quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Celsinho Bar - Goiânia (GO)

Regina, a perigosa

Por Tadeu Nascimento



Roberval namora Silvinha. Kardecista, ela foi- no ano passado- passar os dias de carnaval em retiro espiritual numa fazenda. Ele ficou por aqui mesmo, com a promessa de não brincar carnaval em lugar nenhum. No máximo, iria ali, no Bar do Celsinho tomar uma cervejinha e comer alguma coisa. Na sexta-feira de Carnaval, por volta das 10 da noite, estavam Roberval e o amigo Carvalhinho no "Celsinho", conversando abobrinhas, quando surge à frente de ambos, como se saísse do nada, uma dessas mulheres que não é só de parar o comércio, mas de fazer a Marquez de Sapucaí emudecer o samba:
-Oi, meu nome é Regina, posso me sentar?
Pasmos ficaram, diante de tamanha maravilha, mas foi Roberval quem se levantou para puxar a cadeira:
-Claro, por favor.
-Como eu disse, meu nome é Regina. Vocês...como se chamam?
-Eu sou Roberval e este Joaquim Carvalho. Carvalinho para os amigos.
Carvalhinho mudo. Assim como qualquer criado mudo.
- Não repare, Carvalinho não é de falar muito!- disse, Roberval.
-Vocês devem estar estranhando eu chegar sem mais nem menos, à mesa de vocês! Bem, não quero interromper a conversa de vocês, então.... vou direto ao assunto: meu noivo foi passar o carnaval no Rio de Janeiro e ele não quis que eu fosse junto! Agora, isto é o problema é dele! E eu, quando aqui cheguei, achei você Roberval, a pessoa ideal!
-Eu? Ideal?- Posso saber porquê?- indagou Roberval.
-Para ser a pessoa com quem eu pretendo trair o meu noivo!
Roberval engoliu seco. Carvalhinho se engasgou com a saliva. A questão é que não estavam acreditando no que viam e muito menos no que ouviam. Deve ser pegadinha, pensou Roberval, olhando para os lados, buscando alguma câmera de TV, alguém filmando. Justamente ele que nunca levou sorte com mulher, apesar de não ser miseravelmente feio, mas está longe de ser um Geanecchini. Quanto mais, diante uma deusa que deveria ser destaque em qualquer escola de samba do mundo. E Roberval conquistar alguém era muitíssimo raro. Na verdade, quando Deus ajudava, a dita cuja era tão mal ajambrada que no "day after", ele descobria que ele que era a presa (com exceção de Silvinha, a sua namorada, que é mediana em termo de beleza). No entanto, a sorte que nunca teve, agora caiu do céu! Mas, voltemos a deusa Regina:
-Quero que saiba, Roberval, que eu quero trair pra valer. Quero fazer tudo, tudo, tudinho, está me entendendo? Uma verdadeira noite de vingança e acredito que você não irá se arrepender! Topa?
Diante daquela que parecia mais um carro alegórico do que uma rainha da bateria de escola samba, Roberval não acreditava no que estava acontecendo (Carvalhino então, nem piscava!). Quanto mais diante de uma proposta irrecusável e tão abençoada! Roberval achou que estava sonhando. Então se beliscou. Ela percebeu:
-Não é um sonho, Roberval, creia! Topa? Me diga agora, se não vou procurar outro!
-Naaaão! Quer dizer...eu topo! Topo na hora!
-Então acerte a conta, despeça de seu amigo e vamos!
Partiram para o motel melhor da cidade. Roberval queria impressionar, até porque ela merecia um motel 300 estrelas! "E a besta do noivo deixando o Estandarte de Ouro aqui em Goiânia! Ainda bem que está em boas mãos"- delirava Roberval.
Regina cumpriu o prometido. Foi uma noite esplendorosa, apoteótica! E Roberval falou para os próprios ouvidos: esta noite valeu mais que ganhar o Campeonato Brasileiro, a Copa do mundo, a Fórmula Um e o carnaval do Rio de Janeiro, tudo ao mesmo tempo!
Consumada a traição, Regina pouco conversou:
-Por favor, me deixe no meu carro!
Roberval, maravilhado, tentou puxar conversa. Mas ela não queria papo. Ele tentava, ela cortava.
No caminho, ele mudo, ela calada:
-Boa Noite e obrigado. (apenas ponto, sem exclamação!)
"Mas assim-assim, sem um beijo de despedida, sem deixar o número do telefone, o endereço?"- pensou, Roberval.
Foi pra casa se achando o Jonny Depp, o homem mais sexy do mundo, mas com a pulga atrás da orelha. Ainda bem que o Carvalhinho é testemunha, se não, ninguém acreditaria!
Roberval não mais viu- nem de longe- Regina! Procurou em bares, supermercados, shopping centers, portas de faculdade e nada. Um ano se passou e o carnaval chegou. Mais uma vez. Desta vez Silvinha, a namorada, não foi quis saber de retiro espiritual. Desconfiou do comportamento de Roberval:
-Roberval não é o mesmo! Tem um não sei quê de inquietude. Um olhar de cobra surucucu a procura de alguém ou de alguma coisa que eu não sei o que é. Isto acontece em qualquer lugar onde vamos. Mas é algo que cheira a confete e a serpentina- jurava Silvinha.
Bem, como disse, um ano depois, exatamente na sexta-feira de carnaval, no mesmo Bar do Celsinho, um casal se esbarra no outro:
-Oi!- disse Regina, quase se resvalando em Roberval.
-Oi!- respondeu Roberval, surpreso.
Ela passou com o noivo. E Roberval com a Silvinha.
-Quem é este cara?- perguntou o noivo.
-Quem é esta?- perguntou Silvinha.
Regina fez de conta que não ouviu o noivo e Roberval se fez de surdo pra Silvinha.
De mãos dadas com Silvinha, Roberval filosofou em pensamento: "É, mulher quando quer trair, ninguém segura! É do demo de batom e salto alto!"

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010


Os amantes


A mania de Zé Ricardo


Por Tadeu Nascimento


José Ricardo estava no seu terceiro casamento. O primeiro foi com Maria Lúcia que o flagrou saindo de um motel com Marinalva, uma ex-namorada. Inapelável. Mas mesmo assim, tentou se desculpar, prometendo nunca mais pisar na bola. Nada adiantou. Ela, de família conservadora, educada em escola de freiras, não admitia traições. Quanto mais com uma ex.
- Quanto tempo você me trai com esta catilanga, seu sem vergonha?
Sem resposta. Fim de uma história. José Ricardo amargou solidão por uns dias e logo saiu à caça, como um leão que acabara de fugir das grades. Surgiram alguns relacionamentos: uns que valiam uma viagem pra Caldas Novas, outros descartáveis, como seringa de injeção. Mas logo conheceu Silvana, mulher despachada, destas da pá virada, autêntica, de poucas palavras e que não aceitava qualquer deslize de José Ricardo. Tudo ao contrário da recatada Maria Lúcia, menos no que dissesse respeito a traição.
José Ricardo casou-se com Silvana em cerimônia em cartório e depois comemoram com amigos e familiares num belo restaurante. Por coincidência, na hora dos cumprimentos, quem surge à sua frente? Ela, a Marinalva!
-Não vai me apresentar sua noiva, quer dizer, sua esposa Ricardo?
Ele, mais do que sem graça, recebeu os votos de felicidades para uma nova vida a dois. Não restando alternativa, apresentou Marinalva à esposa. Dois anos se passaram quando Silvana descobriu que Ricardo tinha um caso com outra mulher, pois encontrou baton vermelho em sua cueca, embora não soubesse de quem. Inapelável. Bye-bye, segundo casamento!
Um ano depois, conheceu Paulinha que era o meio termo entre as duas primeiras mulheres. Porém era muito ciumenta. Casou-se com ela e vive um casamento às turras, sabendo que também não ira durar muito. A causa? A mesma. Sempre outra mulher.
Enquanto Ricardo estava com Paulinha, Maria Lúcia e Silvana se conheceram num salão de beleza e descobriram que foram esposas do mesmo homem, José Ricardo.
-José Ricardo Antunes? Não me diga! Eu fui a primeira esposa dele!
De repente tornaram-se amigas. Afinal tinham algo em comum: o ex-marido. Faziam compras no shopping, saiam para um chopinho, uma visitava a outra e pouco a pouco foram descobrindo a vida íntima de ambas com José Ricardo. Maria Lúcia que fora a primeira esposa, contou à Silvana- em meio uma pizza e chopes num shopping- a causa do fim do seu casamento com Ricardo.
-Flagrei ele saindo de um motel com uma ex-namorada, a Marinalva. Perguntei a ele quantos anos ele me traía com aquela catilanga e ele não respondeu, apenas ficou a se desculpar, e prometendo que nunca mais iria me trair, mas não aceitei. Fui apurar os fatos e descobri que ele tinha um caso com Marinalva por 5 anos, ou seja, desde que nos casamos. Pedi o divórcio.
- Acho que conheço esta tal Marinalva! Mas... deixa eu te contar: o meu caso é parecido com o seu, só que eu não sei com quem ele me traía. Um dia a sua cueca apareceu com mancha de baton...
- Vai ver, foi com a Marinalva!..
- Pois é, acho que conheci esta Marinalva...
- No dia do seu casamento?
- Como você sabe?
- Já vi este filme!..
Mal terminara de falar, avistaram José Ricardo acompanhando uma mulher com jeito de intimidade. Mas o rosto da mulher não era possível de se ver. Ela estava de costas.
-Falando no diabo... olha lá, o filadaputa do Zé Ricardo! Ali... com uma mulher- disse Silvana.
O casal sentou-se num restaurante em frente e a mulher sentou-se de costas para a porta de entrada, de forma que Maria Lúcia e Silvana não viam o seu rosto. Combinaram então as duas, de se sentarem em frente ao casal. Fazendo de conta que iriam se sentar para almoçar, ficaram, antes de se sentarem, tete-a-tete com o casal:
- Jo-sé Ri-car-do!... Ma-ri-nal-va!- gritaram as duas ex-esposas.
- Oi! Vocês juntas? O mundo vai implodir! Esta é uma colega de trabalho...(referindo-se a acompanhante)
- Mas você não toma jeito, num shopping, à luz do dia! Você não toma tipo, não é José Ricardo? Você casou-se pela terceira vez e continua traindo! Você sempre me traiu! Traiu a Ana Lúcia e agora a Paulinha com a mesma Marinalva! Já-já, a Paulinha vai descobrir, se não já descobriu! Mas, já que a história de vocês é antiga, por que você, Zé Ricardo, não se casou com ela?- Perguntou Silvana- com a mão na cintura.
Ora porquê! Porque não teria a menor graça! Não sou homem pra viver sem uma amante e amante é tudo de bom, ponto com ponto br! E Marinalva é minha amante! Se eu me casasse com ela eu teria que arrumar outra amante! Agora, se vocês toparem ser minhas amantes eu me caso com a Marinalva agorinha mesmo!
E Marinalva:
- E vocês já estão convidadas para o casamento!
Inapelável.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010


Luma e o bombeiro

Conselho aos quarentões




Por Tadeu Nascimento


Se você é homem, hétero e tem mais de 40 anos, aceite este conselho que lhe dou de graça: não se envolva (emocionalmente, claro) com mulher de vinte anos, principalmente se for bonita demais ou ainda, o mais arriscado: se for bonita demais com cinturinha de pilão- o que é muito bom- mas, sorry, não é pra você, é muito perigoso. A encomenda, com certeza, vai lhe sair cara demais. Tudo bem, se tem o coração de pedra, mas um dia a pedra poderá se quebrar e aí vai se apaixonar e então, estará no pau da goiaba (do Zé Estevão). A palavra “paz” não fará mais parte do seu dicionário. Pode você ser podre de rico ou virtuoso pobretão. Longe de querer rimar, mas... não haverá perdão. Ao tentar se relacionar com uma deste tipo, você já é um pré-corno! Imagine se você terá um minuto de paz: na faculdade, o colega que se senta na carteira de trás, barulhando no ouvido dela: “Esta noite sonhei que estava fazendo amor com você e que eu tinha levado você às nuvens!” Quando ela for ao banheiro, enquanto você a espera, no seu carro ou tomando o seu chope (que a esta altura estará descendo quadrado), no caminho, sempre terá alguém buzinando na orelha dela: “Hoje à noite vou dar uma festa no meu apê e você é a única convidada!” Um outro, mais atrevido: “Tô pensado em pintar os meus cabelos de vovô pra que você faça um ‘love’ senil comigo!" E quando você a vir assediada, na certa será por homens mais novos e, claro, mais bonitos do que você. E você terá que suportar ou cair na real. Se romper com o relacionamento, será um Haiti se desmoronando na sua vida! Se suportar, você se tornou escravo da juventude alheia e fatalmente, a qualquer hora, será trocado por um boyzinho que fala a mesma língua que ela, o que será sempre pra você... o aramaico ou o grego. Pior ainda, se a inevitável separação acontecer daqui a 5, 10 anos. Aí, meu caro, no mínimo, você sofrerá um infarto ou se tornará um neurótico que nunca mais vai encarar uma relação com uma mulher que poderia gostar de você pelo que você é. Estará condenado a gastar suas horas nos bordéis, em casas de massagem ou em boate fim-de-linha que são os refúgios de cornos e pós-cornos. Em fim, você será um neurótico- não de guerra- mas de fêmea. Será isso que você escolheu pra sua vida? Pensando bem, daqui a dez anos, o que será de você?

Se você é mulher, hétero e tem mais de 40 anos, aceite também este gratuito conselho: não se ache eterna gatinha ao ponto de se envolver com homem de vinte anos, principalmente se for bonito demais ou ainda, o mais perigoso: se for bonito demais com barriga de tanquinho, tipo exibicionista, pois deve ser muito bom para as gatinhas com vácuo na cabeça, mas pra você será uma gelada! É óbvio, se você abrir uma brecha, vai se apaixonar. Eis o inferno na sua vida, onde o capeta vai lhe proporcionar todo tipo de tortura: o de ser trocada, não por uma, mas por um batalhão de mulheres, ainda que vazias, que o tratarão como Apolo e a você como a Maga Patalógica ou como outra bruxa qualquer, viventes de uma selva de cornélias-agudas. Imagina seu gatinho na borda da piscina com um corpo sarado pronto a se mergulhar num banquete de pernas lisas e doces de uma dezena de gazelas no cio. Ah, você sabe o que é isso, você já foi uma delas! Agora é uma onça, a rosnar na borda da piscina. Mas sem dúvida, há sempre um caçador de onça obcecado a amansar a fera que mora em você. Mas enquanto você urra como felina, o capeta arma a sua arapuca! Imagina também, o seu homem dançando no centro de uma roda, na boate, com a camisa aberta (ou pior, sem ela) exibindo os seus trepidantes músculos da barriga de tanquinho e você deslocada, à margem da vida dele- se achando do tamanho de uma ervilha de vergonha- fazendo de conta que nunca viu aquele homem, no maior vexame da sua vida. Será isso que você escolheu pra sua vida? Pensado bem, daqui a dez anos, o que será de você?

Agora, se você, homem ou mulher com mais de 40, insiste no sexo oposto de 20 anos e se- como dizia Vinicius de Moraes na canção "Testamento"- "Você que só faz usufruir/Que tem mulher (ou homem) pra usar ou pra exibir"- vai quebrar a cara! Vide Suzana Vieira. Vide Eike Batista (o homem mais rico do Brasil- segundo ele mesmo- que perdeu a ex, Luma de Oliveira para um bombeiro da Polícia Militar do RJ). Lembre-se que sempre tem uma gatinha inglesa chamada Mal de Parkinson ou um jovem alemão, o Alzheimer, a sua espera. Reze pra se desencarnar antes ou acostume-se a com a idéia de dançar aos domingos, às três da tarde, com as gatinhas ou gatinhos de setenta, oitenta anos no Asilo dos Velhos da sua cidade. Não duvide, é a vida.

.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010



Dr. Olegário, o rei das mulatas

por Tadeu Nascimento



Olegário Pena- dos Pena de Araguari- era médico Dermatologista. Seria mais justo chamá-lo de médico mulatologista. Quer dizer, médico especialista em mulheres de pele cor de mate, de lábios carnudos, de dentes grandes e alvos, de tornozelos finos. Bem casado, pai de três filhos, foi um craque na sua especialidade. Um Pitangui das mulatas. Não que evitasse pacientes de pele clara, mas sua fama de mulatologista corria o mundo. Quando ele se referia a morenas de pele cor achocolatada abria um sorriso de felicidade de ganhador solitário da mega sena. "Nasci pra isso, vivo pra isso", era o seu lema!
Mesmo com toda fama e glória, Dr. Olegário mal esperava a "Hora do Angelus" para passar a volta na chave na porta do seu consultório para caçar cabrochinhas de piador fino nos bairros da cidade. Decodificando cabrochinhas de peador fino: segundo o próprio Olegário, são mulatas de tornozelos finos que chegam a ter as peles ressecadas de tão magrinhos."A primeira coisa que reparo- depois da cor- é nas polegadas do peador. Quanto mais fino o peador, maior a cotação na bolsa de valores da minha alegria. Mulata de peador fino é a melhor coisa que existe! É mais quente que fundo de forno! Na hora horizontal, pula mais que cabrita picada por marimbondo!"
Essa paixão por mulata tinha razão de ser. Vem desde o seu primeiro dia de vida. Sua mãe, impossibilitada de amamentá-lo, deixou por conta de Tereza, uma mulata que fora criada pela família que também acabara de dar à luz. Paixão à primeira mamada. Quer dizer, á primeira mulata. Daí por diante, só queria se amamentar nos peitos da trigueira Tereza. De lá pra cá, a idolatria só aumentou. Na infância só conseguia dormir- enroscado numa cabrocha. Na puberdade não desgrudava o olho dos buracos das fechaduras dos banheiros para ver as empregadas, também mulatas, tomando banho. Êxtase total. Nem Casanova, nem Don Juan tinha o prazer de Olegário, quando as vias debaixo do chuveiro. Aliás, todas empregadas que passaram pela casa de Dona Arlinda, sua mãe, tinham cor de canela, caso contrário, fazia greve de fome, não ia à escola e ainda batia-lhe uma triteza de Jeca Tatu. Gostava tanto desta matiz que ao rezar, ainda quando criança, a "Ave Maria", na sua mente surgia uma nossa senhora mulata, quase aos moldes Nossa Senhora da Aparecida. E não era sem motivo que as paredes de seu consultório foram decoradas com quadros de mulatas de Di Cavalcante. Quando rapazinho, trocava idéias, fotografias- através de correspondências- com Sargentelli, aquele das mulatas do Canecão, no Rio de Janeiro. "A mulata, sem trocadilho, é coisa de Buda: é o "meso", o meio termo entre as raças, o equilíbrio entre todas mulheres!" Se Castro Alves era o maior defensor dos negros, eu sou o maior defensor da mulatas, tanto que sugeri a um amigo vereador para ingressar com um projeto de lei para que fosse instituído o Dia da Consciência Mulatícia. Pois se existe o dia da Parada Gay, porque não para o nosso produto exportação nº 1, a mulata, o maior patrimônio nacional!"-argumentava o nobre humanista.
Um dia, surge em seu consultório uma mulata estonteante, de 1,75m, cabelos em cachos, um par de brincos de argolas imensas, uma boca grande e carnuda, dentes que brilhavam como pérolas brancas e, pasmem, olhos verdes como jabuticabas em agosto, cintura de formiga e um par de nádegas criadas em cativeiro, destas que fazem esposa espancar marido, se ele ousar virar o pescoço. E o peador? Ah!..o peador! Era o peador mais perfeito que Deus já criou! Pois bem, a mulata tinha intenção de tirar umas pintas: uma debaixo do seio esquerdo, outra no bumbum e outra na verilha, do lado direito. "Só por precaução, doutor, dizem que pinta pode virar coisa séria, talvez um tumor!"-disse ela com ar de preocupada. Doutor Olegário, num misto de surpresa e felicidade, pediu-lhe que mostrasse então, as tão maldosas pintas. Sem se preocupar, a mulata, tirou o vestido de uma só puxada. Estava sem as devidas peças íntimas! Ei-la absolutamente nua! A um metro de seu olhos! Olegário engoliu seco. Era a coisa mais linda que a vida presenteu aos seus olhos. "Valei-me meu São Benedito!"- clamou em off, Olegário. Ela, mais nua do que Eva- antes de comer a maçã- chegou bem pertinho do médico e apontou para as indeléveis pintinhas. Era a maior homenagem que um homem poderia receber, pensou Olegário. Tentou se controlar. Começou pela pinta do seio. A mão que apalpava começou a se tremular. Ela virou-se para mostrar a segunda, a pinta gordinha, bem ali no auge da curva do bumbum. Olegário suava em bicas. E ela: "Agora, doutor, estou mais preocupada é com esta pinta aqui, a da verilha"- falando e virando-se de frente para o médico que estava sentado à altura da última pintinha. Pronto: enfarto. Ali, diante da apoteose do samba, isto é, da mulata :
-Obrigado, São Benedito, isto que é morrer feliz!-finalizou Olegário.
Morreu com um sorriso largo, ali mesmo, na frente de uma deusa nua, quase negra.