domingo, 20 de abril de 2014



O louco sou eu

 Por Tadeu Nascimento

                            Estive em São Paulo, capital, nesse fim de semana. Se New York é mais louca, não sei. Mas São Paulo, onde já fui centenas de vezes, me choca cada vez mais. Sem contar o óbvio, que é um mundaréu de gente; um trânsito de veículos que é uma fábrica de loucos. No entanto, o que mais me deixou chocado na maior cidade brasileira, foi a  desigualdade. Das as outras vezes que lá estive, não vi tanta miséria. Mas agravou-se muito. O contraste econômico agora é gritante. Logo na cidade mais rica do país. E isto ocorre  por quase toda  cidade. Nunca vi tanta gente dormindo ao relento. Tantos sem teto. Tantos sem nada. Tantos esmolando.
                         Em rua perpendicular a Avenida Consolação, no coração  da cidade, perto do meio financeiro mais importante do Brasil que é a Av. Paulista, um dos  metros quadrados mais caros do planeta, existe um mundo paralelo, tal qual a periferia  de Nova Deli, capital da Índia. Eu vi, meninos, eu vi, várias pessoas- a maioria pessoas idosas- dormindo sob marquises, enrolados em plásticos ou em cobertores imundos, enquanto várias Mercedes, BMW, Land Rover e outros caríssimos automóveis cujos motoristas,  indiferentes, importunavam o sono dos "homeless". Conclui que tal disparate é uma vergonha para raça humana  e uma afronta a Deus! Lembrei-me de Renato Russo: " A humanidade é desumana". Então fiquei a perguntar: Deus existe? Se existe- eu nunca deixei de acreditar que Ele existe- muita gente tem que pagar!
                        Apesar de tudo, domingo, resolvi matar a saudade homenageando-me com o antológico chope do quase centenário Bar Brahma, na Av. São João. O chope continua tão bom quanto antes, mas a visão do passeio público é de se estarrecer. Tantos seres humildes como os que acabei de relatar a passar rente ao  famoso  bar. Tantos doidos, tantos falando sozinho. Gente arrastando cobertores imundos e com cabelos e barbas imensas. Claro que passavam gente aparentemente "normais", mas evidentemente  não chocavam  quem os via. Entretanto, muitas pessoas exóticas, tipo casais de cabeludo "rastafari" de mão entrelaçada  com uma de cabelos raspados apenas de um lado da cabeça, sugerindo "o que falta em você, sobra em mim!": ou seja, um antagonismo chocante;  não sei quantos com o corpo quase todo tatuado, outros com dezenas de piercings encravados no rosto, nas orelhas, como  se desafiassem a lógica  dos normais. Em suma: um universo de gente estranha com gente esquisita! Um mundo de malucos!
                          Mas será que eles são os verdadeiros malucos?  Por acaso, não seriam  mais insanos os que trafegam com ternos  George Armani ou Ermenegildo Zenga e que se matam nos  escritórios, na bolsa de valores, nos caixas dos bancos, tais como robôs a serviço do sistema capitalista  desumano e cruel que expulsa os mais desvalidos para a mais absoluta miséria? Fica claro que, para aqueles que servem o sistema capitalista o que importa é a grana! E os pobres? Ora, que se lasquem os pobres!
                           Estes esqueceram que um ser iluminado morreu na cruz,  deixando a máxima que devemos amar o próximo. A verdade é que, o que eles amam mesmo, são os  bens materiais e acreditam que vão levar esses bens acumulados para outro mundo! E assim é quase toda humanidade! Depois o louco sou eu!

Nenhum comentário:

Postar um comentário