quinta-feira, 19 de agosto de 2010


O clipe censurado de Michael Jackson

Por Tadeu Nascimento


A princípio não esperava grande coisa do email que recebi que leva o nome de "O clipe censurado de Michael Jackson". Os dias se passaram e o email ficou esquecido no envelope eletrônico. Resolvi, esta semana, abri-lo, sem pretensão alguma. Abrir por abrir. Para minha surpresa, trata-se de um belo clipe que recomendo ao leitor. Aliás, digno de nota dez. Para vê-lo, basta entrar no www.youtube.com e buscar Earth Song Michael Jackson, ou ainda pedir- via email- a este cronista. Trata-se de um clipe que denuncia o quanto o ser humano é imbecil por ser ávido por dinheiro e com isso, acaba por destruir florestas, fazer guerra e exterminar animais. Tudo com um único objetivo: grana. Filmado na floresta Amazônica, New York, Croácia e Tanzânia, o clipe é de muito bom gosto- e politicamente correto- e traz uma música belíssima, com uma letra dramática e interessante (legenda em português) que empresta seu título ao vídeo: Earth Song (Canção da Terra). Acredito ser desconhecido do grande público- inclusive do americano- pois o clipe ficou escondido por muitos anos. Claro, o governo Bush impediu a publicação do vídeo filmado em1996, pois chocaria o mundo como tardiamente me chocou. Se o clipe viesse ao público, à época, os EUA não teriam como negar a assinatura do Protocolo de Kioto em 2001. Justificou Bush, que a implantação das metas do protocolo prejudicaria a economia do país. Vale ressaltar que a Esso (ou ExxoMobil, como é conhecida nos EUA) foi a companhia que mais doou dinheiro (1,2 milhões de dólares) para campanha de George W. Bush para presidente e é a maior empresa dos EUA e se opõe a qualquer ação governamental que vise mudança climática, limpeza do ar ou investimento em energia limpa e ainda financia críticos contrários a ecologia. A música e por conseguinte o clipe, não tornaram sucesso, por força de interesses claramente imorais.
O clipe tem seu início com a floresta amazônica, onde se vê um tucano, depois alguns macacos e em seguida, uma patrola com sua lâmina que vai derrubando impiedosamente árvores como jequitibás, mognos e outras árvores seculares. Muda-se a cena: uma ex-floresta com sobras de arvores com sinais claros de moto-serra, fumaça e carvão que restaram da selva queimada. É quando surgem as primeiras notas de piano e em seguida, Michael Jackson aparece com sua voz inesquecível. Cena seguinte: alguns indígenas da amazônia com feições desoladoras pelo fato da floresta ter sido arrasada pelo "branco civilizado". Este cronista pergunta: quem é o selvagem, cara pálida? Os cortes de filmagem são como punhaladas na humanidade! A seguir, um elefante em estado de decomposição, sem- claro- os dentes de marfim e em seguida, negros africanos da tribo Masai, da Tanzânia- estampam suas grandes tristezas nos rostos (e corpos) esqueléticos- diante dos restos do grande mamífero. Outra cena: um pai em busca do filho e o encontra em outra cena, morto- em meio a tanques de guerra e bombardeios na Croácia. Neste momento a música chega ao cume, com seu refrão perguntando o que fizemos com o nosso planeta. Dramáticas as cenas dos índios, dos negros Masai, dos croatas e também de Michael Jackson- todos em cenas distintas- de joelhos, enfiando as mãos na terra pedindo desesperadamente clemência a mãe natureza, pela imbecilidade do ser humano. As filmagens dos Masai foram feitas em seus próprios vilarejos e enquanto filmavam, um elefante foi morto por caçadores, a milhas do local de gravação. Os indígenas do vídeo são os nativos da região e não atores profissionais. Uma grande parte da floresta vista nesse clipe, não mais existe. Foi destruída uma semana depois das filmagens. Onde havia floresta, hoje é uma imensa área de capim para engorda de gado.
A visão humanista e contestadora de M. Jackson, ainda hoje, quatorze anos depois, bate de frente com o mundo que não mudou, ou se mudou, é quase imperceptível. O grande artista se revela eterno diante das próprias indignações: John Lennon quando da sua campanha pela paz, se guardou por uma semana com Yoko Ono, nus, por uma semana, em um apartamento em New York, justamente para chamar atenção do mundo para que acabasse com as guerras, no caso, a do Viet-Nam. Falar em Lennon é lembrar-se dele em sua nobre campanha: "Give peace a chance" (Dê uma chance à paz).
Como os homens dependentes de lucro são pobres de espírito! E o pior, se acham espertos: deixarão aos seus descendentes muito dinheiro e um planeta destruído!
Caro leitor, vale à pena assistir.

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