quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A imagem diz tudo


Amores encharcados
Por Tadeu Nascimento

São 23 horas desta quinta-feira, a primeira de fevereiro de 2011. Uma tempestade caiu em Goiânia. Foi uma tarde que ninguém deveria ter saído de casa. Nem os guardas de trânsito. A chuva caiu sem avisar. Não deu tempo nem para as cigarras anunciarem o toró que estava por vir. João-de-barro não pôs o bico fora de casa. Sapos, só não se afogaram aqueles que fugiram para Guapó. Se fosse ontem, diria que foi Iemanjá- que é do dia 02 de fevereiro- quem fez tanta água despencar do céu. Nunca vi Goiânia com tamanha chuva. Vale lembrar que a enchente de São José está distante 44 dias. Tal qual um rio, a água que veio do céu, desceu caudalosa pela avenida Goiás (e em outras vias paralelas) procurando o mar. Antes porém, de chegar ao mar, foi se misturar com as águas do córrego Capim Puba que logo se une ao Rio Meia Ponte que por sua vez, desaguará no Rio Paranaíba que cairá no Rio Grande que se misturará com Rio Paraguai que se unirá com o Rio Uruguai e que, por fim, encontrará seu destino na liberdade salgada do Atlântico, lá na divisa do Uruguai com Argentina.
Mulheres levantando vestidos para não encharcá-los ainda mais; sapatos nas mãos. Homens empurrando automóveis e motocicletas. Semáforos endoidecidos. Velocidade de tartaruga nas longas serpentinas de carros. Pisca-piscas ligados. O trânsito em pleno caos. Guardas de trânsito? Nenhum. Não estamos acostumados com caos. Goiânia é uma cidade abençoada por Deus. O criador inventou o planalto central a quem pudesse fazer o melhor uso dele. No meio ao caos, sob uma marquise, um casal de namorados encharcados pela chuva, fazia o melhor uso deste planalto central, se abraçando, fazendo carícias, desafiando a moral e os bons costumes dos conservadores que ali passavam, expondo-se um despudor como o de Romeu e de Julieta em Verona. O amor é belo. O mundo se derretendo e o casal se contorcendo de tesão. Se Noé, ali passasse com sua arca, na certa, levaria o casal filhos de Eros para a preservação da espécie. Acelerei meu neurônios: Imagine os dois enxutos e "secos" um pelo outro!
Se o Rio de Janeiro que é a cidade maravilhosa, tempestades e deslizamentos de morros são uma constância; se a mais rica do país, São Paulo, além da poluição, o trânsito desafia a paciência de jó dos paulistanos, aqui é diferente. Goiânia, se não é um paraíso, é uma cidade ainda prazerosa. Só falta um mar para ser perfeita. Mas, se aqui tivesse mar, nunca seria perfeita, porque teria também deslizamentos de morros, tufões como em Santa Catarina e o custo de vida fatalmente seria muito caro, e o trânsito seria uma doidura. Por fim, se em Goiânia houvesse mar, como disse uma amiga: "Seria tão bom que não ia prestar!" Melhor ser quase-perfeita. Lembrei-me de São João Bosco que em 1883, num sonho, (premonição) viu que o Brasil central seria um dia a salvação do planeta. Mais propriamente onde se situa Goiás.
Voltemos à chuva. Como é bela a juventude! A tempestade é um bom motivo para os jovens extravasarem seus hormônios. Tal qual Jorge então Ben e não Ben Jor na antológica "Que maravilha". Lembra-se? "Ela vem toda de branca/Toda molhada e despenteada/... Com a chuva molhando seu corpo lindo que eu vou abraçar/...A gente no meio da rua do mundo, no meio da chuva/ A girar,que maravilha ". Os corpos molhados de romeu e de julieta do cerrado definiam bem as suas siluetas e intenções no momento apoteótico do "boca com boca" que acabaram por compor um quadro cinematográfico. Talvez de Franco Zeffirelli ou de Federico Fellini com trilha sonora de Jorge Ben Jor. As pessoas que ali passavam – não davam importância à torrencial a chuva que caia- contorciam os pescoços, admirando (talvez invejando) a audácia dos amantes. Chuva? Que chuva?

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