quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010



Dr. Olegário, o rei das mulatas

por Tadeu Nascimento



Olegário Pena- dos Pena de Araguari- era médico Dermatologista. Seria mais justo chamá-lo de médico mulatologista. Quer dizer, médico especialista em mulheres de pele cor de mate, de lábios carnudos, de dentes grandes e alvos, de tornozelos finos. Bem casado, pai de três filhos, foi um craque na sua especialidade. Um Pitangui das mulatas. Não que evitasse pacientes de pele clara, mas sua fama de mulatologista corria o mundo. Quando ele se referia a morenas de pele cor achocolatada abria um sorriso de felicidade de ganhador solitário da mega sena. "Nasci pra isso, vivo pra isso", era o seu lema!
Mesmo com toda fama e glória, Dr. Olegário mal esperava a "Hora do Angelus" para passar a volta na chave na porta do seu consultório para caçar cabrochinhas de piador fino nos bairros da cidade. Decodificando cabrochinhas de peador fino: segundo o próprio Olegário, são mulatas de tornozelos finos que chegam a ter as peles ressecadas de tão magrinhos."A primeira coisa que reparo- depois da cor- é nas polegadas do peador. Quanto mais fino o peador, maior a cotação na bolsa de valores da minha alegria. Mulata de peador fino é a melhor coisa que existe! É mais quente que fundo de forno! Na hora horizontal, pula mais que cabrita picada por marimbondo!"
Essa paixão por mulata tinha razão de ser. Vem desde o seu primeiro dia de vida. Sua mãe, impossibilitada de amamentá-lo, deixou por conta de Tereza, uma mulata que fora criada pela família que também acabara de dar à luz. Paixão à primeira mamada. Quer dizer, á primeira mulata. Daí por diante, só queria se amamentar nos peitos da trigueira Tereza. De lá pra cá, a idolatria só aumentou. Na infância só conseguia dormir- enroscado numa cabrocha. Na puberdade não desgrudava o olho dos buracos das fechaduras dos banheiros para ver as empregadas, também mulatas, tomando banho. Êxtase total. Nem Casanova, nem Don Juan tinha o prazer de Olegário, quando as vias debaixo do chuveiro. Aliás, todas empregadas que passaram pela casa de Dona Arlinda, sua mãe, tinham cor de canela, caso contrário, fazia greve de fome, não ia à escola e ainda batia-lhe uma triteza de Jeca Tatu. Gostava tanto desta matiz que ao rezar, ainda quando criança, a "Ave Maria", na sua mente surgia uma nossa senhora mulata, quase aos moldes Nossa Senhora da Aparecida. E não era sem motivo que as paredes de seu consultório foram decoradas com quadros de mulatas de Di Cavalcante. Quando rapazinho, trocava idéias, fotografias- através de correspondências- com Sargentelli, aquele das mulatas do Canecão, no Rio de Janeiro. "A mulata, sem trocadilho, é coisa de Buda: é o "meso", o meio termo entre as raças, o equilíbrio entre todas mulheres!" Se Castro Alves era o maior defensor dos negros, eu sou o maior defensor da mulatas, tanto que sugeri a um amigo vereador para ingressar com um projeto de lei para que fosse instituído o Dia da Consciência Mulatícia. Pois se existe o dia da Parada Gay, porque não para o nosso produto exportação nº 1, a mulata, o maior patrimônio nacional!"-argumentava o nobre humanista.
Um dia, surge em seu consultório uma mulata estonteante, de 1,75m, cabelos em cachos, um par de brincos de argolas imensas, uma boca grande e carnuda, dentes que brilhavam como pérolas brancas e, pasmem, olhos verdes como jabuticabas em agosto, cintura de formiga e um par de nádegas criadas em cativeiro, destas que fazem esposa espancar marido, se ele ousar virar o pescoço. E o peador? Ah!..o peador! Era o peador mais perfeito que Deus já criou! Pois bem, a mulata tinha intenção de tirar umas pintas: uma debaixo do seio esquerdo, outra no bumbum e outra na verilha, do lado direito. "Só por precaução, doutor, dizem que pinta pode virar coisa séria, talvez um tumor!"-disse ela com ar de preocupada. Doutor Olegário, num misto de surpresa e felicidade, pediu-lhe que mostrasse então, as tão maldosas pintas. Sem se preocupar, a mulata, tirou o vestido de uma só puxada. Estava sem as devidas peças íntimas! Ei-la absolutamente nua! A um metro de seu olhos! Olegário engoliu seco. Era a coisa mais linda que a vida presenteu aos seus olhos. "Valei-me meu São Benedito!"- clamou em off, Olegário. Ela, mais nua do que Eva- antes de comer a maçã- chegou bem pertinho do médico e apontou para as indeléveis pintinhas. Era a maior homenagem que um homem poderia receber, pensou Olegário. Tentou se controlar. Começou pela pinta do seio. A mão que apalpava começou a se tremular. Ela virou-se para mostrar a segunda, a pinta gordinha, bem ali no auge da curva do bumbum. Olegário suava em bicas. E ela: "Agora, doutor, estou mais preocupada é com esta pinta aqui, a da verilha"- falando e virando-se de frente para o médico que estava sentado à altura da última pintinha. Pronto: enfarto. Ali, diante da apoteose do samba, isto é, da mulata :
-Obrigado, São Benedito, isto que é morrer feliz!-finalizou Olegário.
Morreu com um sorriso largo, ali mesmo, na frente de uma deusa nua, quase negra.

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