sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


Marta e Joseph Blatter


O gênio de pernas depiladas

Por Tadeu Nascimento


A arte morreu. Se não morreu, agoniza-se. Não é necessário que seja especialista (crítico), para saber que nada mais se cria no campo da arte. Estamos de volta à escuridão da Idade Média. Não há mais gênios na pintura, na música, na escultura, na literatura, na dança, no teatro e na sétima arte que é o cinema. Talvez, justamente no cinema, ainda se vê arte nos veteranos Anthony Hopkins, Al Pacino, Robert de Niro e Mary Streep. De novidade mesmo, na arte de interpretar, não há algum com brilho do gênio. Nem Jonny Depp. Na música, nunca mais existiu um criador com a grandeza de um Mozart, de um Beethoven, de um Bach, de um Chopin, de um Tchaikovsky, ou mesmo de um John Lennon. De um Rodan, na escultura. De um Baryshnikov na dança. De um Molière no teatro. Na pintura então, a distância é enorme. Excetuando-se Van Gogh e Picasso que morreram há muitos anos, não surgiu um só homo sapiens que tivesse, mesmo que distante, o talento de Da Vinci, ou de Micheangelo, de Rafael, de Donatello. Até no futebol que considero uma arte menor, não se vê mais craques, muito menos gênios. A gana pela grana, a sedutora mídia e a velocidade da vida moderna, têm logrado da humanidade o direito de fazer arte e de se aprazer com ela. Vive-se mais da enganação. Da mesmice. Da mediocridade travestida de moderna. Evidente que nunca mais existirão outros Tom e Vinicius; Lennon e Mccartney; Mozart e Beethoven; Pelé e Garrincha. A questão é que não se vê- e não se sente- a menor tendência e nem terreno fértil para algum talento. O mundo está marchando errado. Dizer que Andy Warhol foi um gênio da arte moderna é demais para o meu entendimento. Talvez o seja para o polêmico e cada vez mais chato e menos criativo Caetano Veloso. Vale lembrar que o conceito de arte é a expressão do belo. E Caetano, não fez nada de belo nos últimos 20 anos. Na literatura, nas 3 ultimas décadas, o derradeiro dos moicanos geniais foi José Saramago e só. Pois vale mais nesse mundo moderno um Paulo Coelho com seus pleonasmos do que a originalidade de um Machado de Assis. Assim como Lair Ribeiro que faz mais sucesso que Clarice Lispector. A nossa MPB, por sua vez, passa por um interregno tedioso numa cama na UTI. Não surgiu ninguém, absolutamente ninguém. O derradeiro foi Djavan, que a mim, perdeu o lirismo. Chico Buarque enveredou-se pela literatura; e nela, não achou ainda o caminho das pedras da genialidade que em outros dias mais felizes, fizeram brotar pérolas em forma de canções.
A arte parece morta. Todavia, para o nosso júbilo, existe uma mulher, uma alagoana, que salva- embora não seja valorizada como merece- o gênio da raça: Marta que por 5 vezes foi a melhor jogadora de futebol do mundo. Se Marta fosse macho, acredito, seria reconhecida como gênio. Marta Vieira da Silva, nome e sobrenomes tão brasileiros quanto Edson Arantes do Nascimento. A Pelé de saia. Uma Pelé que quando recebe um prêmio da FIFA de a melhor do planeta, como recebeu essa semana da mãos de Joseph Blatter, é uma fêmea de vestido bem talhado, de salto alto, de brincos e maquiada que nem de longe traz consigo os traços masculinos, próprios do futebol. Talento em pernas depiladas. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues, não mais escreveria sobre os imperadores dos gramados, mas ergueria um pedestal imaginário para o talento de dribles rápidos e sutis das pernas roliças de Marta. O escritor Armando Nogueira teceu loas (em crônica) à Marta que continua jogando mais e melhor do que qualquer cabra peludo. E a vida de jogadora de futebol não é fácil. Receber cotoveladas nos seios ou desvencilhar-se delas é tão difícil quanto esquivar-se de chute maldoso nas partes baixas de um craque, do Pelé, por exemplo; mas ela se desvencilha ou suporta muito bem. Contudo, a artilheira sob a impaciência de uma TPM, sob o desconforto daqueles dias, diante da goleira no momento fatal do gol executa e corre para glória, socando o ar como fazia o rei Pelé. Antes, porém, um lençol sobre a quarta-zagueira- que mais parece um trator; mais um drible desconcertante em outra defensora, e em seguida um chute no ângulo com classe é pra ela algo tão simples como provocar um sorriso numa criança quando lhe oferecem um sorvete! Como um exímio joalheiro, Marta fabrica arte. A arte do futebol.

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