quarta-feira, 16 de setembro de 2009














Chico versus Caetano

Por Tadeu Nascimento

O brasileiro adora comparações. Nasce, cresce e morre comparando. Fulano é melhor que Cicrano, Beltrano é dez vezes melhor que Fulano. Outro dia, um cronista escreveu neste DM que “Caetano é dez vezes melhor que o Chico”. Na verdade o escriba está em busca de polêmica. Baseado em que, tal afirmativa? O jornalista tem medidor de artista, é? Em que pese o respeito que tenho pelo cronista, acho irrelevante tal paralelo. Desde que eu era menino pequeno lá no chão das Abóboras (Abóboras com “A” maiúsculo, caro revisor) ouço esse tipo de conversa: Pelé é melhor que Garrincha (mas Garrincha foi o artilheiro e o melhor jogador da Copa de 1962 no Chile); Cassius Clay é dez vezes melhor que Joe Frazier (só que Clay não leva vantagem sobre Frazier: perdeu uma beijando a lona e ganhou outra por pontos); John Lennon é melhor compositor que Paul McCartney; (Lennon morreu e Paul ainda pode compor maravilhas). Cada um com seu estilo; cada um na sua época. Pergunta-se: quando Chico e Caetano fizeram o famoso show no teatro Castro Alves, em Salvador, (1975) deu empate, foi? Ou Caetano ganhou nos pênaltis? Então o programa Chico & Caetano da Globo por acaso foi resolvido no tapetão ou foi tudo marmelada? Hoje, menino de cabelos grisalhos aqui em Goiânia continuo achando inócuas e infrutíferas tais comparações. De que adiantou a polêmica sobre quem era o melhor: Ayrton Senna ou Nelson Piquet? Ambos foram tri campeões da Fórmula 1 e fim. Daqui a cem anos- se ainda existir F1- pouco importará quem foi o melhor, até porque ambos venceram igualmente. Quase ninguém sabe quem foi Juan Manuel Fangio, 5 vezes campeão da F1 na década de 50.

Um parêntese. Desde o tempo em que Jesus a falava aos seus discípulos “que os últimos serão os primeiros” deveríamos ter ouvido o mestre e nos tornado mais modestos. Na verdade, Ele queria nos dizer para que sejamos os do meio, medianos- porque os do meio sempre serão os do meio!- Portanto sejamos os do meio. Que mania de querer ser sempre o melhor!? Poxa, quem vai torcer para o mais-ou-menos?

O tempo passou, mas até hoje... Zico ou Sócrates? Luciano Pavarotti ou Plácido Domingo? Maradona ou Pelé? Os esquerdistas: Lula ou Brizola? Os direitistas: Collor ou Maluf? Os da pedra lascada: Emilinha ou Marlene? Os alienados: Xuxa ou Ana Maria Braga (Deus me livre!). Os tantãns: Faustão ou Gugu? O tempo passou, as polêmicas continuam e- no entanto- nada muda na vida de seu ninguém.

Voltemos ao Caetano e ao Chico. Ambos gênios. Todavia querer enaltecer um em detrimento do outro é forçar demais. Não faria, não o farei. Apenas acredito que a modéstia de Chico choca em cheio com a vaidade de Caetano. O baiano acha que reinventou a roda ao descobrir que a polêmica é o meio e a vaidade, o fim. Quem não se lembra de Caetano no Festival Abertura da Globo, 1975, vestindo um bustiê (ninguém entendeu: com os seios tão pequenininhos...). Agora, um pouco de franqueza: o baiano tem feito discos (CDs) horríveis. O seu álbum Cê é de uma tolice sem igual: as melodias, zero. As letras medíocres feitas com intenção clara de gerar polêmicas, como na composição “Homem”: “Eu não tenho inveja da sua lactação e sim de seus orgasmos múltiplos” (êpa! o que quê é isto?! o cara mudou de sexo?!) é de lascar! Em outras gravações: As banais “Leãozinho”, “A luz de Tieta” com seu refrão “Êta, êta, êta é a luz de Tieta (rima que chega ao cúmulo da imbecilidade! Isto não se vê na obra do Chico); “Haiti” é quase um hap (sem melodia, quase monocórdia) e a terrível “Um tapinha não dói” -de um descompositor desconhecido- que é o fim do fim do caos. Aliás, ultimamente, Caetano só faz sucesso com composições dos outros: “Sozinho” do Peninha e “Você não me ensinou a te esquecer” de Fernando Mendes. Aliás, estas músicas são tudo ao contrário do novo e ainda carregadas de tintas da breguisse. Pra quem acha que Chico só faz letras com qualidade (o cronista disse que Chico é medíocre musicalmente) é bom lembrar que ele ganhou o Festival da Record com a “Banda”, de autoria só dele. – coisa que Caetano nunca conseguiu, pelo menos em festival de renome como o da Record. “Carolina” é só dele; assim como são as letras e músicas de “Quem te viu, quem te vê”; “Olê, Olá”; “Roda Viva”; “Noite dos mascarados”; “Folhetim” todas de ótima musicalidade, além de outras centenas. Daqui a cem anos- podem ter certeza- que a “Banda” e “Folhetim” serão tocadas em quaisquer FM da vida- gravadas por qualquer pop star- ao contrário de Haiti, “Tieta” e “Leãozinho” que já não toca nem em Santo Amaro da Purificação, cidade de Caê. Mas tem gente que não vive sem polemizar. Tal qual Caetano. Viver de encrenca (alimentar a vaidade). Ser rebelde. Negar a genialidade do outro (apesar de Caetano babar pelo Chico). Por acaso gostar do Chico é ser de esquerda? Tenho um conhecido canhoto e comunista que adora Milionário e Zé Rico e conheço milhares direitistas que amam Bruno e Marrone. E daí? Por que o cronista underground não os compara? Underground é aquele que acha bonito ser feio. Melhor então polemizar, ser rebelde, ser do contra, usar brinquinhos, se tatuar, parecer-se underground. Em suma: chocar a sociedade. O aluno aprendeu direitinho com Caetano. Quando o sábio aponta a lua o míope enxerga o dedo. Caro leitor, se você fosse professor (mesmo professor de música) você discutiria com seus alunos a obra de Chico ou a do Caetano?

Numa entrevista com o Bussunda, do Casseta e Planeta, o repórter perguntou:

-Vasco ou Flamengo?

Respondeu o humorista: Flamengo.

-Senna ou Piquet?

-Sou hétero.

-Uísque ou cerveja?

-Cerveja.

-Romário ou Ronaldo (Fenômeno)?

-Já disse, sou hétero!

Também sou como o Bussunda (aliás, me simpatizo muito com este nome!), não me coloquem -para escolher- entre o Dunga e Arnold Schwarzenegger para governador de Goiasfórnia (onde tem cada figura...). Sou hétero de nascença e de morrença. Nesta e nas outras encarnações. Amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário