terça-feira, 30 de junho de 2009

DESCONSTRUINDO O AMOR

Por Tadeu Nascimento

Viver uma história de amor é quase sempre fácil e extremamente prazeroso. Desconstruir é que são elas. Isto vale tanto para os homens quanto para as mulheres. Enquanto afinados, o processo de imaginação para se viver a dois é de uma beleza incomparável e às vezes indescritível. Agora desfazer a imagem que se tinha da outra pessoa, enxergá-la tal qual ela é na realidade, com os defeitos graves que antes não se via nela é uma tarefa muito difícil e dolorosa. No princípio, ao se conhecerem, cada um vende uma imagem e é por esta imagem que se apaixona. Quando Pedro se apaixona por Maria na verdade se apaixona pelo que Maria aparenta ser. Ninguém se apresenta “eu sou mentiroso, volúvel e dissimulado ou sou um psicopata ou ainda não valho nada”. Neste momento só vale o poder de sedução: passa-se uma imagem que é tudo de bom e mais um pouco. Só qualidades. A partir daí constroem-se um edifício de ilusões sustentadas sobre carícias, buquês de flores, jantares, presentes, projetos de viagem para mares “nunca dantes navegados” que logo serão diluídos pela decepção. Com o tempo os defeitos vão se mostrando evidentes, até porque ninguém consegue viver uma mentira todo o tempo. Toda verdade se escancara e com ela o engodo, a armadilha em que caiu. As colunas deste edifício foram erguidas com material de qualidade duvidosa; o teto não suportou uma pequena ventania e foi ao chão e a laje que era de mentira desmoronou. E ao cair a mentira, a máscara, a decepção nos obriga a não mais acreditar em relacionamentos. Nesta hora começa-se a blindagem do coração. Leia-se fechado para balanço. Outro relacionamento, nem pensar.

Estamos falando de gente civilizada. As páginas dos jornais estão cheias crimes passionais. De quem não agüentou a barra de um relacionamento onde um tripudiou com o outro. E a história pode terminar em sangue e nos tribunais. É preciso não se sucumbir ao orgulho, à cultura machista. Basta pegar as malas e bye-bye. Se não for possível, melhor deixar as malas e o bye-bye para trás.

Pobre de quem se apaixona por um farsante. Porque para desconstruir este amor é preciso desmanchar com lágrimas uma resistente argamassa de sentimentos e de sonhos. O amor é como o concreto com seu cimento, ferro e brita. Por isso é forte. Às vezes, para quebrantá-lo, desconstruí-lo, somente com implosões, no caso, implodir a relação. Como é triste ver uma implosão de um prédio por mais velho e feio que possa ser. Desconstruir algo que custou tempo, suor e sonhos. Assim é a desconstrução de uma história de amor.

Quando se chega a este ponto sabe-se que não adianta tentar recuperar, salvar o já perdido. Não há como juntar os fragmentos dos escombros de uma implosão. Espelho quebrado mesmo depois de emendado não reflete a mesma imagem. Jamais! Sabe-se que a culpa não é do outro, mas sempre de si próprio. Quem mandou ser tolo, ser do bem, ser honesto. Isto vale para ambos os sexos. Melhor seria ser mandrake, espertalhão, farsante como é também a outra pessoa do outro lado da relação. Esta -friamente- tem o controle do relacionamento e sai sempre ilesa. Pelo menos até quando se apaixonar por outra pessoa mais vil do que ela. Creio que o mundo é assim imperfeito porque, tal qual uma epidemia contagiante um dia -nos primórdios da humanidade- um sacaneou um outro de bem e este passou sacanear um outro de bem e assim por diante, (atravessando gerações) até bater na porta da sua casa, quer dizer, na porta do seu coração.

Quem age como falsário, ou seja, aquele que é desonesto no relacionamento, nada tem a perder, a não ser o amor de quem se foi apesar de não dar a menor importância. A este último restam-lhe os amigos, os bares, os livros, a solidão. Até que surja novamente um novo sol na sua vida. Pode-se demorar um tempão e como nada é eterno, graças a natureza divina de se renascer (vide o tempo de plantar e o tempo de colher) alguém há de chegar e com um sopro irá desfazer o coração blindado. A poeira das cinzas irá dissipar e o vermelho da brasa arderá em chamas outra vez. Ainda bem.

Quanto a outra, (ou o outro) não se esquecer de lhe enviar flores no seu sepultamento. Até porque devemos enterrar quem já morreu. E se não morreu, a indiferença tem o mesmo peso de “Belém-belém, pra nunca mais ficar de bem”.

Tadeu Nascimento é servidor público e advogado

Email: tadeunascimento10@hotmail.com

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