sexta-feira, 8 de janeiro de 2010



A Revolução Francesa



A beleza histórica da Revolução Francesa


Por Tadeu Nascimento

Em 2001, o escritor e então conselheiro do TCE-GO Eurico Barbosa presenteou-me com a coleção “Os Grandes Processos da História”, 10 volumes, do francês Henri Robert. Trata-se de uma obra voltada quase que totalmente para a Revolução Francesa. Uma ótima sugestão para quem tem paixão por História. É interessante, não só pelos detalhes daqueles efervescentes dias, como também a herança de muitas das palavras criadas durante a Revolução, tais como assembléia, comitê, convenção, comício etc. Além de esquerdista e direitista, qualificações que vieram da “Convenção”, onde julgavam os traidores da pátria. Sentar-se à direita da mesa diretora era se manifestar favoráveis a nobreza, mais precisamente à corte de Luis XVI e à esquerda, os defensores do povo. O termo “descamisados” usado por Fernando Collor na sua campanha a presidente não passa de um plágio fajuto do termo “sans-culottes” (sem calções- roupas próprias para o frio), do povo francês. O termo “pés descalços” usado por Evita Peron, na década de 50, também é plágio do mesmo termo sans-culottes, gesto que a tornou a mulher mais famosa da história da Argentina. Mais ainda interessantes foram os detalhes que ocorreram naqueles 10 anos da Revolução.

As causas da Revolução Francesa: primeiramente a construção do Palácio de Versalles por Luis XIV que durou 40 anos que consumiu os poucos recursos dos franceses através de impostos escorchantes. Depois, A Guerra dos 7 anos com Inglaterra e por último, o envio e manutenção de tropas francesas comandadas por Lafayette na Guerra da Independência dos Estados Unidos da América contra os ingleses. Não vou aqui descrever fatos mais do que sabidos. Tratarei aqui de detalhes e/ou curiosidades extraídas desta e de outras obras que quase todos os historiadores deixaram de lado.

A esconjurada Maria Antonieta (filha de Maria Tereza da Áustria) ainda criança franzina se tornou-se rainha aos 16 anos, caiu em desgraça por demorar dar um filho a Luiz Capeto (Luis XVI), que tinha fimose, o que impedia a conjunção carnal. A consumação só foi possível depois que um médico austríaco M. Lassone cortou-lhe “os freios”. Mas já era tarde, as cassandras do poder já infernizaram a vida de Maria Antonieta. Isto está em “Le Cabinet Secret de L’Historie” de Dr. Cabanés. A versão popular de que ela teria dito: “Marido, o que as pessoas do povo tanto quer? E o rei respondeu: “Querem pão, mulher!” E a rainha: “Então, dê-lhes pão!” E o rei: “Mas não tem pão, Maria!”e a rainha: “Ah, que eles comam brioches!” Trata-se apenas de uma lenda; uma acusação vil a quem não tinha culpa da miséria que o povo vivia naquele histórico ano de 1789.

Quase todas as sessões da Assembléia Nacional, o revolucionário Marat (Jean-Paul Marat), médico franco-suíço que se revelou um grande jornalista com seu jornal L’Ami du Peuple (O Amigo do Povo) era exposto a julgamento e se condenado, a pena seria capital e para o dia seguinte, ou seja a execução na guilhotina (instrumento inventado, pasmem, por um médico, Dr. Guilhotin). Acabava que, quem o acusava era quem parava no patíbulo, nas mãos do carrasco. Por força do destino, Marat foi assassinado por uma mulher que acreditava que o revolucionário era o culpado de tudo. Chamava-se Charlotte Corday. Marat estava se lavando em uma banheira de madeira. O jornalista precisa se banhar duas vezes ao dia em produtos químicos para se curar das feridas adquiridas nas ruas subterrâneas de Paris quando fugia da polícia do rei. Charlote pede para falar com revolucionário pois viera fazer uma denúncia. Marat autorizou sua entrada no quarto. Ela então pediu para lhe falar junto aos ouvidos, para que ninguém os ouvisse. Inocente, Marat permitiu que se aproximasse. Quando ela chegou perto, cravou-lhe um punhal no coração. Charlotte Corday logo depois foi decapitada. Marat, grande debatedor, atraia todas acusações para si, o que tirava do foco de acusações os deputados líderes Danton, Demolins, Robespierre. Mas com a sua morte todos as lideranças perderam suas cabeças. Era a Revolução engolindo os próprios filhos.

La Marseillaise. Composta pelo capitão Claude Rouget de Lisle inicialmente com o nome de Canto de Guerra para o Exército do Reno que enaltecia a Revolução. A canção fez tanto sucesso, pois deu brios à tropa que soou, emocionou. Espalharam então muitas cópias que acabaram por chegar a Marselha. Dali os soldados marcharam cantando essa canção poderosa e a França fez coro e o povo, cantando, invadiu o palácio das Tulherias. Logo a canção passou a se chamar “A Marselhesa” e se tornou o hino nacional francês em 1795. Ironicamente Rouget de Lisle não era partidário da Revolução, pelo contrário, era fiel à coroa. Sua mãe o criticou duramente por sua canção ter sido estímulo à Revolução. Foi preso e só não perdeu a cabeça porque Robespierre a perdeu antes em 09 Termidor, ano III (27 de junho de 1794). Rouget morreu na miséria em 1836, com 76 anos. Quando ele dizia que era o autor de “A Marselhesa” riam na sua cara. O leitor que nunca ouviu “A Marselhesa”, sugiro que a ouça na voz de Edith Piaf. Vale à pena.

Danton, o deputado, o grande tribuno, o titã de aço- como descreve Henri Robert- quando acusado de traidor, no interrogatório perguntaram-lhe a sua idade:

-Trinta e três anos, a idade do sans-culotte Jesus Cristo, a idade crítica para os patriotas!

-Nome e endereço!- cobrou o inquisidor.

-Chamam-me Danton. Revolucionário, representante do povo. Minha residência? Dentro em breve, o nada! Depois o Panteão da História!

Condenado a morte, por tentar restabelecer a monarquia, o que não era verdade, no patíbulo, minutos antes de ser executado, juntamente com Camilo Demolins e Heraut de Séchelles. Danton, dono de uma cabeça imensa, cabeça de leão, com uma voz poderosíssima que se fazia ouvir por três quadras, quis abraçar Heraut de Séchelles, que devia ir antes dele. O carrasco impediu-o. Danton então, esbravejou:

-Imbecil! Impedirás que as nossas cabeças se beijem no cesto?

A Revolução Francesa foi um grande salto da humanidade na sua própria evolução.

O historiador inglês Eric Hobsbawm em sua obra “Ecos da Marselhesa” defende que felizmente a Revolução Francesa ainda está viva, pois a Liberdade, Igualdade e Fraternidade e os valores da razão e do Iluminismo são mais necessários do que nunca, na medida em que o irracionalismo, a região fundamentalista, a barbárie, estão mais uma vez avançando sobre nós.

Ao amigo Eurico Barbosa, minha gratidão.

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