quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Júlio César


O ano bissexto e o roubo de 10 dias do calendário


Por Tadeu Nascimento



Parece uma história absurda, mais não é. O Papa Gregório XIII- o homem que mandava em todos países católicos- inclusive nos reis desses países- determinou, que o dia seguinte ao dia 4 de outubro de 1582 não fosse o dia 5, e sim dia 15. Que suprimissem 10 dias daquele ano e três anos bissextos em cada 4 séculos seguintes. Razão da rapinagem: o ano solar, por séculos, era composto por 365 dias, ao passo que na verdade, o ano sempre teve e tem 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos. Se continuasse a persistir o ano de 365 dias exatos, ao cabo de muitos anos -na Europa- o inverno cairia em junho e o verão em dezembro, características do hemisfério sul. E a permissividade da festa pagã do carnaval cairia em cheio na semana de contrição da Paixão de Cristo. Com estas mudanças iniciava-se, pois, o Calendário Gregoriano. A Inglaterra se rendeu ao calendário papal somente quando suprimiu os 10 dias em 1752 (de 03/09/1752 a 13/09/1952). A Rússia, por ser uma nação ortodoxa, só suprimiu os 10 dias depois da revolução bolchevique em 1918 (31/01/1918 a 14/02/1918). Abemos papa!

A princípio, o calendário fora instituído de forma arbitrária por Rômulo, fundador de Roma, que não era astrônomo e sim um grande guerreiro. À parte disto, as palavras calendário e almanaque são, neste contexto, sinônimas, embora de origens diferentes, acabam tendo a mesma finalidade, pois a primeira vem de “calendas” que para os romanos significava o primeiro dia de cada mês e a segunda, procede dos termos árabes “al” e “monach” que em português significa “a conta”. O ano era composto de 304 dias divididos em 10 meses, uns de 20 dias e outros de 55 dias, o que deveria ser uma balburdia. E tinha o seu inicio em 1º de março, homenagem ao deus Marte, de quem Rômulo acreditava ser descendente. O segundo mês homenageava-se Aprilis, um dos nomes da deusa Vênus, o terceiro, a Maius, de Maia, mães do deus Mercúrio, o quarto a Janius, de Juno, outra deusa da mitologia romana. Daí provém os nomes de março, abril, maio e junho que se conservam até hoje. Os nomes dos meses restantes eram Quintilis, Sextilis, Setember, Octuber, November e December. Em suma, a primeira metade do calendário era em homenagem aos deuses de então e a segunda metade- por falta de imaginação ou por escassez de deuses- os cinco meses restantes, foi nominada por ordem numeral.

Um rei de Roma chamado Numa Pompílio reformou o calendário, acrescentado-lhe os meses Janeiro (de Janus, o deus de duas caras) e Febrarius (de Februs, deus da morte). Os meses de Marte, Maius, Quintilis e Octuber tinham 31 dias e o restante 29 dias. Portanto, faltavam 10 dias para que o ano civil estivesse de acordo com o ano solar inventado pelos egípcios. Júlio Cesar, 44 anos antes do rabino de Nazaré trazer as Boas Novas, suprimiu o mês Quintilis e no lugar deste inseriu o mês Julius (com 31 dias) em homenagem a si mesmo. Com a morte de Júlio Cesar ascende ao poder o seu sobrinho Otávio que se nominou Otávio Augusto. O nome Augusto refere-se à divindade. O sucessor de Júlio, o imperador Otávio Augusto disse ao seu próprio umbigo: se eu sou divino, também mereço um mês no calendário! Impôs então, o mês de Augustus que viria a ser Agosto (também com 31 dias, para não ser menos prestigiado do que Júlio Cesar), que empurrou então os meses seguintes para frente. Por isso o mês de setembro, refere-se ao mês 9 e não ao numeral 7; outubro, refere-se ao mês 10 e não ao numeral 8; novembro, refere-se ao mês 11 e não ao numeral 9; dezembro, ao mês 12 e não ao numeral 10. Como é sabido o ano tem 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos. Portanto seria impossível conviver com esta inexatidão de tempo. Com isto o calendário estava adiantado em 10 dias em 1582 e por conseqüência o carnaval tendia alcançar a Páscoa que tinha por base o equinócio (quando o dia e a noite tem a mesma duração) de março, o que seria um contra- senso. O Primeiro Concílio da Igreja, o de Nicéia, no ano de 325, determinou que a Páscoa seria celebrada no domingo seguinte a lua cheia, após o equinócio da primavera do hemisfério norte, podendo ocorrer entre 22 de março e 25 de abril. Para resolver a questão- por ordem do santo papa Gregório XIII- suprimiram os 10 dias referidos e acochambraram o calendário mantendo o tão importante ano bissexto.

Ano bissexto. Em 4 em 4 anos, um seria de 366 dias. Muitos entendiam e ainda entendem que é bissexto o ano quando este tem 366 dias, justamente por conter dois números 6 no numeral 366. Ledo engano. A origem do termo ano bissesto é outra. Os romanos contavam os dias do mês de uma forma muito estranha. Júlio Cesar determinou que este dia a mais, fosse inserido entre os dias 23 e 24 de fevereiro, portanto seis dias antes de março. Séculos depois, com o calendário gregoriano, estabeleceu-se que seria o dia seguinte ao de 28 de fevereiro. Mas na Roma Antiga não se dizia dia 24 de fevereiro e sim, o sexto dia das Calendas de Martius, ou seja, seis dias antes de 1º de março. Com a inserção de mais um dia, o segundo sexto, explica-se, pois, o ano bissexto (antediem bis-sextum Calendas Martii). Se o imperador tivesse determinado- por exemplo- que seria no dia 25 este dia a mais, o ano de 366 dias não se chamaria de bissexto e sim de “biquinto”. Ave Cesar!

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