domingo, 14 de junho de 2009

Sangue na História do Congresso

Por Tadeu Nascimento

Não bastassem os escândalos de corrupção, o Congresso Nacional tem histórias de se arrepiar. Desde a Velha República senadores e deputados cometem crimes de toda ordem e às vezes pagam caro com suas próprias vidas pelos seus atos. Em 1915 o vice-presidente do Senado, general José Gomes Pinheiro Machado, foi assassinado com uma facada nas costas no Hotel dos Estrangeiros, Rio de Janeiro, por um açougueiro. Motivo: ter o vice-presidente do Senado burlado a lei, manipulado o resultado da eleição presidencial derrotando então o candidato Rui Barbosa. O marechal Hermes da Fonseca que não era sequer eleitor- portanto não poderia nem ser candidato- tornou-se presidente da República pelas mãos do vice-presidente do Senado. E o simples açougueiro, Francisco Manso de Paiva, fã ardoroso de Rui Barbosa, entendeu que o responsável pela derrota de Rui foi Pinheiro Machado. O que é verdade. Há provas concretas que Rui foi garfado. A polícia apurou que o assassino fazia parte de um complot que tinha por fim fazer soltar uma dinamite no Senado, no dia do reconhecimento de Hermes da Fonseca como presidente do Brasil. Como se vê não é de hoje que querem destruir o Senado. Com Hermes no Governo as conseqüências políticas foram drásticas: O novo presidente trocou todos chefes políticos dos Estados da Federação. Em Goiás sai de cena Leopoldo Bulhões e entra Antônio Ramos Caiado. A escritora goiana Maria Augusta Santana escreveu muito bem sobre este assunto em “A História de uma Oligarquia: Os Bulhões”.

Em 1921 é assassinado no mesmo Hotel dos Estrangeiros o senador goiano Luiz Gonzaga Jayme. Há um grande mistério em volta deste crime. O escritor Humberto Crispim Borges em seu livro “Moisés Santana” não entra em detalhes sobre a morte do senador. Assim também o escritor pernambucano Nertan Macedo em “Abílio Wolney, um Coronel na Serra Geral”, só diz que o senador Jayme teve morte trágica. O historiador goiano Jarbas Jayme, parente do senador, em “Famílias Pirenopolinas” e em “Cinco Vultos Meiapontenses” conta apenas que o “presidente” do Estado de Goiás enviou à viúva mensagem de pesar pelo passamento do ilustre senador goiano. Todavia, o historiador Filadelfo Borges no seu artigo “Colombina” na Tribuna do Sudoeste de Rio Verde de 19/12/2008 diz que o senador Jayme foi assassinado por Eustáquio do Carmo, marido de Glória de Carvalho Castro, que flagrou sua esposa com o senador em adultério. Ponto para Filadelfo.

Senado Federal, 1963. O senador Arnon de Mello, pai do futuro presidente Fernando Collor, matou com três tiros à queima-roupa o senador José Kairala, no próprio plenário. Silvestre Péricles Goes Monteiro, irmão do general Goes Monteiro, tentou impedir Arnon de Mello de lhe fazer críticas. Arnon, péssimo de mira, tentou acertá-lo mas os tiros atingiram em cheio o suplente do Acre que exercia seu último dia de seu mandato antes de devolvê-lo ao titular. A viúva que criaria os três filhos trabalhando de lavadeira para prover os filhos, disse no velório no Salão Negro do Senado, onde estava presente o presidente João Goulart: “Ele nem havia tirado fotografia (de senador)!” No entanto, se fosse um senador de São Paulo criar-se-ia uma crise sem igual. O mesmo senado que paga passagem aérea para os parentes e amigos dos senadores deixou abandonada a família de um inocente. Arnon de Mello nunca indenizou a família da vítima. E, claro, o senador assassino foi inocentado pela Justiça. Cláudio Humberto, porta voz de Fernando Collor em seu livro “Mil Dias de Solidão”, narra esta tragédia.

Assassinato em Porto Velho, Rondônia. O senador Olavo Pires (goiano de Catalão) foi assassinado com rajadas de metralhadora, depois de vencer o primeiro turno das eleições para o governo de Rondônia. Foram treze tiros. Suspeita-se de que o senador tinha envolvimento com narcotráfico. O crime aconteceu em frente a sua empresa, no centro de Porto Velho em 16 de outubro de 1990. O segundo turno foi disputado por Valdir Raupp (2° colocado) e Osvaldo Piana (3°). Elege-se Osvaldo Piana. Em 17 de fevereiro deste ano, 19 anos depois do assassinato de Olavo Pires, a polícia civil de Minas Gerais prendeu João Ferreira Lima, o João de Goiânia, que confessou o crime com a participação de Carlos Leonor que ficou no carro que deu fuga ao assassino. Mas e o mandante? Dificilmente saberemos quem é ou quem são.

Agora, a Câmara dos Deputados. Entre fatos que mancham a história de seus componentes passam a de Carlos Lacerda que sofreu um atentado com um tiro na perna na Rua Toneleiro no Rio de Janeiro, por agredir com discursos violentos contra o governo federal, no Congresso Nacional, que culminou com o suicídio do presidente Vargas em agosto de 1954.

E a motosserra de trucidar inimigos? O então deputado estadual, o coronel da Polícia do Acre, Hildebrando Paschoal, eleito em 1998 a deputado federal pelo PFL, atual DEM, chefiava o crime organizado no estado, praticando crimes com requintes de crueldade. Em 1995, o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da Justiça recebeu denúncias que Paschoal esquartejava suas vítimas, com motosserra antes de matá-las. Segundo o Ministério Público Estadual em 1999, os crimes foram cometidos no ano de 1996, tendo como motivação o assassinato de Itamar Paschoal, irmão de Hildebrando. O ex-deputado foi acusado de matar Agilson Firmino dos Santos, o Baiano, utilizando uma motoserra, porque o mesmo não teria informado o paradeiro de José Hugo, o assassino de seu irmão, para quem a vítima trabalhava de motorista. Entre as pessoas previstas para depor na Comissão -e que foram mortas- encontrava-se um antigo cúmplice de Paschoal, Sebastião Crispim. Ele passaria informações dos assassinatos de Agilson, o Baiano e do filho deste, Wildes Firmino, adolescente, barbaramente torturado e executado a tiros. Além de seu corpo ser dissolvido com uso de ácido. Somadas suas penas somam 65 anos de prisão e ainda existem processos pendentes de julgamento.

É, o Congresso Nacional é um lugar freqüentado por muita gente estranha.

Tadeu Nascimento é servidor público e advogado

Email: tadeunascimento10@hotmail.com


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