quinta-feira, 17 de junho de 2010

Pai e Filho
Ao Prof. Clóvis Leão de Almeida

Por Tadeu Nascimento


Meu pai querido,
Onde está você? Olho para todos os lados e não o encontro, neste momento mais difícil da minha vida! Você que sempre me socorria, onde estava no momento em que eu me vi -totalmente impotente- diante de minha mãe que se exauria nos meus braços? Naquele momento de desespero eu me lembrava o quanto você, doente, dizia que quando estivesse do "outro lado da vida", iria ajudar muito a minha mãe- como se tivesse íntima ligação com os santos ou com as entidades espirituais! Pois é, somente você, pai, poderia, agora, dar-me força e coragem para enfrentar a vida. E a causa deste socorro é justamente a ausência da pessoa com quem você mais conviveu: ela, a Zaira, sua amada, sua flor de maracujá. Foram 54 anos de casados. Você se foi e ela passou a chorar, às escondidas, pelos cantos da casa! Pôxa, pai, quando você se foi, me agarrei nas saias dela, para suportar a sua ausência! Agora, preciso de você, justamente porque perdi a pessoa mais importante da minha existência: a minha mãe, a sua companheira!
Que faço eu, agora? O que devemos fazer agora, eu e os seus outros 5 filhos, seus 10 netos, que vivíamos sob a tutela carinhosa de sua companheira? Você partiu para outra dimensão e ela se desdobrou-se em zêlo para comandar a família!
A Rua Rafael Nascimento não tem mais graça. Ficou um imenso vazio. Era uma rua que por décadas, tinha as marcas da alegria. Agora é uma rua de saudades. Nâo tem mais Avó Tília, Tia Olga, Tio Iron, Tio Itu, Tia Marilene, a Rafaelita. Todos partiram. A cadeira que você sentava no Calçadão e que a minha mãe passou a ocupar, foi recolhida- para todo sempre- para o último cômodo da casa! Como a vida é dura!
Estou ilhado neste mundo de pretéritos. Restam-nos os exemplos, os ensinamentos e a saudade de vocês dois. Duas pessoas que viveram exclusivamente para os filhos. Contudo, aceito com resignação os desígnios de Deus. Ninguém tem destino diferente. A morte é a única certeza. Mas com toda minha tristeza, devo lhe dizer: foi uma honra tê-lo tido, como pai! Um homem doce, generoso e de paz. E foi uma felicidade ter tido uma mãe que tive. Um ser maravilhoso, que só agora, entendo a sua grandeza! Um presente de Deus.
À minha frente, está uma fotografia sua, todo garboso de terno e gravata, bigodinho à Clark Gable, dedicada à minha mãe, onde você subscreveu: "À Zaira, para que nunca se esqueça do seu Clóvis". Você tinha 22 anos, ela 15. A história de vocês- que se perpetuará nos seus descendentes- é coisa do destino!
Você sempre dizia: "A vida é feita de momentos!" Realmente, confirmo eu. Passamos momentos maravilhosos enquanto vocês dois estavam conosco! Lembra-se das Bodas de Ouro de vocês dois, comemoradas no Hotel Kanachuê em Goiânia? As fotografias revelam como éramos felizes! Pois é, pai, o tempo é implacável! E este momento é um dos mais difíceis pelos quais, já passei.

5 comentários:

  1. Recordo de seu pai no Colegio Estadual Martins Borges, homem de grande cultura, sabia como ninguem manipular com os numeros. Homen de refinada cultura e educacao, polido e com pricipios, sempre que me via dizia um "bom dia, ou boa tarde"

    Marlon Vieira Santiago

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    1. Olá! Adorei o seu texto! Sou aluna do mestrado em Educação na Universidade Federal de Uberlândia, moro em Rio Verde/GO e pesquiso o Grupo
      Escolar César Bastos (1947-1961). Estudando alguns livros sobre a história do munícipio descobri que seu pai dirigiu um jornal nesse período - Rosetando-. Penso que talvez possa auliar-me. Meu e-mail: mariazinharv@hotmail.com. Grata!

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  2. Estas palavras mostram claramente que por mais fortes que aparentamos ser quando perdemos os que amamos somos absolutamente vulneráveis, pois aceitarmos a perda está além da nossa vontade, daí nos damos conta do quanto somos egoístas, afinal tudo tem sua hora... com o tempo nos adaptamos com a ausência, mas nunca aceitamos a perda e fica um vazio que aos poucos se preenche com as recordações dos bons momentos que ficaram para nos consolar.Muitos irão dizer que "tudo passa", porém se tratando dos que amamos verdadeiramente isso é pura ilusão, no entanto a vida segue temos que continuar até que chegue nossa hora e fatalmente fazermos outros que amamos sofrerem é o ciclo da vida por mais injusto que pareça.Desejo que essa dor amenize à cada dia.

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  3. Palavras lindas, de filho para uma pai que se foi, mas que deixou marcas insubstituíveis na sua memória. A vida é assim querido filho, viemos e temos que ir de repente deixando para trás somente lembranças e nada mais. Portanto, a cada minuto de sua própria vida....faça a com o coração repleto de amor, esse é o caminho para dar continuidade à sua felicidade.

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  4. Tio que lindo seu texto me emocionei bastante e não para segurar as lágrimas, a saudade é enorme sinto falta do vovô Clóvis, da minha vovòzina querida que sempre me defendia com unhas e dentes, antes dela ir ela me deu um São Judas Tadeu, lógico eu sou uma previlegiada nasci no dia do santo protetor dela 28 de outubro ela me disse q ele iria me proteger sempre.Não é facil conviver com essa dor, eu tinha tanto orgulho da minha vó e antes de tudo de dizer como eu era parecida com ela.
    TIO TADEU TE AMO MUITO ... Priscilla Lopes Nascimento de Almeida

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