sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


A química que atrai nossos corpos

Por Tadeu Nascimento


Você é a grande causa. Quando alguém surge na sua vida não é só por força do destino. Como disse o filósofo espanhol Ortega y Gasset, "Eu sou eu + minhas circunstâncias". As circunstâncias entram com uma pequena cota-parte. Então, quando alguém entra na sua vida, é por que você está receptivo(a). Na verdade, a sua vulnerabilidade abriu uma porta para que esse alguém entrasse. Se ficou, ou ainda permanece, é porque você precisava ou ainda, precisa dessa pessoa. Por mais que se desentendam. A comunhão termina quando não mais se necessitam, não mais se completam, eis a verdade. De repente a pessoa virou uma porta, ou um jarro, uma estante, ou um toco, como gosta de me dizer um grande amigo. Você passa por ela (ou ele) e nem percebe! Acontece, porém, quando acaba uma relação, sempre alguém sai perdendo. Paciência: o mundo gira, a fila anda, e me dá licença que eu preciso respirar!
Voltando a vulnerabilidade. A natureza nos dotou de uma substância chamada feromônio que- como jocosamente sugere o nome- é um hormônio "fera". Brincadeira à parte, a palavra deriva do grego e significa "que transmite excitação". Feromônios são substâncias que funcionam como mensageiros entre seres da mesma espécie, desencadeando respostas fisiológicas e comportamento previsíveis; mas às vezes, nem tanto. Trocando em miúdos: depois de se conhecer alguém, seja o que Deus quiser! Trata-se fundamentalmente da preservação da espécie. E o poder de "detectar" está na ponta dos nossos narizes. O papel do olfato nos seres humanos é inegável, basta lembrarmos da bilionária indústria de perfumes. Pois bem, se o cheiro dele(a) combinou, pronto: bateu! É ele, o cheiro, que nos arrasta para as relações amorosas. Então, estar vulnerável é estar com os feromônios a ponto de bala! E de imediato os neurotransmissores captam e respondem a mensagem do outro corpo! Mas, justamente aí, que entra outro personagem da química na história: a testosterona, o hormônio do desejo sexual. E se não bastasse, outra substância pode- aí que mora o perigo!- compor a santíssima trindade: a dopamina! Substância esta que inventa e alimenta a paixão. Que nome mais sugestivo! Estar apaixonado é de certa forma estar dopa(mina)do! Que química maluca! E depois, eu que sou irresponsável por eu me apaixonar! Que doidura!
E batendo tudo no liquidificador, resulta uma síntese ainda mais complexa: o interesse. Mas onde quero chegar? Estou apenas tentando desvendar o labirinto para que se possa conhecer o porquê do amor! Continuemos: e aí, chega-se a conclusão que o amor se confunde com interesse. O leitor pode até discordar dessa tese. No entanto, lamento contrariá-lo, mas é sim! Interesse, nesse caso, é o subproduto das vontades desses dessas substâncias. Não se trata, aqui, do econômico-financeiro. Analisemos, pois, sem hipocrisia: a vida só é movida por interesse! Aliás, o amor, produto coado de tal mistura, mais que interesse, é posse (consentida, mas posse). Não adianta fingir. Não estou me referindo, repito, a posse-matéria-cifrão que é algo imoral e pernicioso. Discutir a relação, por exemplo, é confirmar se o amor (neste caso, posse) ainda existe. Basta perguntar pra si mesmo- no escuro de seu quarto (caso você desconfiasse que seu parceiro(a) tivesse um caso)- se você não cobraria dele(a)? Pois discutir a relação, não passa de um ajuste de contas: um cobrando, o outro se defendendo. Poderia até, fazer perguntas "inocentes" mas com claro intuito de descobrir alguma escorregada do dito cujo! Então, enquanto eu for seu, é porque eu deliberei, estou deliberando. Enquanto existir o nosso relacionamento é porque você me é interessante e eu lhe pertenço. É estar-se preso por vontade, como diz a bíblia (Corintios 1:13). Não há vergonha alguma nisso. E óbvio que serve tanto para o homem quanto para mulher. Enquanto suas pernas me convidarem a rodopiar a dança do acasalamento e eu sentir o frisson que mora no topo da felicidade; enquanto sua boca colar na minha, gerando energia capaz de provocar o "vesúvio" que habita em mim, a entrar em erupção; enquanto a luz, própria de quem ama, trouxer-me a paz que necessitam os deuses, você me é interessante e de você não me apartarei. Eis, o feromônio (o hormônio fera, o hormônio do amor) somado a dopa(mina) aos embalos das testosteronas aguçadas! Em suma, somos laboratórios ambulantes a cumprir a norma divina do "crescei e multiplicai!" É a explicação de sermos um amontoado de neurotransmissores antenados para atrair e sermos atraídos pela frequência de ondas energéticas do sexo oposto que por acaso chamamos de magnetismo.
Portanto, o filósofo Ortega Y Gasset que eu refiro nas primeiras linhas desta crônica acertou em cheio, embora naquele tempo, ainda não se soubesse dos poderes dos feromônios (a excitação) e muito menos dos efeitos alucinógenos da dopamina (a paixão) e da fome da testosterona (a libido). Alguém disse, não sei onde, que a natureza é perfeita!

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