quinta-feira, 20 de maio de 2010

Nelson Rodrigues


Nelson Rodrigues e a mediocridade de Dunga

por Tadeu Nascimento




"Amigos",- começava assim as crônicas esportivas de Nelson Rodrigues. O autor de "A pátria de chuteiras" e "À sombras das chuteiras imortais", nas suas crônicas, entre tantos assuntos, se aproximava ao máximo do humano e dos defeitos deste. Quem já leu Nelson Rodrigues, sabe o talento que se emanava de seus dedos sobre uma máquina de escrever! Mas, se ainda estivesse entre nós, o escritor cronista e dramaturgo, arrepiaria os cabelos com a relação dos selecionados de Dunga para a copa do mundo na África do Sul. A pátria (agora- com o arremedo- de chuteiras, pela falta de qualidade dos jogadores e pela mediocridade do técnico) não merece tanto descaso! Ricardo Teixeira inventou um técnico soberbo: um leigo que se acha sábio- por nunca ter sido técnico- com evidentes pés de barro. Vejamos: deixou de fora Ronaldinho Gaúcho em plena qualidade técnica e voando baixo no Milan e convocou Kleberson do Flamengo, seis meses sem jogar. Convocou o ótimo Kaká, mas também sem jogar e em recuperação e deixou de lado o genial jogador santista Neimar, o mais lúcido e lépido jogador do Brasil, por achá-lo ainda muito jovem para seleção. Mas se Kaká não se recuperar a tempo, ou ainda, se ele machucar novamente, quem o substituiria a contento? O soberbo Dunga, ignora as convocações de Pelé com 17 anos (1958) e Edu com 16 (1970)- ambos do Santos. Júlio Batista, bom jogador, mas longe de ser um craque de seleção foi escolhido em detrimento de Alexandre Pato, um cracasso. Se tivéssemos um técnico adepto ao futebol arte, Pato estaria no time titular.
Amigos,- como dizia Nelson Rodrigues- Dunga conseguiu a proeza de desinventar a seleção. Agora é o futebol de resultado, do ocupar espaço e do não deixar jogar. Aliás, esta seleção é cara do então jogador Dunga que foi apenas um razoável atleta de futebol. Sua característica acaba sendo uma mistura de prepotência de Cláudio Coutinho (1978/ Argentina) com insanidade de Sebastião Lazzaroni (1990/ Itália), cujas lembranças são as mais tristes da história do nosso futebol. Coutinho, cheio teorias mirabolantes como a do "over lap", ponto futuro e até, pasmem, que cada time deveria ter um jogador a menos, para que o jogo tivesse mais gols. Um jornalista atento lhe perguntou: "se é para resultar em mais gols, não seria mais inteligente aumentar o tamanho das traves do gol?" Em suma, estes três foram os maiores enganos da CBF. Alguém pode dizer se o Grafite merece a amarelinha? É certo, a falta de um centroavante talentoso, mas, ruim por ruim, o destemperado Adriano do Flamengo é de longe, melhor que Grafite!
Seria muito interessante um ataque com Robinho, Alexandre Pato e Neimar (do Santos) Não importa quem ocuparia o lugar de centroavante. Na Copa de 70, Zagalo improvisou o meia atacante Tostão como centroavante e ele deu show!; o ponta de lança Jarzinho do Botafogo, na ponta direita e que acabou sendo o artilheiro da Copa de 70! Continuando: no meio de campo, Ronaldinho Gaúcho e Kaká. Paulo Henrique Ganso poderia ser reserva de luxo de Kaká (ou Neimar, ou Fred do Fluminense). Lembro-me de Telê Santana- tendo ao seu dispor um elenco de craques- tentando um lugar adequado para Sócrates que jogava de centroavante, mas não convencia. Então recuou o Doutor para o meio campo. Montou um ataque quase perfeito: Sócrates, Zico, Eder, Serginho e Paulo Isidoro (deveria ser Reinaldo do Atlético Mineiro, no lugar de Serginho). E ainda, apoiando o ataque, os Falcão e Cerezo. Alguém precisa gritar para o Dunga que a Seleção é lugar de craque e o de craque, é na seleção!
Resta agora, contar com a sorte e pedir a Deus para iluminar os pés de Robinho e Nilmar, porque o meio campo claudica nos pés de Kleberson, Elano, Gilberto e Josué. Poderemos sofrer, novamente o outro vexame, tal qual aquele exposto por Lazaroni! Quem não se lembra do Valdo "Enceradeira", na copa da Itália, título bastante apropriado, pois ficava rodopiando no meio campo e não progredia as jogadas para o ataque? Dunga foi driblado com facilidade por Maradona, que, ainda passando por Alemão (do Botafogo) magistralmente, deu um passe com açúcar e com afeto para o Caniggia que marcou o gol que desclassificou a seleção brasileira. Valdo e Dunga eram as estrelas de Lazaroni! Aliás, a chamada "Nova era Dunga", foi um termo criado por Lazaroni!
O teimoso Telê Santana se tivesse ouvido a voz das ruas, teria melhor sucesso! Convocaria, em 1982, Copa na Espanha, o centroavante Reinaldo e o goleiro Raul, do Flamengo. No segundo tempo, contra a Itália, Serginho erra cara-a-cara com o gol, jogada que Reinaldo dificilmente erraria! Todavia, de uma forma ou de outra, Telê foi um vencedor, pois devolveu à história o futebol arte, alegre, que ficou para eternidade. Poderia ser seguido por todos, mas a mediocridade de Dunga não o deixa se pensar como Telê, pois Lazaroni impregnou de cupim a cabeça de Dunga!
Amigos, Nelson Rodrigues, onde estiver, deve estar impaciente e preparando para seus leitores- de outro plano- uma crônica mordaz contra o que está acontecendo com a sua pátria de chuteiras!

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