quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Palmeiras de 45 anos da Praça Major Frederico Jayme (Rio Verde - GO)


Por que me ufano de Rio Verde


Por Tadeu Nascimento



No final do século dezenove, precisamente em 1900, o conde Afonso Celso, filho do Visconde de Ouro Preto, publicou a obra "Porque me ufano do meu país". Como visto, o verbete ufano é pouco conhecido e significa orgulhar-se de alguém ou de alguma coisa. Celso, exalta as riquezas naturais do Brasil a grandeza do seu povo "sui generes" pela sua miscigenação e enaltece os personagens da época, como Pedro II, Princesa Isabel, José do Patrocínio, os irmãos negros André Rebouças (o primeiro negro brasileiro, a concluir um curso superior, tornando-se engenheiro, além de inventor e abolicionista. Rebouças, o mesmo que empresta o seu sobrenome aos viadutos das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo) e Antônio e José Rebouças - também engenheiros-, entre outros vultos da pátria amada.
Ufano-me de Rio Verde não só pelas suas riquezas naturais e agropastoris, mas principalmente, por seus muitos filhos ilustres nascidos ou adotados (por terem bebido e gostado de sua água). Dizia o meu velho pai, prof. Clóvis: "Pai não é aquele que fez, mas aquele que cria!" Assim, me orgulho de minha terra por ter em seu berço homens "sui generes" da envergadura de Pedro Ludovico nascido na cidade de Goiás, mas foi pra Rio Verde exercitar a medicina e e fazer política que o levou à glória de triunfar-se como estadista. Em Rio Verde, se casou e deu à terra vários filhos, entre eles, o nobre engenheiro e governador Mauro Borges. Pai e filho que tiraram o Estado da visão míope do coronelismo de barranco, por décadas dominantes. Pedro, expoente de um dos fatos mais importantes da história de Goiás e do Brasil, a Revolução de 30 e fundador de Goiânia. Mauro Borges, o primeiro mandatário do estado que fez um governo planejado: criou a Secretária de Planejamento, a Iquego, a Metago e outras tantas empresas estatais.
Rio Verde é também de Jerônimo Coimbra Bueno, filho nobre de Rio Verde, foi também um notável governante que urbanizou Goiânia com a criação dos setores Coimbra, Bueno e outros. Deixou uma fundação com o seu nome, mas que infelizmente, não foi valorizada pelos governos posteriores e acabou por encerrar suas portas.
Rio Verde do patriarca meia-pontene Major Frederico Gonzaga Jayme (irmão do senador Luis Gonzaga Jayme), intendente municipal, rábula, médico e dentista amador provedor de uma prole de mais de 100 filhos com suas inúmeras "esposas".
Rio Verde do revolucionário de 30, Oscar Campos, preso com Pedro Ludovico.
Rio Verde de Paulo Campos, de César da Cunha Bastos, de Sebastião Arantes, homens de compreensão universal que dispensam comentários.
Rio Verde do folclórico/humanista ex-prefeito por 3 vezes, Eurico Veloso do Carmo (Nenzinho Veloso).
Rio Verde que adotou os médicos o americano Dr. (Donald) Gordon, criador do Hospital Evangélico um dos maiores- se não o maior- do Centro Oeste; os notáveis médicos Wilson Mendonça, Alcyr Mendonça; o juiz Paranaíba Piratininga Santana, nascido em Catalão, filho do grande goiano, o intrépido Moisés Santana (o único goiano que participou da Guerra de Canudos (4ª expedição), segundo o historiador Humberto Crispim Borges), pai do meu amigo, o juiz aposentado, Moisés Santana Neto, também filho ilustre do meu chão.
Rio Verde do médico, coronel e meu amigo Dr. Walter de Castro, (graças ao Criador, cheio de vida aos 90 anos) fundador do Hospital Santa Maria em Goiânia e um dos antigos donos do histórico Hospital Santa Terezinha da minha cidade; dos primos também excelentes médicos, Edsel Emerich e Júlio Emerich.
Rio Verde de Gumercindo Ferreira, ex-intendente municipal, comerciante de sucesso, boêmio, femeeiro, frequentador do Cassino da Urca no Rio de Janeiro e que, segundo a lenda, teve um romance com Carmen Miranda. Morreu pobre.
Rio Verde dos saudosos amigos professores Ricardo Campos Sobrinho (Tim), Chafick Antônio e Olga Nascimento. Abro um parênteses para relembrar Ricardo Campos Sobrinho, o professor Tim; não bastasse ser um homem extremamente gentil, educado e culto foi o maior carnavalesco e boêmio da cidade. Com seu corpo redondo, vestia-se por 4 dias, de Rei Momo, bebia cerveja em um penico (impoluto, claro) e no primeiro dia , após a festa de momo,, às 15 pras 7, lá ia o prof. Tim, que nunca faltou ao trabalho, subir a Coronel Vaiano para ministrar suas aulas de Ciências no Colégio Martins Borges.
Rio Verde do professor de Português, Sherlock Holmes da Silva (graças a Deus, jorrando saúde!), ex-zagueiro que jogou no Cruzeiro Sport Clube de Belo Horizonte: craque nas duas profissões.
Rio Verde dos grandes carnavais com Tim, Sherlock, Jerônimo Carmo Moraes, Iachid Matomoto, Domingos "Tata" Moni, Ênio e Tão Rattes.
Rio Verde de homens cultos da estirpe de João Ford, de João Proto de Sousa (o inesquecível João Surdo da confeitaria Zig-Zag), do ambidestro e inteligentíssimo Abel Pereira de Castro com suas cabeleira e barba brancas; de Olinto Pereira de Castro, um homem à frente do seu tempo, empreendedor que criou várias empresas e gerou centenas de empregos e cujos filhos investiram positivamente na cidade com lojas de livros, de automóveis, hospital e cinema.
Rio Verde de Rosulino Campos- cuja prole rendeu grandes educadores- que fazia aniversário no primeiro dia do ano e que se comemorava- durante décadas- após a última nota musical do Reveillon, com o sol inaugurando a manhã de um Feliz ano Novo- na sua residência, com muita cerveja com tira-gosto e café com pão de queijo!
Rio Verde de Jerônimo Martins e dos irmãos Orcalino e Evangelino Guimarães, de Nestor Fonseca que dedicaram suas existências à comunidade.
Rio Verde dos escritores Onaldo Campos da obra "Rio Verde histórico" e Oscar Cunha Neto da "Rio Verde e apontamentos para História", trabalhos importantíssimos para a preservação da memória histórica da cidade e de seu povo. Daqui a séculos, as obras de Onaldo e Oscar serão bases de pesquisas de mestrados e doutorados!
Rio Verde das Abóboras, título honrado devido ao fato de ter sido entreposto de abastecimento na Guerra do Paraguai, onde havia, óbvio, abóboras nativas que serviam de referência, para abastecimento das tropas, comprovado pelos documentos de Visconde Taunay;
Rio Verde da Marcha para Oeste de Getúlio Vargas. À época, Rio Verde recebeu como hóspede, por 2 vezes, o representante de Vargas, o ex-revolucionário de 1930 e o futuro ex-governador-interventor de São Paulo, João Alberto Lins de Barros.
Rio Verde do Córrego do Sapo, da Poço da Matinha, da Praça Major Frederico Jayme com suas araras cortando céu entre as longas palmeiras plantadas (e cuidadas para se tornarem frondosas), há mais de 45 anos pelo funcionário da prefeitura, o italiano Palastrino, na administração de Paulo Campos. Rioverdenses, vocês se lembram do Palastrino?
Rio Verde, da minha infância, da minha juventude e que me dará o último descanso.
No meu caso, caro leitor, a máxima "eu era feliz e não sabia" não procede, pois eu era feliz e tinha plena consciência disso.

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