quinta-feira, 11 de março de 2010




Butantan city



Por Tadeu Nascimento



O fato ocorreu na década de 90 numa cidade perto de Goiânia, dias antes das eleições municipais. Este cronista, querendo preservar a sua paz, se reservou no direito de dar nomes fictícios à cidade e aos personagens em questão e, claro, com a sua visão de cronista, carregou a história com um pouco de tintas de exagero e de humor:

Albatênio Pedroso, político obcecado pelo poder, fazia qualquer falcatrua para chegar à prefeitura de Brejo City. Com o lema “Vote no Albatênio, o candidato do 3º milênio”, acreditava que arrumaria sua a vida para sempre, se ganhasse a eleição. Depois de consumir todas as idéias de passar a perna nos adversários, falou para o seu puxa-saco imediato:
- Seu Raimundinho Braz, tenho uma tarefa que lhe cabe muito bem! Acreditando na sua maldade de cobra surucucu, quero que o senhor me dê um tiro caprichado neste peito cheio de bem querer! E não erre a pontaria porque senão, eu que lhe darei uns tiros de garrucha de dois canos, nas suas partes pudicas!

- Mas pra que isto, seu Batênio? Se eu der um tiro no senhor, o senhor bate com as dez, eu perco o emprego e ainda pego uma cana arretada!

- Deixe de ser besta homem! Por acaso eu tenho cara de anta? ‘Cê acha que eu sou seu irmão? Isto é pra jogar a culpa no Joaquim Coró! Aí o povo pula para o meu lado! De dó de mim, e de raiva do Joaquim Coró! É agora ou nunca! Senão ele ganha a eleição!

- Mas o povo não vota em morto, seu Batênio!

- Mas tu és uma besta mesmo! Eu não vou morrer! Tá vendo isto? É um colete à prova de balas! Prega fogo, porque aqui é macho de muita coragem!

- Então segura, que lá vai chumbo!

Albatênio ficou mais sapecado que porco em sábado de aleluia!

Brejo City acordou atônita: “Tentaram matar o Albatênio!”, “Dizem que foi a mando do Joaquim Coró!” “Coitado do Albatênio!”, “Nossa Senhora da Aparecida protega Albatênio!,” “Missa para o Albatênio!”, “Existe uma romaria na porta da casa de Albatênio!”. Estas frases saiam a cada minuto da boca do povão, que- como sempre- vota na base da emoção. Enquanto isto, seu Raimundinho Braz se encarregou de convocar a mídia, e com isso, dava entrevista na rádio local, lia boletim médico (que ele mesmo subscrevia) de hora em hora, dizendo que a vítima estava se recuperando e que Deus desviou a bala endereçada para o coração de Albatênio, apesar da maldade dos adversários, marcou missa- pró recuperação do moribundo- de hora em hora e ainda convocou as meninas de vida fácil para chorar na porta casa da vítima.

Uma semana depois, a pesquisa apontava Albatênio como futuro prefeito da cidade. Joaquim Coró, vendo sua vitória cada vez mais longe, partiu para o contra ataque: mandou seqüestrar a própria mulher e também a sogra pra se livrar do entulho, deixando ameaça em bilhete, dizendo que se o candidato Joaquim Coró ganhasse a eleição, só devolveriam- por castigo- a sogra!

Um mês depois das eleições, o vitorioso Coró dizia para Coró:

- Quem mexe com cobra venenosa tem que andar com soro antiofídico no bolso! E eu não sou besta! Agora, é só mandar fazer o terno, embelezar a primeira dama, arrumar uma secretária cheia de curvas e protuberâncias, internar a minha sogra num hospício- pois ela está com a mania de dizer que eu sou sequestrador de sogra!- por conta da prefeitura, claro; nomear seu Raimundinho Braz pra secretário e passar a mão na chave do cofre da tesouraria! Não é à toa que meu lema é “Vote no mió, Vote no Joaquim Coró!”

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