terça-feira, 30 de junho de 2009

O AMOR DE ANNA DE ASSIS

Por Tadeu Nascimento

Amor sem igual era o de Anna por Dilermando. Amor intenso e trágico que resultou na morte de Euclides. Assim como as tragédias gregas estes três personagens reais viveram a maior tragédia brasileira. A história começou quando quatro dias depois da Proclamação da República Euclides da Cunha foi à casa do major Solon Ribeiro, um dos ícones da Proclamação, pedir sua volta à Escola Militar da Praia Vermelha por ter sido dela expulso por tentar quebrar a espada diante do ministro da Guerra, gesto de rebeldia contra a monarquia. Quando ali chegou Euclides, já famoso no Rio de Janeiro por sua ousadia, chamou atenção da menina Anna Ribeiro, filha do major. Deu no que deveria dar: poucos dias depois se casaram. Euclides tinha 24 anos e Anninha, 14. Tiveram quatro filhos: Eudóxia que morreu logo após o parto, Solon, Euclidinho e Manoel Afonso. Mas Euclides tinha um temperamento austero, um homem atormentado, e que mal dava atenção à esposa. E por acaso, Anna, agora com o sobrenome “da Cunha” era uma mulher belíssima. O marido, engenheiro e escritor, autor de uma das importantes obras literárias que é “Os Sertões”, fora convocado pelo ministro Barão do Rio Branco para delimitar as fronteiras Brasil- Peru- Bolívia. O genial escritor ficou dois anos sem enviar provimentos de sub existência à Anna e aos 3 filhos, tanto que o próprio pai de Euclides em uma carta chama a atenção do filho para que ele cumpra com seus deveres de chefe de família. Pior do que isto, uma mulher belíssima em pleno vigor físico abandonada no Rio de Janeiro.

Enquanto isto Anna e seus dois filhos moravam na pensão Monat na rua Senador Vergueiro, onde conheceu um rapaz louro, bonito e educado, aspirante ao Exército de nome Dilermando de Assis. O inevitável aconteceria. Afrodite, a deusa do amor tecia o seu manto. E tal qual gasolina perto do fogo, a coisa explodiria. Ele com 17 anos, ela com 30. A paixão, com sua força arrebatadora, os arrastaria para a tragédia. Aquela que seria a Tragédia Brasileira. Anna se engravida de Dilermando. Segundo o livro “Anna de Assis” de Judith de Assis, Euclides depois de descobrir que o filho era de outro homem, toma-o da mãe, tranca Anna no quarto e deixa a criança morrer de inanição aos sete dias de vida. O menino recebeu o nome de Mauro.

Anna tenta separa-se de Euclides. Ele não aceita. Anna continua a amar Dilermando e dele se engravida outra vez. Vem ao mundo um menino louro. O escritor Medeiros e Albuquerque escreve em seu livro de memórias: “Nasce uma espiga no cafezal” (Euclides era moreno, descendente de índio). Batizaram-no de Luis. Anna passa a se encontrar com Dilermando no Bairro da Piedade.

Justamente há um século, 15 de agosto de 1909, Euclides transtornado, com uma arma que pedira emprestado a um primo para matar um cão hidrófobo vai lavar sua honra. Bate à porta e é atendido por Dinorah, irmão de Dilermando que o deixa entrar e Euclides, revólver em punho, entra gritando: “Vim para matar ou para morrer!” e atira à queima-roupa em Dilermando que ferido ainda tenta tirar a arma de Euclides. Leva outro balaço, agora no peito. Dinorah tenta desarmá-lo também recebe um tiro que atinge a coluna cervical, inutilizando-o para o resto da vida. Enquanto isso, gritos vindos da cozinha chamam a atenção de Euclides. O atirador parte para completar a matança. Dilermando apanhou o próprio revólver, arma do Exército, e atirou não para matá-lo e sim para amedrontá-lo, quando Euclides se volta para o ataque. “Fuja doutor Euclides, não quero matá-lo”, grita o amante que recebe outra bala no corpo. E depois mais outra. Sabendo que se não atirasse para matar, seria morto por Euclides, atirou-lhe no peito. Foi a causa mortis do escritor. Esses fatos constam do processo judicial que julgou Dilermando. Foram quatro balas em Dilermando e apenas uma em Euclides.

Anna não o condenou e continuou a viver com ele. Solon, o filho mais velho, foi viver com seu padrinho, o então cel. Cândido Rondon na selva Amazônica. Desaparece misteriosamente. Até hoje está insepulto. Enquanto isso, a imprensa denigre a imagem do casal. Acusam Dilermando de assassino e Anna de prostituta. O jornalista Elói Pontes faz campanha para condená-lo. Dilermando vai a julgamento. Defende-o com maestria Evaristo de Moraes. A justiça o inocenta.

Nestor da Cunha, irmão de Euclides, instiga Euclidinho a matar Dilermando. Chama-o aos brios pelo fato de o assassino de seu pai continuar dormindo com sua mãe! Estava Dilermando em 4 de julho de 1916, no cartório de órfãos para resolver questões de um dos filhos de Euclides, quando é surpreendido por Euclidinho que lhe desferiu outros quatro tiros (dois pelas costas). Dilermando conseguiu se armar e atirar em Euclidinho em legítima defesa. Um tiro apenas. Bala de um campeão de tiro do Exército. Evaristo de Moraes volta a defendê-lo e consegue a sua absolvição.

Anna perdoara o assassino de seu filho. Casa-se com ele. Chama-se agora Anna de Assis. Viveram vida calma e tiveram mais três filhos. Embora sob a mira da imprensa que vomitava maldades sobre ela. Entre e perdas e danos por conta deste amor Anna sofreu pela a morte de 4 entes queridos: o filho Mauro de sete dias de vida, o marido Euclides, o filho mais velho, Solon (que se Euclides estivesse vivo não mudaria para o Amazonas) e Euclidinho. Todos tragicamente.

O tempo passa. Anna já completara 50 anos e já não trazia a beleza de antes. Ele não alcançara os 40. O desinteresse do marido pela mulher faz com que Anna desconfiasse de que havia cheiro de outra naquela história. Passou a segui-lo e descobriu seu envolvimento com uma moça mais nova no Bairro do Encantado. Quando se encontraram em casa ela disse a ele a frase que se tornou histórica: “Você é o único homem que não tinha o direito de prevaricar!” Separam-se para sempre. Anna passou a servir marmitas e quitandas para manter a família. Somente se voltaram a se ver no leito de morte de Anna em 12 de maio de 1951, onde Dilermando fora buscar o seu perdão. Às portas fechadas ele a acompanhou até ao último suspiro. Não se sabe até hoje se ela o perdoou. Dilermando que se tornara general morre de infarto no mesmo ano. Anna de Assis teve a audácia de viver uma história de um grande amor em um tempo conservador de moral rígida. Pagou caro por isso, mas viveu a sua história de amor.

Tadeu Nascimento é servidor público e advogado.

Email: tadeunascimento10@hotmail.com

DESCONSTRUINDO O AMOR

Por Tadeu Nascimento

Viver uma história de amor é quase sempre fácil e extremamente prazeroso. Desconstruir é que são elas. Isto vale tanto para os homens quanto para as mulheres. Enquanto afinados, o processo de imaginação para se viver a dois é de uma beleza incomparável e às vezes indescritível. Agora desfazer a imagem que se tinha da outra pessoa, enxergá-la tal qual ela é na realidade, com os defeitos graves que antes não se via nela é uma tarefa muito difícil e dolorosa. No princípio, ao se conhecerem, cada um vende uma imagem e é por esta imagem que se apaixona. Quando Pedro se apaixona por Maria na verdade se apaixona pelo que Maria aparenta ser. Ninguém se apresenta “eu sou mentiroso, volúvel e dissimulado ou sou um psicopata ou ainda não valho nada”. Neste momento só vale o poder de sedução: passa-se uma imagem que é tudo de bom e mais um pouco. Só qualidades. A partir daí constroem-se um edifício de ilusões sustentadas sobre carícias, buquês de flores, jantares, presentes, projetos de viagem para mares “nunca dantes navegados” que logo serão diluídos pela decepção. Com o tempo os defeitos vão se mostrando evidentes, até porque ninguém consegue viver uma mentira todo o tempo. Toda verdade se escancara e com ela o engodo, a armadilha em que caiu. As colunas deste edifício foram erguidas com material de qualidade duvidosa; o teto não suportou uma pequena ventania e foi ao chão e a laje que era de mentira desmoronou. E ao cair a mentira, a máscara, a decepção nos obriga a não mais acreditar em relacionamentos. Nesta hora começa-se a blindagem do coração. Leia-se fechado para balanço. Outro relacionamento, nem pensar.

Estamos falando de gente civilizada. As páginas dos jornais estão cheias crimes passionais. De quem não agüentou a barra de um relacionamento onde um tripudiou com o outro. E a história pode terminar em sangue e nos tribunais. É preciso não se sucumbir ao orgulho, à cultura machista. Basta pegar as malas e bye-bye. Se não for possível, melhor deixar as malas e o bye-bye para trás.

Pobre de quem se apaixona por um farsante. Porque para desconstruir este amor é preciso desmanchar com lágrimas uma resistente argamassa de sentimentos e de sonhos. O amor é como o concreto com seu cimento, ferro e brita. Por isso é forte. Às vezes, para quebrantá-lo, desconstruí-lo, somente com implosões, no caso, implodir a relação. Como é triste ver uma implosão de um prédio por mais velho e feio que possa ser. Desconstruir algo que custou tempo, suor e sonhos. Assim é a desconstrução de uma história de amor.

Quando se chega a este ponto sabe-se que não adianta tentar recuperar, salvar o já perdido. Não há como juntar os fragmentos dos escombros de uma implosão. Espelho quebrado mesmo depois de emendado não reflete a mesma imagem. Jamais! Sabe-se que a culpa não é do outro, mas sempre de si próprio. Quem mandou ser tolo, ser do bem, ser honesto. Isto vale para ambos os sexos. Melhor seria ser mandrake, espertalhão, farsante como é também a outra pessoa do outro lado da relação. Esta -friamente- tem o controle do relacionamento e sai sempre ilesa. Pelo menos até quando se apaixonar por outra pessoa mais vil do que ela. Creio que o mundo é assim imperfeito porque, tal qual uma epidemia contagiante um dia -nos primórdios da humanidade- um sacaneou um outro de bem e este passou sacanear um outro de bem e assim por diante, (atravessando gerações) até bater na porta da sua casa, quer dizer, na porta do seu coração.

Quem age como falsário, ou seja, aquele que é desonesto no relacionamento, nada tem a perder, a não ser o amor de quem se foi apesar de não dar a menor importância. A este último restam-lhe os amigos, os bares, os livros, a solidão. Até que surja novamente um novo sol na sua vida. Pode-se demorar um tempão e como nada é eterno, graças a natureza divina de se renascer (vide o tempo de plantar e o tempo de colher) alguém há de chegar e com um sopro irá desfazer o coração blindado. A poeira das cinzas irá dissipar e o vermelho da brasa arderá em chamas outra vez. Ainda bem.

Quanto a outra, (ou o outro) não se esquecer de lhe enviar flores no seu sepultamento. Até porque devemos enterrar quem já morreu. E se não morreu, a indiferença tem o mesmo peso de “Belém-belém, pra nunca mais ficar de bem”.

Tadeu Nascimento é servidor público e advogado

Email: tadeunascimento10@hotmail.com

AMORES DESCONECTADOS

Por Tadeu Nascimento

Quando acaba um relacionamento fica um buraco, um vazio difícil até de se explicar. Mas não é só um vazio, mas um descompasso, um hiato no ritmo da vida, um não sei quê de descontentamento, como diria Renato Russo. O ideal seria apertar uma tecla para deletar a pessoa que um dia amou. Como isto não é possível, procura-se se manter à distância. Como você não quer encontrá-la tão cedo, evita freqüentar os lugares onde sabidamente poderia dar de cara com ela. Pede aos amigos que não toquem no assunto, que não falem o nome dela. Os presentes que ela lhe deu vão parar numa caixa que é mais um arquivo morto. As fotografias já estão num saco escuro dentro de um outro saco escuro de um cofre ainda mais escuro. Mas, Mais dia, menos dia, o inevitável acontece. Como disse Chico Buarque na letra de “Anos Dourados” “É desconcertante rever o grande amor.”

Imagine a possibilidade de você colidir seu carro num outro estacionado. Pode acontecer com qualquer um. E honesto como você é, espera o proprietário do veículo estacionado voltar para reparar o dano. Eis que vem andando para o seu lado, ela. Você faz de conta que não a vê. E ela vem chegando. Está próxima. Ela viu que ali está você. Não é possível que ela vai querer falar comigo, pensa (o coração acelera!). Ela abaixa a cabeça, passa por você e pára diante do carro e faz cara de espanto, pois o carro dela está bem amassado. Pois é, tinha que ser no carro dela! Que azar! E aí, leitor, como é que se desembaraça este nó?

Outro caso: de repente você entra no elevador já com algumas pessoas, sem ascensorista e só depois vê que a última pessoa que esperava encontrar ali está logo atrás daquela senhora gorda. A poucos centímetros de você. São centímetros que parecem quilômetros. Não mais que de repente a senhora gorda e os demais saem e ficam somente a dita pessoa e você. Agora são milímetros de distância. Pronto, e agora? Não vai puxar assunto. Faz de conta que não a viu. Que nunca a viu. Finge que não olha, mas o seu perfume o arrasta e o remete a um passado que você não queria senti-lo neste tempo presente. Mas, e se o elevador enguiçar? Ainda estão no 15° andar. Deste andar ao térreo é uma viagem. E se, por exemplo, no 8°andar entrar algum conhecido de ambos e ele se surpreender com apenas os dois no elevador e disser: “Que surpresa, vocês por aqui!? Não sabia que vocês estão novamente juntos! Que ma-ra-vi-lha!” Seria constrangedor.

É mais fácil, embora mais dolorido, dar de cara com aquela pessoa de mãos dadas com outro homem, pois aí não existe a possibilidade de trocar uma só palavra. Neste caso fica estabelecido que você morreu e que ela não existe. Os olhares não se cruzarão nem no infinito. Passado o mal estar, vem a análise crítica: Que cara mais escroto que ela arrumou; ela deve estar mesmo a perigo! O cara parece o bisavô dela!; ela arrumou um cara que está em estado de decomposição avançado!

Poderia ser diferente. O carro amassado seria uma grande chance para consertar a vida de ambos. “Enquanto seu carro estiver na oficina eu a levo para onde quiser, tô por sua conta (se possível, pra sempre)!” No elevador, bastaria que nenhum saísse à frente do outro, até que ambos saíssem juntos. Às vezes o silêncio fala mais e melhor que a boca. Ou então que um dos dois apertasse o botão do último andar e aí seria um subir e descer até que saciassem a sede um do outro, como no “Amor no tempo do cólera” de Gabriel Garcia Marques. Agora, no caso daquela que um dia foi sua amada e que você viu acompanhada por outro homem, restam-lhe as opções de bater seu carro no dela ou de esperar que ela entre num prédio (basta segui-la) ou ainda desafiar o ridículo arremedo de Ricardão para um duelo. Neste caso, para que haja equilíbrio de forças, melhor convocar o seu avô para duelar no seu lugar.

Mas como tudo tem fim, uma hora dessas, sem se perceber, o grande amor passou, e ficou foi uma lembrança tênue, às vezes doce. Isto: uma doce lembrança. E por fim restaram apenas a dor da perda do amor em si que se foi pra nunca mais e a certeza que a vida não passou em brancas nuvens. É como o plug que foi desconectado da tomada para sempre. Daí em diante é apenas uma transeunte; alguém que você apenas conheceu e só. O mesmo Chico Buarque que é um grande entendido do sexo feminino nos ensina na sua canção “Acorda Amor”: “Passado um ano eu não vindo/ Põe a roupa de domingo/E pode me esquecer.” “Acorda Amor, eu tive um pesadelo agora...”

Tadeu Nascimento é servidor público e advogado

domingo, 28 de junho de 2009

Carta de amor a Otávio

Por Tadeu Nascimento


Querido Otávio,

Você ainda não me conhece, nunca viu o meu rosto, as minhas rugas e não sabe nada das minhas mágoas. Mas saiba que em mim mora um sentimento por você muito nobre, porque é verdadeiro. Que o amor que tenho é imensurável e difícil de se expressar. Sei que não me faço entender, mas um dia, no alto da sua maturidade, haverá de compreender que desde o seu mais minúsculo começo, da notícia da sua existência, o meu coração se encheu de alegria tal qual quando soube que sua mãe estava se formando no ventre da mãe dela, sua avó. Que você seja bem vindo. Que a vida lhe seja generosa. Que seja feliz. Não imagino pra você um futuro de riquezas, de glórias e de poder, mas um futuro de equilíbrio emocional para não se perder nas armadilhas da vida que o dinheiro e o mundo moderno arquitetam, mas que tenha paz, que cumpra o seu destino de educar seus filhos, netos e que os faça entender que a vocação natural do ser humano é o de apenas ser feliz e que a simplicidade é o segredo da nossa existência. Que ame sua mãe, minha filha, por toda vida; cuidando dela principalmente quando a velhice dela chegar.

Que seu pai seja também muito feliz com a sua vinda e que seja o seu parceiro, tal qual Sancho Pança a servir o Dom Quixote com seus sonhos mirabolantes, mas cheios de bondade e de amor a servir a justiça dos homens. Que ele seja melhor do que eu, embora eu me fizesse o tempo todo de Sancho Pança reconheço que deveria fazer mais. Entretanto dei o máximo de mim. E isto é inquestionável. Me fiz herói, me fiz paciente, me fiz mãe, irmão, e até avô antes da hora. Me fiz amigo confidente, me fiz porto seguro, me fiz bom no sentido mais amplo da palavra. Pois bem, que seu pai gaste o máximo do tempo dele com você. Certa vez- já se vão para mais de duas décadas- sua mãe com cinco anos de idade, me gritou “Ô pai, o Wanderson está soltando pum na minha frente!”. Wanderson, tio da sua mãe, era um menino de onze, doze anos. Enquanto os outros tios mais velhos já estavam vivendo suas juventudes nos bares, nos namoros, ele se dedicava a perturbar a paz de sua mãe. Então eu disse pra sua mãe para que relevasse os puns do tio Wanderson, porque ele era o único que estava ali dedicando todo o seu tempo à sua mãezinha ainda tão pequeninha, ao contrário dos outros que se esqueciam dela em prol de outras aventuras...Que, naquele momento, era o único que tinha atenção para com ela. Sua mãe me olhou e o seu olhar ainda insiste em não sair da minha retina. Tenho a certeza que sua mãe aprendeu muito com este episódio. Ah, como era linda sua mãezinha dentro daqueles cinco aninhos!

Que seu pai gaste seus sábados e domingos no Jaó, que ele cante pra você, como eu cantava para sua mãe as canções de Vinicius de Moraes, como “Menininha do meu coração/ Eu só quero você a três palmos do chão...”; que no verão ele brinque com você nas areias da praia e que ele não seja rigoroso quando você esvaziar os bolsos da bermuda dele (quando ele fizer caminhada com sua mãe na praia) para comprar sorvetes, bugigangas e outras bobagens. Que ele peça ao garçom dois, três pratos de camarão para você, mesmo sabendo que depois você poderia passar mal e dar um trabalho daqueles. Que ele tenha toda paciência com você e todo amor que eu tive e tenho por sua mãe. Que ele o leve, quando se tornar rapazinho, mesmo cansado, à meia noite, a ver o show do Cidade Negra (também dos Titãs, Paralamas, Jota Quest) pela enésima vez e voltar a buscá-lo às três da madrugada, mesmo tendo que trabalhar na manhã seguinte.

Ah Otávio, acredito que não fui mal sucedido. Ao contrário. Sabia, desde o início da minha pobre vida que ao final tudo se encaixaria, tudo faria sentido e que os obstáculos, dores, seriam apenas desafios e que eu os venceria, mesmo já com os cabelos encanecidos e sem levar os louros da vitória. Hoje, vejo com clareza que a sua vinda é o que faltava para tecer o fio do meu destino, ou seja, o que daria sentido a minha vida. Sei também, filho de minha filha, que -como dizia o velho professor Clóvis, meu pai- o importante é querer bem as pessoas, o que -perdoa-me o pleonasmo- significa que não se deve guardar ira, ou qualquer sentimento negativo para com o seu semelhante.
Que sua mãezinha o ensine amar os livros, a boa música e todo tipo de arte. Que ela o crie com dignidade e doçura. Porque de sua mãe- tenho certeza, pois a conheço muito bem- qualquer adjetivo de beleza é pouco diante do caráter que ela possui.

O Tempo. Há de se prestar atenção ao tempo. Sei querido Otávio, que talvez não terei o tempo que eu gostaria para vê-lo homem formoso, feliz, pois quando alcançar a maturidade provavelmente eu não estarei mais aqui, mas isto é outra história. O que importa é que mais uma vez quero lhe dizer o quanto você é bem vindo.


Saudades futuras de

Seu avô Tadeu
Leonardo di Caprio e o Viagra
Por Tadeu Nascimento

O Viagra é uma das invenções ou descobertas mais importantes da humanidade. Salvou casamentos, evitou suicídios, melhorou a vida dos diabéticos, trouxe de volta os sorrisos nos velhinhos sem futuro e os homens passaram a ser mais românticos. As mulheres passaram a cantar mais “A Ciganinha” e a varrer o quintal com mais gosto e passar os bifes sem espirrar fritura no fogão. As noites ficaram mais estreladas e mais belas. É bem verdade que no dia seguinte o cidadão está um caco; mas feliz e com o ego do tamanho de uma jaca. É de se perguntar: o Brasil inteiro está mais alegre e sentindo menos dores, porque o Viagra é o medicamento mais vendido no país superando até o Dorflex, ou será porque para muitos o Viagra age também como analgésico? Sem hipocrisia, as mulheres não se importam se seus homens fazem uso de tal meio desde que façam bom uso dele quando chegarem na hora H. No entanto o Viagra causou mil conseqüências e muitas delas hilariantes. Imagine o leitor quantas histórias aconteceram nos rincões deste Brasil, como essas que passo a relatar:
O cidadão chega à farmácia e chama o atendente ao balcão: Meu amigo (falando no volume de som normal), - eu quero um Viagra (já sussurrando- por motivo óbvio).
E o vendedor: como é que é?
E o comprador fala bem baixinho ao pé do ouvido do trabalhador da farmácia:
-Eu quero um Viagra
E o vendedor: Hein? Fala mais alto!
- Eu- que-ro- um- Vi-a-gra! insiste o comprador- já se alterando.
E o da farmácia: Num tô entendendo nada, fala mais alto!
- Meu amigo, eu quero um Vi-a-gra! - repete falando mais baixinho ainda o comprador.
- Meu senhor, se o senhor não falar em alto e em bom som eu não saberei o que o senhor deseja!- exalta o vendedor.
- Ô seu surdo, eu apenas quero comprar um Vi-a-gra - quase inaudível!
-O senhor pode falar num volume de som mais alto?- questiona, já nervoso o atendente da farmácia.
E o comprador gritando:
- Sua anta, eu quero comprar um Vi-ck–va-po-rub!
-Ah,-responde o aprendiz de farmacêutico, em alto e bom som- eu pensei que o senhor queria comprar um Viagra!

Outra historinha: Ao ver o marido vestindo o paletó a esposa perguntou:
Aonde você vai?
Vou ao médico- respondeu ele.
E ela: Por que? Você está doente?
- Não. Vou ver se ele me receita esse tal de Viagra.
Ela levantou-se e começou a vestir o casaco.
Ele perguntou: E você? Aonde vai?
- Ao médico também- respondeu ela.
- Por que?
- Quero pedir para tomar uma anti-tetânica.
- Mas... Por que?
- Vai que essa coisa velha volte a funcionar!

Outra: antes do milagre do Viagra, nem um bilhete premiado da mega sena faria o velho Atanagildo abrir um sorriso. Mas quando o Viagra chegou às farmácias da pequena Capão da Serra, Atanagildo Penna, dos Penna de Araguari, cavalgando os seu 75 anos, exclamou para si mesmo:
- Atanagildo, Atanagildo! Se prepara que sua velhice deu marcha-ré! És novamente um garotão arretado!
E foi com rapidez de seriema em mato ralo que ele se aportou na farmácia de Serafim Quelé:
- Quelé, chega de Tônico Apruma Leão! Me dê logo este tal de Viagra que lá em São Paulo, está fazendo velhinho de 120 anos namorar menina moça de 15! Solte logo umas quatro caixas!
Decolou-se da farmácia de Quelé e aterrissou-se na cadeira de Quinzinho Barbeiro:
- Quinzinho, mete nesta cabeleira de algodão uma tintura da mais juvenil, que eu quero fazer inveja àquele afundador de canoas, o tal de Leonardo di Caprio!
Duas horas depois enfiado em uma camisa vermelha e numa calça que sufocava as partes baixas, se mandou pra Praça da Matriz, onde com o gogó aprumado e areado, gritou:
- Ai de ti, Capão da Serra, que o menino Atanagildo Penna está na área! Não vai sobrar pedra sobre pedra! Usou batom, não for palhaço de circo e não for boiola, se prepara, porque Atanagildo está pela segunda vez com 18 anos!
Enfiou logo 10 comprimentos goela abaixo para atender a demanda e partiu para o ataque. Não completou dois quarteirões, sentiu um repuxão nas partes pudicas, uma elasticidade estranha no baixo ventre, um formigamento em todas as pontas do seu organismo, um aceleramento no coração e um calor de forno de padaria na de cabeça.
E foi numa tristeza de boi em matadouro que ele se despediu:
- Este tal de Viagra chegou em hora atrasada! Estou partindo para o altíssimo! Se preparem anjas e querubinas que o menino Atanagildo está chegando!
É, o velho Atanagildo provou que além de trazer felicidade o Viagra pode “ressuscitar” os mortos e enterrar os vivos.

domingo, 14 de junho de 2009

Sangue na História do Congresso

Por Tadeu Nascimento

Não bastassem os escândalos de corrupção, o Congresso Nacional tem histórias de se arrepiar. Desde a Velha República senadores e deputados cometem crimes de toda ordem e às vezes pagam caro com suas próprias vidas pelos seus atos. Em 1915 o vice-presidente do Senado, general José Gomes Pinheiro Machado, foi assassinado com uma facada nas costas no Hotel dos Estrangeiros, Rio de Janeiro, por um açougueiro. Motivo: ter o vice-presidente do Senado burlado a lei, manipulado o resultado da eleição presidencial derrotando então o candidato Rui Barbosa. O marechal Hermes da Fonseca que não era sequer eleitor- portanto não poderia nem ser candidato- tornou-se presidente da República pelas mãos do vice-presidente do Senado. E o simples açougueiro, Francisco Manso de Paiva, fã ardoroso de Rui Barbosa, entendeu que o responsável pela derrota de Rui foi Pinheiro Machado. O que é verdade. Há provas concretas que Rui foi garfado. A polícia apurou que o assassino fazia parte de um complot que tinha por fim fazer soltar uma dinamite no Senado, no dia do reconhecimento de Hermes da Fonseca como presidente do Brasil. Como se vê não é de hoje que querem destruir o Senado. Com Hermes no Governo as conseqüências políticas foram drásticas: O novo presidente trocou todos chefes políticos dos Estados da Federação. Em Goiás sai de cena Leopoldo Bulhões e entra Antônio Ramos Caiado. A escritora goiana Maria Augusta Santana escreveu muito bem sobre este assunto em “A História de uma Oligarquia: Os Bulhões”.

Em 1921 é assassinado no mesmo Hotel dos Estrangeiros o senador goiano Luiz Gonzaga Jayme. Há um grande mistério em volta deste crime. O escritor Humberto Crispim Borges em seu livro “Moisés Santana” não entra em detalhes sobre a morte do senador. Assim também o escritor pernambucano Nertan Macedo em “Abílio Wolney, um Coronel na Serra Geral”, só diz que o senador Jayme teve morte trágica. O historiador goiano Jarbas Jayme, parente do senador, em “Famílias Pirenopolinas” e em “Cinco Vultos Meiapontenses” conta apenas que o “presidente” do Estado de Goiás enviou à viúva mensagem de pesar pelo passamento do ilustre senador goiano. Todavia, o historiador Filadelfo Borges no seu artigo “Colombina” na Tribuna do Sudoeste de Rio Verde de 19/12/2008 diz que o senador Jayme foi assassinado por Eustáquio do Carmo, marido de Glória de Carvalho Castro, que flagrou sua esposa com o senador em adultério. Ponto para Filadelfo.

Senado Federal, 1963. O senador Arnon de Mello, pai do futuro presidente Fernando Collor, matou com três tiros à queima-roupa o senador José Kairala, no próprio plenário. Silvestre Péricles Goes Monteiro, irmão do general Goes Monteiro, tentou impedir Arnon de Mello de lhe fazer críticas. Arnon, péssimo de mira, tentou acertá-lo mas os tiros atingiram em cheio o suplente do Acre que exercia seu último dia de seu mandato antes de devolvê-lo ao titular. A viúva que criaria os três filhos trabalhando de lavadeira para prover os filhos, disse no velório no Salão Negro do Senado, onde estava presente o presidente João Goulart: “Ele nem havia tirado fotografia (de senador)!” No entanto, se fosse um senador de São Paulo criar-se-ia uma crise sem igual. O mesmo senado que paga passagem aérea para os parentes e amigos dos senadores deixou abandonada a família de um inocente. Arnon de Mello nunca indenizou a família da vítima. E, claro, o senador assassino foi inocentado pela Justiça. Cláudio Humberto, porta voz de Fernando Collor em seu livro “Mil Dias de Solidão”, narra esta tragédia.

Assassinato em Porto Velho, Rondônia. O senador Olavo Pires (goiano de Catalão) foi assassinado com rajadas de metralhadora, depois de vencer o primeiro turno das eleições para o governo de Rondônia. Foram treze tiros. Suspeita-se de que o senador tinha envolvimento com narcotráfico. O crime aconteceu em frente a sua empresa, no centro de Porto Velho em 16 de outubro de 1990. O segundo turno foi disputado por Valdir Raupp (2° colocado) e Osvaldo Piana (3°). Elege-se Osvaldo Piana. Em 17 de fevereiro deste ano, 19 anos depois do assassinato de Olavo Pires, a polícia civil de Minas Gerais prendeu João Ferreira Lima, o João de Goiânia, que confessou o crime com a participação de Carlos Leonor que ficou no carro que deu fuga ao assassino. Mas e o mandante? Dificilmente saberemos quem é ou quem são.

Agora, a Câmara dos Deputados. Entre fatos que mancham a história de seus componentes passam a de Carlos Lacerda que sofreu um atentado com um tiro na perna na Rua Toneleiro no Rio de Janeiro, por agredir com discursos violentos contra o governo federal, no Congresso Nacional, que culminou com o suicídio do presidente Vargas em agosto de 1954.

E a motosserra de trucidar inimigos? O então deputado estadual, o coronel da Polícia do Acre, Hildebrando Paschoal, eleito em 1998 a deputado federal pelo PFL, atual DEM, chefiava o crime organizado no estado, praticando crimes com requintes de crueldade. Em 1995, o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da Justiça recebeu denúncias que Paschoal esquartejava suas vítimas, com motosserra antes de matá-las. Segundo o Ministério Público Estadual em 1999, os crimes foram cometidos no ano de 1996, tendo como motivação o assassinato de Itamar Paschoal, irmão de Hildebrando. O ex-deputado foi acusado de matar Agilson Firmino dos Santos, o Baiano, utilizando uma motoserra, porque o mesmo não teria informado o paradeiro de José Hugo, o assassino de seu irmão, para quem a vítima trabalhava de motorista. Entre as pessoas previstas para depor na Comissão -e que foram mortas- encontrava-se um antigo cúmplice de Paschoal, Sebastião Crispim. Ele passaria informações dos assassinatos de Agilson, o Baiano e do filho deste, Wildes Firmino, adolescente, barbaramente torturado e executado a tiros. Além de seu corpo ser dissolvido com uso de ácido. Somadas suas penas somam 65 anos de prisão e ainda existem processos pendentes de julgamento.

É, o Congresso Nacional é um lugar freqüentado por muita gente estranha.

Tadeu Nascimento é servidor público e advogado

Email: tadeunascimento10@hotmail.com





Falemos de paixões, falemos de Vinicius de Moraes

Por Tadeu Nascimento

Um tempo para os fatos políticos. Até porque escrever sobre política é como bater em ferro frio. Falemos de amenidades. Falemos de alegria. Falemos de amor. Aqui, nesta crônica, o amor se confunde com a paixão. E enquanto existir o amor Vinicius estará na moda. Já se foram quase 30 anos que Vinicius se foi. No entanto, parece que ele não se foi. Ele é tão presente tal qual o seu “Que seja infinito enquanto dure”. Ele está por aí, nos bares, nas emissoras de rádio, na boca dos amantes, nos CDs, nos livros, falando de amor. Incorrigível sedutor, Vinicius viveu para as mulheres e para a poesia. Não, não é bem assim. Vinicius vivia paixões. Se entregava por completo. E quando a chama acabava, ele precisava se alimentar novamente de outra paixão. Por isso era incompreendido: mulherengo, devasso, boêmio e por aí vai. Muitas das suas ex-mulheres terminavam por ficar de mal com o poeta. Sua filha Maria foi afastada de Vinicius por ira da mãe ao poeta. E quando ela esteve junto ao pai, a principio ela o viu como ser estranho, disse ela, mas o poder de sedução de Vinicius fez com que ela, em 24 horas se apaixonasse por ele.

“A vida é única e o que importa é vivê-la com paixão.” Vinicius tem histórias que não acabam mais. Poucas pessoas, por exemplo, sabem que ele “cantava” Tônia Carrero todas as vezes que a via e que recentemente a atriz confessou que se arrependeu de não ter dado para o Vinicius (e também para o Juscelino Kubitscheck). Por conta da capacidade de viver novas paixões, conta Tônia Carrero que o sedutor Vinicius quando chegava no “Antônio’s Bar”, reduto de artista e intelectuais, a turma- só para atormentá-lo- cantava em coro (ao ritmo e melodia de “Se esta rua, se esta rua, fosse minha”): “Se eu tivesse, se eu tivesse muitos vícios/ o meu nome, o meu nome era Vinicius/ Se estes vícios fossem muito imorais/ eu seria o Vinicius de Moraes!” Claro, Vinicius ficava “p” da vida. Curiosidade sobre Vinicius: ele é o autor da letra de “O Pau de Arara” (a música é de Carlinhos Lira) eternizado na voz de Ari Toledo. Outra: ele e o Chico Buarque, mudaram a letra original de “Gente Humilde” para a que conhecemos hoje e que até então era só de Garoto (Aníbal Augusto Sardinha) composta em 1945 e que ninguém conhecia. Esta segunda versão portanto passou a ser de Garoto,Vinicius e Chico.

Vinicius para crianças. A sensibilidade do gênio alcança todos os universos do amor: assim como o erudito maestro Heitor Villa-Lobos, abriu espaço na sua criação de Bachianinhas para cantigas de roda para crianças como “Ciranda, Cirandinha”, “Cai, Cai Balão”, “Escravos de Jó”, “O cravo brigou com rosa” e dezenas de outras (nossas professorinhas do grupo não nos ensinaram quem era o compositor destas pérolas, posto que mal sabiam elas quem era Villa-Lobos), Vinicius compôs a “Arca de Noé”, musical para crianças que é uma obra prima: As músicas “O Pato”, “A Casa”, “O Professor de Piano” “O Caderno”, “Menininha do meu coração” hão de ficar para sempre nas bocas das nossas crianças.

Esta semana assisti, pela quinta vez se não me engano, o DVD/documentário Vinicius de Moraes de Miguel Faria Jr, produzido em 2006 e acho que sempre a voltarei a vê-lo. Não dá só para alugá-lo; é como uma bíblia, um Aurélio, vale a pena tê-lo em casa. Com participações de Chico Buarque, Caetano, Gil, Bethânia, Tônia Carrero, Ferreira Goulart, Antônio Cândido e claro, Toquinho. O filme é bonito, engraçado, emocionante (chega-se às lágrimas), e narra outras histórias interessantes do poeta.

Vinicius havia separado do segundo casamento, quando Rubem Braga apresentou a moderna Lila Bôscoli ao poeta: “Vinicius esta é Lila. Lila este é Vinicius. E seja o que Deus quiser!” Lila era linda e inteligente. Eis o seu terceiro casamento. Outra história que resultou também em casamento: o sétimo (Vinicius casou-se nove vezes!): Maria Bethânia conta neste documentário que um dia, em Salvador, ela se encontrou com Vinicius sozinho e muito triste num restaurante. Bethânia apresentou sua amiga Gesse ao poeta. Foi uma reviravolta no semblante do poeta. Ele se encantou com Gesse e já quis casar-se de imediato com ela. “Eu quero me casar com esta moça!” “Estou apaixonado por essa moça, Bethânia!” No outro dia Vinicius leva Gesse para Buenos Aires. Gesse era filha de santo- do candomblé- e o poeta que era ateu deu uma guinada de 180 graus e passou a colocar Oxalá (Deus) nas suas composições e a freqüentar o terreiro da Mãe Menininha de Gantois. E o seu casamento com Gesse foi num terreiro de Iemanjá.

Na abertura do filme uma voz em “off” narra uma crônica de Rubem Braga para Vinicius que havia falecido em 09 de julho de 1980: “Caro Vinicius de Moraes, escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma notícia grave: a primavera chegou. Você partiu antes. É a primeira primavera de 1913 para cá, sem a sua participação. Seu nome virou nome de rua. E nessa rua que tem seu nome na placa vi ontem três garotas de Ipanema que usavam minissaias. Parece que a moda voltou nesta primavera. Acho que você aprovaria.”

Vinicius retrata muito bem sua personalidade na sua obra que é a eterna capacidade de renascer para uma nova paixão. Chico canta neste documentário “Medo de Amar” autoria de Vinicius: “Vire esta página do livro/ Vê se esquece de mim/ Finja que o amor se acabou/ e se esqueça de mim/ Você não compreendeu que o ciúme é um mal de raiz/ E que ter medo de amar não faz ninguém feliz/ Agora vai sua vida/Como você quer/ Porém não se surpreenda se uma outra mulher/ Nascer em mim/ Como no deserto uma flor /E compreender que o ciúme é o perfume do amor.” Vinicius era assim. E esses versos “porém não se surpreenda se uma outra mulher/ Nascer em mim/ Como no deserto uma flor” são de uma beleza rara, e que nós, simples mortais, gostaríamos de dizer para quem achamos que os mereçam.

No final do documentário Chico conta que certa vez perguntaram ao Vinicius se ele acreditava em reencarnação e o que ele gostaria de ser se houvesse reencarnação- peço desculpas ao leitor, mas é o Chico quem conta no filme: E o Vinicius respondeu: “Eu gostaria de ser do jeito que eu sou, mas com um pau um pouquinho maior”. Hilário.

Compre ou alugue, mas não deixe de ver o DVD Vinicius de Moraes de Miguel Faria Jr.

Tadeu Nascimento é servidor público e advogado


Email: tadeunascimento10@hotmail.com