quinta-feira, 27 de agosto de 2009

roberto

O Abominável Roberto Jefferson

Por Tadeu Nascimento

Quando eu era menino pequeno- não em Barbacena- mas lá em Rio Verde- das Abóboras (me orgulho de ser abobrense)- eu ouvia- não só do meu pai- mas de outros senhores mais velhos que homem que é homem, teria que ter vergonha na cara. Que a palavra de homem honrado teria como garantia o seu fio bigode. Hoje me pergunto- acho que todo mundo se pergunta- até a que ponto um homem de bem se portaria irredutível diante da sedução de dinheiro desonesto? Existe uma grande hipocrisia rondando a nossas vidas atualmente. O que é honesto e o que não é. Pergunto: se apoiar, pactuar, se irmanar, avalizar e se colocar ao lado no mesmo palanque de um político corrupto- ainda mais um corrupto - confesso- é ser honesto? Não é o caso de “ser ou não ser ; eis a questão”; mas a evidência de desonestidade sim, pois existe clara intenção de ludibriar. Só para ilustrar: se você estiver num palanque com Osama Bin Laden, você é um monge ou um terrorista?

É o caso de quem apóia ou dá guarida a Roberto Jefferson. O ex-deputado, é o atual presidente do PTB Nacional (pode? neste Brasil de memória tão esquecível, pode!) Logo o PTB de Getúlio, de Jango, de Brizola e de Darcy Ribeiro. Roberto Jefferson, réu confesso do Mensalão e que se negou a dizer onde foi parar os quatro milhões de reais que recebeu do Valerioduto, (cadê o STF para julgar este meliante e fazê-lo ver o sol nascer quadrado?) esteve no fim de semana em Goiânia a prestigiar o partido que preside. Fotos pra cá, fotos pra lá com muitos políticos (meu Deus, que políticos!). Há de chegar o momento em que a opinião pública cairá de pau em cima de Roberto Jefferson e aí ninguém- absolutamente ninguém- pousará nem para tirar foto 3x4- ao lado do canastrão Roberto Jefferson.

É tão fácil esquecer ou subestimar a inteligência popular como, por exemplo, o caso do senador Sarney que, por estar de braços dados com Lula -e como não conseguem derrubar o presidente- se esperneia no patíbulo para escapar da guilhotina dos espertinhos, dos oportunos. Estes mesmos que antigamente estiveram bajulando o então presidente da República José Sarney, como o senador Heráclito Forte da antiga Arena, que tinha- até pouco dias- a filha do ex-presidente Fernando Henrique- que trabalhava no “home sweet home” isto é, em casa- como assessora (se alguém não delata, ela estaria até hoje no cargo!), enquanto outros simples mortais servidores teriam que bater ponto e trabalhar para receber seus salários; o senador Agripino Maia, ícone da ditadura, que esteve ao lado de Sarney por décadas- ou melhor, somente enquanto lhe interessava- agora prega-lhe os últimos cravos. O senador Arthur Virgílio que tinha um assessor estudando na Europa, (se não é delatado, o assessor não seria demitido e ainda estaria lá, gastando em euro, of course) prometeu restituir em doze parcelas o dinheiro, fruto do crime; além de custear o tratamento de saúde de sua mãe ( 700 mil reais), também no continente europeu (ambos às custas do senado). Realmente estamos num mundo de inversão de valores. Pobre quando comete um crime, apanha da polícia, fica mofando atrás das grades, mas o senador Arthur Virgílio tem a facilidade de parcelar a reparação do seu crime. Imagine o leitor: Se alguém roubar, acreditando (óbvio) que ninguém descobriria o seu crime, mas, todavia, se alguém descobrisse tal falcatrua, ele devolvesse o fruto do roubo (em doze parcelas!) e ainda fosse perdoado, seria o caos, mas Arthur Virgílio pode. Todos do PSDB e do Demo (aliás, o demônio só não entra com “notítia criminis” contra os Demo, por apropriação indébita do nome, “Demo”, porque o STF não tem nada santo, ao contrário, é muito suspeito).

Agora inventaram uma nova saída para o crime: se descobrirem e se o criminoso confessar o crime, este se tornará uma espécie de santo, um herói dos trouxas que é o caso de Roberto Jefferson. Voltando ao Sarney: Por que não o acusaram, não o execraram durante as suas outras duas gestões na presidência do Senado? Então os senadores não sabiam dos atos irregulares de Sarney enquanto presidente daquela casa por dezesseis anos? Cretinices à parte, os senadores não deveriam subestimar a população. Eis mais uma indignação: a OAB-Go patrocinou em 15/05/2008 Roberto Jefferson, para palestrar num simpósio contra corrupção. Com que moral? Por que a OAB se prestou a este papel ridículo e imoral de avalizar as palavras de um corrupto-confesso? Este indivíduo- como diria Jânio Quadros- é um ator – um grande ator, posto que seu palco é o tribunal do júri, onde ele brinca com o emocional dos jurados. Deveria, portanto, ter sua carteira de advogado cassada por ferir a ética, os bons costumes então tipificados no Estatuto da OAB.

Pra quem não sabe, existem vários links na internet execrando o ex-deputado e mensaleiro Bob Jefferson por picaretagem. A indignação é tanta que dezenas de internautas perguntam porquê dão tanto espaço a um meliante profissional tão renegado (basta entrar no Google). No mês de maio deste ano, num vôo da TAM de Brasília para o Rio de Janeiro, preparando-me para ocupar a poltrona a mim reservada, escutei uma voz conhecida, um carioquês arrogante, pensei: esta voz não me é estranha e então, logo a abominável criatura se revela ao passar com três assessores que mais pareciam com Mike Tyson, quase a me atropelar. O carioquês arrogante saía da boca de Roberto Jefferson, que se apresentava mal vestido e com o cabelo em desalinho, mas a arrogância imprimia a sua marca. Bati três vezes na madeira.

Esta semana num encontro regional do PTB-Go (e depois no programa do Paulo Beringhs, excelente apresentador) em 24 de agosto último, data coincidente com os 55 anos da morte de Getúlio Vargas, criador do PTB, partido este usurpado do herdeiro natural Leonel Brizola (na redemocratização) pela Dona Ivete Vargas, Gastone Righi e, por ele, claro, Roberto Jefferson- veio, este último, para vender (e para cobrar caro depois) a sua falsa influência. Quem não se lembra dele quando fazia parte da tropa de choque de Fernando Collor? Na época era tão gordo que seu apelido era rolha de poço. Hoje é um poço de rolos. Na entrevista com Beringhs se comportou como gato manhoso, quase um inocente, papel este de ator de pornô-chanchada de quinta categoria.

É impressionante como certas pessoas se identificam com outras. São Gambás cheirando gambás.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Goiania Foto
Depois de uma noitada: ajudar o próximo

Saudades da vida boêmia de Goiânia

Por Tadeu Nascimento

Não que eu seja saudosista, mas o progresso tem mudado muito as nossas vidas. Muitas coisas para melhor; outras nem tanto. Isto posto, entendo que alguns lugares deixaram lacunas e saudades em Goiânia. O tempo passou e muitos estabelecimentos passaram. A questão é que não surgiram outros para substituí-los. Há pouco menos de vinte anos desapareceram da cidade lugares onde se encontravam – no mesmo ambiente – jornalistas, políticos, artistas, estudantes, boêmios de todos os hálitos e de todas marcas de cerveja e de uísque. Onde – no meio de melhores papos – se podia fechar a noite se redimindo dos pecados etílicos com uma canja de galinha, um escaldado ou mesmo um bom filé a cavalo ou um arroz à carreteiro. Fizeram o desfavor de desativar o Restaurante Salerno que ficava sob as arquibancadas do Estádio Antônio Aciolly do Atlético Goianiense, com objetivo de construir um shopping na área do estádio – sob a força de um contrato espúrio. Ainda bem que o povo da Campininha e os torcedores fiéis do Atlético impediram. Sem esta providência, não veríamos o Atlético Goianiense em primeiro lugar da Série B e que, com certeza, estará, em 2010, na Série A do Brasileirão. Quem sabe como campeão da Série B. Voltando ao Salerno: os bares e as boates fechavam e os notívagos (aqueles que amam a noite) iam tomar a melhor canja (ou escaldado) da cidade no Salerno. Era comum encontrar os mesmos amigos que há pouco estavam no mesmo bar ou na mesma boate.

Também na Avenida Tocantins aprazia o charmoso Restaurante Dona Beja, que executava os melhores filés e o seu famoso arroz à carreteiro. Ali se encontravam jornalistas que – depois de encerrada a edição dos seus jornais – iam ali se espairecer; os boêmios mais renomados que iam tomar seus últimos goles; políticos para tecer suas artes e manhas; artistas que – depois das apresentações no Teatro Goiânia – iam conhecer a boemia da capital. Muitos clientes ficavam à espera de vagar uma mesa. Eis aí, senhores “restauranteurs”, um bom negócio: reativar a Dona Beja, mesmo que seja em outro lugar – desde que se mantenha o mesmo estilo e graça.

Na década de 70, o fim de noite acontecia no Zé Latinhas, na Rua 8, no Centro. Recordo-me de muitos deputados arquitetando estratégias politiqueiras sobre os panos vermelhos das mesas do Zé Latinhas. A comida, nota dez. O ambiente – boemicamente –, onze. Muitos saíam da boate do Hotel Bandeirantes e dobravam a esquina para encerrar ali a sua noite com um filé à parmegiana.

Hoje, o perigo ronda. Não há um só lugar em Goiânia – para que esta mesma gente interessante se reúna. É o preço do progresso. Resta tomar um caldo na Avenida T-63, num lugar totalmente distante – quase a ermo –-, escuro e perigoso, onde raramente se encontra com um conhecido. Onde o garçom nada mais é que cobrador de impostos etílicos. Quanto mais tonto, mais extorquido. Existe outro estabelecimento, no fim da Rua 85, que vende galetos, com tantos seguranças tipo leão-de-chácara, cuja impressão é de estar num lugar inóspito onde se frequenta o perigo e não segurança; portanto não é lugar para encontrar amigos, muito menos no fim de noite. São lugares sem nenhum aconchego de madrugada, sem nenhum charme da burguesia noturna. A verdade é que a graça está em saber que sempre os mesmos amigos já estão ali prontos a sua espera, a puxar uma cadeira pra você. Na madrugada os colarinhos parecem respirar livres, as gravatas repousam no bolso do paletó que está no carro que impede a saída de outro, que também tem um paletó no banco do passageiro; os batons em desalinho com os lábios; os rimel – dos olhos – desbotados; as meias desfiadas que ninguém vê. Enfim, a noite adiantada sempre permite estas liberdades.

Há quem agrida o estômago com sanduíches lambrecados de maionese duvidosa ou com espetinhos de carne de gato nas calçadas da cidade. Nos melhores dias de boemia, depois de encerrada as atividades noturnas do Sancho Pança, do Degrau 94 (dos meus amigos Rubão e Elvira), do Dom Quixote, do Bebs, do Zero Grau, das boates Zoom (belíssima casa do internacional Chico Recarey) na Galeria Um, da Number One, da People, os estômagos cobravam um contraponto, um socorro para aplacar o álcool ou mesmo a bem-vinda fome. Depois dos bailes no Clube Jaó, onde aconteciam os bailes de formatura – que eram os melhores acontecimentos do ano – e também do Jóquei caíamos, nós os notívagos, por força da gravidade, em alguma boemia que encerrasse a noite de uma forma perfeita. E a solução estava nas “mesas boêmicas” do Salerno, da Dona Beja e do Zé Latinhas, que se perduraram por muitos anos. Tornaram-se tradição. Mas o falso brilho da modernidade acabou por apagar a verdadeira luz que tinham estes bares da boemia goianiense. É uma pena. Nas grandes capitais fazem questão de preservar seus bares famosos – apesar da modernidade. No Rio de Janeiro a La Fiorentina mantém viva sua tradição de mais de 50 anos, tal qual o Bar Brahama; o Filé do Moraes e o Ponto Chic da capital paulista. Mesmo a cidade de Ribeirão Preto, interior paulista, mantém a tradição de 60 anos da Choperia Pinguim. Estabelecimentos que só encerram suas atividades nas altas horas.

Melhor então ir pra casa e esperar dias melhores. E virão. Se Deus quiser, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e os anjos também. Amém. Salve a boemia! Amém.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

JOÃO SALDANHA

Lembranças de João Saldanha


Por Tadeu Nascimento

Imagina você sentado à uma mesa de bar e, de frente Vinicius de Moraes bebendo uísque com Tom Jobim e Rubem Braga, ou ainda você no Maracanã e logo na fila de baixo Chico Buarque, Cyro Monteiro e Nelson Rodrigues, assistindo a Seleção Canarinho de 70, sob o imaginário hino “Noventa milhões em ação/ Pra frente Brasil do meu coração!” e lá nos gramados Pelé, Tostão, Rivelino e Gerson. Não seria algo de se emocionar? Nas décadas de 1960/70 isso era bastante possível, pois os personagens citados de fato se encontravam nos bares, no Maracanã, etc. O Brasil era rico em talentos. Mesmo sob os cravos da ditadura, grandes personalidades da música, da literatura, da arquitetura, da pintura, do esporte e mesmo da política se reuniam, no Rio de Janeiro, em lugares como o “Antônios”, a “La Fiorentina”, a “Colombo” e tantos outros. Uma cidade que abraçava os gênios da música Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Lamartine Babo, Braguinha, Antônio Maria, os então meninos Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Os escritores Jorge Amado, Carlos Drummond, Manoel Bandeira, Rubem Braga, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, Sérgio Porto. Os pintores Di Cavalcante, Portinari. Na arquitetura havia Oscar Niemayer, Lúcio Costa. No futebol Pelé, Garrincha, Tostão (que era do Cruzeiro, depois Vasco), Rivelino (do Corinthians, depois Fluminense), se encontram no grande palco que era -e ainda é- o Maracanã. Na política tínhamos o polêmico deputado pelo Rio de Janeiro e o mais votado no Brasil até então- Leonel Brizola que atordoava os militares e o eloqüente deputado e depois governador Carlos Lacerda que excitava- pelo lado direito- os mesmos militares. Em meio a tantas pessoas interessantes havia um personagem extraordinário chamado João Saldanha que mexia com todos brasileiros- de norte a sul, da esquerda e da direita. O Brasil, na certa perderia muito da graça daqueles “Anos também dourados” se Saldanha não existisse. Estamos falando de um Brasil comovente como nos dias vividos na copa do Mundo de 70. Hoje, em plena democracia, estamos pobres de talentos em qualquer área.

João Alves Jobim Saldanha era um gaúcho- primo de Antônio Carlos Jobim- que se ajustou tão bem ao Rio de Janeiro que se tornou um perfeito carioca. Afora isto, trazia consigo a valentia dos maragatos do Rio Grande do Sul. Sua história é muito interessante. Começa como traficante de armas aos 6 anos de idade quando seu pai lutava contra a oligarquia dos ximangos de Borges de Medeiros nos pampas gaúcho. Foi líder estudantil aos 20 anos, dono de cartório aos 33, membro do Partido Comunista Brasileiro a vida toda. Foi jogador e técnico de futebol, campeão de basquete, jornalista, comentarista de rádio e televisão, analista de escola de samba, escritor, candidato a vice-prefeito do Rio de Janeiro. Todos os dias- de 1970 a meados de 1973- no Jornal Nacional havia “Dois minutos com João Saldanha” sobre os bastidores do futebol brasileiro- a Globo poderia reeditar este quadro, mas cadê outro João Saldanha?

Com a vitória da Revolução de 30, os pais de Saldanha mudaram para o Rio de Janeiro. Tinha ele 14 anos. No Rio Grande do Sul torcia pelo Grêmio, mas quando chegou ao Rio o Botafogo tomou conta do seu coração. Ali foi jogador e técnico. Treinou o campeão Botafogo de Nilton Santos, Didi, Garrincha, Amarildo, Quarentinha. Todavia, Saldanha tinha um temperamento forte e não aceitava desaforos. Exemplos: nos estúdio da Rede Globo, em 17 de dezembro de 1967, no programa Resenha Facit, presentes Armando Nogueira, Nelson Rodrigues, Luis Mendes: em pauta o resultado da vitória do Botafogo de 2X1 no Bangu (o Bangu buscava o bi-campeonato) à tarde no Maracanã. Saldanha com a sua habitual franqueza, disse que o goleiro teve uma atuação suspeita no gol do Bangu. Castor de Andrade, presidente do Bangu, que residia ali por perto, invadiu a TV Globo portando um revólver de ouro maciço e ameaçou Saldanha que não se intimidou e atirou um pesado cinzeiro sobre Castor e depois um copo dágua. Os amigos seguraram os contendores e por sorte não aconteceu o pior. Castor, dono de jogo de bicho, famoso por sua periculosidade, foi retirado e o programa continuou. Mas o goleiro Manga entendeu que o negócio era com ele e três dias depois no Mourisco num jantar de comemoração Manga se levantou e partiu pra cima de Saldanha que acabara de chegar com Bebeto de Freitas- seu parente e que anos depois seria presidente do Botafogo- e que sempre andava armado, atirou em Manga por 2 vezes, que não acertou o alvo porque Bebeto e Luis Mendes seguraram o seu braço de maneira providencial. Manga em disparada fugiu e pulou um muro e desapareceu na noite. Em outra história, Saldanha perseguido pela ditadura por ser comunista, ao chegar para o trabalho na Rádio Nacional, ouviu do diretor Jorge Curi que ele, Saldanha, estava proibido de falar naquele microfone. De pronto Saldanha respondeu: “Olha Curi, manda os teus militares enfiarem este microfone no rabo!” Quando treinador da Seleção, outubro de 1969, um repórter lhe perguntou sobre a escalação do time e João Saldanha a forneceu sem o nome do centroavante Dario, e o repórter o desafiou: mas o presidente Médice gostaria que Dario fosse convocado! Saldanha respondeu de imediato (está no Youtube.com): “Pois olha: o presidente escala o ministério dele que eu escalo o meu time.” Deu no que deu. Meses depois João não era mais o técnico, mas montara toda estrutura para a Seleção ser campeã.

O caso Pelé. O fato de Pelé ter errado três jogadas em que normalmente não erraria, Saldanha achou que o craque estava com problema na visão. Exigiu rigoroso exame oftalmológico. Surgiu então a celeuma de que Pele não poderia ir à copa. E isto seria o caos no meio futebolístico. Mas numa mesa redonda da Rede Globo Saldanha desmentiu a história: “O que o Pelé tem é mais grave. O problema do negão é a falta de dinheiro. Está jogando partida atrás da outra para ganhar a grana que perdeu em seus negócios lá em Santos!” Estes dados se encontram na biografia de João Saldanha escrita por João Máximo.

Saldanha morreu- no palco onde sempre melhor representou- comentando a Copa do Mundo. Na Itália em 1990. O único brasileiro, segundo ele mesmo, que assistiu todas as copas do mundo até então. Como diria Nelson Rodrigues, Saldanha era um daqueles sujeitos de “defeitos luminosíssimos.” Estas são algumas histórias de um personagem extraordinário de uma época sem igual.

VOCÊ TEM FOME DE QUÊ ?

Por Tadeu Nascimento

Todo mundo tem fome de alguma coisa. Não estou me referindo às necessidades básicas como alimentaço, sexo, higiene etc., mas sim a outras coisas que desejamos no dia-a-dia. Arnaldo Antunes e os Titãs, por exemplo, têm fome de teatro, diversão, arte, balé, e até saída pra qualquer parte. Mas neste mundo tem gosto pra todos os gostos. Eu já tive fome de muitas coisas: de vencer na vida, de um dia ser rico e de outras bobagens. Hoje tenho fome de sossego- se possível com uma cerveja bem gelada ao meu alcance. Mas tem gente que tem fome até de morte: O Bush filho tinha fome de vingança do pai- por este não ter vencido Sadan Houssain- até consumarem a morte do ditador iraquiano. Osama Bin Laden tem fome dos dois Bush, o pai e o filho. Do pai, porque fora traído por este na guerra do Afeganistão contra os russos. Pra quem não sabe, Bush pai foi sócio do próprio Bin Laden. De Bush filho ele demonstrou sua fome em 11 de setembro de 2001. Hebert de Sousa, o Betinho, irmão do Henfil, tinha fome de acabar com a fome. Cora Coralina tinha fome de lirismo. Vinicius de Moraes tinha fome de paixões. Tom Jobim, de um cantinho, um violão, este amor, uma canção. Caetano Veloso tem fome de vaidade. Já o Chico Buarque tem fome de modéstia. Michael Jackson tinha fome de ser branco. Paul McCartney tinha (e ainda tem) fome da inteligência de John Lennon e Lennon tinha fome de amor por Yoko Ono. Chico Xavier tinha fome de humildade; João Paulo II de paz para humanidade. Napoleão tinha fome de mundo; Hitler de judeus. Nero de fogo; Calígula de luxúria. Pitágoras de triângulo retângulo; Isaac Newton de maçãs caídas via gravidade. Albert Einstein tinha fome relativa de tudo que era relativo; Fidel Castro tem fome de ser o primeiro santo ditador comunista de Cuba; o irmão Raul seria o segundo. Kim Jong-il, o ditador da Coréia do Norte, tem fome de bomba atômica, justamente porque a explosão da bomba atômica tem a sua cara. De fome.

No campo da política Fernando Henrique Cardoso tem fome de ser a eterna rainha da Inglaterra do Brasil, já que ele nunca ouvirá de Barack Obama “Este é o cara!”. Fernando Collor tem fome de voltar para o Palácio da Alvorada despachando (inclusive macumba- segundo Rosane Collor à revista Veja) da Casa da Dinda. Sarney, de ser imperador do Maranhão. Enéas Carneiro do PRONA tinha fome de si mesmo: “Meu nome é Enéeeeas!” O presidente Lula tem uma fome exacerbada de “nunca antes na história deste país”. Carlos Lacerda tinha fome de presidência da República. Getúlio Vargas de deixar a vida para entrar na história. Leonel Brizola tinha fome de combater perdas internacionais. Jânio Quadros de forças ocultas. Os militares de ditadura. Oscar Niemayer tem fome de curvas (no concreto); Juscelino tinha de Brasília e de dançar valsa. O ministro Gilmar Mendes tem fome de destituir Deus de suas funções celeste-jurisdicionais e tomar o seu lugar. Daniel Dantas tem uma fome de leão em jejum por dinheiro alheio. Eike Batista de ser o mais rico do mundo, já no ano que vem que não chega nunca.

A fome nos esportes: Sócrates, o ex-camisa 10 do Corinthians, tem fome de chope do Pinguim de Ribeirão Preto. João Alves, aquele do escândalo do orçamento tinha fome de loteria esportiva. O Ibis Sport Club tem fome de ser o pior time de futebol do mundo (sempre foi e será!). O Botafogo tem fome de Flamengo. O zagueiro Emerson do Botafogo tem fome de ser reconhecido como o melhor atacante do Flamengo. O Flamengo tem fome de um novo Romário e o Romário dos 10 milhões de reais que o Flamengo lhe deve (e não paga!), além de ter fome de Zico, de Zagallo, de ex-mulheres e de outros desafetos. O Fluminense tem fome de Segunda Divisão. O Vasco está cansado de ter fome de títulos e pretende- se outros times com menos fome deixarem- permanecer na Segundona. O Adriano do Flamengo de ser imperador em qualquer hospício da Primeira Divisão. Zico, de nascer de novo e se chamar Pelé. E o Pelé, que por sua vez tinha enorme fome de gols, de casar-se de novo. Garrincha tinha fome de driblar João; Edmundo de gols e de confusão. O técnico Vanderley Luxemburgo tem fome de ser Muricy Ramalho e o Muricy de ser Luxemburgo. O Goiás Esporte de Clube tem fome de ser campeão brasileiro; o Vila Nova tem fome de Terceira Divisão. O Atlético Goianiense de empurrar o Vila Nova pra terceirona. Ronaldo Fenômeno de pagar mico-gay. O jogador Dadá Maravilha tinha fome de ser helicóptero ou beija-flor. Túlio Maravilha tem fome de marcar o milésimo gol como prefeito de Goiânia. Rubinho Barrichello de um campeonato de Fórmula Um, com somente pilotos que nunca foram campeões onde ele seria, claro, vice-campeão.

A fome das mulheres. Imelda Marcos, de sapatos (ela tinha mais de mil pares!); Adriana Galisteu, de ser viúva de qualquer famoso, principalmente de piloto de Fórmula Um. Mas também pode ser da Fórmula Dois, da Três, da Mil. Suzana Vieira tem fome de se debutar pela quarta vez aos sessenta e dois anos; Hebe Camargo de renovar o contrato por mais 80 anos com o SBT. Hillary Clinton tem fome de acabar com a cota de negros para presidente dos EUA. E você leitor, tem fome de quê?