sexta-feira, 9 de abril de 2010

Av. Universitária


Mulheres das sete e vinte

Por Tadeu Nascimento

A princípio pensei que era apenas uma coincidência ver tantas numa pequena fração da manhã. São como uma revoada de pássaros, pensei. Mas, com o seguir dos dias, confirmei que a "coincidência" se repetia (se repete) em dias de feira: de segunda a sexta. Acredito numa armação por parte das mulheres bonitas (só as bonitas; as feias não se entendem nem abaixo de vara de marmelo!). Existe sim, um acordo- entre elas- tácito, inconsciente: elas acordam por volta das seis e meia da manhã. Gastam meia hora entre o espreguiçar, o escolher da roupa, o escovar dos dentes, o pentear dos cabelos. Porque elas tem um encontro às sete e vinte, com seus afazeres, em qualquer lugar no Setor Oeste ou na Praça Cívica ou ainda no setor Universitário. Vinicius de Moraes tinha razão quando disse: "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental!" Sem se conhecerem, umas passam pelas outras, descortinando a manhã. Umas, com passos rápidos, outras se exibindo para os homens que com elas se cruzam, outras que se deixam levar pelo fluxo do trânsito. É impressionante o número de mulheres, cuja beleza eleva o astral do macho, relevando à insignificância- por alguns minutos- a neurose da labuta em busca do pão de cada dia. Trata-se de belezas naturais, frescas, limpas, imaculadas. Nada dos excessos que carregam as mulheres que saem à noite, muitas delas cansadas pelo que se passaram no decorrer do dia- da perseguição do chefe da seção à neurose do patrão além do caos do trânsito- revelam- antes de suas belas roupas- intenções outras que estão longe da naturalidade que se expõem nas primeiras horas da manhã, quando vão ao trabalho, à universidade.

É preciso atenção diante do volante para não causar grandes estragos na natureza, diante de tantas mulheres de siluetas esculpidas por Deus. Quem duvidar, é só fazer o meu trajeto: comece pela Praça Tamandaré, mais ou menos às sete da manhã. Devagar (mais uma vez) para não agredir o meio ambiente, pois ali é passagem de fêmeas, no auge das suas juventudes, atravessando a parte de cima da praça. Devagar porque ali está prova cabal que Deus existe, pois Ele lhe deu dois olhos e uma libido para apreciar o quanto a natureza é generosa! Devagar para ver o quanto a cidade é repleta de belas mulheres!

Umas, cruzam a praça em busca do desjejum no Biscoitos Pereira, outras já abastecidas com café da manhã domésticos, outras ainda se debatendo contra a vontade de comer para se continuarem esguias e belas. Sem contar as que fazem o sentido contrário com a mesma disposição. Quase todas direcionadas para centenas de escritórios, consultórios, hotéis, além das instituições bancárias do Setor Oeste. Segue o leitor pela Assis Chateaubriand, passando pelo Palácio da Justiça e vai concordar que não é exagero: vale a pena levantar um pouco mais cedo! É como se acordar na roça para ver o amanhecer com a passarada cantando, repletas de andorinhas e bem-te-vis! Seguindo a rota que faço todos os dias para o trabalho, chega-se à Avenida Universitária. Eis, a apoteose: na casa dos vinte minutos depois das sete, uma manada- assim como nas Savanas de Serengeti no Quênia, África- de seres da melhor espécie: de calça jeans e mini blusas mostrando os umbigos; com tatuagens, sem tatuagens, de mini saias, umas menos comportadas, outras mais ousadas no vestir (existe diferença!); de cabelos soltos como é solta a juventude, de rabos de cavalo ou de madeixas rebeldes. Às vezes me convenço que as revoadas não são de pássaros; mas de anjos que estão ali se preparando, se transformando em enfermeiras, médicas, odontólogas, advogadas, jornalistas, psicólogas, engenheiras, arquitetas que vem ao mundo para ajudar os homens na travessia por esta vida! Passam com os olhares firmes no futuro, com bolsas forçando um ombro, umas vestidas com jaleco e estetoscópios pendurados nos pescoços, outras com o peso das leis dos Vade Mecum, ou dos "lap top" e até aquelas de andado leve, carregam no entanto, um monte de sonhos. De longe, o cronista fica a a pintar a tela que seus olhos retratam ao mesmo tempo que seu neurônios filosofam, o quanto é bela a juventude !
Lamentavelmente este ritual não existe na volta para casa. Elas se dispersam. São lutadoras como Joana D'Arc: umas fazem horas extras, outras se sacrificam nos bancos das faculdades, nas compras da semana nos supermercados. A maioria, cançada, ainda vai preparar no fogo uma comidinha antes de cair na cama e há aquelas que vão banir o estresse numa mesa de um boteco. Para recomeçar na manhã seguinte. Deus existe!

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