sexta-feira, 19 de julho de 2013

Cajuzinho rasteiro do cerrado

  Gostosuras de minha infância


Por Tadeu Nascimento



                 De vez em quando a gente cai na armadilha da memória e arranca de lá coisas do fundo baú. Hoje , por exemplo, no café da manhã havia uma bandeija com bolos cortados em quadrados de cor verde. Acho que o verde é devido a anilina. Lembrei-me da Padaria Natal da minha pequena Rio Verde, ainda com 35 mil habitantes. Hoje sua população é quase 6 vezes maior. Na padaria vendia-se o famoso "bolo de 3 cores". De repente me dei conta que muitas coisas boas não existem mais. Assim como o bolo tricolor, não mais se encontram a brevidade e nem o sonho (com pedaço de goiabada; os que existem hoje são com recheio exagerado de doce-de-leite com trocentas mil calorias, e claro, muito  enjoativo). Havia também uma iguaria sem igual: a flor de côco. Evidentemente com côco, mas em lascas, com leite moça. Em Goiânia, uma senhora nascida em uma fazenda perto de Rio Verde , dona Felicidade Guimarães (que nome interessante!), ainda vende essa rara e pequena maravilha que é a flor de côco com leite moça. Sem exagerar é uma felicidade. Seu nome e endereço se encontram no Google. A flor de côco de Dona Felicidade tem sabor de infância. Vale a pena conferir.
                E a saudade de coisas boas não param por aqui. No Bar do Ney na mesma rua, vendia-se sorvetes artesanais, feitos na hora, de creme holandês, de creme de ovos, de ameixa. Todos feitos sob o girar de uma hélice de uma máquina que engrossava o creme. Sorvetes na casquinha ou na taça com colherzinha de alumínio. Comia-se (ou tomava-se, como se dizia) também com Coca-Cola (vaca preta) e guaraná (vaca amarela). Tudo maravilha! Picolés de groselha e os também de 3 cores. No Bar do Ida Proto, na Rua Rui Barbosa e depois na Rua Edmundo Carvalho, fazia-se o sorvete de nome "Delícia" sabor de creme de ovos com abacaxi. O sorvete "Delícia" era o fino do fino!
               No Bar do João Surdo (João Proto de Souza/ Confeitaria Zigue-zague) vendia-se um pudim que nunca comi igual: o famoso- pelo menos em Rio Verde- "Lambe o Dedo": oitava maravilha do mundo!

               Com as frutas aconteceram o mesmo. Na casa do Sr. Carrinho Cunha (Carlos Cunha Sobrinho) havia um "pé de manga Bourbon" cujas frutas tinham grandes manchas pretas na casca e eram uma gostosura só. Hoje não se vê mais mangas Bourbon com pintas... Na casa da Donana, em frente onde hoje é o Tiro de Guerra, haviam jaboticabas graúdas e  extremamentes doces.  As que que existem hoje ficam muito a desejar. Nunca mais degustei mangas e jaboticabas como aquelas. Quantos anos não como cajuzinhos do cerrado, não aqueles de cajueiros de 3 metros, mas refiro-me aos pés de cajuzinhos "rasteiros" de 60 centímetros de altura. Existiam milhares desses cajueirozinhos perto do aeroporto da cidade.
              Mas como tudo que é bom dura pouco, infelizmente o que era doce se acabou. Como disse o escritor João Guimarães Rosa: "a felicidade se acha em  horinhas de descuido!" Deveria, pois, ter-me descuidado mais!
              A gente só é realmente feliz quando menino. Pena que passou.

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