sábado, 9 de maio de 2009



Por que Chico Buarque encanta as mulheres?

Por Tadeu Nascimento

Que Chico Buarque é um gênio, todo mundo sabe. Compositor, cantor, escritor e dramaturgo. Mas fica uma questão a se desvendar, e o mundo masculino quer saber: por que ele causa tanto “frisson” nas mulheres? Pelo menos nas de intelectualidade acima da média. É sobre isto que pretendo discutir. Este senhor de 64 anos, paulista por acidente, carioca por convicção, divorciado desde 1996, não chega a ser um Apolo, muito menos com as orelhas em abano. Mais bonitos do que ele existem – ou existiram –, também geniais, como Tom Jobim, Edu Lobo, Ivan Lins (todos na mesma faixa etária, tirante Tom, mais velho e que já se foi), fora os galãs da televisão, na outra ponta. No entanto, perdem longe. Tom era sem graça, Edu mais parece um boneco de cera, Ivan Lins é interessante, mas não se compara, e por aí vai – segundo as mulheres. Mas este encantamento vem de longe, desde que se mudou para Rio, quando ainda era menino. Certa vez, em um pequeno show de amadores no Colégio Sacré-Coeur de Marie, Chico cantou. Os brotinhos babaram. Mas ele saiu correndo, apavorado. Atualmente, sempre que ele inicia uma temporada, a imprensa entra no cio, antecipando a inquietação entre as mulheres. Chico causa furor nas solteiras, casadas, viúvas, divorciadas, religiosas, velhas e novas, deixando um rastro de apaixonadas por onde passa, e nos homens, uma pitada de inveja. Comprovei tudo isto, ano passado, no Teatro Rio Vermelho, Centro de Convenções de Goiânia. Não importa se o Chico foi um bebedor inveterado, quase um alcoólatra – hoje, bebe vinho e, às vezes, chope. Se, de quando em vez, fuma maconha, como já confessou. Se ele é íntimo de Fidel Castro e de Lula. Se um dia casou com Marieta Severo, mais velha do que ele. O que importa é que Chico encanta todos os corações, desde os mais trancafiados e duros, passando pelos os imundos e imorais e chegando aos corações mais belos de quem sabe ouvir uma boa música. Tom Jobim também encantava corações, mas junto com Chico, os olhos femininos, só buscavam (ou eram atraídos, por um poderoso imã?), os olhos verdes do autor de Mulheres de Atenas. Filosofando sobre o tema, cheguei a uma verdade. Certos homens possuem encantos próprios. Mas todos têm algo em comum: a delicadeza. Eduardo Suplicy, que, às vezes, parece esquecer os neurônios no criado-mudo, antes de ir para o Congresso, já deu uma de cantor no plenário do Senado, entoando uma música de Joan Baez, em inglês, cuja desafinação quase fez o animador Chacrinha sair da cova para premiá-lo com o troféu abacaxi. Em outra oportunidade, ferindo o decoro parlamentar, desabotoou a camisa, tal qual o Super-homem, da revista em quadrinhos, revelando que trazia colada ao corpo uma camisa com as cores da bandeira nacional, que, para muitos, beirava à insanidade tal patriotada. Por último, depois de findado seu casamento com Marta Suplicy, uma repórter lhe perguntou por que ele ainda usava aliança de casado se Marta se casaria com Luis Favre na próxima semana. Uma resposta triste e quase angelical, mas serena, saiu de sua boca: “Nunca pensei em tirá-la.” “O Senhor ainda a ama?”, insistiu a repórter. Sem pestanejar, respondeu: “Amo.” Eis, uma das razões de Suplicy ter sido reeleito. Suplicy é livre do ridículo. É livre das vaidades tolas. Livre para defender a verdade. E a verdade para ele é verbo. Por isto, é modesto. Hoje, Suplicy vive um romance com a bela jornalista Mônica Dallari, filha do jurista Dalmo de Abreu Dallari. O saudoso senador Darcy Ribeiro também era desta linhagem. A sua verdade e a sua simplicidade andavam de mãos dadas. E sua bandeira era o povo. “Mestiço é bom e não há um povo mais bonito que o brasileiro!” Discurso filosófico que revolvia os estômagos de muita gente, principalmente dos conservadores. Perto de sua morte, com dificuldades para falar e sem cabelos – por força da quimioterapia –, em entrevista ao Roda Viva, da Band, pediram-no que narrasse um diálogo seu com uma enfermeira num quarto de hospital, quando se encontrava ainda mais debilitado. Conta Darcy que a enfermeira queria aplicar-lhe uma injeção e ele se negou a obedecê-la. Ela insistiu. Então, disse ele, tal qual um menino emburrado: “A senhora quer é ver a minha bunda, por isso não deixo!” A enfermeira insistiu: “O senhor está muito fraco, o senhor tem que tomar injeção nas nádegas!” Respondeu o senador: “Só deixo se a senhora me mostrar a sua!” Não deu outra. A enfermeira concordou. Ao final da entrevista, o apresentador lhe apresentou a conta: mais de 150 telefonemas de mulheres de todo Brasil, pedindo para namorar Darcy Ribeiro. No seu último aniversário, quando completou 75, exatamente 50 ex-namoradas, inclusive Bertha, sua primeira mulher, foram lhe cumprimentar. Todas o beijaram. Na boca. Voltemos ao Chico. À sua discrição. À forma elegante como preserva sua vida privada, qualidade rara entre os famosos, cada vez mais falastrões, exibicionistas, prepotentes e tolos. Caetano Veloso poderia ser parceiro de Chico nesta empreitada femeeira. Mas o baiano é de uma vaidade ímpar. Adora polemizar e não foge de escândalos. Não há notícias de Chico neste campo inóspito. Corajoso, porém, modesto. Poucos teriam ousadia, se talento tivessem, para compor e gravar Geni e o Zepellin, estória de uma bicha, ou Folhetim, que expressa todas vontades de uma prostituta, interpretada na primeira pessoa. Só o Chico. Ele que se faz de prostituta, ele que não olha pra mulher nenhuma. Chico sensível. Chico sonso. Chico moita. Chico herói dos homens elegantes. O mestre na arte de encantar. A revista Contigo flagrou Chico Buarque beijando uma morena em pleno mar azul do Leblon. Março de 2005. O fotógrafo captou a aliança no dedo anular esquerdo da moça. Tratava-se da designer e fotógrafa Celina Sjostedt, mãe de dois adolescentes, de 12 e 15 anos, e casada com o músico Ricardo Duna Sjostedt. Chico apelou para a direção da revista. Queria sair de fininho. Nada de escândalo. Inútil. E o marido mandou um recado pela imprensa: “Pô Chico, tinha que ser comigo?! Você é bonito, famoso e pode ter a mulher que quiser, foi querer logo a minha!” Depois, mais calmo, declarou: “Acho que ela foi atraída pelo encantamento que Chico causa nas mulheres. Eu a perdôo!” Choveram gracejos e conselhos: “Parabéns, Ricardo, não é qualquer um que tem a honra de ter uma mulher que trai o marido com Chico Buarque!” Quem dera se o Chico se engraçasse com a minha mulher, a Emengarda, com seus 120 quilos!"- disse um amigo de boteco. Mas, antes de tudo, Chico é simples, modesto, livre de tudo que é nefasto. Fica, portanto, a lição para todos os homens, que a delicadeza, a elegância e a modéstia com que Chico se apresenta perante a vida são o caminho mais curto e belo para navegar no oceano feminino.

Um comentário:

  1. Na sutileza e encantamento de seus ditos, o que poderia ser "ti ti ti" se transforma ... por que não,até em poesia. - E isso é bem peculiar de pessoas DELICADAS, ELEGANTES, E MODESTAS.
    Parabéns !!!

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