terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Praça 5 de Agosto (Rio verde - GO)


Pedro Biriba, Bem-Bem & Cia.

Por Tadeu Nascimento


Toda cidade do Brasil tem seus tipos populares que são aqueles que entendemos por doidos, engraçados ou irreverentes. Na década de 70, em Rio Verde, havia muitos. E o mais popular deles era o Pedro Biriba. Um pedinte que andava pela cidade com um saco às costas e amedrontava a criançada. Feio que nem ele só, de fala enrolada, com seu aspecto mongol, baixinho, andado cambaleante, de barbicha, dentro de um terno tamanho 2 números acima do seu e de chapéu. Além de um pau de vassoura, que muitas vezes lhe servia de porrete, quando alguém lhe fazia alguma zombaria. Seu itinerário era os quarteirões que se estendem da Praça 5 de Agosto até a Praça Major Frederico Jayme (Praça das Palmeiras). Perambulava pelas calçadas da antiga prefeitura, Bar do Milton Jayme, Posto do Darlô (Rui Barbosa), Bar do Hotel Minas Goiás, Bar do Ney (Rua Rafael Nascimento). Pedro Biriba lembrava o personagem Carlitos de Charles Chaplin, só que ao estilo terceiro mundo: brejeiro, tupininquim. Um Carlitos dos pobres. Morreu de velho.
Mané Côco. Este era hilário. Se gabava major do Exército. Moreno escuro, alto e de andado imponente- como sua patente exigia. Trajava um paletó escuro, tipo farda de gala, com muitas medalhas, galões nos ombros, botões dourados, botas, capacete e binóculo pendurado no pescoço. Andava com altivez e elegância com sua inseparável espada... de plástico! Ficava nos cruzamentos com apito na boca e com os braços em movimento controlando o trânsito. Fazia ponto no Bar do Milton Jayme. Ai de quem desobedecesse a sua norma particular de trânsito. Lavrava multa ao infrator na palma da própria mão.
Bem-Bem. Mulato, cabeça raspada, mudo, de beiços grossos e caídos. Andava puxando uma perna. Ficava meses sóbrio. Nesse estado era calmo e humilde. Mas quando se embebedava tornava-se insuportável. Assim era Bem-Bem. Dizia o folclore de Rio Verde que o nome Bem-Bem se devia ao fato de ele ser bem dotado sexualmente. "Ele tem um bem...bem grande!" Acabou virando Bem-Bem. Existia uma história que uma dona de uma casa de prostituição gostava de ter relação íntima com o dito cujo. Mandava seus subalternos buscá-lo, dar-lhe banho e perfumá-lo para passar uma noite com o seu Bem-Bem dotado.
Maria Florista. Parecia uma personagem do filme Hair. À época, não era feia e tinha uns 30 anos de idade. Andava com flores no cabelo, nas mãos e nas estampas da roupa de chita. Não raramente levantava a saia para quem quisesse ver seus pormenores e seus etcéteras. Morava no porão do coreto, na praça da igreja São Sebastião. Num aniversário da cidade, 5 de agosto, época de ditadura, desfilava os alunos das escolas da cidade. No palanque armado na praça 5 de Agosto, às autoridades civis, militares e eclesiásticas (todos os discursos da época eram mencionados tais autoridades), estavam governador/interventor, não sei se era Gal. Ribas Júnior ou Gal. Meira Mattos, o também folclórico prefeito Eurico (Nenzinho ) Veloso, vereadores, o vigário da paróquia, as senhoras impolutas da sociedade. Lá vem subindo a rampa da praça os alunos do Colégio Martins Borges com sua fanfarra eletrizante, sob o comando do prof. Ottoniel Almeida Leão, o encrencado e temperamental prof. Otto (tio paterno deste cronista). Prof. Otto era outro ser folclórico da urbe. Quando lhe chamavam pelo apelido Cocó, ele respondia em alto e em bom som- não importava o lugar- pra quem quer que fosse: "Cocó é ... da sua vó!" As reticências são aquilo mesmo que o leitor está imaginando. Voltando a Maria Florista: No ponto auge do desfile, em frente ao palanque, à frente da fanfarra, os atletas malabaristas, vestidos de branco, entre eles Joãozinho do João Surdo, Waldir e Onildo Proto faziam a pirâmide humana. E na ponta da pirâmide Joãozinho erguia a bandeira do Brasil. Logo atrás, as meninas balizas "plantavam bananeiras" e se exibiam com outras estripulias. A fanfarra repicava seus taróis. Palmas e mais palmas para os atletas e fanfarristas. Eis que Maria Florista, no alto de sua habilidade artística-esportiva, resolve participar do desfile: misturou-se com as moças-balizas e começou a plantar bananeira justamente em frente ao palanque, sob os olhares austeros das autoridades. Só que a nossa heroína não usava calcinha. E nunca se depilava. E tome visão panorâmica e tome risadas cinemascôpicas. A banda marcial desafinou-se; Miranda, o tocador de pratos esquentou as orelhas do tocador de surdo que estava à sua frente; o Cocó ficou irado, o prefeito enrubesceu-se, o vigário fez o sinal da cruz e essa história ficou para sempre. Pelo menos na minha memória.

2 comentários:

  1. Parabéns Tadeu,,, ,e troxe várias lembranças de Rio Verde.. quando jogavanos bete na Rafael Nascimente ( seu Granfather) Em Abraço do amigo Emilinho ( Hanum )

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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