quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Bêbado ensinando como fazer poesia a Carlos Drumond
Morri ? Assim como ?


Por Tadeu Nascimento

Já havia girado o ponteiro da meia noite- o que garantia que 1º de novembro, Dia de Todos os Santos, já havia se findado e , portanto, já era segunda, "Dia de Finados"- quando chegou a notícia que Ademir Gonçalves, mais conhecido como Tufão, abotoou o paletó após um acidente de carro na Br-153, perto da cidade de Santo Antônio da Platina, Paraná. Familiares e amigos reconheceram o corpo no necrotério e o sepultamento fora marcado para o mesmo dia. Justamente no dia dos mortos. Que azar, foi morrer logo neste dia! O desastre foi muito feio. A família ficou dividida quanto ao reconhecimento de Tufão. " Eu e meus tios ficamos em dúvida, mas outra tia minha e quatro amigos dele reconheceram o corpo, então o que iríamos fazer?" disse depois, a vendedora Rosa Maria, sua sobrinha. A polícia ligou para funerária para a retirada do corpo da pista e o proprietário Natanael Honorato, vendo que ali iria render uma boa grana tratou de colocar o corpo do distinto bem arrumadinho no caixão.
O corpo foi liberado às 6 horas da manhã. A família já estava no velório que ficava ao lado cemitério que já começava a se encher de vistantes, próprio para data de Finados. A mãe, no entanto, olhava para o corpo no caixão e achava tudo muito estranho e não acreditava que quem ali estava era Tufão. Tufão nunca usou paletó, muito menos gravata e aquele terno ficaria melhor num defunto mais gordo. Por volta do meio dia, o verdadeiro Tufão apareceu na porta velório em carne e osso- mais pinga do carne e osso- cambalaente de tontura como um semi-morto, com a "roupa de anteontem" e cheirando a gambá causando o maior alvoroço. Mas daí pra frente a noticia carece de exatidão. Sonegaram aos leitores dos jornais e internautas detalhes da confusão. Mas dá para imaginar o acontecido: Por exemplo, o dono da funerária "Cansei desta Vida", embora acostumado com defundo, segurou Tufão pela camisa e gritou:
-Você que é o Tufão?
-A seu dispor- repondeu Tufão, com bafo de engenho lá de Pernambuco .
-Tufão, você morreu!-determinou o funerário.
-Quem disse que eu morri!
-Eu! Eu entendo de morto mais do que ningúem! Você mooo-rreeeeu!
-Morri? assim como? Eu não morri não, graças a Deus! Eu só tava tomando umas!-sacramentou.
E o Tufão ao olhar a mãe chorando, gritou:
-Tira este cara daí, que este lugar não é dele! Este morto é um impostor! Esse cara está gastando as lágrimas de minha santa mãezinha! Eu sou o verdadeiro morto!
A debandada foi geral. Gente trombando com quem estava saíndo. Quem estava chegando correu sem saber do quê! Pânico geral.
Acontece que na noite do acidente, Tufão estava no restaurante Auto Posto Platina que fica pertinho do lugar do acidente. "Ele passou a noite toda bebendo pinga com os amigos", confirmou Rosa, sua sobrinha. Diante da "certeza que ele era o morto, o jeito foi providenciar o velório, continuou Rosa.
Em entrevista a jornalistas, o agente funerário Honorato, disse que o reconhecimento do corpo foi feito com muita emoção: " foi uma choradeira danada. Até eu chorei. Chorei por que faz parte da encenação. Eu nem conhecia o Tufão, muito menos o outro morto. São ossos do ofício, aliás na minha profissão o que mais tem é ossos! Pois é, em dez anos de profissão, nunca vi coisa igual! Agora fiquei no maior preju! Depois de esclarecida a dúvida de identidade do morto, a familia saiu do velório e foi pra casa e nem quis saber de conversa comigo. Nenhuma das duas familias pagou pelo meu trabalho. Nós ofeferecmos 24 horas de café, chá, lanche, cachaça, sem falar do caixão do sepultamento e o choro que eu derramei em cima do outro morto. Tudo ficou por R$ 1.300,00 que saiu do meu bolso, fora o choro chorado que não foi calculado. O choro é à parte, o cliente paga se quiser, é uma gratificação!"
Tufão também ficou no prejuízo. Mal soube da "morte" de Tufão o dono do barracão jogou as roupas e o colchão do então "defunto" no quintal e ateu fogo. Após ter virado celebridade Tufão declarou: "Não fui eu quem arrumou esta confusão!Tava de boa no meu cantinho, não pertubando nin-guém-nin-guém! Me mataram e quase me enterraram!" Já pensou, eu com documento de morto! não poderia nem votar na eleição; morto não vota! Nem o INSS iria me atender! Agora eles que se virem para me dar o de vestir, o de comer e o de beber- disse Tufão aos jornalistas- e aliás, agora é que eu não paro de beber mesmo. Todo mundo vai querer falar com um morto-vivo: fiquei famoso, saí até na Globo! E é lógico que todo mundo vai querer pagar uma cangibrina pra mim! Acho até que vou cobrar pelo autógrafo!"
Passado o mal entendido, abraços mil, tapinhas nas costas, alegria, alegria e que bom você não morreu, "eu sabia que você não morreria tão cedo!" Tufão chegou aos ouvidos de sua mãe e disse: "A senhora disse sempre que a pinga ia me matar! A senhora tava totalmente errada: a pinga me salvou! Se eu não estivesse bebendo eu estaria morto junto com aquele outro. Resolvi ficar pra tomar uns goles e aquele cara foi pegar a estrada. Sabe pra onde? Pra i-gre-ja! Quem mandou ele ser crente e "num" gostar de beber! Agora, quero que a senhora faça um brinde comigo!"
-Um brinde à pinga!
-À pinga!

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