quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mãe e Filho

Aos órfãos do mundo

Por Tadeu Nascimento

Existe uma distância imensa entre a perda do próprio pai ou da própria mãe e a dor de um amigo, quando este perde um dos seus genitores. A distância está em viver na pele, a profunda dor. E a ordem natural das coisas é os filhos enterrarem seus pais. Pobre Maria que viu seu filho morrer na cruz! Mas também é imensamente triste, ver/sentir uma criança de 5 anos que não tem mais a mãe. Não é o natural da vida, a criança "enterrar" a mãe! Sigmund Freud dizia: "O homem só se torna adulto quando perde o pai!" Trata-se de uma alusão ao filho de não mais responder pelos seus atos a mais ninguém, a não ser a si próprio. Mas Freud não se refere o tempo da infância e sim, o da maturidade. No entanto, a perda da mãe é uma catástrofe: empobrece de amor o homem, pois é uma dor ainda mais intensa, indescritível e desoladora que tira muito da alegria de viver do filho. Nesta crônica que dedico a todos os órfãos, quero falar justamente da perda da mãe.
O romper do "cordão umbilical da existência" entre a mãe- que morreu- e o filho é como tirar de um ser o próprio chão. É como um astronauta do lado de fora da nave e por algum motivo, se rompe o cordão que unia os dois, o astronauta e a cápsula espacial. Há de se ficar à deriva no espaço. Perdido no infinito azul, sem jamais voltar à terra que também é mãe. É como barco sem porto, um passarinho sem ninho. Um filhote de leão, perdido da mãe, sai pela floresta, triste, sem rumo, sem norte. Indefeso, mal sabe ele a força e ferocidade que um dia, seria capaz. Eu não estou imune a esta dor. Há quase 5 anos perdi o meu pai. Um pai generoso e um grande amigo. Perdi a minha mãe recentemente. Uma mãe maravilhosa e uma mulher de fibra! Contudo, a dor da perda de quem me gerou no ventre, foi mais grave.
Não sei onde está o meu norte. É difícil aceitar, compreender que eu não tenho mais mãe. Só sei que- pelo resto da vida- quando estiver a sós e a saudade bater, muitas lágrimas derramarei.
Desde o surgimento da humanidade o homem busca a mãe: Não é inglória a frase "Eu quero a minha mãe!" O poeta Gabriel Nascente no final da década de 80, estampou em out-doors na cidade, uma frase, para mim, inesquecível: "Mãe, dá um jeito no mundo!" Quando o perigo se aproxima, nada mais forte que a proteção da mãe. O substantivo mãe, abarca muitos significados: proteção, alimento, afeto, sacrifício, etc. O escritor russo Máximo Gorki em sua maravilhosa obra "Mãe", retrata o que uma genitora é capaz de fazer pelo filho. Pelaguea Nilovna, uma senhora idosa, simplória, distribuía panfletos pró-comunismo nas portas das fábricas de Moscou, contra o Czar, sem saber do que se tratava, embora soubesse do tamanho perigo que corria, tudo por amor ao filho que militava contra o governo. Somente a mãe é capaz de oferecer a própria vida em holocausto para salvar a do filho: aos poucos vai percebendo o ideal revolucionário que vivia o filho. Quando este é deportado, a mãe toma seu lugar para dar continuidade à luta.
Hoje sou mais um órfão no mundo. De acordo com Freud, tornei-me adulto. Um adulto que não passa de um menino triste que quer- mais do que nunca- a mãe. A saudade lateja no meu peito. A certeza de nunca mais ver, abraçar, beijar- quem me trouxe ao mundo, dói-me n'alma. Uma dor imensa e profunda. Nunca imaginei que seria tão difícil passar por esse momento. Quem tem a felicidade de ter mãe, deve vivê-la na sua plenitude, porque um dia há de se acabar. Como disse um primo, também órfão: "A gente, se torna órfão, não quando se perde o pai, mas quando se perde a mãe!" É quando se perde o colo de quem mais o ama! Eis uma das razões que o ser humano, não mais que de repente, se aparenta ter envelhecido muito, num breve espaço de tempo.
Carlos Drumond de Andrade em seu poema "Para Sempre" sensibilizou-me: "Por que Deus permite que as mães vão embora?/ Mãe não tem limite,/ É tempo sem hora,/ Tempo que não apaga quando sopra o vento/ E chuva desaba./ Veludo escondido/ Na pele enrugada,/ Água pura, ar puro/ Puro sentimento./ Mãe na sua graça é eternidade/ Porque Deus se lembra/- mistério profundo-/ De tirá-la um dia?/ Fosse eu o rei do mundo,/ Baixava uma lei:/ Mãe não morre nunca!/ Mãe ficará sempre junto ao filho/ E ele, velho embora,/ Será pequenino com um grão de milho.
E sobre a dor, o mesmo Drumond escreveu: "Não, meu coração não é maior que o mundo./ É muito menor./ Nele não cabem nem as minhas dores./ Por isso gosto tanto de me contar./ Por isso me dispo,/ Por isso eu me grito,/ Por isso frequento os jornais, me expondo cruamente nas livrarias: preciso de todos."
Órfãos do mundo: agora sou mais um, entre vocês, a pertencer a esse triste "Bloco (que sobrevive) da saudade", pois meus risos nunca mais serão libertos, minhas palavras terão um "que" de incertezas e o meu coração não deixará de se alimentar de saudades.

2 comentários:

  1. Tadeu,sou sua fa.Trabalho na radio terra, e sempre olho o jornal a procura da sua materia.
    Fiquei muita sentida quando vc comentou da sua mae.Passei por isso ha 6 anos e a dor ainda continua forte.Quando acordo todas as manhas e como se ela ainda estivesse viva.E como vc.disse,so quem passa e que sabe.Hoje chorei qd li a materia que vc escreveu sobre o seu pai.Acho que vc.tem e de agradecer a Deus por ter tido o privilegio de viver tantos anos ao lado de duas pessoas tao queridas.Deus te ajude a superar essa dor. Um abraco, Sueli

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  2. Quero aqui diante de suas palavras pedir desculpas, se um dia fui cruel, foi porque percebi a sua dor, e no intuito de fazê-lo feliz, me arrisquei a chocá-lo com palavras felinas. Sei que esta dor da perda também senti no dia que fui chamada no térreo do meu predio para ouvir palavras de despedidas, palavras até hoje naõ compreendida pela minha mente diante de tantas expectativas, claro que nem se compara com sua dor....mas com toda sinceridade... também foi uma dor...e que dor!
    Desculpe mais uma vez, foi pensando em você...

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