sábado, 9 de maio de 2009

FELICIDADE, SÓ DEPOIS DOS QUARENTA
Por Tadeu Nascimento

Desde que se viu não mais como um simples animal, o homem se pergunta o que lhe falta para viver um estado permanente de contentamento. As dores, as angústias são muitas e se intercalam com as poucas alegrias. O ideal seria o contrário. Em busca da solução para esta questão, foi realizado em Madri em setembro de 2005 o 1º Congresso Internacional da Felicidade formado por psicólogos, sociólogos, filósofos, escritores e até artistas de circo.
A conclusão a que chegaram é que o ser humano só encontra a felicidade depois dos 40 anos. Antes disto, não se tem tempo nem maturidade pra ser feliz. Felicidade é pra quem não tem o que fazer. E isto é ótimo. E não é hipocrisia. Não somos felizes quando jovens por muitas razões. Além das transformações físicas que são revoluções dentro de cada ser, existe a força do DNA que nos obriga a cumprir o tempo destinado a procriação que nada mais é que a preservação da espécie. Inicia-se o calvário: na infância é uma sequência de não. Não pode isso, não pode aquilo, não põe a mão aí, etc. Vem a adolescência e começa a tortura: tem que estudar para o vestibular, aprender inglês, fugir das drogas, não beber, cuidado para não se engravidar (ou engravidar a namorada). Não se esqueça de usar a camisinha! Chega o tempo da universidade e os problemas continuam. Vem os filhos e a coisa complica. É o dever de educá-los à semelhança com que fomos educados. Quando é que terei paz? Neste momento, a palavra felicidade ficou no vento da estrada, agora só o sossego interessa.
Em função disso, questiona-se: A felicidade existe? Existe, respondem os congressistas de Madrid, e mora na casa dos quarenta anos e nas casas das dezenas que ficam à direita. Ou seja, ela somente surgirá quando a pessoa tiver tempo para cuidar de si. É claro que neste estágio os cabelos brancos estão tomando conta, a barriga (dos homens) tornam-se salientes, as bundas murcham-se e a lei da gravidade começa puxar para baixo tudo que está em cima. Os seios dela não mais estão em pé (nada que um bisturi não dê jeito). E as pernas dele? Parecem um par de bambus! Por outro lado, surge outra lei, a da compensação. Tal qual um prêmio pela expiação vivida, a natureza começa a lhe sorrir. A tal compensação está em não mais trocar fraldas do nenê, em não tomar tabuada, não ficar sem dormir por conta da febre de 39 graus do filho caçula, não ir mais as reuniões de pais e professores - que são um porre - e tantos outros sacrifícios. Chegou a hora.
Depois dos 40, é você quem paga o que come e o que veste. Se vira no inglês, no francês, no italiano e não está nem aí, pelo sotaque um tanto ridículo. Não existe mais aquela neura dos 30 anos em ficar rico. Não tenta o suicídio quando quebrou pela enésima vez. Se não alcançou o que sonhou um dia, sabe que não foi culpa sua, mas das circunstâncias. Já se casou, se descasou, se estrepou, voltou a sorrir. Não pensa mais viver como hippie numa praia longínqua e sim dar voltas ao mundo, conhecer Paris, a Grécia, a Índia- se possível com o amor da sua vida. Nem se lembra que um dia fumou maconha, mas se imagina tomando um bom vinho logo mais à noite em ótima companhia. Comete-se outros erros, mas não erros idiotas como “dar pau em carros”, ou de contar vantagens sobre sua performance sexual. Coisas de homem imaturo (e burro). A discrição é a marca do quarentão e a elegância é o pão nosso de cada dia. E quando está diante do espelho reconhece aqueles olhos que lhe dizem que ainda têm muita vontade de viver e se orgulha muito do que vê. Quanto às mulheres, um rostinho bonito apenas não pesa meio grama na história de um romance. Nos quarenta, o homem é pragmático: Bonita e burra, sem chance.
O escritor Artur da Távola escreveu um belo poema sobre o assunto: “existem coisas que a vida nos ensina depois dos 40: ela nos ensina que amor não se implora, não se pede, não se espera (o amor se vive ou não); que perdoar e esquecer nos tornam mais jovens; que Deus inventou o choro para o homem não explodir; que não existe comida ruim e sim comida mal temperada; que ser autêntico é a melhor forma de agradar; que há poesia em toda criação divina e que Deus é o maior poeta de todos os tempos; que a música é a sobremesa da vida; que acreditar não faz de ninguém um tolo. Tolo é quem mente; e que não há vida decente sem amor.”
Dizem ainda, os congressistas de Madrid, que aos 55 anos, tanto o homem quanto a mulher, (aqui eles se referem a pessoa de classe média) está no auge, mais receptivo para viver os melhores dias de suas vidas. A sabedoria é quem governa estes seres de 5 décadas. A ansiedade está sob controle. As incertezas dão lugar às coisas exatas. Momentos difíceis existem, mas estamos falando de um tempo onde as satisfações superam os dissabores. É nesta idade que realmente ele (ou ela) acredita que vai viver a próxima história de amor como se fosse a última, o que é o máximo. E por fim, concretizada a relação, se sente que está vivendo, não momentos felizes, mas dias contínuos de felicidade.
Depois dos 40 - asseguram os congressistas - estamos mais aptos a dizer que a infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes e que se Balzac vivesse nos dias de hoje diria que a vida começa depois dos 40.
Tadeu Nascimento é servidor público e advogado

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