sexta-feira, 30 de novembro de 2012


Os Carnavais de Rio Verde 
 (Da série: "Eu era feliz e tinha certeza disso") 

Por Tadeu Nascimento





                     Nada era melhor que passar o carnaval em Rio Verde! Isso, nas décadas de 1960, 1970. No Clube Rioverdense, ou no Clube Campestre. Todos-  tanto em um quanto no outro- foram inesquecíveis. Como diria a moçada de hoje: o bicho pegava! Não sei se antes da minha geração os carnavais de Rio Verde eram tão bons quanto aos  que me refiro. Por isso, pra mim, inesquecíveis. Tanto os carnavais quanto os seus carnavalescos. Nos anos sessenta, quando os dias de momo eram só no Rioverdense, a rapaziada esquentava os tamborins no bar do Ney, vizinho ao clube e os seus principais foliões eram o então professor Sherlock Homes da Silva, Kleper Silva (Kepim) Dalton Cunha, Tão Rattes, Mauricio Toledo, Celso Teixeira Leão, Domingos Tata Moni, Luis Cunha. Todos com alegria incomum. Na rua, em frente ao clube, na Kombi do Ernesto Pagires vendia-se confetes, serpentinas, máscaras e lanças perfume. Lembro-me com saudades de quando meu pais compravam na mesma Kombi, os tubos dourados da Rhodia e os colocavam nos bolsos de minha calça e eu, depois, garboso, subia as escadas do clube. Mal sabia qual a graça que tinha em cheirar lança-perfume! Para um menino, valia esguinchar seu conteúdo nos foliões!
                     A década seguinte, foi, para mim, a dos melhores carnavais. Alguns ocorreram no Campestre, outros no Rioverdense. O dublê de odontólogo e professor Tim Campos (Ricardo Campos Sobrinho)- o maior carnavalesco rioverdense de todos os tempos- era sempre o rei Momo. O obeso Tim saía, animadíssimo, às ruas, durante dia, (e com ele uma turma de foliões) vestido de rei Momo e em uma das suas mãos um penico com cerveja e salsichas (boiando), cantando as marchas de então (não é mesmo, Maria Astolfina?). Passavam nas casas dos conhecidos e ofereciam cerveja (do penico, repito) e quase todos bebiam! "Dona Tília- gritava Tim- é carnaval, Dona Tília! Prova um pouco da minha cerveja!" E Dona Tília, apesar de diabética, dava uma bebericada no impoluto penico! Evando Campos então compôs uma marchinha em sua homenagem que o próprio Tim também passou a cantar e que até hoje está na memória de quem viveu aqueles dias felizes: "Tim,/ Ôh, Tim,/ Que onda é essa de você brincar assim?!" No ano seguinte era a principal marchinha que o Tim e seus camaradinhas cantavam pelas ruas! E toma Cerveja!
                   Abro aqui um parágrafo (poderia ser um parêntese) pra dizer que o alegre Tim Campos, passado os quatro dias de reinado de Momo, voltava a ser o responsável e sério professor de Ciências no Colégio Martins Borges. Em tempo de aulas, a Sua Magestade dos carnavais subia, infalivelmente, às 6:45 da manhã, a pé- com um monte de livros e diários de classe sob as axilas- a rua Cel. Vaiano Vaiano, para ministrar suas aulas.
                   Voltando: mesmo quando o carnaval era no Campestre, os foliões esquentavam os tamborins no Bar em frente ao clube Rioverdense e também nas manhãs de domingos e nas terças-feiras gordas de carnaval no Bar do Hotel Minas Goiás (Manoel de Melo). No salão lotado, além o folclórico Tim Campos, Tata Moni, Iashide Matomoto, Jerônimo Carmo de Moraes davam show à parte com seus passes engraçadíssimos! Blocos de Pierrôs e Colombinas cortavam o salão. Confetes e serpentinas salpicavam o chão. Nas mesas, garrafas de cervejas da Brahma e da Antártica, uisques White Horse, Passport e o nacional Theacher's.  Zé Barbeiro, por anos, puxava, no gogó, as históricas marchinhas de momo executadas pelos integrantes da “Furiosa”, a banda do Neném Minu. No ar, o inebriante e delicioso cheiro dos já proibidos lanças-perfumes que vinham do Paraguai. Sem contar os "Cheirinhos da Loló" fabricados em fundo de quintal! E toma alegria!
                   Ano seguinte àquele que o Caetano Veloso gravou "Chuva, suor e cerveja", acho que em 1973, num carnaval no Campestre, a banda do Neném Minu, a pedidos, executou essa marchinha por dezenas de vezes e a galera pedia mais ! Contagiante!
                  Quase não havia brigas. Todos se conheciam e eram amigos. As diferenças políticas eram esquecidas do lado de fora do calendário do Rei Momo. Dezenas de visitantes de Goiânia, Brasília, Uberlândia e outras urbes se vestiam com as cores da alegria e se tornavam foliões nos clubes de Rio Verde. Quantos casais iniciaram seus romances ali, nos cantos e nas penumbras do salão? Quantos primeiros (e outros tantos) beijos ao som da marcha "Máscara Negra" de Zé Keti: "Quanto riso/ Oh, quanta alegria...Vou beijar-te agora/ Não me leve a mal/ Hoje é carnaval!"
                  Saudades de todos esses personagens e daqueles inesquecíveis carnavais.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012


Lennon e Yoko na campanha pela paz 


 Voltemos ao "Faça amor, não faça gerra"!


Por Tadeu Nascimento


             Antes, meus amigos, é bom que se diga, não me considero saudosista. No decorrer dessa crônica se verá que penso e olho para o futuro. Isto posto, vamos ao texto: nos últimos 40 não surgiu um único movimento que desse um rumo à paz ao planeta! Digo isso porque gostaria que houvesse uma nova luz que nos conduzisse, pois estamos na iminência de uma nova guerra que poderá ser mundial! Dessa vez, de consequências inimagináveis! Que Deus nos proteja! Acontece que a humanidade ainda insiste nas guerras para suprir seus desejos sempre insanos. É preciso que se evite esse grande mal. Nem que para isso inventemos um novo movimento aos moldes dos hippies das décadas de 60/70. Não se trata simplesmente repetir, até porque as circunstâncias são outras- no entanto, clamo por uma nova ordem altruísta! Isso também não quer dizer que faço apologia às drogas. Aliás, nunca usei qualquer tipo de drogas ilícitas. Não o fiz porque- diante de tantas loucuras no mundo- sempre soube que o maior barato é a lucidez. 
                 Como defendeu Karl Marx em "18 Brumário", a história se repete pela primeira vez como tragédia e a segunda como uma farsa. Sei, portanto que nada se repete tal e qual, no entanto, gostaria que a mocidade tomasse as rédeas do mundo. Reparem no passado: apesar dos jovens venderem a imagem de irresponsáveis, são eles que enfrentam as ditaduras e outras injustiças pelas ruas do mundo. Meses atrás, em todas grandes cidades da Europa, no mesmo dia e hora, a juventude estava contestando nas ruas contra o sistema financeiro do Euro! A Europa tremeu! Todavia, os jovens nunca desejam guerras. Sempre foram obrigados pelos os mais velhos- em nome da pátria- irem às guerras!  E seria maravilhoso- mais uma vez- se fossem novamente os jovens com flores, roupas coloridas e belas canções a clamar pela paz.  Só a juventude pode mudar os rumos do mundo! Assim como Cristovão Colombo, Vasco da Gama, Fernando Magalhães, Pedro Álvares Cabral. Todos, a época dos descobrimentos, não tinham mais de 20 anos! Talvez  consigamos antecipar e reverter o que seria o desastre.
                 Atualmente a pobreza intelectual, tanto musical como literária, é gritante. Quem sabe, reeditaremos o que foi o fim dos anos 60 e em toda década de 70, tempo que a cultura fervia e espalhava pelo mundo. Apesar de autodenominar-se de contracultura, posto que era contra a cultura reinante da época, o movimento era sim, uma fonte de cultura, principalmente no campo da música. Na literatura surgiram os talentosos Gore Vidal, Gabriel Garcia Marques, Mário Vargas Llosa. Ultimamente, emergiu apenas o genial José Saramago. No universo da música, leia-se rock e pop, surgiram nos Estados Unidos e na Europa grandes talentos. Em 1969 os festivais jorraram criatividade. Woodstock , o mais famoso deles, revolucionou o mundo. Jimmy Hendrix, Joe Coker, The Who, Carlos Santana e tantos outros. Os Beatles, os Rolling Stones, embora não tivessem participado dos festivais, imprimiram o tom dessa revolução que pôs um pouco de ordem no mundo. John Lennon e Yoko Ono fizeram campanha a favor da paz, numa cama, de pijamas, durante uma semana no Hotel Hilton de Amsterdã (1969). Dias depois John e Yoko gravaram "Give peace a chance". No entanto, anos depois, desencantado, Lennon escreveu a bela canção "God" e nela, o famoso verso "Dream is over" (O sonho acabou). Outras bandas seguiram os mesmos passos. A campanha contra a Guerra do Viet-Nan foi a causa das mudanças. Era preciso dar um basta no número de jovens tombados em campos de batalha! E a pressão fora tão grande que, por fim, deram um fim na mau-fadada guerra. Porém, muitos argumentam que se não houvesse a guerra não haveria os hippies. Não dá pra saber. Pois isso é metafísica- além de uma discussão meramente dialética!


               Nas ruas, roupas coloridas, calças apertadas (com bocas de sino), chinelas de couro. E não era incomum jovens com flores nas mãos. "Faça amor, não faça guerra!" era a nova ordem mundial. Nos Estados Unidos, os jovens não mais se alistavam nas forças armadas com intuito de fugir da famigerada guerra e consequentemente não conseguiam trabalho. Com isso, iam se juntando nas esquinas da América. Foi assim que os jovens deram o troco aos governantes. Milhares de "marginais" na América que se tornariam milhões em todo mundo. Cabelos longos e barbas de semanas. O violão era uma coisa muito comum nas calçadas e dava nova cor ao rock e ao blue. A "mariejuana" inspirava os rebeldes aparentemente sem causa. Na verdade, todos ingredientes estavam na panela! E os conservadores, como sempre, torceram os narizes. 


            Cá, na terra brasilis, o Novos baianos, grupo musical que viviam em uma comunidade hippie, gravaram em 1972,  talvez o mais belo disco de vinil ("Acabou chorare") das últimas 4 décadas.
            Longe de querer cultura à custa de guerra, mas, com certeza, surgiriam novos J.Lennon, M. Jagger, assim como novos Gil, Caetano e Chico. Por falar em talentos, quantos compositores brasileiros com qualidade despontaram nas últimas décadas? O último foi Cazuza! Djavan está na mídia desde 1975, ano do Festival Abertura da Globo. John Lennon tinha razão: pra ser feliz é preciso voltar a sonhar
 

               
Não mate o menino que existe em você! 

  Por Tadeu Nascimento

                     "O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe", disse Jean Jacques Rosseau, filósofo iluminista francês, morto 10 anos antes da Revolução Francesa. Enquanto criança, não se tem maldade. Tudo é bom e maravilhoso. Mas o meio a faz sofrer: amarguras, perdas e descrença em relação a vida. Com efeito, o ser humano vai se tornando mau. Ás vezes, bicho fera! Os maiores genocidas da humanidade nasceram sem maldade. Napoleão foi uma criança como outra qualquer. Hitler e Stalin também. Jack, o estuprador, idem. Os combates entre os soldados são impostos aos jovens que matam quem nunca viram (seus iguais, filhos de Deus pai)! Tornam-se neuróticos de guerra e depois, em tempo de paz, por qualquer motivo banal, serve pra tirar a vida de seu semelhante; já os mandantes são homens idosos, loucos por grana- sentados em suas poltronas macias com copos de uísque do lado- que mandam em generais também velhos, muitos deles, setentões carcomidos pelas ganância, crueldade e insensibilidade!
Qualquer menino, por mais perigoso que seja o lugar onde nasce, não sabe o que é maldade. Nas favelas das grandes cidades crianças nascem ouvindo tiros de metralhadoras! E a maioria delas não sabem- ou não conhecem- quem são os seus pais. As mães tiram os seus sustentos em casas de madames (ou nos prostíbulos), enquanto os filhos são "educados", nas ruas, por bandidos! Que futuro terão esses pequeninos, se aos 10 anos já portam um trabuco na cintura? Esperar de uma criança que ela seja um homem de bem ou uma senhora feliz é exigir demais de quem nasceu apanhando (e continua) da vida!
Se você quer um mundo melhor, comece a não aceitar qualquer tipo de maldade. Seja justo com o seu semelhante e não aceite entrar no jogo de quem quer levá-lo ao confronto. Por que nos vendemos tão barato, se a vida é brevíssima? O que querem esses senhores que comandam as guerras, se lhes restam pouco tempo de vida? Deixar o espólio da guerra para seus futuros herdeiros e nesse caso transformá-los em novos genocidas? Trata-se de mentes doentias que vieram deteriorando ao longo do tempo. Pergunta-se, como se portarão esses seres perversos perante o pai criador? Deus há de lhes perguntar: por que você matou um filho meu, seu irmão? Por causa de dinheiro? E agora que você desencarnou, para que lhe serve o poder que por ele fez tantas atrocidades?
Os homens nascem inocentes. Como prova dessa inocência , basta lembrarmos das vésperas de Natal e do amor crianças pela figura do Papai Noel; da alegria delas pelos palhaços e outros artistas circenses, e nas suas distrações quando estão lambendo sorvete. Em todos esses momentos elas estão simplesmente felizes ! Por que interrompemos esse caminho? Porque destruímos o que é bom? Porque corremos tanto sobre uma esteira rolante em busca daquilo que realmente não precisamos? Como seríamos felizes, se não tivéssemos levado a vida tão a sério? Profissão, grana, futuro, sexo pelo sexo, poder, orgulho; inveja; vaidades mil e o pior: rancor!
Na década de 80, em Goiânia, um pai chegou bêbado em casa e já foi espancando a esposa. O filho de 12 anos, vendo a mãe levar socos e pontapés, vai até a parte superior do guarda-roupas e retira de lá o revólver do pai, calibre 38, e descarrega a arma no peito do próprio genitor! Resumo da opereta: Um pai assassinado, uma mãe viúva e um filho órfão e assassino! Nada disso teria acontecido se o pai não agisse com tal crueldade o que acabou em tragédia! Qual é o grau de culpa desse menino de 12 anos? Já não basta o peso moral que ostentará pelo resto da vida, por ter tirado a vida do próprio pai? Será que quanto mais o tempo passa nos tornamos mais perversos e ambiciosos? Por isso que peço para que não percamos a inocência, a doçura que moram nos corações das crianças! A razão de nossa passagem por essa vida está em evoluirmos!
O escritor psicanalista alemão Wilhelm Heich em sua grande obra "O assassinato de Cristo" dedica esta às crianças do mundo. Diz ele que o homem já sofre agressões logo ao nascer. Primeiramente, pela luz exterior nunca vista. Depois pelo rompimento do cordão umbilical e o pior, no caso do macho , a circuncisão (principalmente os judeus). Esta última é uma violência intensa contra um ser pequenino que não tem como se defender.
O notável escritor mineiro Fernando Sabino encomendou para sua lápide: "Nasci homem, morri menino"! Quanto a mim, um simples cronista, gostaria deixar para o túmulo : "Nasci menino, morri menino!"
menino!"