Os Carnavais de Rio Verde
(Da série: "Eu era feliz e tinha certeza disso")
Por Tadeu Nascimento
Nada era melhor que passar o carnaval em Rio Verde! Isso, nas décadas de
1960, 1970. No Clube Rioverdense, ou no Clube Campestre. Todos-
tanto em um quanto no outro- foram inesquecíveis. Como diria a moçada de hoje:
o bicho pegava! Não sei se antes da minha geração os carnavais de Rio Verde
eram tão bons quanto aos que me refiro. Por isso, pra mim, inesquecíveis.
Tanto os carnavais quanto os seus carnavalescos. Nos anos sessenta, quando os
dias de momo eram só no Rioverdense, a rapaziada esquentava os tamborins no bar
do Ney, vizinho ao clube e os seus principais foliões eram o então professor
Sherlock Homes da Silva, Kleper Silva (Kepim) Dalton Cunha, Tão Rattes,
Mauricio Toledo, Celso Teixeira Leão, Domingos Tata Moni, Luis Cunha. Todos com
alegria incomum. Na rua, em frente ao clube, na Kombi do Ernesto Pagires
vendia-se confetes, serpentinas, máscaras e lanças perfume. Lembro-me com
saudades de quando meu pais compravam na mesma Kombi, os tubos dourados da
Rhodia e os colocavam nos bolsos de minha calça e eu, depois, garboso, subia as
escadas do clube. Mal sabia qual a graça que tinha em cheirar lança-perfume!
Para um menino, valia esguinchar seu conteúdo nos foliões!
A década seguinte, foi, para mim, a dos melhores carnavais. Alguns ocorreram no
Campestre, outros no Rioverdense. O dublê de odontólogo e professor Tim
Campos (Ricardo Campos Sobrinho)- o maior carnavalesco rioverdense de todos os
tempos- era sempre o rei Momo. O obeso Tim saía, animadíssimo, às ruas, durante
dia, (e com ele uma turma de foliões) vestido de rei Momo e em uma das
suas mãos um penico com cerveja e salsichas (boiando), cantando as
marchas de então (não é mesmo, Maria Astolfina?). Passavam nas casas dos
conhecidos e ofereciam cerveja (do penico, repito) e quase todos bebiam!
"Dona Tília- gritava Tim- é carnaval, Dona Tília! Prova um pouco
da minha cerveja!" E Dona Tília, apesar de diabética, dava uma bebericada
no impoluto penico! Evando Campos então compôs uma marchinha em sua homenagem
que o próprio Tim também passou a cantar e que até hoje está na memória de quem
viveu aqueles dias felizes: "Tim,/ Ôh, Tim,/ Que onda é essa de você
brincar assim?!" No ano seguinte era a principal marchinha que o Tim e
seus camaradinhas cantavam pelas ruas! E toma Cerveja!
Abro aqui um parágrafo (poderia ser um parêntese) pra dizer que o alegre Tim
Campos, passado os quatro dias de reinado de Momo, voltava a ser o responsável
e sério professor de Ciências no Colégio Martins Borges. Em tempo de aulas, a
Sua Magestade dos carnavais subia, infalivelmente, às 6:45 da manhã, a pé- com
um monte de livros e diários de classe sob as axilas- a rua Cel. Vaiano Vaiano,
para ministrar suas aulas.
Voltando: mesmo quando o carnaval era no Campestre, os foliões esquentavam os
tamborins no Bar em frente ao clube Rioverdense e também nas manhãs de domingos
e nas terças-feiras gordas de carnaval no Bar do Hotel Minas Goiás (Manoel de
Melo). No salão lotado, além o folclórico Tim Campos, Tata Moni, Iashide
Matomoto, Jerônimo Carmo de Moraes davam show à parte com seus passes
engraçadíssimos! Blocos de Pierrôs e Colombinas cortavam o salão. Confetes e
serpentinas salpicavam o chão. Nas mesas, garrafas de cervejas da Brahma e da
Antártica, uisques White Horse, Passport e o nacional Theacher's. Zé
Barbeiro, por anos, puxava, no gogó, as históricas marchinhas de momo
executadas pelos integrantes da “Furiosa”, a banda do Neném Minu. No ar, o
inebriante e delicioso cheiro dos já proibidos lanças-perfumes que vinham do
Paraguai. Sem contar os "Cheirinhos da Loló" fabricados em fundo de
quintal! E toma alegria!
Ano seguinte àquele que o Caetano Veloso gravou "Chuva, suor e
cerveja", acho que em 1973, num carnaval no Campestre, a banda
do Neném Minu, a pedidos, executou essa marchinha por dezenas de vezes e a
galera pedia mais ! Contagiante!
Quase não havia brigas. Todos se conheciam e eram amigos. As diferenças políticas eram esquecidas do lado de fora do calendário do Rei Momo. Dezenas de visitantes de Goiânia, Brasília, Uberlândia e outras urbes se vestiam com as cores da alegria e se tornavam foliões nos clubes de Rio Verde. Quantos casais iniciaram seus romances ali, nos cantos e nas penumbras do salão? Quantos primeiros (e outros tantos) beijos ao som da marcha "Máscara Negra" de Zé Keti: "Quanto riso/ Oh, quanta alegria...Vou beijar-te agora/ Não me leve a mal/ Hoje é carnaval!"
Saudades de todos esses personagens e daqueles inesquecíveis carnavais.
Quase não havia brigas. Todos se conheciam e eram amigos. As diferenças políticas eram esquecidas do lado de fora do calendário do Rei Momo. Dezenas de visitantes de Goiânia, Brasília, Uberlândia e outras urbes se vestiam com as cores da alegria e se tornavam foliões nos clubes de Rio Verde. Quantos casais iniciaram seus romances ali, nos cantos e nas penumbras do salão? Quantos primeiros (e outros tantos) beijos ao som da marcha "Máscara Negra" de Zé Keti: "Quanto riso/ Oh, quanta alegria...Vou beijar-te agora/ Não me leve a mal/ Hoje é carnaval!"