A mulher do vestido azul
Por Tadeu Nascimento
Incomoda-me muito ver alguém chorando. Ontem, em plena praça Tamandaré,
nesse calor canicular de fevereiro, uma mulher de 30 e alguns anos
chorava à sombra da de uma sibipiruna na calçada da praça. Passaria
despercebida, se não fosse pela sua beleza. Gastei alguns minutos- talvez uns
dois ou três- olhando para aquela mulher que parecia ser personagem de um
sonho. Trajava-se com a classe de uma lady. Uma Princesa Diana
na capital do cerrado. Embora com cabelos
negros. Todavia trazia consigo a classe de uma
alteza. O lenço branco enxugava as lágrimas. Lembrei uma
frase de uma sábio que dizia: "Suas lágrimas secam as minhas".
O azul-anil do vestido contrastava com o cinto e os
sapatos brancos. Parecia ter saído de um quadro de Renoir. E eu
atônito- a alguns metros daquela figura meio-anjo meio demônio- fiquei a
imaginar a razão daquelas lágrimas. Morte na família? Fim de uma relação
amorosa? Dor física? Dor de alma? Difícil adivinhar. Uma vez, em outro
lugar da cidade, deparei-me com uma moça chorando a cântaros e de pronto
me preocupei com ela e mais do que depressa, ousei perguntar-lhe:
"Moça, o que aconteceu ? Eu posso ajuda-la em alguma
coisa?" E ela respondeu: "Não... Eu estou...
chorando...mas... é... de... felicidade!"
Voltando a mulher de azul. Queria me ausentar dali. Não é da minha conta, ponderei. Mas os meus pés não se moviam, meus olhos não descolavam daquela belíssima mulher. Os dois ou três minutos pareciam congelados. E no entanto, estava ciente que jamais saberei as causas de suas lágrimas. Queria ousar outra vez, agora com a mulher de azul: perguntar-lhe a razão, oferecer-lhe meu ombro. Mas afinal, o que eu tenho com isso? Cada um que carregue sua cruz! E se ela também estivesse chorando de felicidade?- pensei tentando me libertar do seu fascínio. Será se ela fosse uma mulher qualquer, desprovida de qualquer beleza, de glamour incomum eu ficaria tão encabulado como na tarde de ontem? Será que eu só me preocupo com a estética dos outros? No caso, das outras. E o meu princípio humanista? Onde está minha caridade? Por onde anda meu espírito altruísta?
Por outro lado, se sou eu a chorar em via pública, alguma bela mulher viria ao meu socorro?
O som agudo de uma buzina me devolve à realidade.
Voltando a mulher de azul. Queria me ausentar dali. Não é da minha conta, ponderei. Mas os meus pés não se moviam, meus olhos não descolavam daquela belíssima mulher. Os dois ou três minutos pareciam congelados. E no entanto, estava ciente que jamais saberei as causas de suas lágrimas. Queria ousar outra vez, agora com a mulher de azul: perguntar-lhe a razão, oferecer-lhe meu ombro. Mas afinal, o que eu tenho com isso? Cada um que carregue sua cruz! E se ela também estivesse chorando de felicidade?- pensei tentando me libertar do seu fascínio. Será se ela fosse uma mulher qualquer, desprovida de qualquer beleza, de glamour incomum eu ficaria tão encabulado como na tarde de ontem? Será que eu só me preocupo com a estética dos outros? No caso, das outras. E o meu princípio humanista? Onde está minha caridade? Por onde anda meu espírito altruísta?
Por outro lado, se sou eu a chorar em via pública, alguma bela mulher viria ao meu socorro?
O som agudo de uma buzina me devolve à realidade.
E a vida continua...