicas e comportamento previsíveis; mas às vezes, nem tanto. Trocando em miúdos: depois de se conhecer alguém, seja o que Deus quiser! Trata-se fundamentalmente da preservação da espécie. E o poder de "detectar" está na ponta dos nossos narizes. O papel do olfato nos seres humanos é inegável, basta lembrarmos da bilionária indústria de perfumes. Pois bem, se o cheiro dele(a) combinou, pronto: bateu! É ele, o cheiro, que nos arrasta para as relações amorosas. Então, estar vulnerável é estar com os feromônios a ponto de bala! E de imediato os neurotransmissores captam e respondem a mensagem do outro corpo! Mas, justamente aí, que entra outro personagem da química na história: a testosterona, o hormônio do desejo sexual. E se não bastasse, outra substância pode- aí que mora o perigo!- compor a santíssima trindade: a dopamina! Substância esta que inventa e alimenta a paixão. Que nome mais sugestivo! Estar apaixonado é de certa forma estar dopa(mina)do! Que química maluca! E depois, eu que sou irresponsável por eu me apaixonar! Que doidura!
E batendo tudo no liquidificador, resulta uma síntese ainda mais complexa: o interesse. Mas onde quero chegar? Estou apenas tentando desvendar o labirinto para que se possa conhecer o porquê do amor! Continuemos: e aí, chega-se a conclusão que o amor se confunde com interesse. O leitor pode até discordar dessa tese. No entanto, lamento contrariá-lo, mas é sim! Interesse, nesse caso, é o subproduto das vontades desses dessas substâncias. Não se trata, aqui, do econômico-financeiro. Analisemos, pois, sem hipocrisia: a vida só é movida por interesse! Aliás, o amor, produto coado de tal mistura, mais que interesse, é posse (consentida, mas posse). Não adianta fingir. Não estou me referindo, repito, a posse-matéria-cifrão que é algo imoral e pernicioso. Discutir a relação, por exemplo, é confirmar se o amor (neste caso, posse) ainda existe. Basta perguntar pra si mesmo- no escuro de seu quarto (caso você desconfiasse que seu parceiro(a) tivesse um caso)- se você não cobraria dele(a)? Pois discutir a relação, não passa de um ajuste de contas: um cobrando, o outro se defendendo. Poderia até, fazer perguntas "inocentes" mas com claro intuito de descobrir alguma escorregada do dito cujo! Então, enquanto eu for seu, é porque eu deliberei, estou deliberando. Enquanto existir o nosso relacionamento é porque você me é interessante e eu lhe pertenço. É estar-se preso por vontade, como diz a bíblia (Corintios 1:13). Não há vergonha alguma nisso. E óbvio que serve tanto para o homem quanto para mulher. Enquanto suas pernas me convidarem a rodopiar a dança do acasalamento e eu sentir o frisson que mora no topo da felicidade; enquanto sua boca colar na minha, gerando energia capaz de provocar o "vesúvio" que habita em mim, a entrar em erupção; enquanto a luz, própria de quem ama, trouxer-me a paz que necessitam os deuses, você me é interessante e de você não me apartarei. Eis, o feromônio (o hormônio fera, o hormônio do amor) somado a dopa(mina) aos embalos das testosteronas aguçadas! Em suma, somos laboratórios ambulantes a cumprir a norma divina do "crescei e multiplicai!" É a explicação de sermos um amontoado de neurotransmissores antenados para atrair e sermos atraídos pela frequência de ondas energéticas do sexo oposto que por acaso chamamos de magnetismo.
Portanto, o filósofo Ortega Y Gasset que eu refiro nas primeiras linhas desta crônica acertou em cheio, embora naquele tempo, ainda não se soubesse dos poderes dos feromônios (a excitação) e muito menos dos efeitos alucinógenos da dopamina (a paixão) e da fome da testosterona (a libido). Alguém disse, não sei onde, que a natureza é perfeita!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sócrates


Sócrates, o poeta que escrevia versos com os calcanhares

Por Tadeu Nascimento

Três dias antes da morte de Sócrates, havia eu escrito, com tristeza, uma crônica sobre o possível fim de um dos maiores jogadores do futebol brasileiro. Mais do que isso, sobre o ser humano admirável que foi Sócrates. Com a notícia do seu passamento, em razão de inúmeras notícias sobre sua morte, aguardei alguns dias para publicar a minha admiração pelo Doutor Sócrates. Eis, o texto:
"Sócrates, o brasileiro, está próximo do fim. A nação lamenta a possível perda. Sócrates se encontra na UTI de um hospital em São Paulo. Nome grego e sobrenome brasileiro, este herói dos estádios, ao contrário de Aquiles (herói de Homero) cujo ponto fraco era o calcanhar, Sócrates fez desta parte da anatomia seu forte. Claro, o cérebro esteve sempre no comando. Assim como o poeta passa para o papel, o que criou na mente, ele, com o calcanhar escrevia arte. Imagino que o grego Aquiles- se não fosse ficção- morreria de inveja! Tróia moderna é Ribeirão Preto. O passe de calcanhar é uma jogada inventada ainda nos tempos de jogador do Botafogo de Ribeirão. Dizia o camisa 8 da seleção que a "jogada de calcanhar" foi inventada para compensar a sua lentidão em campo devido ao seu biotipo (alto e magro), pois os jogadores rápidos têm suas estaturas justamente ao contrário. Mas o Olimpo de Sócrates seriam os gramados dos estádios do Morumbi, Maracanã, Serra Dourada, Sarrià (Espanha) e tantos outros. Eternizou-se no Corinthians e na Seleção Brasileira. Não suportou o frio e a frieza de Florença e do time da Fiorentina e voltou para terra brasilis como Ulisses (Odisseu), amigo de Aquiles, voltou para Ítaca.
Pisciano como eu (veio ao mundo 5 dias depois de mim), nascido em Belém (Pa), este sonhador -perdoa-me o pleonasmo- quase utópico e um tanto anárquico (era contra qualquer ordem estabelecida), tanto que o técnico Telê Santana não o convenceu, enquanto na seleção brasileira, a abandonar o cigarro! Foi o criador da também utópica democracia corinthiana, movimento político único na história do futebol! Um ser tão pisciano (sonhador) que batizou seu filho caçula de Fidel Brasileiro! Estrela dos gramados e do Pinguim de Ribeirão Preto, entre outras choparias, é médico ortopedista formado naquela cidade. Abandonou a carreira de futebolista depois de defender as cores do Flamengo e um por último, uma rápida passagem pelo Santos. Sócrates não tinha mais paciência com a hipocrisia dos cartolas do futebol brasileiro.
Sócrates foi estrela também no palanque das "Diretas Já", em abril de 1984, ao lado de Tancredo, Ulisses Guimarães, Brizola, Arraes, Lula, Fernando Henrique, Chico Buarque, Fafá também de Belém, Betinho, Ziraldo, Osmar Santos, o locutor de esportes, e outras personalidades. Sócrates- magricelo- que quando marcava um gol comemorava o feito, com o andado que sugere um gafanhoto pedalando bicicleta- indiferente, como se não fosse ele a causa- do principal: o gol. Só depois de alguns anos passou a comemorar com alegria seus gols. O doutor não verá o seu Corinthians ser campeão brasileiro de 2011 no próximo domingo. UTIs não têm televisão, mas para Sócrates deveriam abrir exceção, afinal ele é o Doutor Sócrates. Exagero, à parte, o Magrão está em estado gravíssimo! Sócrates, jogador frio que se explodiu de alegria quando fez o primeiro gol do Brasil (naquela copa de 1982) contra a Rússia e depois contra a Itália ao fazer o 2º gol, empatando - que no final, os italianos acabaram nos vencendo por 3x2 e ganhando a copa do mundo de 1982. Ele novamente, marcaria o primeiro gol da seleção (contra a Espanha) na copa do México em 1986.
Sócrates tornou-se cronista. Escreve bem: foi destaque da revista semanal "Carta Capital", onde assina uma coluna por muitos anos. Equilibrado, ponderado e muito educado, nunca se achou melhor que outros jogadores. Ao contrário de Edson Arantes do Nascimento que sempre diz que o Pelé foi o melhor do mundo; de Diego Maradona que se arvora detentor da mesma façanha, Sócrates, modesto, sempre dizia que o Zico (Flamengo) era o melhor jogador do Brasil. Pra quem não sabe, Sócrates dirige um programa de entrevistas no Canal Brasil (Tv por assinatura). E em uma delas, foi com o jornalista esportivo Juca Kfuri. Está na Internet. Basta procurar no Google, o blog do Juca. Vale a pena ver.
Sócrates foi artilheiro do campeonato paulista pelo Botafogo de Ribeirão Preto em 1976 com 15 gols (um grande feito!); três vezes campeão paulista pelo Corinthians (1979,1982 e 1983), campeão carioca pelo Flamengo em 1986. Foi considerado pela FIFA como um dos 125 melhores jogadores de futebol vivos da história. Está no mesmo grupo composto por Pelé, Tostão, Maradona, Cruijff, Beckenbauer e outros grandes jogadores, felizmente, vivos."
Nelson Rodrigues, Antônio Maria, Ary Barroso, se vivos estivessem, escreveriam poemas sobre o Doutor Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente, "Doutor" ou "Magrão".
Sócrates morreu em 04 de dezembro, na véspera da última partida que garantiu o título ao Corinthians de Campeão Brasileiro de 2011.