Os três momentos mais importantes da História de Goiás
Por Tadeu Nascimento
Santa Dica, nascida Benedicta Cypriano Gomes, é mais um ser milagreiro deste Brasil místico e confuso. Santa Dica era uma espécie de Antônio Conselheiro de saias. Curandeira, milagreira, profetiza, santa ou demônio, desenvolveu o seu movimento no vilarejo da Lagoa, hoje distrito de Pirenópolis. Na comunidade conhecida por “Anjos” ou “Calamita dos Anjos”, viveu-se um mundo paralelo, quase anárquico, dirigido apenas pelas ordens da Santa Dica. Assim como em Canudos de Antônio Conselheiro contestavam a propriedade da terra, a legislação vigente e o casamento civil. Enfim, condenavam o comportamento da sociedade humana que ficava fora da comunidade dos Anjos. Os grupos dominantes e a igreja denunciaram ao governo do Estado que ali poderia surgir uma nova Canudos. Dica se tornou uma espécie de “Lenin do sexo diferente”, trazia a manchete do jornal O Democrata em 10 de outubro de 1924, pois defendia ela que “a terra não é propriedade de quem tem o título dela”. Santa Dica tornava-se famosa nos grandes centros. A pintora Tarsila Amaral, expoente da “Semana de Arte de 1922” de São Paulo, a eternizou em um dos seus quadros. O governo envia um batalhão com 114 soldados sob o comando (adivinha de quem?) do mesmo juiz Celso Calmon de Gama. A batalha foi tão desproporcional que durou apenas 30 minutos, onde morreram 11 “revoltosos” e dezenas ficaram feridos. O dia era 14 de outubro de 1925.
A Revolução de 30. Pedro Ludovico, com outros revoltosos, invade a cidade de Rio Verde no final de setembro. O chefe político da cidade era o major (da Guarda Nacional) Frederico Gonzaga Jayme. Pedro Ludovico é preso e depois fora enviado, juntamente com Oscar Campos (pai do ex-prefeito de Rio Verde Paulo Campos), para a cidade de Goiás. A caminho para a velha capital viajavam no primeiro carro César da Cunha Bastos com Pedro Ludovico e no segundo carro, o alferes Antônio Catulino Viegas com Oscar Campos. Chegando na Cachoeira da Fumaça, um outro carro em direção contrária chega com a notícia de que a Revolução triunfara. Ou seja, os Estados de Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba venceram os governos central de Washington Luís e do Estado de São Paulo, que burlaram a eleição para Presidência da República a favor de Júlio Prestes, então governador de São Paulo, contra o candidato a presidente Getúlio Vargas, então governador gaúcho. Era o fim dos governos dos coronéis.
Mas o que têm em comum estes fatos históricos além do chefe Antônio Ramos Caiado e o sangue derramado? Resposta: um personagem de sua estrita confiança. Um cidadão que, onde houvesse desafeto que oferecesse perigo ao governo, lá estava ele, Antônio Catulino Viegas, o Alferes Catulino. No episódio do Tronco em São José do Duro, foi um dos três alferes que trancafiaram os familiares de Wolney no tronco. Catulino executou o menor Oscar Wolney Leal, filho da irmã de Abílio, aquela que tentara impedir o ataque. Foi condenado pelos crimes no Duro a 25 anos e seis meses de cadeia e exonerado da polícia. Todavia, um ano depois é reintegrado no corpo policial. Na invasão da Comunidade dos Anjos de Santa Dica, ele era a voz do ataque que matou 11 e feriu dezenas de revoltosos. Por fim a Revolução de 30: com a notícia que a Revolução triunfara, inverteram-se os papéis: Pedro Ludovico e Oscar Campos escoltaram os presos Cesar da Cunha Bastos e Catulino Viegas para a antiga capital. Era 3 de outubro de 1930. Início de uma nova era.