sexta-feira, 11 de novembro de 2011

"Allons enfants de la patrie"

A Marselhesa (Avante, filhos da pátria!)


Por Tadeu Nascimento



Não é exagero afirmar que o hino nacional da França é o mais belo de todos. Embora o Hino Nacional Brasileiro seja muito bonito, o hino francês é de uma beleza única. O dos EUA, por sua vez, tem uma tristeza de marcha fúnebre. A Marselhesa, oficializada como hino quando das comemorações do 1º centenário da Revolução Francesa (1889) é um brado heróico, canção com espírito de esperança, um hino que mexe com os brios de quem a ouve e emociona quem a canta. Como não poderia deixar de ser, a Marselhesa tem muitas histórias em torno de si. Seu autor, Claude Joseph Rouget de Lisle, capitão da artilharia do exército, a compusera em 1792 em Strasburgo para os seus concidadãos. Rouget de Lisle era monarquista, o que quase o levou a guilhotina. Mas antes de tudo era um compositor. A letra que se inicia por chamar os filhos da pátria a lutar contra a tirania; uma melodia de compassos curtos, próprios de das canções militares, porém tem a doçura de uma obra de Mozart. "Allons, enfants de la patrie/ Le jour de glóire est arrivé/ Contre nous de la tyrannie/ L'étandard sanglant est leve" (Avante filhos da pátria/O dia da glória chegou/ Contra nós a tirania/ O estandarte de sangue se levanta". Tem seu ponto máximo no refrão "Aux armes citoyens! Formez vos bataillons! ("Às armas cidadãos! Formem seus batalhões!") A palavra francesa "enfants" vem da mesma raiz latina de infância, infantil, infante. La Marselhaise levava originalmente o nome de "Canto de guerra do Exército do Reno". Reno é uma região da França por onde passa o rio do mesmo nome. O prefeito de Straburgo, Barão Dietriche, pediu a Rouget de Lisle que ele fizesse uma canção de guerra para encorajar as tropas na guerra contra o exército austríaco. O poeta a compôs em apenas uma noite, em 24 de abril de 1792. Meses depois, na noite da queda da Bastilha, a tropa do exército que vinha de Marselha cantava pela primeira vez em Paris o "Canto de guerra do Exército do Reno". No dia seguinte, milhares de parisienses cantavam pelas ruas "Allons enfants de la patrie!.."

A curiosidade maior é por conta da vida do compositor. Rouget de Lisle, filho de um casal de aristocratas, inconscientemente fez a canção mais revolucionária de toda a história mundial. A mãe, Jeanne Madeleine brigava sempre com o filho, acusando-o de traidor, de um dos responsáveis pelo o sangue que estava derramando por toda França. Tudo por ser o autor do hino dos revolucionários, do hino encorajador do povo que destruiu a realeza e nobreza da França! Mal imaginava que a história havia reservado ao seu filho um lugar no ápice do panteão da glória! Que um dia La Marselhaise seria o Hino da França. O mais belo de todos os hinos do planeta! Tchainkovisk e Schumann a tinham como uma obra de grande beleza e qualidade.

Certa vez foi perguntado a um parisiense o que ele fez nos 10 anos que duraram a Revolução Francesa, ele respondeu simplesmente: "Vivi!" É pouco?- pergunto ao leitor. É de se imaginar o quanto aqueles dias foram conturbados! Uma década de incertezas, fome, tiroteios, barricadas, prisões, patíbulos, guilhotinas...Foram 10 anos únicos na história da humanidade, algo inusitado, espetacular, no sentido mais trágico da palavra. Imagine testemunhar o rolar para o cesto as cabeças de Luis XVI, Maria Antonieta, Marat, Danton, Charlotte Corday, Camilo Desmolins, Lavoisier, Robespierre. A ascensão do megalomaníaco Napoleão Bonaparte. Ver a Revolução devorar seus filhos. Tudo dentro de uma só década! E ainda, depois, após outra década, ver Napoleão preso e os seus 530 mil soldados tombarem nos campos de batalha. Se não bastassem viver um dos momentos mais importantes da história universal, romper com os laços de família, com os amigos da aristocracia, Rouget de Lisle foi da glória ao ostracismo. Seu fim de vida foi melancólico, para não dizer miserável. Maltrapilho, ficava nas tabernas, bebendo vinho barato, posto que ficara pobre com a Revolução e depois amaldiçoado pela a monarquia que fora restaurada. Ninguém acreditava- quando, já sexagenário, com seu violino, executava nas madrugadas de boemia a sua obra maior- que aquele pobre diabo era realmente o autor da imortal La Marselhaise, que um dia seria oficializada Hino Nacional da França.

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