Ave, blue jeans!
Por Tadeu Nascimento
Se Jesus estivesse hoje
perambulando por aí (perambulando no melhor dos sentidos), na certa estaria
vestido com uma calça blue jeans e talvez com uma camiseta branca tipo Hering.
Pois, é evidente que ninguém, em pleno século XXI, se vestiria com os trajes do ano zero de nossa
era. Pergunto então, qual seria a roupa que o mestre usaria no ano de 2013,
depois dele próprio? Não dá pra imaginar Jesus de terno e gravata! Por sua
natureza humilde, Jesus usaria uma roupa simples. Possivelmente um blue jeans.
E pensando bem, o jeans é a roupa mais interessante que existe. A mais simples,
a mais democrática, pois tanto o pobre quanto o rico fazem dele a sua segunda
pele. Talvez porque a calça jeans e camiseta branca sejam a expressões maiores
das palavras liberdade e simplicidade.
Num outro
sentido, o binômio jeans e camiseta talvez seja uma espécie de resposta aos
conservadores de terno e gravata que se enclausuram nos escritórios das grandes
cidades, visando grana. Uma espécie de provocação inconsciente. Se existisse o
blue jeans à época da Revolução Francesa, certamente seria o traje- também
inconsciente- dos sans-culottes (revolucionários que auto se denominavam os sem
culotes, pois culotes eram as calças apertadas usadas pelos nobres da corte),
pois encaixaria perfeitamente como roupa de batalha contra a nefasta nobreza.
Uma bandeira pró-igualitarismo. Mas sem o cunho do comunismo. Liberdade por
liberdade.
O sociólogo
norte-americano Daniel Akst escreveu em 2009, no Wall Street Journal, que o
blue jeans é uma profunda contradição de um aspecto da sociedade ocidental,
sobretudo da burguesia: "Como é possível que a burguesia se vista de um
modo que não representa o que ela é?" Mas é justamente, o
contraditório que a juventude busca. Uma rebeldia contra a própria burguesia. É
do próprio veneno que se produz o antídoto. E foi sempre assim. A Revolução
francesa não fora feita pelos burgueses? Pois bem, a calça jeans e
camiseta branca seriam a "personificação" do legado francês
"Liberté, égalité, fraternité". O mesmo Daniel Akst, afirma no mesmo
artigo que "há uma linha direta entre a queda da Bastilha e o blue
jeans". Eis, a grande sacada desse sociólogo!
Fica ainda uma outra
análise sobre essa calça azul com rebites: o de contornar, mais do que qualquer
outra roupa, o corpo da mulher. E até a do homem. A capa do álbum dos Rolling
Stones, lá por volta de 1975, traz um rapaz, talvez Mick Jagger, pois não
aparece o rosto, dentro de um jeans desbotado, bastante apertado, revelando o
volume de suas partes íntimas. Marylin Monroe, em 1946, aparece num painel
publicitário vestindo um blue jeans com o umbigo à mostra, moda que fixaria 50
anos depois. E a moda do blue jeans pegou. E ficou. E eis que se tornou um dos
maiores símbolos do século XX. E continua sendo, no atual século.
Quem nunca teve uma calça
jeans? Quando aqui chegou a famosa calça Lee, foi como uma febre contagiosa! No
início, só playboy filho de barão usava. Mas nas telas de cinema surgiam James Dean e Marlon
Brando lançando moda para o mundo inteiro. Mas eis que chegaram os Beatles.
Pronto, o blue jeans entra para calçada da fama. Desde então foi o sonho de
consumo de toda a minha geração! E o índigo blue virou até versos de músicas: “.../
a velha calça desbotada ou coisa assim... ('Detalhes' de Roberto Carlos)”. Fiquei imensamente
feliz quando minha mãe deu-me uma. E eu a vestia como se eu fosse um beatle, mas
infelizmente roubaram-na no varal. Depois veio a calça Lewis, ainda mais
bonita. Roubaram-na também. Contudo, podem continuar me roubando que não
abandonarei a simpática e revolucionária calça azul com rebites, pois mesmo
hoje, com os meus cabelos gris, continuo usando o bom e universal blue jeans.
Quer ser diferente? Seja
como todo mundo, use jeans!