quarta-feira, 23 de dezembro de 2009


A imagem diz tudo

A arte de ser cobaia



Por Tadeu Nascimento



A verdade de ontem pode ser um grande engano, amanhã. Leio sobre o Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA). A pessoa “portadora” deste distúrbio tem dificuldades para se concentrar- pois é dominada pela distração-, é desorganizada, tem dificuldades de aprender com erros passados, carece de previsão lógica, tem alterações de humor mais do que as pessoas, digamos normais (até porque, “de perto”, ninguém é normal). E quanto mais se exige dela mais atenção, mais sua condição piora. Trata-se de uma disfunção neurológica no córtex pré-frontal que impede a pessoa de concentrar, cuja causa é a deficiência de uma substância (neurotransmissor) chamada dopamina. Antigamente estas pessoas eram compreendidas como lerdas, preguiçosas, e até desparafusadas. E que caiam no choro quando gritassem com ela, pois não sabem viver sob pressão. Hoje, além de medicamentos como a “tirosina” e o “gingko biloba” que ajudam a aumentar o fluxo de dopamina, os cientistas descobriram que crianças portadoras de DDA que ouviam Mozart, mais precisamente o concerto para piano nº 21, “O Casamento de Fígaro” e o concerto para flauta nº 2, “Don Giovanni” ajustavam suas atividades cerebrais ao ritmo dos compassos das músicas que resultavam numa melhora de concentração, controle de humor, diminuição de impulsividade e aumento de habilidade na convivência social. Portanto, gritar, dar bronca não ajudam, só prejudicam. Estas descobertas foram publicadas no Internacional Journal of Arts de Medicine em 1995.

Verdades de ontem. Há poucas décadas, era incontestável que o doente deveria se internar num hospital para se curar e muito das vezes sem receber visitas. A medicina moderna entende que o paciente deve ficar o mínimo de tempo em uma maca hospitalar. Não só pelo risco de infecção, mas também pelo ambiente deprimente, próprio de casas de saúde. O afeto e o amor dos familiares são remédios importantíssimos para ajudar na recuperação desses pacientes.

O caso Viagra. A princípio, era vendido somente sob prescrição médica. A história é sempre a mesma: certos pacientes hipertensos eram medicados com substâncias a base de nitrato. Geralmente pacientes com mais de 60 anos. De repente estes cidadãos amanheciam contentes e com o ego do tamanho de uma jaca, cantando “Eu vou pra Maracangalha, eu vou de chapéu de palha, eu vou...” Estes pacientes confidenciavam aos seus médicos que estavam muito felizes , que faziam- ou que queriam fazer- coisas que até se ruborizaria. Os médicos começaram a invejar a condição erótica de seus pacientes. “Ora, se eu, que sou mais novo, estou rateando, porque será que estes velhinhos estão literalmente matando à pau?” Algo está errado! Ou melhor, está certíssimo! Precisamos pesquisar!” Pouco tempo depois lançaram ao mercado o Viagra e, em seguida, os seus similares. Todos com tarja preta, isto é, vendidos somente sob prescrição médica, pois havia o risco de mal súbito por associarem o Viagra com outros remédios para hipertensos. Mais uma surpresinha: os pacientes usuários do Viagra melhoraram suas condições coronarianas! Acredita-se que a causa é proveniente da auto estima. Logo os cientistas baniram a tarja preta e liberaram o Viagra, que ao meu ver, foi a maior invenção ou descoberta- depende do ponto de vista- depois da roda. Aliás hoje a roda gira mais redonda do que nunca, graças ao Viagra! Em agosto de 2010 cessa os direitos de exclusividade de fabricação do medicamento pela Pfizer. A partir de então, por força da concorrência, o Viagra custará ao consumidor o preço de um Dorflex.

Ser cobaia é mais importante que a vã filosofia e a psicologia imaginam. Como é que os cientistas descobriram que um cálice de vinho, em jejum, diariamente, faz bem para o coração? Ora, só se for pelo fato de um dos seus pacientes ter sido alcoólatra. Quem se arvoraria beber vinho de manhã, tirante o vigário na missa das sete? Antigamente não tinha perdão para qualquer bebida alcoólica. O álcool era o vilão, o demônio. Demoraram um tempão, mas enxergaram o lado benéfico da hidroxila. Então exaltaram o vinho e logo depois a boa nova da defesa da tese de que a cerveja faz um bem danado ao coração. Daqui a pouco, hão de defender uma caipirinha regularmente, pois ela ajuda o cidadão romper a casa dos 100 anos. Viva Oscar Niemayer que fuma e bebe e que completou 102 anos no dia 16 de dezembro!

O que mais mata, caro leitor, é o estresse, é o deixar de sonhar, é a incapacidade para amar e de ser amado. Feliz Natal.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


"A Face Oculta das Nádegas"



A Influência do Bumbum na humanidade


Por Tadeu Nascimento



Dizia Rubem Braga que a diferença entre crônica e artigo é que a crônica é contar um caso e o artigo é explicar o caso. Na prática a diferença é pouca, pois não sei limitar o que é um, o que é outro. O fato é que quando quero escrever uma crônica, acabo escrevendo um artigo. Pesquisando a respeito, conclui que não existe crônica sem explicação. Indiretamente o cronista explica o caso. Digo isto porque me considero cronista e não articulista. No meu conceito, articulista é aquele que escreve coisas com carga de notícia, que se preocupa em informar ao leitor coisas boas e ruins. Mais ruins, do que boas. Já a crônica é algo leve, sem a rigidez da notícia. Abre-se o jornal e lê-se críticas ao presidente, ao governador, ao senador, ao prefeito e ainda os acontecimentos políticos. Tudo isto é artigo. A crônica é o recreio, a pausa, o relaxe entre a dureza da notícia e as farpas daqueles que de um modo ou de outro, brigam pelo poder.

Entre o escândalo dos Panetones dos Demos de Brasília e o palavrão do presidente, dizendo que vai tirar o povo da merda, uma reportagem chamou-me a atenção que resultou nesta crônica. Trata-se de um livro e de um documentário – ambos com o mesmo nome- que foram lançados no último dia 9 de dezembro em Paris e que levam o título de “la Face Cacheé des Fesses”. A editora está investindo pesado e espera faturar muito “argent” (grana) com as obras.

Caros leitores, numa tradução livre, o referido título significa “A Face Oculta das Nádegas”, cuja pretensão é demonstrar a influência da bunda na humanidade. Isto mesmo, sem hipocrisia e direto ao assunto: os autores concluíram, depois de 18 meses, uma investigação séria e ao mesmo tempo engraçada. Começa por uma referência a revista semanal “L’Express” que descreveu o bumbum como a parte mais subversiva da anatomia humana. O livro cita também Jean Paul Sartre, o grande filósofo do existencialismo quando cunhou esta máxima: “A pátria, a honra, a liberdade nada existe: o universo gira em torno de um par de nádegas!” A imprensa francesa comenta que o lançamento deste livro e também do documentário são as melhores obras deste fim de ano. São a cereja do bolo natalino e que ambos vão dar o que falar.

Tem razão os autores do livro. É grande a influência do bumbum na história da humanidade. Aliás, sempre pensei nisso. Cleopátra, que segundo uma moeda antiga de Roma- que traz sua face- prova que era uma mulher feia. Mas como pode uma mulher feia fazer curvar-se o homem mais poderoso do mundo que era Julio Cesar e ainda fazer de Marco Antônio seu amante e vassalo ao ponto de se matar por ela, a rainha morena do Egito? Imagine os habitantes de Roma que era o centro do Universo daquele tempo, indagando o que tinha a mulata do Nilo que as branquelas romanas não tinham? O que fez ela para Julio Cesar se apaixonar? E depois com o seu amigo general Marco Antônio acontecer o mesmo? Os gregos fizeram a maior guerra do mundo contra os troianos, onde morreram mais de 100 mil homens, por causa da princesa Helena que o príncipe troiano Páris raptou. Com milhares de mulheres aos seus pés por que estes homens poderosos se curvaram por estas duas mulheres?

O rei Luis XIV construiu o Palácio de Versalles para encantar a voluptuosa Madame Pompadour, que segundo os historiadores tinha um furor...Napoleão Bonaparte também deu um palácio para Josephine que o traia constantemente. O príncipe Shah Jeahan construiu o magnífico Palácio Taj Mahal para abrigar sua amada, a princesa Mumtaz Mahal. É o poder que certas mulheres tem que faz a humanidade andar pra frente.

Aqui do lado de baixo do Equador, mais precisamente na terra do Pau Brasilis, onde miscigenação fala mais forte e que o negro tem sua contribuição importante com seu “gen” africano, mais precisamente da nação dos Akibundos- daí a origem da palavra bunda, pois as negras escravas tinham traseiros avantajados- deixou-nos de presente a fama de termos as mulheres mais sensuais do planeta. Com isto, restou uma verdade: todo mundo tem nádegas mas nem todo mundo tem bunda. Quando se refere a bunda, há de se compreender um complexo de curvas que começa na cintura e termina nas coxas. A bunda propriamente dita é o núcleo, e sozinha não faz verão. Quando Luis Gonzaga compôs “Cintura fina, cintura de pilão” queria ele dizer que para ter nádegas bonitas é preciso, antes de tudo, ter cinturinha de pilão. Assim como a formiga tanajura, para ter volume nos glúteos é preciso ter cintura. Garrincha- que nunca foi Mané- jogou para escanteio o Botafogo pra ficar, digamos, com o par de nádegas de Elsa Soares, que tinha um vozeirão e uma silueta mais poderosa ainda.

A atriz Juliana Paes, com seu 98 centímetros de quadril, comprovou que o talento da cintura para baixo tem mais valor que o talento do pescoço para cima e para o deleite dos telespectadores, mostrou a sua belíssima retaguarda- nua- na praia numa novela global- que a fez famosa e rica, a custa do quê mesmo? Da bunda. Fernando Collor e a sua frase que nunca foi publicada: “Meu reino por um par de nádegas da Tereza Collor!” Perdeu o reino. Por causa de um frontispício do par de nádegas de Lilian Ramos, o insosso Itamar Temperamental Franco, o presidente pão de queijo, cantou todos os sambas enredo de todas escolas de samba no carnaval do Rio de Janeiro.

Loucos ou não. Por causa de um traseiro moreno de uma plebéia, o Príncipe de Gales, Eduard VIII, filho de Jorge V, abdicou-se do trono da Inglaterra para viver com a fogosa Wallis Simpson em 1936. Charles, o atual Príncipe de Gales trocou a angelical princesa Diana Spencer pelos segredos da sem-bunda Camila Parker. Eduard pode ter sido louco, mas não foi tantã como seu parente Charles que entende mesmo é de caneta Parker e não entende nada de...bundas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Júlio César


O ano bissexto e o roubo de 10 dias do calendário


Por Tadeu Nascimento



Parece uma história absurda, mais não é. O Papa Gregório XIII- o homem que mandava em todos países católicos- inclusive nos reis desses países- determinou, que o dia seguinte ao dia 4 de outubro de 1582 não fosse o dia 5, e sim dia 15. Que suprimissem 10 dias daquele ano e três anos bissextos em cada 4 séculos seguintes. Razão da rapinagem: o ano solar, por séculos, era composto por 365 dias, ao passo que na verdade, o ano sempre teve e tem 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos. Se continuasse a persistir o ano de 365 dias exatos, ao cabo de muitos anos -na Europa- o inverno cairia em junho e o verão em dezembro, características do hemisfério sul. E a permissividade da festa pagã do carnaval cairia em cheio na semana de contrição da Paixão de Cristo. Com estas mudanças iniciava-se, pois, o Calendário Gregoriano. A Inglaterra se rendeu ao calendário papal somente quando suprimiu os 10 dias em 1752 (de 03/09/1752 a 13/09/1952). A Rússia, por ser uma nação ortodoxa, só suprimiu os 10 dias depois da revolução bolchevique em 1918 (31/01/1918 a 14/02/1918). Abemos papa!

A princípio, o calendário fora instituído de forma arbitrária por Rômulo, fundador de Roma, que não era astrônomo e sim um grande guerreiro. À parte disto, as palavras calendário e almanaque são, neste contexto, sinônimas, embora de origens diferentes, acabam tendo a mesma finalidade, pois a primeira vem de “calendas” que para os romanos significava o primeiro dia de cada mês e a segunda, procede dos termos árabes “al” e “monach” que em português significa “a conta”. O ano era composto de 304 dias divididos em 10 meses, uns de 20 dias e outros de 55 dias, o que deveria ser uma balburdia. E tinha o seu inicio em 1º de março, homenagem ao deus Marte, de quem Rômulo acreditava ser descendente. O segundo mês homenageava-se Aprilis, um dos nomes da deusa Vênus, o terceiro, a Maius, de Maia, mães do deus Mercúrio, o quarto a Janius, de Juno, outra deusa da mitologia romana. Daí provém os nomes de março, abril, maio e junho que se conservam até hoje. Os nomes dos meses restantes eram Quintilis, Sextilis, Setember, Octuber, November e December. Em suma, a primeira metade do calendário era em homenagem aos deuses de então e a segunda metade- por falta de imaginação ou por escassez de deuses- os cinco meses restantes, foi nominada por ordem numeral.

Um rei de Roma chamado Numa Pompílio reformou o calendário, acrescentado-lhe os meses Janeiro (de Janus, o deus de duas caras) e Febrarius (de Februs, deus da morte). Os meses de Marte, Maius, Quintilis e Octuber tinham 31 dias e o restante 29 dias. Portanto, faltavam 10 dias para que o ano civil estivesse de acordo com o ano solar inventado pelos egípcios. Júlio Cesar, 44 anos antes do rabino de Nazaré trazer as Boas Novas, suprimiu o mês Quintilis e no lugar deste inseriu o mês Julius (com 31 dias) em homenagem a si mesmo. Com a morte de Júlio Cesar ascende ao poder o seu sobrinho Otávio que se nominou Otávio Augusto. O nome Augusto refere-se à divindade. O sucessor de Júlio, o imperador Otávio Augusto disse ao seu próprio umbigo: se eu sou divino, também mereço um mês no calendário! Impôs então, o mês de Augustus que viria a ser Agosto (também com 31 dias, para não ser menos prestigiado do que Júlio Cesar), que empurrou então os meses seguintes para frente. Por isso o mês de setembro, refere-se ao mês 9 e não ao numeral 7; outubro, refere-se ao mês 10 e não ao numeral 8; novembro, refere-se ao mês 11 e não ao numeral 9; dezembro, ao mês 12 e não ao numeral 10. Como é sabido o ano tem 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos. Portanto seria impossível conviver com esta inexatidão de tempo. Com isto o calendário estava adiantado em 10 dias em 1582 e por conseqüência o carnaval tendia alcançar a Páscoa que tinha por base o equinócio (quando o dia e a noite tem a mesma duração) de março, o que seria um contra- senso. O Primeiro Concílio da Igreja, o de Nicéia, no ano de 325, determinou que a Páscoa seria celebrada no domingo seguinte a lua cheia, após o equinócio da primavera do hemisfério norte, podendo ocorrer entre 22 de março e 25 de abril. Para resolver a questão- por ordem do santo papa Gregório XIII- suprimiram os 10 dias referidos e acochambraram o calendário mantendo o tão importante ano bissexto.

Ano bissexto. Em 4 em 4 anos, um seria de 366 dias. Muitos entendiam e ainda entendem que é bissexto o ano quando este tem 366 dias, justamente por conter dois números 6 no numeral 366. Ledo engano. A origem do termo ano bissesto é outra. Os romanos contavam os dias do mês de uma forma muito estranha. Júlio Cesar determinou que este dia a mais, fosse inserido entre os dias 23 e 24 de fevereiro, portanto seis dias antes de março. Séculos depois, com o calendário gregoriano, estabeleceu-se que seria o dia seguinte ao de 28 de fevereiro. Mas na Roma Antiga não se dizia dia 24 de fevereiro e sim, o sexto dia das Calendas de Martius, ou seja, seis dias antes de 1º de março. Com a inserção de mais um dia, o segundo sexto, explica-se, pois, o ano bissexto (antediem bis-sextum Calendas Martii). Se o imperador tivesse determinado- por exemplo- que seria no dia 25 este dia a mais, o ano de 366 dias não se chamaria de bissexto e sim de “biquinto”. Ave Cesar!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ela, depois de ingerir a Flibanserina


O Viagra feminino: o bicho vai pegar

Por Tadeu Nascimento



Flibanserina é o nome da fera, isto é, da substância (principio ativo) que vem aí para apimentar o planeta. Ela vem para salvar as mulheres da tristeza do TDSH (Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo). Após uma década do lançamento do Viagra, está em fase final de testes a versão feminina do medicamento que revolucionou o comportamento sexual masculino tratando problemas de disfunção erétil. Já apelidada de Viagra Cor-de-Rosa o produto chega às drogarias no começo de 2011 com a promessa de virar de pernas para o ar o comportamento sexual das mulheres. Se o Viagra original aumentou a temperatura corporal dos homens, imagine agora com a parceira turbinada. Será como milho de pipoca em panela quente.

A descoberta ainda carece de aprimoramento. Mas daqui alguns anos o bicho vai pegar! Desenvolvida pela indústria farmacêutica Boehringer Ingelheim a nova pílula aumenta a libido agindo diretamente no cérebro. Não vai dar para quem quer. A empresa detentora da patente, a Boehringer, está com a expectativa de faturar muito mais que as cifras obtidas com a comercialização do Viagra e similares, ou seja, a Flibanserina (que deverá receber um nome comercial adequadamente sugestivo) deverá render aos cofres da empresa mais de 2 bilhões de dólares por ano!

Enquanto isso fico a imaginar algumas conseqüências quando esta tal de Flibanserina sentar praça na jurisprudência. O cidadão na peleja para levar a presa ao seu abatedouro esbarra na negativa da fêmea que se escorrega quem nem enguia. Ele espera então a durona ir banheiro e derrama duas doses (dilui as pílulas) da Fliban no seu copo. Meia hora depois a imbatível (preste a ser abatida) se manifesta: “Tô com um calor! Que vontade de tomar um banho! Você mora aqui por perto? No seu apê tem banheira, ‘morzinho’? Paga a conta, está me dando uma zueira!” E o mais interessante: e se a distinta, por natureza, tiver a quentura de um Vesúvio e que só estava se fazendo de difícil? E se ela ingeriu uma pílula no banheiro? Aí, meu caro, ninguém segura: vai voar caco de paralama, de pára-choque, de rebimbeta da parafuzeta e até de retrovisor.

A coisa é séria, leitor. O laboratório deverá alertar para as reações adversas. Exemplo: que é extremamente perigoso o uso da Fliban por mulher feia, senão eu não sei o que vai acontecer! Às hipertensas, não consumir com bebidas alcoólicas, principalmente uísque, sob o risco de se implodirem. Hiper dosagem pode causar infarto. Não nas mulheres, mas nos seus homens na hora H. As doidas, só com acompanhamento do médico psiquiatra e ainda com camisas de força. Sapatão então, nem pensar: vão arrancar as mulheres dos homens! E os gays? Os gays que vão baixar em outra freguesia ou esperar a invenção do Viagra arco-iris!

É sabido que os rapazes, nas boites, estão turbinando suas libidos tomando energéticos com Viagra. Dizem que até as mulheres estão tomando. E agora com este aditivo cor-de-rosa? A rapaziada terá que ingerir doses para elefante para fazer frente às leonças que estarão à caça. Mas também surgirá a lenda do efeito inverso nos homens e com isso, os machões estarão preocupados em não afinar a voz e beberão somente suas próprias bebidas e se portarão como cães de guarda a vigiar seu copos.

Situações nos lares. O marido para esposa que está assanhada: “Que isto mulher, tomou Fliban?” A esposa que encontrou um comprimido de Viagra no bolso do marido: “Por acaso, com quem você está usando Viagra? Resposta do marido: Claro que é com você, Bemzim! Depois que você passou a usar este tal de Fliban, só tomando o ‘Azulim’!”

Pelo andar da seriema, já devem estar escolhendo o nome para batizar esta substância. Como no caso dos estimulantes masculino Viagra, Cialis e Levitra eu lanço aqui a campanha para escolher o nome para este produto que vem para dar cor à vida de muitas mulheres. Sugestões: Mileva (à loucura), Supita (que eu preciso), Malagueta (para temperar), Stupim (pra explodir) e Nitro (alusão a nitroglicerina). Porque o importante é ser feliz.

Só de pensar que na Idade Média o prazer era coisa do capeta no corpo das mulheres, causa-me vergonha de que um dia fomos tão ignorantes.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Os bem casados: The spirit and ectasy


Os bem casados

Por Tadeu Nascimento

Tem pessoas que são predestinadas a viver uma com as outras por longos períodos para construírem juntas histórias de glórias. Separadas, teriam destinos bem diferentes dos trilhados na vida real e ninguém saberia dizer se teriam sucesso ou não em suas carreiras solo. Juntas se completariam umas às outras como aconteceram a alguns pares de cabeças pensantes que ajudaram a humanidade a seguir adiante. Não estou falando de matrimônios, de casais que conjugam o axioma “felizes até que a morte os separe” e sim de pessoas sem enlaces matrimoniais, sem filhos entre eles, mas que conseguiram unir suas almas em prol de um determinado fim. Poucos sabem, por exemplo, que o famoso automóvel Rolls-Royce leva o nome de seu dois criadores, no entanto dá- se a impressão que se trata de uma única pessoa. Os ingleses Charles Stewart Rolls e Frederick Henry Royce criaram em 1906 o automóvel mais cobiçado do mundo (a Presidência da República possui um, ano 1953, doado pela rainha Elizabeth II ao governo de Getúlio Vargas, usado desde então nas posses de presidentes e Erasmo Carlos, na década de 70 se orgulhava em possuir um). Foram tão felizes nas suas cumplicidades que alem de carros, a empresa fabrica turbinas para o novo Airbus A 380, maior avião comercial do mundo. O símbolo da marca é uma escultura de uma sofisticada lady com asas, chamada de The Spirit of Ectasy”, que fica sobre o capô, presa por um cabo de aço ao radiador que a protege de “colecionadores” larápios. Hoje a Rolls-Royce pertence ao grupo BMW.

É também o caso da união bem sucedida de Wilhelm Maybach e Gottlieb Daimler criadores da Mercedes-Benz. Estes alemães inventaram o primeiro verdadeiro automóvel (1885), cujo motor era criação do amigo Karl Benz (considera-se Karl Benz o inventor do automóvel moderno). Antes dele era apenas uma engenhoca fabricado por Henry Ford que foi o primeiro a fabricar em escala industrial. Maybach e Daimler logo inventaram a corrida de velocidade e patrocinaram o cônsul austríaco Emil Jellinek para pilotar o carro. Este pintou no carro o nome da filha Mercedes. Houve um terrível acidente e os fabricantes resolveram homenagear o piloto e o construtor do motor batizando o invento de Mercedes-Benz. Uma curiosidade: a estrela de três pontas dentro de um círculo, símbolo da marca, representa as três maiores forças do planeta: terra, ar e água. A Marca da estrela continua viva, embora o controle acionário tenha mudado de mãos. Hoje a Mercedes-Benz é dirigida pela Volkswagen.

Outro enlace famoso é o dos inventores do revólver Smith&Wesson mais conhecido no Brasil como “Shimitiuesson” ou simplesmente “Shimite”. Horace Smith e Daniel Baird Wesson inventaram o revolver de repetição em 1857, depois de terem inventado, três anos antes o cartucho metálico. Com o evento da Guerra Civil americana foram estimulados a inventar o calibre 44. Em 1873 Smith se aposenta e Wesson compra a sua parte na sociedade e dá continuidade a fabricação da arma mais famosa da história. Em 1944 o seu sucessor cria a Magnum 44, imortalizada no cinema por Clint Eastwood nos filmes de Dirty Harry. A empresa passou a fabricar também lanternas, calçados para soldados, relógios e uma ampla linha de facas e canivetes.

Outro “casamento feliz foi o do polaco Antony Patek com o francês Adrien Philippe. Criaram em 1933 a mais famosa marca de relógios de pulso do mundo: Patek Philippe. Esta dupla conquistou mais de750 prêmios, incluindo 187 primeiros lugares. A apreciação de qualidade destes relógios é unânime: monarcas, presidentes, papas e milionários ostentam em seus respectivos pulsos a marca da Cruz de Calatrava (símbolo da Patek Philippe). É bom lembrar que o brasileiro Santos Dumont foi o inventor do relógio de pulso. Cansado da falta de praticidade dos relógios de bolso quando da necessidade de saber o tempo acima do chão enquanto manejava seus inventos, Dumont encomendou ao seu amigo Louis-Francois Cartier um relógio para o pulso. Voltando a qualidade de relógios, os dez mais valiosos do mundo são da marca Patek Philippe. O “Supercomplication” de 1933 é avaliado em 11 milhões de dólares, o equivalente a 7 milhões de euros (19 milhões de reais)- o mais caro do mundo e está exposto no museu Patek Philippe em Genebra. Na outra ponta, os relógios da Patek de preços mais acessíveis ficam em torno de 11 mil euros (26 mil reais).

Assim como na vida marital (homens e mulheres casados ou não) são raros os relacionamentos duradouros. Restam Roberto e Erasmo Carlos que ano após ano, vem batendo recorde, com mais de quatro décadas de casamento musical (todas suas músicas são de autoria da dupla). Uma parceria tão bem sucedida que dificilmente um dia será superada. Lennon e McCartney, por exemplo, foram muito felizes por 15 anos, mas a máxima “dreams is over” infelizmente não deixou.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Bêbado ensinando como fazer poesia a Carlos Drumond
Morri ? Assim como ?


Por Tadeu Nascimento

Já havia girado o ponteiro da meia noite- o que garantia que 1º de novembro, Dia de Todos os Santos, já havia se findado e , portanto, já era segunda, "Dia de Finados"- quando chegou a notícia que Ademir Gonçalves, mais conhecido como Tufão, abotoou o paletó após um acidente de carro na Br-153, perto da cidade de Santo Antônio da Platina, Paraná. Familiares e amigos reconheceram o corpo no necrotério e o sepultamento fora marcado para o mesmo dia. Justamente no dia dos mortos. Que azar, foi morrer logo neste dia! O desastre foi muito feio. A família ficou dividida quanto ao reconhecimento de Tufão. " Eu e meus tios ficamos em dúvida, mas outra tia minha e quatro amigos dele reconheceram o corpo, então o que iríamos fazer?" disse depois, a vendedora Rosa Maria, sua sobrinha. A polícia ligou para funerária para a retirada do corpo da pista e o proprietário Natanael Honorato, vendo que ali iria render uma boa grana tratou de colocar o corpo do distinto bem arrumadinho no caixão.
O corpo foi liberado às 6 horas da manhã. A família já estava no velório que ficava ao lado cemitério que já começava a se encher de vistantes, próprio para data de Finados. A mãe, no entanto, olhava para o corpo no caixão e achava tudo muito estranho e não acreditava que quem ali estava era Tufão. Tufão nunca usou paletó, muito menos gravata e aquele terno ficaria melhor num defunto mais gordo. Por volta do meio dia, o verdadeiro Tufão apareceu na porta velório em carne e osso- mais pinga do carne e osso- cambalaente de tontura como um semi-morto, com a "roupa de anteontem" e cheirando a gambá causando o maior alvoroço. Mas daí pra frente a noticia carece de exatidão. Sonegaram aos leitores dos jornais e internautas detalhes da confusão. Mas dá para imaginar o acontecido: Por exemplo, o dono da funerária "Cansei desta Vida", embora acostumado com defundo, segurou Tufão pela camisa e gritou:
-Você que é o Tufão?
-A seu dispor- repondeu Tufão, com bafo de engenho lá de Pernambuco .
-Tufão, você morreu!-determinou o funerário.
-Quem disse que eu morri!
-Eu! Eu entendo de morto mais do que ningúem! Você mooo-rreeeeu!
-Morri? assim como? Eu não morri não, graças a Deus! Eu só tava tomando umas!-sacramentou.
E o Tufão ao olhar a mãe chorando, gritou:
-Tira este cara daí, que este lugar não é dele! Este morto é um impostor! Esse cara está gastando as lágrimas de minha santa mãezinha! Eu sou o verdadeiro morto!
A debandada foi geral. Gente trombando com quem estava saíndo. Quem estava chegando correu sem saber do quê! Pânico geral.
Acontece que na noite do acidente, Tufão estava no restaurante Auto Posto Platina que fica pertinho do lugar do acidente. "Ele passou a noite toda bebendo pinga com os amigos", confirmou Rosa, sua sobrinha. Diante da "certeza que ele era o morto, o jeito foi providenciar o velório, continuou Rosa.
Em entrevista a jornalistas, o agente funerário Honorato, disse que o reconhecimento do corpo foi feito com muita emoção: " foi uma choradeira danada. Até eu chorei. Chorei por que faz parte da encenação. Eu nem conhecia o Tufão, muito menos o outro morto. São ossos do ofício, aliás na minha profissão o que mais tem é ossos! Pois é, em dez anos de profissão, nunca vi coisa igual! Agora fiquei no maior preju! Depois de esclarecida a dúvida de identidade do morto, a familia saiu do velório e foi pra casa e nem quis saber de conversa comigo. Nenhuma das duas familias pagou pelo meu trabalho. Nós ofeferecmos 24 horas de café, chá, lanche, cachaça, sem falar do caixão do sepultamento e o choro que eu derramei em cima do outro morto. Tudo ficou por R$ 1.300,00 que saiu do meu bolso, fora o choro chorado que não foi calculado. O choro é à parte, o cliente paga se quiser, é uma gratificação!"
Tufão também ficou no prejuízo. Mal soube da "morte" de Tufão o dono do barracão jogou as roupas e o colchão do então "defunto" no quintal e ateu fogo. Após ter virado celebridade Tufão declarou: "Não fui eu quem arrumou esta confusão!Tava de boa no meu cantinho, não pertubando nin-guém-nin-guém! Me mataram e quase me enterraram!" Já pensou, eu com documento de morto! não poderia nem votar na eleição; morto não vota! Nem o INSS iria me atender! Agora eles que se virem para me dar o de vestir, o de comer e o de beber- disse Tufão aos jornalistas- e aliás, agora é que eu não paro de beber mesmo. Todo mundo vai querer falar com um morto-vivo: fiquei famoso, saí até na Globo! E é lógico que todo mundo vai querer pagar uma cangibrina pra mim! Acho até que vou cobrar pelo autógrafo!"
Passado o mal entendido, abraços mil, tapinhas nas costas, alegria, alegria e que bom você não morreu, "eu sabia que você não morreria tão cedo!" Tufão chegou aos ouvidos de sua mãe e disse: "A senhora disse sempre que a pinga ia me matar! A senhora tava totalmente errada: a pinga me salvou! Se eu não estivesse bebendo eu estaria morto junto com aquele outro. Resolvi ficar pra tomar uns goles e aquele cara foi pegar a estrada. Sabe pra onde? Pra i-gre-ja! Quem mandou ele ser crente e "num" gostar de beber! Agora, quero que a senhora faça um brinde comigo!"
-Um brinde à pinga!
-À pinga!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009
Perón, Getúlio, Lula - Emir Sader



Quando acusou Lula de uma espécie de neoperonista, FHC vestia, em cheio, o traje da direita oligárquica latinoamericana. Que não perdoou e segue sem perdoar os líderes populares latinoamericanos que lhes arrebataram o Estado de suas mãos e impuseram lideranças nacionais com amplo apoio popular.

Os três – Perón, Getúlio e Lula – têm em comum a personificação de projetos nacionais, articulados em torno do Estado, com ideologia nacional, desenvolvendo o mercado interno de consumo popular, as empresas estatais, realizando políticas sociais de reconhecimento de direitos básicos da massa da população, fortalecendo o peso dos países que governaram ou governam no cenário internacional.

Foi o suficiente para que se tornassem os diabos para as oligarquias tradicionais – brancas, ligadas aos grandes monopólios privados familiares da mídia, aos setores exportadores, discriminando o povo e excluindo-o dos benefícios das políticas estatais. Apesar das políticas de desenvolvimento econômico, especialmente industrial, foram atacados e criminalizados como se tivessem instaurados regimes anticapitalistas, contra os intereses do grande capital. Quando até mesmo os interesses dos grandes proprietários rurais – nos governos dos três líderes mencionados – foram contemplados de maneira significativa.

Perón e Getúlio dirigiram a construção dos Estados nacionais dos nossos dois países, como reações à crise dos modelos primário-exportadores. Fizeram-no, diante da ausência de forças políticas que os assumissem – seja da direita tradicional, seja da esquerda tradicional. Eles compreenderam o caráter do período que viviam, se valeram do refluxo das economias centrais, pelos efeitos da crise de 1929, posteriormente pela concentração de suas economías na II Guerra Mundial, tempo estendido pela guerra da Coréia.

A colocação em prática das chamadas políticas de substituição de importações permitiram a nossos países dar os saltos até aqui mais importantes de nossas histórias, desenvolvendo o mais longo e profundo ciclo expansivo das nossas economias, paralelamente ao mais extenso processo de conquisas de direitos por parte da massa da população, particularmente os trabalhadores urbanos.

Se tornaram os objetos privilegiados do ódio da direita local, dos seus órgãos de imprensa e dos governos imperiais dos EUA. Dos jornais oligárquicos – La Nación, La Prensa, La Razón, na Argentina, ao que se somou depois o Clarin; o Estadao, O Globo, no Brasil, a que se somaram depois os ódios da FSP e da Editora Abril. Os documentos do Senado dos EUA confirmam as articulações entre esses órgãos da imprensa, as FFAA, os partidos tradicionais e o governo dos EUA nas tentativas de golpe, que percorreram todos os governos de Perón e de Getúlio.

Não por acaso bastou terminar aquele longo parêntese da crise de 1929, passando pela Segunda Guerra e pela guerra da Coréia, com o retorno maciço dos investimentos estrangeiros – particularmente norteamericanos, com a indústria automobilística em primeiro lugar -, para que fossem derrubados Getúlio, em 1954, e Perón, em 1955.

Mas os fantasmas continuaram a asombrar os oligarcas brancos, que sentiam que aqueles líderes plebeus – tinham desprezo pelos líderes militares, que deveriam, na opinião deles, limitar-se à repressão dos movimentos populares e aos golpes que lhes restabeleceriam o poder – lhes tinham roubado o Estado e, de alguma forma, o Brasil.

O golpe militar argentino de 1955 inaugurou a expressão “gorila” para designar o que mais tarde o ditador brasileiro Costa e Silva chamaria, de “vacas fardadas”. A direita apelava aos quartéis, porque não conseguia ganhar eleições dos líderes populares. Durante os anos 50, no Brasil, fizeram articulações golpistas o tempo todo contra Getúlio, até que o levaram ao suicídio. Tentaram impedir a posse de JK, alegando que tinha ganho as eleições de maneira fraudulenta. JK teve que enfrentar duas tentativas de levantes militares de setores da Aeronáutica contra seu governo, legitimamente eleito, tentativas sempre apoiadas pela oposição da época, em conivência com os governos dos EUA.

O peronismo esteve proscrito políticamente de 1955 a 1973. Até o nome de Perón era proibido de ser mencionado na imprensa. (Os opositores usavam Juan para designá-lo ou alguns de seus apelidos.) Quando foram feitas eleições com um candidato peronista concorrendo – Hector Campora -, ele triunfou amplamente e – ao contrário de Sarney no Brasil – convocou novas eleições, truiunfando Perón, que governou um ano, até que foi dado o golpe de 1976, pelas mesmas forças gorilas.

No Brasil, o governo João Goulart foi vítima do mesmo tipo de campanha lacerdista, golpista, articulada com organismos da “sociedade civil” financiados pelos EUA, articulados com a imprensa privada, convocando as FFAA para um golpe, que acabou sendo dado em 1964.

Perón, Getúlio e, agora, Lula, tem em comum a liderança popular, projetos de desenolvimento nacional, políticas de redistribuição de renda, papel central do Estado, apoio popular, discurso popular. E o ódio da direita. Que usou todos os “palavrões”: populista, carismático, autoritário, líder dos ”cabecitas negras”, dos “descamisados” (na Argentina). A classe média e o grande empresariado da capital argentina, assim como a clase média (de São Paulo e de Minas, especialmente) e o grande empresariado, sempre a imprensa das rançosas famílias donas de jornais, rádios e televisões.

É o ódio de classe a tudo o que é popular, a tudo o que é nacional, a tudo o que cheira povo, mobilizações populares, sindicatos, movimentos populares, direitos sociais, distribuição de renda, nação, nacional, soberania. FHC se faz herdeiro do que há de mais retrógado na direita latinoamericana – da UDN de Lacerda, passando pelos gorilas do golpe argentino de 1955, pelos golpistas brasileiros de 1964, pelo anti-peronismo e o anti-getulismo, que agora desemboca no anti-lulismo. Ao chamar Lula de neo-peronista, quer usar a o termo como um palavrão, como acontece no vocabulário gorila, mas veste definitivamente a roupa da oligarquia latinoamericana, decrépita, odiosa, antinacional, antipopular. Um fim político coerente com seu governo e com seus amigos aliados.


Postado por Emir Sader

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mineirinho sedutor

Ainda os melhores e os piores amantes do mundo

Por Tadeu Nascimento

Na última quinta-feira, 05 de novembro, escrevi neste Diário da Manhã a crônica “Você se considera um bom amante?” que faz referência a uma pesquisa sobre os melhores e os piores amantes do mundo realizada pelo site One Poll, na internet, cujo resultado foi o seguinte: os piores amantes do mundo: em 10º lugar, os russos (muito peludos); em 9º, os turcos (suam demais); em 8º, os escoceses (muito grosseiros); em 7º, os galeses- País de Gales (muito egoístas); em 6º, os gregos (muito sentimentais); em 5º, os americanos (muito brutos); em 4º, os holandeses (muito dominadores); em 3º, os suecos (muito afobados); em 2º, os ingleses (muito preguiçosos) e em 1º lugar, os alemães (muito fedorentos). Os melhores do mundo: em 10º, os canadenses; em 9º, os dinamarqueses; em 8º, neozelandeses; em 7º, os australianos; em 6º, os sul africanos; em 5º, os irlandeses; em 4º, os franceses; em 3º, os italianos; em 2º, os brasileiros e em 1º lugar, os espanhóis. Os jornais e portais eletrônicos publicaram centenas de comentários de leitores e internautas, alguns interessantes. Um internauta me enviou o seguinte email: “Os espanhóis estão à frente porque a pesquisa foi patrocinada pela Telefônica e pelo Banco Santander (Rafton, Rio de Janeiro). Então imaginei, ou melhor, inventei algumas opiniões de fictícios leitores:
“Os espanhóis em primeiro? Jamais! Eu conheço!” (Lolita, de Barcelona);
“É, pensando bem, o melhor é investir no amante nacional, já que as passagens para Espanha estão os olhos da cara...” (Mariazinha de Araguari);
“Finalmente um vice-campeonato do qual podemos nos orgulhar e de quebra ganhamos da França” (Ronaldo Verdadeiro Fenômeno, Cobrobó- BA);
“Os franceses só sabem fazer biquinho: ‘merci beaucoup’, ‘Ronaldô Fenomenô, ‘Chico Buarquê de Holandê” (Severino Franco- PE);
“Os americanos gostam em primeiro lugar, de money, depois de money, depois de money e depois de money. Bem diferente de mim: primeiro eu gosto de mulher, depois de mulher, depois... tudo de mulher, de cabo a rabo! Entendeu? (Nenzim Bico Doce, Orós- Ceará);
“Os Russos são muito peludos? Agora sei a origem do Tony Ramos” (Mariana- Beozonte);
“O que faltou pro Brasil estar em 1º? Aí galera, ‘vamo’ trabalhar mais pra melhorar no ranking...” (Neguinho do Arpoador, RJ);
“Uai, não têm argentinos? Ah,ah, ah!” (Gerson, Vitória- ES);
“Acho que os argentinos ficaram a dançar tango: hermano com hermano!” (Zé Perfeito- Alegrete, RS);
“Os espanhóis são tão bons que importaram nossas garotas de programa para aprenderem o bê-a-bá do ‘fuque-fuque, inheque-inheque’! (Luis Gomes- Brasília);
“Ah, entendi!... Os espanhóis são os melhores amantes do mundo porque dormem com touros, coisa que ninguém consegue! Ah bom!” (Vivaldo Vivaldino da Silva- Recife);
“O espanhol não está com esta bola toda não!” Experiência própria! Dá-lhe Brasil! (Cidinha do Pelô- Salvador, BA);
“O nome Picasso é a prova cabal que os espanhóis precisam de auto-afirmação. Eles precisam se convencer que são do ramo! (Manoel Joaquim das Couves- Lisboa, Portugal);
“Há controversa: o touro disse que o espanhol é uma delícia!” (Pierre Gasteau- Paris, France);
“Acho que tô precisando de um grego...” (Solange- Tatuapé, SP);
“O americano é puro barrigudo: McDonalds e Coca-Cola dia e noite...(Carol- Miami, EUA);
“Os espanhóis compram tudo no supermercado. Até as pesquisas (Alfacinha- Porto, Portugal);
“E os portugueses? Em que lugares eles ficaram, Joaquim? Resposta de Joaquim: a pesquisa era para saber quem são os melhores amantes do mundo e não os mais inteligentes do mundo, ora pois! (Joaquim do Alpendre Netto- Coimbra, Portugal);
“Nasci no Brasil, sou descendente de espanhóis e italianos e minha família viveu na França! Sou 1º, 2º, 3º e 4º lugar! Ninguém me supera! he, he, he!(Arieh);
“O Brasil em segundo lugar? Brasileiras que quiserem colocar o Brasil em primeiro, falem comigo! he, he, he! (Arthur Ottoni);
“Entre os brasileiros, em 1º lugar, os goianos (eu sou o melhor!)- Jerônimo Gomide;
Um outro contestando Jerônimo Gomide:
“Este Jerônimo é um cascateiro, vai ver é espanhol. Melhor amante do mundo é mesmo goiano, só que de Inhumas e que por acaso sou eu!” (Chiquinho Silva).
Como se vê o assunto é mesmo instigante. Não há modéstia no campo da performance sexual. Ser modesto é se comprometer, cair no ridículo...
Depois desta pesquisa ampliou-se- pelo menos na minha imaginação- o entendimento da frase “Hay que endurecer pero sine perder la ternura jamas! (Ernesto Che Guevara). Êpa, mas esse cara é argentino!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009


Amante Don Juan

Você se considera um bom amante?


Por Tadeu Nascimento



Você se considera bom, razoável ou ótimo amante? É claro que ninguém se acha péssimo amante. Uma pesquisa realizada no site One Poll (só buscar no Google) com 15 mil mulheres de 20 países diferentes para saber quem são os melhores e os piores amantes do mundo constatou o seguinte: os piores – 10º lugar, os russos (muito peludos); 9º, os turcos (suam demais); 8º, os escoceses (muito grosseiros); 7º, os galeses – País de Gales (muito egoístas); 6º, os gregos (muito sentimentais); 5º, os americanos (muito brutos); 4º, os holandeses (muito dominadores); 3°, os suecos (muito afobados); 2º, os ingleses (muito preguiçosos); em 1º, os alemães (muito fedorentos). Como se vê, a ordem é decrescente, ou seja, os piores do mundo – segundo a pesquisa – são os alemães.

Agora, os melhores amantes do mundo: em 10º lugar, os canadenses; em 9º, os dinamarqueses; em 8º, os neozelandeses; em 7º, os australianos; em 6º, os sul-africanos; em 5º, os irlandeses; em 4º, os franceses; em 3º, os italianos; em 2º, os brasileiros; em 1º, os espanhóis.

O leitor concorda com esta classificação ou – como todo brasileiro – não aceita a condição de vice-campeão? Contudo, algumas observações têm de ser registradas. A primeira delas: a pesquisa traz os defeitos dos piores amantes do mundo, mas não traz as virtudes ou qualidades dos melhores. Deixaram para o internauta deduzir. Segunda reflexão: por que não somos os melhores, e, sim, os detentores do 2º lugar? O que faltaria para sermos os campeões? Ouso pensar que os espanhóis são os melhores porque importaram nossas garotas de programas e, com isto, tornaram-se experts no assunto. As “dadivosas” da terra de Picasso – em grande parte – são brasileiras. É só elas regressarem para o Brasil e esperar um tempo que os espanhóis vão amargar a segunda divisão.

Outra observação: os quatro qualificados como os melhores. Os espanhóis, os brasileiros, os italianos e os franceses são de origem latina, sangue quente. Não é à toa o antigo título “latin lovers”, pois o verbo seduzir está entranhado no DNA deles. Os latinos, em geral, pensam menos em poder, em grana e em guerra; eles têm mais o que fazer do que ficar se atracando com os outros em campo de batalha. A prioridade é outra, todos nós sabemos. Ao contrário dos alemães, que já fizeram duas guerras mundiais, dos turcos, que foram seus cúmplices nestas duas guerras, dos ingleses e dos americanos, que insistem em dominar o mundo invadindo outros países (vide Malvinas e Iraque), adoramos viver romances. O resultado da pesquisa tem fundamento: os russos são peludos pelo fato do clima da Rússia ser gelado. Os turcos suam muito porque comem muito quibe com cebola. Os escoceses são muito grosseiros porque bebem muito uísque e ficam valentes. Os americanos são abrutalhados porque – além de descendentes de ingleses – só pensam em guerra e em grana. E os alemães são muito fedorentos porque comem muita batata com repolho fermentado. Só eles mesmos para se suportarem. Já os 10 melhores amantes do mundo não têm os defeitos dos outros – pelo menos com tanta intensidade – e adoram o sexo oposto e investem nisto. Repare o leitor que todos os dez melhores amantes em questão são menos dominadores do que os dez piores do mundo. Há centenas de tratados que garantem que a violência tem relação direta com a performance sexual. A violência é uma das causas da incompetência sexual e vice-versa. A obsessão pelo dinheiro também é outra causa. Como disse o escritor goiano Brasigóis Felício em uma crônica antiga: “Quem não ama fica rico.”

O brasileiro tem na sua gênese a síntese de três raças – a branca, a negra e a indígena que o faz um povo sui generes. Não há um povo parecido. Deu na Globo.com: brasileiros gastam horas com “virada de pescoço”. Não é o máximo? Como dizia o professor Clóvis, meu pai, basta a mulher ter o “andado miudinho” para que todo homem vire o pescoço. Pisado miudinho é quando a mulher pisa com o calcanhar do pé direito rente aos dedos do pé esquerdo, depois, o pé esquerdo com o calcanhar à frente dos dedos do pé direito, provocando na musculatura glútea traseira o subir e descer mais lindo do mundo.Tal qual as manequins na passarela, só que com mais naturalidade. Quanto à questão de valentia, faz-me lembrar uma piada do mineirinho. O mineiro, como se sabe, é o povo mais sabido do Brasil. Encontraram-se em Brasília um gaúcho e um mineiro. E o valente gaúcho dispara: “Lá no Rio Grande todo mundo é macho!”E o mineirinho (com seu jeito simplório) dá o troco: “Pois é, lá em Minas a metade é mulher, e nóis gosta muito!”

quinta-feira, 29 de outubro de 2009


Abílio Wolney


Os três momentos mais importantes da História de Goiás




Por Tadeu Nascimento



Com o advento do aniversário de Goiânia, me veio à mente o que foi o Estado de Goiás antes da mudança da Capital. O arcaico antes do moderno. O coronelismo antes da democracia. E a conclusão a que cheguei é que os momentos mais importantes da História de Goiás se deram nas duas primeiras décadas do século XX. No entanto, são históricos pelo seu lado trágico. São os episódios de São José do Duro (hoje Dianópolis – Tocantins); da República dos Anjos (Comunidade de Santa Dica), em Lagoa (hoje Lagolândia, distrito de Pirenópolis) e o da Revolução de 1930 (em Goiás, o momento culminante se deu em Rio Verde, quando prenderam Pedro Ludovico). Em todos os três momentos foram às custas da violência. O episódio de São José do Duro, que mais tarde foi retratado no livro O Tronco, de Bernardo Élis, aconteceu quando o coronel Abílio Wolney se rebela contra o chefe político de Goiás, o então deputado estadual Antônio Ramos Caiado, o Totó Caiado. A pendenga começou, segundo o escritor Osvaldo Póvoa, quando “Totó Caiado, sob o pretexto de protestar contra um projeto de lei, parecia disposto a apelar para a agressão física, obrigando Abílio a abrir uma gaveta, simulando que ia usar uma arma. ‘Se der mais um passo, eu atiro!’ – gritou Abílio. Era apenas um artifício, pois não havia arma nenhuma na gaveta. Seu quase agressor ameaçou: ‘Você me paga!..’” Abílio, juntamente com Luís Gonzaga Jayme e Emílio Póvoa, funda o jornal O Estado de Goiás e move cerrada oposição ao governo. Na redação, um dos jornalistas mais polêmicos da época: Moisés Santana. O governo tenta empastelar o jornal. Abílio Wolney se retira para o Duro. Por causa de um inventário impugnado pelo coletor estadual Sebastião de Brito Guimarães, Wolney exige do juiz a solução para o inventário. O governador João Alves de Castro, pressionado por Totó Caiado para agir contra o seu desafeto, envia uma comissão comandada pelo juiz Celso Calmon da Gama com 60 soldados. Os soldados matam sob as ordens de Calmon, em emboscada, o pai de Abílio, o coronel Joaquim Ayres Cavalcante Wolney à vista do filho, que não teve como defender o pai. Abílio foge, busca refúgio na Bahia e traz com ele um bando de 200 cangaceiros para invadir o Duro. Os soldados, sabendo que a tropa de Abílio invadiria o povoado, colocam cinco dos familiares de Abílio no tronco. Este, prestes a atacar, recebe a visita de sua irmã, que lhe foi implorar para que não invadisse o Duro, pois a ordem era matar todos (entre eles o seu filho ) se Abílio ousasse invadir. Abílio tentou recuar, mas os cangaceiros não abriram mão de saquear o lugarejo. Os soldados, diante do ataque, assassinaram nove (5 no tronco) prisioneiros e os cangaceiros arrasaram a cidade. Era 16 de janeiro de 1919, uma quinta-feira. Anos depois, o escritor Osvaldo Póvoa escreve o livro Quinta-Feira Sangrenta. Abílio não pôde viver mais no Duro, mudou-se para Barreiras (BA), onde foi prefeito e chefe político. Curiosidade à parte, Abílio Wolney é o autor do projeto que mudou o nome de Santana das Antas para Anápolis. Há poucos anos tentaram retirar o busto de Abílio Wolney de uma praça pública de Anápolis. Foi preciso que um de seus netos se insurgisse contra tal insensatez. Talvez o “genial” e “progressista” vereador quisesse que Anápolis voltasse a se chamar Santana das Antas.

Santa Dica, nascida Benedicta Cypriano Gomes, é mais um ser milagreiro deste Brasil místico e confuso. Santa Dica era uma espécie de Antônio Conselheiro de saias. Curandeira, milagreira, profetiza, santa ou demônio, desenvolveu o seu movimento no vilarejo da Lagoa, hoje distrito de Pirenópolis. Na comunidade conhecida por “Anjos” ou “Calamita dos Anjos”, viveu-se um mundo paralelo, quase anárquico, dirigido apenas pelas ordens da Santa Dica. Assim como em Canudos de Antônio Conselheiro contestavam a propriedade da terra, a legislação vigente e o casamento civil. Enfim, condenavam o comportamento da sociedade humana que ficava fora da comunidade dos Anjos. Os grupos dominantes e a igreja denunciaram ao governo do Estado que ali poderia surgir uma nova Canudos. Dica se tornou uma espécie de “Lenin do sexo diferente”, trazia a manchete do jornal O Democrata em 10 de outubro de 1924, pois defendia ela que “a terra não é propriedade de quem tem o título dela”. Santa Dica tornava-se famosa nos grandes centros. A pintora Tarsila Amaral, expoente da “Semana de Arte de 1922” de São Paulo, a eternizou em um dos seus quadros. O governo envia um batalhão com 114 soldados sob o comando (adivinha de quem?) do mesmo juiz Celso Calmon de Gama. A batalha foi tão desproporcional que durou apenas 30 minutos, onde morreram 11 “revoltosos” e dezenas ficaram feridos. O dia era 14 de outubro de 1925.

A Revolução de 30. Pedro Ludovico, com outros revoltosos, invade a cidade de Rio Verde no final de setembro. O chefe político da cidade era o major (da Guarda Nacional) Frederico Gonzaga Jayme. Pedro Ludovico é preso e depois fora enviado, juntamente com Oscar Campos (pai do ex-prefeito de Rio Verde Paulo Campos), para a cidade de Goiás. A caminho para a velha capital viajavam no primeiro carro César da Cunha Bastos com Pedro Ludovico e no segundo carro, o alferes Antônio Catulino Viegas com Oscar Campos. Chegando na Cachoeira da Fumaça, um outro carro em direção contrária chega com a notícia de que a Revolução triunfara. Ou seja, os Estados de Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba venceram os governos central de Washington Luís e do Estado de São Paulo, que burlaram a eleição para Presidência da República a favor de Júlio Prestes, então governador de São Paulo, contra o candidato a presidente Getúlio Vargas, então governador gaúcho. Era o fim dos governos dos coronéis.

Mas o que têm em comum estes fatos históricos além do chefe Antônio Ramos Caiado e o sangue derramado? Resposta: um personagem de sua estrita confiança. Um cidadão que, onde houvesse desafeto que oferecesse perigo ao governo, lá estava ele, Antônio Catulino Viegas, o Alferes Catulino. No episódio do Tronco em São José do Duro, foi um dos três alferes que trancafiaram os familiares de Wolney no tronco. Catulino executou o menor Oscar Wolney Leal, filho da irmã de Abílio, aquela que tentara impedir o ataque. Foi condenado pelos crimes no Duro a 25 anos e seis meses de cadeia e exonerado da polícia. Todavia, um ano depois é reintegrado no corpo policial. Na invasão da Comunidade dos Anjos de Santa Dica, ele era a voz do ataque que matou 11 e feriu dezenas de revoltosos. Por fim a Revolução de 30: com a notícia que a Revolução triunfara, inverteram-se os papéis: Pedro Ludovico e Oscar Campos escoltaram os presos Cesar da Cunha Bastos e Catulino Viegas para a antiga capital. Era 3 de outubro de 1930. Início de uma nova era.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009











Fachada Café Central


As almas encantadoras do Café Central


Por Tadeu Nascimento

Tal qual uma sentinela, fico a observar as mudanças da cidade. Mais ainda o comportamento das pessoas. Aprendi com Lavoisier: Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Tudo se transformou. As ruas se modificaram, as casas também. Os prédios antigos cederam lugares aos novos. A moda mudou a indumentária das pessoas. Os “tipos”, quero dizer, as pessoas folclóricas simplesmente se evaporaram. As almas encantadoras das ruas, como diria Paulo Barreto, o João do Rio, vão se moldando aos novos “tipos” e à modernidade. O jardim central da Avenida Goiás emagreceu, tornou-se mais estreito para dar vazão ao trânsito. O Café Central (fundado em 1940) mudou de dono, se apequenou, se escondeu numa portinhola na Rua 7; a Pastelaria Real, que era a rainha da madrugada – onde seus súditos, depois dos bailes iam para seu último desjejum –, perdeu a majestade: fecharam suas portas para nunca mais; o Restaurante do Armando, com sua famosa feijoada, mudou-se para o Bueno e de lá para um lugar incerto e não sabido. O Bola Sete (salão de snooker) entrou numa sinuca de bico e fechou suas portas. O Restaurante O Grego não esperou a comunidade européia surgir e escafedeu-se. Um pouco acima do Grego, a melhor casa de pães até hoje instalada na cidade: a Panificadora Única dos irmãos Arnulfo, Sebastião e Alfeu Dourado. Ao lado – dos mesmos donos –, o refinado restaurante especializado em peixes, O Dourado, por motivo de saúde encerrou as atividades. O Magazine Central, onde se vendia a famosa camisa “Volta ao mundo”, não resistiu às voltas que o mundo dá e, sob o teto do Edifício Euclides Figueiredo (homenagem ao general, pai do ex-presidente), também fechou suas portas. Assim também desapareceram as Lojas Huddersfields, a antiga Drogasil, A Futurista, a Boutique Brasília, a Cinzel, a Ótica Vasques, Clark Calçados, a Drogaria Carmo (da esquina com a Goiás), A Jóia e A Jóia Lar, a Paulistinha Discos, A Imperatriz Calçados. O Mercado Municipal foi pra Rua 3 e perdeu, na mudança, todo o seu charme e a fórmula de fazer vitaminas (nunca se “tomou” tanta vitamina como naquela época e as lanchonetes vendiam às turras, principalmente a do Seu Alberto do Mercado, mas a campeã da cidade era A Fonte do Paladar). Do outro dado da praça, o Bazar Oió, o Hotel Bandeirantes e as boates Porão 47 e Terraço. Todas estas casas desapareceram. E com elas os “tipos” que davam vida ao lugar.

O Alemão da Banca, que por si só já era uma “figura” – com sua cabeça metade raspada-metade cabeluda em contraste com a barba metade cabeluda-metade raspada, tal qual um tabuleiro de xadrez –, administrava a maior banca de jornais de Goiânia. O Alemão (Francisco Lima Neto) morreu, assim como a sua banca (hoje, no lugar está uma banquinha). Morreu também meu amigo Dorvalino da Ótica Vasques que era um homenzarrão que adorava uma noitada. Figura inesquecível do Seu Antero com seu auto-falante percorrendo em passos cuidadosos o quarteirão do Café Central noticiando o prato do dia do Restaurante do Armando. Seu Antero usava um chapéu de pano e um par de óculos fundos-de-garrafa e acabou por tornar-se cego por completo e, mesmo assim, continuou o seu trabalho de locutor de rua. Ainda na minha memória o “Grandão” (Eurípedes Alves da Silva), engraxate que cumpria o seu ofício na primeira cadeira da Engraxataria Ami (Engraxataria da Rua 7), entabulava um ótimo papo, conhecia todo mundo e sabia de tudo. Todos estes já partiram para o além. Na minha retina voltada para o passado ainda estão lá na esquina da Av. Anhanguera com a Rua 7 o Alemão da Banca, Seu Antero e o Grandão.

Na Praça do Bandeirante acontecia de tudo. Coisas que não mais se vê. Naquele vão entre a Drogaria Carmo e o Minas Bank sempre estava – cercado por curiosos – a figura pitoresca e extraordinária (porque não?) do tirador de calos. E com ele duas ou três caixas com tampas de vidro exibindo – como troféus – as unhas espetaculares por ele tiradas. No chão, ali perto, uma mendiga portadora de elefantíase. Do outro lado, na porta do BEG, um festival mambembe do homem-da-cobra. E tira a jiboia da mala e põe a jiboia na mala (a cobra morava na mala; não existia o Ibama) e a deposita em seus ombros e a tira dos ombros e oferece a algum curioso e este pula para traz alargando a roda de gente e volta a serpente pra mala ao som de uma trilha sonora discursiva saindo de um microfone pendurado no peito do homem que não parava de falar. Era o marketing de vendas de seu remédio que curava tudo. De hemorróidas a espinhela caída. De pancreatite a sinusite, de dor de barriga a dor de ouvido: substância extraída do cipó da região do Pico da Neblina, lugar mais alto do Brasil. Era o tal de Elixir de Manduraciacaba da Amazônia ou outro nome qualquer do qual ninguém se lembrava dez minutos depois. Em frente o Banco da Lavoura (do outro lado da Praça do Bandeirante) sempre tinha um pastor evangélico de plantão a pregar o frescor do céu e o calor do inferno. Ali do lado, disputando o mesmo espaço, um líder estudantil pregava o socialismo utópico e expelia iras à ditadura. Ali perto, uma viatura da polícia e “os home da lei” fazendo de conta que trabalhavam.

Ciganos, vendedores de loteria, malandros, marchands de gado, agiotas, homens de negócio (não se usava a palavra executivo), estudantes, balconistas, pedintes, bancários, jornalistas, intelectuais, fazendeiros, donas de casa, desocupados, mordedores (aqueles que viviam mordendo a carteira de um amigo com o pedido pra comprar feijão pra família, embora sempre o dinheiro terminasse na mesa de bar ou de jogo) compunham o belo quadro social daquele pedaço mais importante de Goiás que era o Café Central.

Daquelas lembranças ainda restam em pé, a Engraxataria Ami, dos filhos do saudoso Alemão, a banca de revistas e a estátua do Bandeirante que um dia foi doada (e inaugurada), em 1947, pelos acadêmicos da Faculdade de Direito de São Paulo, entre eles os meninos Ulisses Guimarães e Jânio Quadros. Que também já se foram.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009



Mário Palmério em 1995


Presidente Getúlio Vargas com Deputado Mário Palmério, no Palácio Rio Negro, no momento da assinatura do decreto que autorizou o funcionamento da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM), em Uberaba. Rio de Janeiro/RJ, 23/03/1954.


A BELEZA DA PALAVRA SAUDADE

Por Tadeu Nascimento

Acordo cedo e logo me deparo com as coisas mais banais do meu cotidiano. Saio de baixo do chuveiro e me enxugo. Busco a gaveta e escolho uma cueca. De repente me dou conta o quanto é horrível a palavra cu-e-ca! Fui ao Aurélio e a suspeita se confirmou. Assim aconteceu com o cueiro, curvar, acuar e até recuar, que é dar ré no próprio (andar de fasto). A primeira sílaba já diz o óbvio. Pensei comigo: como vou explicar esta crônica aos meus preciosos leitores? Peço perdão, minha senhora, mas a minha intenção seria escrever sobre as palavras mais feias e as mais belas da nossa língua. Palavras que soam mal e outras que soam bem aos nossos ouvidos.

Nomes feios de pessoas. Os pais que se apiedassem dos filhos (os cartorários também) e não os registrassem com nomes estapafúrdios. Nomes que os fazem infelizes. Ambrolina, Sinfrônio, Cremilda (cantora do Nordeste), Virgulino (Lampião, o cangaceiro), Anastácio, Adamastor. Tive um colega de faculdade, em Uberaba, cujo nome era ADX de Oliveira. No primeiro dia de aula já ganhou o apelido de “Prefixo de Avião”. Um outro, em Goiânia, seu pai, um português torcedor do Vasco, ousou ainda mais, batizou o seu portuguinha de Cruzmaltino da Silva. O gajo ficou tão revoltado com o pai que desde pequenininho é flamenguista ferrenho. O deputado federal Onaireves (Severiano de traz para frente) Moura (PR) foi cassado por decoro parlamentar. Deveriam ter cassado (ou prendido) o pai dele - também por decoro - por ter-lhe imposto um nome tão estapafúrdio. O deputado federal Genebaldo Correia (BA), cassado envolvido no escândalo do Orçamento, idem. O pai orçou mal o futuro do filho. Mas têm pais que judiam. Só com a letra “A” (para não estender muito) eis alguns nomes estrambóticos que estão registrados nos cartórios (e na lista do INSS de 1988) de todo o Brasil: Ambrilina Décima Nona Caçapava Piratininga de Almeida; Agrícola Beterraba Areia; Aeronauta Barata; Antônio Morrendo das Dores; Antônio Querido Fracasso; Antônio Treze de Junho de Mil Novecentos e Dezessete; Aricléia Café Chá; Arquiteclínio Petroquímio de Andrade; Asteróide Silvério e - pasme! - Ava Gina (homenagem a Ava Gardner e a Gina Lolobrigida). É sabido que em Minas tem muito destes nomes: são famosos um cidadão cujo nome é Um Dois Três Oliveira Quatro, uma senhora Magnésia Bisurada do Patrocínio e os senhores Letsgo Daqui (let’s go) e Orlando Modesto Pinto. No entanto, existem muitos nomes bonitos de pessoas como Carolina, Thaís (milha filha), Otávio (meu neto). Quanto mais simples mais bonitos.

Um parágrafo para nomes bonitos. Bicicleta, sonoramente - dizem os entendidos fonologistas - é a mais bonita. Elegância, felicidade, decência, integridade, paralelepípedo e saudade. Saudade, segundo os filólogos e outros entendidos, é a palavra mais bonita por só existir na língua portuguesa. Não existe uma palavra isolada que traduza com exatidão o seu significado. O linguista Osvaldo Humberto Leonardi Ceschin, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP, explica: “nas outras línguas existem palavras que se aproximam deste sentimento, mas nenhuma talvez expresse com tanta clareza este estado de espírito. As pessoas de outras culturas sentem falta de algo ou de alguma coisa, por isso a palavra saudade é traduzida por meio de palavras que se assemelham. A diferença é a existência na nossa língua de uma só palavra capaz de expressar sentimento tão grandioso.” Saudade vem do latim solitude, solidão. Com o passar do tempo virou solidade, soldade e finalmente saudade. No tempo dos descobrimentos as viagens longas provocavam o sentimento saudade que os navegantes tinham por suas mulheres. Em inglês: I miss you (sinto a sua falta); homesickeness (sentir falta de casa ou do lugar). Em espanhol: recuerdo (lembranças); Te extrano muito (sinto sua falta). Em italiano: ricordo affetuoso (lembrança carinhosa). Em latim: desiderum (desejo de ter de volta); lenirium (matar a saudade); solitude (solidão). Em francês: souvenir (lembrança); Tu me manque (sinto sua falta). Em grego: mnéia ou mnéme (sentir falta). Em alemão: heimweh (saudade da casa ou do lugar; sehnsuchet (desejo de ter algo de volta). Em norueguês: savner deg (sinto a sua falta). A palavra saudade é bela porque é um sentimento que deve existir em todo ser humano, seja ele de qualquer raça, de qualquer parte do planeta, seja pobre, seja rico. A saudade é irmã da solidão, companheira inseparável do amor, visita invisível da paixão. Realmente não é fácil definir o sentimento de saudade. O escritor mineiro Mário Palmério compôs a guarânia Saudade, que tornou sucesso nas vozes de grandes cantores. Fagner e Joana cantando Saudade juntos é ótimo. O escritor - com quem tive alguns contatos quando estudava na sua universidade (Fiube, hoje Uniube) em Uberaba - me disse numa de nossas conversas informais - fumando o seu cachimbo indefectível - no pátio da escola que a origem desta música se deu quando ele fora embaixador do Brasil em Assunção, Paraguai, e que uma “motiatia” com quem estava tendo um caso de amor lhe perguntou o que era saudade que ele lamuriava tanto. E Mário Palmério tentou lhe explicar o que acabou virando uma bela música que é interpretada - a primeira parte em castelhano e a segunda em português: “Se insistis en saber lo que es saudade/ Tendrás antes de tudo conecer/ Sentir lo que querer, lo que es ternura/ Tener por bien um puro amor, vivir/. Depués compreenderas lo que es saudade/ Después que hayas perdido aquel amor/ Saudade es soledade, melancolia/ Es lanjardia, es recuerdar, sufrir./ Se queres compreender o que é saudade/ Terás antes de tudo conhecer/ Sentir o que é querer, o que é ternura/ E ter por bem um grande amor, viver./ Então compreenderás o que é saudade/ Depois de ter vivido um grande amor/ Saudade é solidão, melancolia/ É nostalgia, é recordar,viver”.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

BOSQUE DOS BURITIS

Meu projeto para uma cidade mais feliz




Por Tadeu Nascimento



Desde a mais rudimentar caverna o ser humano quer melhorar de vida. Viver em um lugar mais aprazível. Nenhum homo sapiens quer dar ré na sua qualidade de vida. O mundo poderia ser melhor, e as cidades poderiam “ser mais felizes”. Se eu pudesse, se tivesse poderes para tanto, se eu fosse presidente do meu país, ou se fosse um congressista faria tudo para que as cidades fossem (mais) prazerosas para se viver. Leia-se projetos aprovados pelo Congresso. Até porque o Estado foi inventado justamente para fazer o cidadão feliz. Ponto. E a primeira proposta seria o projeto que proibisse as cidades (prefeitos e câmaras de vereadores) de nomearem quaisquer logradores públicos (ruas,avenidas, praças,colégios) com nomes de políticos. Isto acabaria com a injustiça de não se homenagear quem merece. Exemplos: Ulisses Guimarães, um paladino da democracia não tem o destaque que merece. Assim como Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Leonel Brizola que lutaram pela educação. Como se pretende diminuir a violência onde se premiam memórias de ditadores, sanguinários com nomes de avenidas praças, colégios? Falemos de Goiânia: Avenida Castelo Branco, Colégio Costa e Silva, Avenida Anhanguera (Bartolomeu Bueno, pai e filho, mataram e escravizaram os índios desta terra). Avenida Assis Chateaubriand, cujo homenageado foi um chantagista, um homem de caráter muito defeituoso. Todas as ruas e avenidas teriam nomes de músicas, de flores,de livros, de artistas, professores e escritores (desde que não fossem políticos). As ruas horizontais ganhariam nomes de músicas, as verticais de livros. As praças seriam agraciadas com nomes de compositores; as faculdades e colégios com nomes de professores. Os bairros teriam nomes de movimentos musicais. Seria mais ou menos assim: Rua Carinhoso, Rua Dom Casmurro, Praça Ary Barroso, Av. das Camélias, Rua El dia em que me queiras, Praça Vinícius de Moraes, Bairro das Valsas, Setor Bolero, Vila do Samba-canção, Setor da Bossa Nova, Vila da Tropicália. Não necessariamente nesta ordem. Pois trata-se apenas de uma idéia. No Parque das Laranjeiras, aqui em Goiânia, tem uma etapa cujas ruas levam nomes de passarinhos: Rua das Andorinhas, Rua Bentivi etc. (Parabéns Pedro Paulo de Souza- da Encol- pelos inestimáveis serviços prestados a Goiás e ao Brasil! Ainda vou escrever sobre sua história). Melhor Rua dos Canários do que Rua Floriano Peixoto, Rua Moreira César ( o Corta-cabeças morto em Canudos). Quase todas as cidades de Minas tem uma rua com o nome deste sanguinário. A Rua do Ouvidor no centro Rio de Janeiro, por um breve tempo, teve seu nome trocado por Rua Moreira César. A população não gostou e exigiu-e conseguiu- a volta do belo nome de Rua do Ouvidor.

Avenida Cora Coralina. O nome da nossa maior poetiza foi gravado numa placa de metal em uma avenida que nunca foi uma avenida. Foi e ainda é um grande equívoco. Uma avenida teria duas mãos de tráfego. Um absurdo. Uma rua, pior uma avenida, que não tem acostamento, com passeio de um metro de largura; sem passarela que divide as avenidas; uma avenida que no seu percurso não tem uma única árvore. Além de tortuosa e feia. Cora merecia ser homenageada com uma avenida ou teatro que fizesse jus ao seu talento. Esta “avenida” mal parece uma rua e sim um atalho. Eu trocaria então o nome desta “avenida” por Atalho do Prefeito.

No interior do Estado do Rio de Janeiro existe uma cidade bucólica chamada Conservatória Também conhecida por Concervatória com dois “c”, onde as ruas tem nomes de músicas da MPB e todos os fins de semanas grupos de pessoas fazem serenatas pelas ruas da cidade.

Voltando ao meu modesto projeto: todas as cidades com mais de 30 mil habitantes teriam um coreto (como antigamente) ou uma concha acústica. Claro que haveria uma dotação orçamentária para este objeto. Há poucos dias sugeri a um assessor do atual prefeito que a prefeitura fizesse uma concha acústica com uma fonte vertical de águas em sincronia com as notas musicais dos instrumentos da orquestra- no Lago dos Buritis, em frente ao Palácio de Justiça, à beira lago, para que nos finais de semana a Orquestra Sinfônica de Goiânia se apresentasse aos goianienses e aos visitantes, posto que aquele espaço elevaria o bom gosto e sensibilidade dos habitantes desta capital. Explicando melhor: a concha ficaria de frente para Av. Assis Chateaubriand ao lado do monumento das terras de todo planeta. Além do que é o lugar onde se transita maior número de pessoas na cidade. Campos do Jordão, uma das cidades turísticas mais prazerosas do país tem a sua concha acústica onde nos finais semanas são executadas as mais belas obras da música clássica. Basta ver no Google. com ou no youtube.com. Quem nunca viu na tv as grandes exibições de consertos regidos pelo maestro Isaac Karabichevisk no Parque Ibirapuera, na capital paulista? Em Uberlândia- MG, desde a década de 60 existe uma concha na Praça Tubal Vilela, com uma fonte colorida cujas águas sobem e descem de acordo com as notas musicais. Em Uberaba também existe uma concha acústica.

Quando da candidatura de Iris à prefeitura de Goiânia em 2004, sugeri a um dos seus interlocutores que o candidato tivesse entre seus planos de governo transformar o Lago das Rosas e o horto municipal em um Central Parque- como o Central Park de New York- com pista de patinação, com conchas acústicas, palco para representações teatrais, parque de diversões, ciclovia, pista de Cooper etc. Este Central Parque seria maior que a área do atual Lago das Rosas. Ideal seria se ocupasse o espaço do Corpo de Bombeiros, mas para isto a Av. Anhanguera teria que o seu trânsito fluísse sobre um elevado (viaduto) e este sobre o lago que por sua vez teria suas dimensões aumentadas. Seria uma obra que traria muita felicidade ao goianiense, além de valorizar os bairros vizinhos. Atrair as pessoas para as praças é um progresso humanista importante, pois precisamos de mais parques, mais praças, mais teatros, mais ciclovias, mais cultura e mais flores. Carrinhos de pipoca, de sorvete, de algodão-doce sempre serão símbolos de gente feliz.

domingo, 4 de outubro de 2009













A última flor do Lácio e seus espinhos

Por Tadeu Nascimento

Sempre quis entender o porquê das invasões bárbaras de palavras estrangeiras na última flor do Lácio, inculta e bela que é a nossa língua. Não venham me dizer que as invasões são porque ela é inculta (apesar de bela). Infelizmente aceitamos estas ingerências passivamente. Com isso, às vezes, me sinto alienado ou alienígena nesse mundo cheio de modernices. O estrangeirismo começa logo cedo, quando a gente acorda: para escovar os dentes usamos o “Close Up (antigamente era o Kollynos, o do sorriso). Melhor seria se usássemos o dentifrício, que é a palavra naturalmente brasileira. Nunca entendi o tal Close Up, se close em inglês significa fechado. Deve ser pra gente ficar com boca de siri. Abro a janela em busca de ar puro e deparo-me com um “outdoor” com a propaganda da “Pizza Hut”. Penso com tristeza: estão engolindo nossa língua rapidamente. Sem degustar. Nunca convivemos com tantas palavras estrangeiras! Certa vez, uma amiga me deixou constrangido por eu não saber o que era fazer “check in” (no aeroporto). Claro, eu quase só viajo montado nos – não sei em quantos – cavalos do meu automóvel!

– Ah, não vai me dizer que você não sabe o que “check in”? – com cara de decepcionada comigo (tipo: este cara não é deste mundo ou é um tremendo ignorante!)

– Não, não sei – respondi revelando a minha santa ignorância sobre tudo que é moderno. Falei cá com os meus distraídos neurônios: não teria outro nome em português equivalente a este infinitivo tão mal colocado do verbo fazer? A gente faz “check in”? Isso meu pai não me ensinou, nem o emérito professor de Português Sherlock Holmes da Silva no Colégio Martins Borges, em Rio Verde. Neste caso, não ficaria melhor o termo “Confirmação de voo” (para voar)? Exemplo: “Vou à confirmação” ou “Vou confirmar o voo”. Se não colar ou se não decolar, que inventem outro termo mais adequado. Em português, obviamente.
No início do século XX era o francês (galicismo), agora é o inglês (anglicismo). E os termos importados não param de nos contaminar. Com o advento do computador, criou-se um novo idioma, tanto que já inventaram o dicionário de informática. O que seria fazer um dowload? – perguntava a mim mesmo diante de alguém que falava o informatiquês. Até então, na minha família, ninguém fez dowload. A gente é pobre, mas é limpinho! Continuo a me indagar: melhor não seria baixar? Baixar alguma informação, assim como no centro espírita, embora as mensagens de lá sejam do outro mundo? Link? Só vim saber o que é este tal de link depois que o Google disse aos seus discípulos: é só procurar no “Cadê”! Conclui-se que “agenda” (no contexto, cibernética) seria a melhor denominação para a palavra link. Você tem “e-mail”? Quando surgiu o tal do “e-mail”, pensei que o mundo estava ficando tantã e meio. O dono da livraria ao telefone: “Me passa o seu e-mail”! Pensei comigo: esta deve ser uma nova modalidade de assalto! Ele quer que eu passe um e-mail pela linha do telefone! Não passo nem um terço, nem um quarto, e nem coisa nenhuma! O tal do fax: fulano foi passar um fax (no banheiro). Ainda bem que quase ninguém mais passa fax. Passa-se e-mail. Daqui uns dias (o fax) será obsoleto até no banheiro.
Ainda têm o “desktop” e o laptop”. Tipos de computador. O primeiro é de mesa, o segundo, de colo. Computador de colo – ops! cuidado com a cacofonia! (com puta dor de colo) –, que, antes de firmar jurisprudência, já virou notebook, livro de bolso (que deveria se chamar computador móvel), mas já está perdendo sua vaga para o netbook, que é o computador de rede. Um expert no assunto me sugeriu: melhor armazenar no “pen drive” (pô, chega de aspas!) para economizar espaço! Não tenho dúvidas de que em breve tempo cada cérebro terá um chip (ou mais) com tanto gibabytes que nos tornaremos meio-robôs ou totalmente. Teremos um tocador de CD, outro de filme, gravadores de CD e de DVD, um word para escrevermos nossas mal tecladas (mentalizadas) linhas, um messenger (telepático) para bater papo, calculadora e um teclado mental. A mente, aliás o chip, cuidará de tudo. Está aí o exemplo na cirurgia cardiológica: inventaram o tal do stent (mola para dilatar as artérias), que resultou no benefício para o cidadão que ganhou uma grande prorrogação de prazo neste planeta. Complicou? É só trocar as molas, isto é, os stents. Tenho um parente que tem tantos stents (molas) que ganhou o apelido de Colchão Ortobom.
Já não bastavam os shopping centers (com seus playgrounds) que vendem hot dog e cheseburger regados a catchup; os pit stop dos McDonalds; o pré-histórico long play (o bisavô do CD); o copyright (que deveria se chamar patente ou direito autoral) dos livros; o ghost write (o escritor fantasma). Carlos Heitor Cony era ghost-write (escrevia discursos para o presidente Juscelino).
Fazer um checkup é se consultar junto ao médico. Mas checkup é mais chique. E chique é palavra francesa – além de carnê (carnet), buquê (bouquet), abajur (abar-jour), crochê (crouchet), filé. Tem gente que, querendo ser mais chique ainda, diz que fez um checkup com médico que se especializou – adivinhe onde? – na França, claro.
A verdade é que estamos perdendo nossa identidade. Daqui a pouco não comeremos bifes e sim hambúrgueres, não teremos goiabada cascão com queijo de Minas e sim sunday de chocolate com chantily. Nem suco de caju e sim coca-cola ou sprite lemon. E aí, brother, teremos pés e peitos imensos (as mulheres, claro), pouca bunda e uma vontade louca de sermos franco-atiradores.