quinta-feira, 3 de março de 2011


Caetano Veloso


Carta aberta a Caetano Veloso

Por Tadeu Nascimento


Caetano,
Acompanho suas criações, mesmo antes de "Alegria, alegria" que conquistou o 4º lugar, à frente de "Maria carnaval e cinzas" que chegou em 5º, do já famoso Roberto Carlos, no Festival da Record em outubro de 1967. E sua música foi a que mais fez sucesso entre as concorrentes. Mais do que "Roda viva" de Chico, 3º lugar; "Domingo no parque" de Gil, que obteve 2º lugar e "Ponteio" de Edu Lobo, 1º lugar. Todo mundo canta "Caminhando contra o vento/ Sem lenço sem documento..." Tomei conhecimento de sua existência quando ouvi a sua primeira música gravada "Só pra chatear", também de 1967, -antes do festival- na voz de Ronnie Von (que resultou num grande sucesso). Mesmo hoje, poucas pessoas sabem que os versos líricos de "Só pra chatear", "A rosa vermelha é do bem querer/ A rosa vermelha e branca hei de amar até morrer", é de sua autoria. Você foi para mim o John Lennon brasileiro. Lamentavelmente há muito tempo não é mais. Renego o gênio que faz questão de pisar na própria arte. Até suas posições políticas tornaram-se bem diferentes das defendidas por Lennon. Convenhamos, quem criou "Luz do Sol"; "Sampa"; "Desde de que o samba é samba", não pode ser o mesmo quem compôs "Só tenho inveja dos seus orgasmos múltiplos..."(versos da idiota canção "Homem" do álbum Cê), salvo se tiver tido uma crise de inveja das mulheres ou de um egocentrismo exacerbado ou ainda, se passou a se achar um deus, pois não está nem aí para o seu público, aliás, ultimamente só tem feito melodias medíocres, ao estilo Olodum, com a percussão sobrepondo outros instrumentos e para completar, letras de péssimo gosto. E com isso, afronta quem espera meses, ano inteiro, por álbum de qualidade e não um CD com uma "Um tapinha não dói". Seu negócio é criar polêmica, chocar o público. Ora, se você quer dar o troco a alguns críticos, responda-os pelos jornais e/ou TV; porém, não faça seus fãs de idiotas. Vender uma imagem, ou um produto, usando da boa fé das pessoas ...Isto tem nome: estelionato intelectual. Querer gravar uma canção que não é sua, ótimo. Você gravou em tempos idos, a belíssima "Chuvas de Verão" de Fernando Lobo; "Charles Anjo 45" de Jorge Ben, "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos" de Roberto Carlos; o samba enredo "É hoje" (Minha alegria atravessou o mar/ E ancorou na passarela...) dos sambistas Didi e Maestrinho da União da Ilha; e até "Coração materno" de Vicente Celestino que você interpretou lindamente (adjetivo que você usa não raramente) além de outras tantas. Por que então, descer tanto, em termos de qualidade, como o funk "Um tapinha não dói", cara? Certa vez, você disse que gravar Odair José, Fernando Mendes é gritar contra o apartheid social brasileiro. Ora, isso é mera desculpa. Pra você pouco importa se é arte ou não. E nem toda música é arte. Imagine Mozart tocando a ridícula "Florentina" do Tiririca, ou Pavarotti cantando "Pare de tomar a pílula" de Odair José!
Sei que para um simples mortal como eu, é difícil entender um criador, um talentoso artista. Mas como disse Milton Nascimento o artista tem que ir onde o povo está! E não adianta dar chiliques por ter gente questionando as suas criações. Por volta de 1981, você ofendeu Raimundo Fagner. Textualmente você disse: "Fagner é uma merda!" Grosserias à parte, o cantor cearense, a bem da verdade, caiu em qualidade, mas não chegou aos extremos em que você insiste em ficar. E os seus fãs- desde sempre querem o Caetano, lírico ou veemente, mas sensível, não só como letrista, mas como criador de melodias como "Os argonautas"; "London London"; "Terra"; "Podres Poderes"; "Fora de Ordem"; "Meu Bem, meu mal"; "O quereres", "O ciúme" e outras. Houve um tempo que eu tinha todos seus discos. Hoje, depois de ouvir os seus dois últimos CDs, decidi não comprar mais nenhum e ainda faço campanha para ninguém comprar. Desculpe a franqueza, mas é a única maneira que vejo, para você voltar ao estilo de antes.
Caetano, queremos o Caetano de outrora. Não um Caetano que compõe para os pseudos intelectuais que o querem só para eles. Como se eles tivessem exclusividade para entender suas canções. Desafio, pois, quem gosta de últimos trabalhos, mesmos entre os falsos intelectuais, que cante uma música completa dos seus álbuns Cê ou Zie e Zee (que em italiano significa tios e tias- título brega). Ora, boas canções são aquelas que todo mundo canta em reuniões em casa, em barzinhos; debaixo do chuveiro, etc. Decididamente não gosto do Caetano desde milênio. Gosto do outro Caetano. O do século passado.
Mas, cá entre nós, Caetano é Caetano. Ou não.

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