sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Jesus Cristo"
O anarquista maravilhoso

Por Tadeu Nascimento


O escritor Alaor Barbosa há pouco tempo escreveu, no Diário da Manhã, uma crônica/artigo sobre a obra "Cristo, o maior dos anarquistas" de Aníbal Vaz de Melo. Eu tinha- tenho- o citado livro em minha humilde biblioteca. Achei, pois, muito interessante as palavras do escritor goiano. Busquei de pronto o dito volume e comecei a lê-lo. Extraordinária obra. Um dos melhores livros que meus olhos e cérebro, tiveram o prazer de conhecer. Livro fora de circulação, mais ainda, raro, chegando ao valor de R$800,00 nos sebos de São Paulo e Rio de Janeiro. O que li, é a 3ª edição pela Gráfica Editora Linotype. 1956.SP. Antes de eu adentrar e expor o meu ponto de vista sobre a obra, vale aqui lembrar o que significa anarquista. Segundo o Aurélio: anarquista é aquele que é contra a ordem estabelecida. Em um segundo significado, aquele que é afeito a bagunça. Este último, não se refere a obra citada e muito menos ao personagem Cristo. Trata a obra, ao contrário, de um Cristo humano, maravilhoso, que vai contra a ordem estabelecida da época- o capitalismo do Império Romano e os dogmas do judaísmo. O autor vai a fundo ao esmiuçar as verdades defendida pelo Nazareno que vão contra tal ordem, o que torna o livro muito interessante.
Eis, pois, algumas das preciosas verdades: a família de sangue. Quando alguém disse ao mestre da Galiléia :" Eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos!" Jesus respondeu: "Quem é minha mãe, quem são meus irmãos?" E, estendendo as mãos para seus discípulos, continuou. "Eis aqui a minha mãe e meus irmãos, porque qualquer que fizer a vontade do meu pai que está nos céus, este é meu irmão e irmã e mãe!" Cristo, disse o autor, renegou nessa passagem impressionante a família da carne, a família legal- pelo imenso amor à família natural, à família humana. "Cristo não podia limitar o seu amor à família de sangue ou à família legal; esse amor que extravasava, que transbordava para além dos confins do tempo e do espaço".
Outras máximas contra a ordem estabelecida estão nos capítulos "Cristo, o divórcio e o amor livre" e "Cristo e as pecadoras". Jesus nunca foi contra o divórcio, ao contrário, pregava o amor livre! O falso moralismo da igreja romana e da sociedade, visando não dispersar o capital, oriundo, muito das vezes da junção de duas famílias- e o temor de ver filhas prostituídas, faziam com que repudiassem (e ainda repudiam) o divórcio. O casamento que deveria ser a união de almas afins e da mesma vibração, tornou-se transação comercial. O dia que o amor deixar de ser um negócio, em que a mulher (ou homem) não se vender por um automóvel, por uma mansão, o amor será algo sublime e divino e que destruirá todas hipocrisias do regime capitalista. O divórcio não vem trazer a separação do que está unido, e sim, legalizar o que já está separado". Quanto ao capítulo que se refere as pecadoras, Aníbal V.Melo, cita Júlio Barcos que diz: "Não é concebível a existência das mulheres honestas sem a multiplicação das desonestas. Suprimi as meretrizes e vereis homens se transformarem em hordas de orangotangos que violariam até crianças e as velhas!" Eis a razão dos prostíbulos serem chamados de casas de tolerância. Por outro lado, as prostitutas, são as únicas amigas dos vagabundos, dos deserdados, dos maltrapilhos párias enxotados da sociedade. Os magistrados desprezam-nas de dia, e à noite vão procurá-las pelas esquinas, como mendigos. Jesus disse a Simão: "Vês esta mulher?- referindo-se a Maria de Madalena- Entrei em sua casa (a de Simão) e não me deste água para lavar os pés; e ela, pelo contrário, regou-os com suas lágrimas e enxugou-os com seus cabelos. Não me deste um ósculo; e ela, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés. Digo-te, pois, que muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou." Quando do episódio do apedrejamento de Maria de Magdala, disse Jesus àqueles que atiravam as pedras: "Homens de pouca fé e coração de pedra, antes fosse todos os vossos pecados, como o dela, os pecados do amor e não do ódio!''
Mais uma verdade contra a ordem estabelecida: "O nacionalismo e o preconceito racial". A terra pertence a toda humanidade e não há raças, há almas! E as guerras, todas elas, são fraticidas. Pobres soldados iludidos defensores da pátria que não passam de inocentes a fomentar as fábricas de armas que enchem os bolsos dos seus belicosos fabricantes! Não há cerca moral que possa separar os homens e terra é a pátria de toda humanidade. Jesus causou surpresa a mulher Samaritana, quando ele pediu água à filha de um povo inimigo que o povo judeu odiava." Como sendo judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?!- indagou, a mulher.
Outra verdade: "Cristo e o heroísmo do desertor". Não se trata aqui da vergonha da covardia, mas sim, amor à vida do seu semelhante. Qual a diferença entre quem mata um cidadão na rua e aquele que mata no campo de batalha? Cômica, se não fosse irritante e desprezível, a moral da sociedade burguesa que briga pelo petróleo ou por mina de ouro enquanto os filhos da pátria, na grande maioria, filhos de trabalhadores, servem de bucha de canhão. As mães dos soldados de ambos lados da batalha, ficam na saudade a chorar lágrimas de sangue pelos filhos mortos, enquanto os fabricantes de guerra degustam champanhe e caviar. A sociedade repudia o assassinio ordinário das ruas e premia com medalhas o homicida de guerra! Tudo por conta do vil metal. Cristo, por sua vez, nunca tocou em uma só moeda! Mãos que curavam, que abençoavam, que pregavam a savação, jamais tocariam em dinheiro.
Não há registro no Novo Testamento que o Rabi da Galiléia tenha tocado em um só dinheiro! Tinha, pois, o mestre, o maior desprezo ao dinheiro. Aliás, Cristo não possuia propriedade. Dê tudo aos pobres e siga-me, disse Cristo a um cidadão que lhe perguntou como alcançar o céu para estar junto a Deus.
A alma romântica e poética de Cristo. Ele não foi simplesmente o maior revolucionário humano. Foi também um dos mais inspirados artistas da humanidade!- "A sua vida constitui o mais maravilhoso dos poemas, e nada existe, em todo céu da tragédia grega, que se possa equiparar ao temor e piedade desta vida"- disse Oscar Wilde.
Cristo, ao ir contra a ordem estabelecida, estava defendendo tão somente, a instituição do amor. O amor entre os homens.